Arquivo da tag: Festival Recife do Teatro Nacional

Avaliações

Depois de 12 dias de programação, terminou ontem o Festival Recife do Teatro Nacional. Vimos muitas coisas, que merecem outros posts, mas estamos escevendo para lembrar que a avaliação do festival será hoje, às 19h, no Teatro Apolo. O convidado para fazer a avaliação este ano é Paulo Vieira, da Paraíba. Como todos os anos, um momento para conversar e tentar melhorar os festivais que estão por vir.

Falando nisso, amanhã, às 19h, a Gerência Operacional de Artes Cênicas da Fundação de Cultura da Cidade do Recife vai realizar uma reunião com a classe no Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel. Estaremos lá, claro, para saber quais são os planos, ainda que tardios, da gestão.

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Teatro pernambucano de luto

Enéas Alvarez era ator, diretor e crítico teatral

Ator do Teatro de Amadores de Pernambuco (Tap), diretor de teatro, crítico do Jornal do Commercio e do Diário da Noite. Enéas Alvarez vai deixar saudades. Há 20 anos, ele já sofria com problemas de saúde, agravados pela obesidade. Aos 64 anos, não resistiu ao segundo infarto em menos de 20 dias e faleceu hoje pela manhã, na UTI do Hospital Esperança. O enterro será amanhã à tarde, no cemitério de Santo Amaro, no Mausoléu da Associação de Imprensa de Pernambuco.

Em setembro, quando foi ministrar a oficina A intensa produção de teatro em Pernambuco nas décadas de 1980 e 1990, e a relação, por vezes bem tumultuada, com a crítica teatral, Leidson Ferraz mandou uma entrevista por e-mail para Enéas. É essa que reproduzimos abaixo. Obrigada, Leidson.

Como surgiu o seu interesse pela crítica teatral?
Trabalhei alguns anos com Valdemar de Oliveira, crítico teatral no Recife. Depois de sua morte, o J.Commercio e o Diário da Noite ficaram sem espaços teatrais. No Diário havia o Adeth Leite e na Folha da Manhã o Angelo de Agostini. Falei com a pintora Ladjane Bandeira, que me levou à presença de Esmaragdo Marroquim, editor do JC. Comecei no mesmo dia, escrevendo às quartas e sábados no Diário da Noite, a coluna Casa de Espetáculos, que pertencia à dupla Oliveira & Marques. Depois, assumi o JC.

Lembra do primeiro texto escrito? Qual foi?
Não, não me lembro do primeiro texto. Muito provavelmente, alguma apresentação, dando-me a conhecer aos que faziam teatro.

Quando você assumiu esse cargo no Jornal do Commercio e até quando ficou?
Também não me lembro exatamente da data em que comecei. Mas escrevi por mais de dez anos. Nesse tempo, nunca tive a menor rixa, o menor arranhão com meu querido Valdi Coutinho, colega e irmão, amigo até hoje.

Como você define a verdadeira função desta atividade
Pensei sempre a crítica como um guia às pessoas que procuram um espetáculo pra ver. Uma liderança de opinião.

Qual o seu texto que lembra com mais orgulho? Por que?
Dos textos que escrevi, lembro-me com carinho daqueles póstumos, sobretudo o que fiz pra Beto Diniz. Sempre me emociono, diante da morte.

E qual o seu texto que se arrepende de ter escrito (se é que existe)? Porque?
O pior texto? Não, não me lembro. Mas o mais difícil foi aquele que tive de escrever na noite de 1 para 2 de novembro de 1983, durante o velório de minha mãe, na sala da frente da casa. Foi difícil, nem sei mais o que escrevi. Uma vez, Cussy de Almeida me reclamou de algo que escrevi que o atingiu. Mas passou.

Como controlar o gostar ou não gostar? Toda crítica é passional?
O texto não é passional. Mas é pessoal. Teatro bom? É aquele que eu voltaria pra ver de novo. E o ruim é aquele que a gente quer sair no meio da representação. Ficava, às vezes, por dever. Esses, nunca contaram com uma palavra minha. Só escrevia sobre aqueles que me deixavam uma sensação de tempo ganho, por qualquer motivo.

É difícil ser crítico? Quais os prós e contras?
A experiência de crítica foi ótima. Até porque pessoas me perguntavam o que achei de certas peças, antes de se decidirem a ir. Meu modelo foi Valdemar de Oliveira, um homem ético à toda prova. Foi ele quem me ensinou a nunca cobrar nem receber benesses dos grupos, a não ser, o ingresso pra ver as peças. Quando o ingresso não vinha, eu entendia que eles não me queriam por lá. E silenciava.

Há diferenças entre o seu período e o de Valdi Coutinho e aquele em que Alexandre Figueirôa, Ivana Moura e João Luiz Vieira passaram a escrever nos jornais. O fato de você e Valdi serem artistas atuantes do teatro no momento em que ocupavam colunas teatrais era uma diferença? Poderia pontuar algo sobre isso?
Eu e Valdi escrevíamos sempre na primeira pessoa. O espaço era nosso, a opinião era nossa. Outros críticos recebiam pautas da editoria ordenando comentários, inseridos em páginas comuns, mas não falavam na primeira pessoa. Isso faz a diferença. E todos os pesquisadores destacam essa característica do eu gostei – ou eu não gostei.

Se puder me mandar uma foto sua, agradeço. Meu foco é nas décadas de 1980 e 1990.
Foto de velho? Precisa não, vai enfeiar seu trabalho. Quem já viu velho fazer pose? kakakakakaka. Faz uma caricatura. O Felipe Botelho é bom nisso. Obrigado por seu carinho de sempre. Disponha.

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Ói Nóis Aqui Traveiz ficou para a próxima…

Ivonete Melo falando na coletiva de imprensa do anúncio da programação. Foto: Val Lima/Divulgação

“Porque a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz não veio ao festival?” Essa foi a minha primeira pergunta ontem, na coletiva de imprensa do anúncio da programação do Festival Recife do Teatro Nacional, no Teatro Hermilo Borba Filho. Nós vimos o novo espetáculo do grupo, Viúvas – performance sobre a ausência, no festival Porto Alegre em Cena. E ficamos felizes em saber que o grupo provavelmente voltaria ao Recife para apresentar a montagem em Peixinhos, que foi onde esse projeto começou a ser idealizado. Lá em Porto Alegre, a encenação era numa ilha.

Viúvas - Performance sobre a ausência começou a ser idealizado no Recife

Postei uma foto de Viúvas e uma legenda dizendo que o espetáculo não vinha por conta de agenda. Mas o curador do festival Valmir Santos fez um comentário no post dizendo que “é improcedente a informação de que a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz não vem ‘por conta de agenda’. Foram nove meses de articulação junto a esses artistas. Eles sempre tiveram empenhados para que Recife recebesse a residência com oficina em seis regiões mais as sessões, numa delas, de Viúvas – Performance sobre a Ausência. Infelizmente, o Festival não teve condições de acolher o projeto como idealizado”. Valmir ainda está em São Paulo e, portanto, não participou da coletiva de imprensa.

Então resolvi transcrever exatamente o que foi dito pelo coordenador do festival Vavá Schön-Paulino – para esclarecer (ou suscitar mais dúvidas):

“Infelizmente, o Viúvas não vem. É uma dor, mas são os problemas da produção e da tentativa de harmonização de um festival que tem tempo definido e com as agendas dos grupos. Nesse sentindo, da nossa tabela original, nós perdemos dois grupos: o Ói Nóis Aqui Traveiz que viria com Viúvas e com uma oficina que seria voltada para a descentralização, para as RPA’s e também perdemos o Teatro Máquina, do Ceará. O Teatro Máquina perdemos assim de última hora, há uma semana. E Valmir teve que correr para substituir, foi quando entrou o Olodum. Então, o Ói Nóis Aqui Traveiz não pode vir por conta de problemas da agenda deles com as nossas datas e também ficou muito imprensado, porque também haveria uma demanda muito grande para a produção da oficina e eles assumiram também um compromisso lá com o estado do Rio Grande do Sul. Apareceu para eles uma atividade para ser feita no interior, o que impossibilitava eles estarem aqui. Porque para fazer o Viúvas e a oficina eles tinham que chegar aqui em Recife 15 dias antes do festival começar, no início de novembro e só ir embora depois. Então não dava para cobrir esses compromissos que apareceram lá no Rio Grande do Sul. Para quem não sabe, o Ói Nóis tem mais de 30 anos de vida. É um grupo de teatro que tem um compromisso político, eu diria mesmo, usando o jargão da história do teatro, eles fazem um teatro engajado, um teatro político e eles ainda hoje lutam muito no Rio Grande do Sul, tanto na capital Porto Alegre quanto no estado. Então era super importante para eles fazerem isso e aí isso impossibilitou a presença deles aqui, infelizmente. Porque o Viúvas é uma coisa linda, lá eles fazem numa ilha e aqui seria no Nascedouro, aproveitando as ruínas”.

Espetáculo Viúvas foi apresentado em Porto Alegre numa ilha que serviu como cadeia

Ah….faltam apenas cinco dias para o festival começar e o site http://www.frtn.com.br/ainda está com a programação do ano passado. Como o festival pretende agregar mais público, se comunicar, se uma ferramenta tão importante não tem a merecida atenção? Parece que esse ano a avaliação do festival começou um pouco mais cedo….

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Promessas, promessas

De férias do jornal, aproveitei o início de noite para dar uma passeada por alguns blogs de teatro. Parei no Teatro Jornal, do Valmir Santos, curador do próximo Festival Recife do Teatro Nacional. Encontrei por lá uma notinha sobre um abaixo-assinado a favor do Fomento ao Trabalho Continuado em Artes Cênicas para a cidade de Porto Alegre. Depois de uma batalha dos artistas de teatro e dança, ele foi aprovado em 2009, só que o orçamento previsto de R$ 220 mil foi cortado em mais da metade.

No Recife, o Prêmio de Fomento às Artes Cênicas tem o mesmo valor desde que foi criado, em 2001, pelo ex-prefeito João Paulo: R$ 100 mil. O valor é dividido entre cinco projetos. Ainda assim, o pagamento ainda atrasa. A Prefeitura do Recife prometeu pagar o fomento de 2009, que teve o seu resultado divulgado em março do ano passado, até o fim do mês de Maio. Já estamos no dia 2 de junho e, pelo que apuramos com alguns artistas, até agora nada. Eles foram chamados para assinar um contrato, mas não receberam prazo para pagamento. O contrato diz que o pagamento pode ser feito em até 60 dias e esse prazo poderia ser prorrogado por mais 30. E aí, Prefeitura do Recife? E a palavra?

Bom, a promessa de pagamento não foi feita mesmo pela primeira vez. Numa matéria publicada no Diario de Pernambuco no dia 10 de Fevereiro, a Secretaria de Cultura assumiu o compromisso de quitar a dívida em até 10 dias. No dia 28 de Fevereiro, a data já era outra: 18 de Março.

Confira aqui o e-mail em que a Prefeitura se comprometia a pagar o fomento até o fim de Maio. E assine aqui o abaixo-assinado a favor do Fomento ao Trabalho Continuado em Artes Cênicas para a cidade de Porto Alegre.

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Ô mulherzinha…

Foto: Val Lima/Divulgação

Já dizia a minha avó: ´visita boa dura três, no máximo quatro dias na sua casa. Depois disso, passa a ser incômodo`. Bianca sabe bem o que é isso. Recém-casada, foi obrigada a hospedar a irmã adoentada do marido. Pra completar, a dita cuja, chamada Vladine, trouxe mais alguém com ela e ainda fez questão de ser insuportável. Esse é o mote do espetáculo Rebú, apresentado no último Festival Recife do Teatro Nacional. E é exatamente na sua dramaturgia e na escolha por um gênero muito bem definido que o espetáculo é bem-sucedido.

Jô Bilac – um jovem de destaque na dramaturgia carioca – escreveu um texto que nos aproxima daqueles personagens. Que nos faz perguntar: que mulher é essa?! Coitada da dona dessa casa! Deus me livre de um marido desses! E ainda tem os elementos non sense, como o ator que interpreta um bode e causa muitas risadas. A encenação opta mesmo pelo melodrama – desde a voz dos atores (com direito a gritos e mudanças de entonação – talvez a diccção de alguns deles tenha atrapalhado em alguns momentos a compreensão completa do texto), os movimentos marcados, a cena congelada.

Foto: Val Lima/Divulgação

A ação se passa dentro de um espaço cênico delimitado – o teatro dentro do teatro -, uma cortina que dá para um pequeno tablado que parece ser a sala da casa. Fora dessa caixa, alguns refletores. Os jovens atores da Companhia Teatro Independente (Carolina Pismel, Julia Marini, Paulo Verlings e Diego Becker), do Rio, mostram que estão avançando nos seus processos de construção de personagem.

Talvez isso seja facilitado pelo próprio processo de como a montagem foi concebida. A dramaturgia foi sendo escrita ao mesmo tempo em que os ensaios eram realizados e o diretor Vinícius Arneiro fazia suas escolhas.

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