Trema retira Altíssimo da programação do Janeiro em solidariedade ao Evangelho Segundo Jesus

Altíssimo. Foto: Luiz Pessoa / Divulgação

Pedro Vilela em Altíssimo. Foto: Luiz Pessoa / Divulgação

Produção de Altíssimo diz não querer compactuar com a censura

Produção de Altíssimo diz não querer compactuar com a censura

Nesses tempos de avanços conservadores e de ameaças/ confiscos de direitos precisamos de ainda mais coragem para defender nossas ideias e posições. A TREMA Plataforma de Teatro reforçou qual o lado que quer sambar: contra os autoritarismos que se agigantam com a proximidade de 2019. Para combater a censura sofrida pela peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, a Trema retirou o seu espetáculo Altíssimo, agendado para o dia 11 do mês que vem, do 25º festival Janeiro de Grandes Espetáculos

A plataforma acolheu O Evangelho segundo Jesus na abertura edição 2018 do TREMA! Festival, em junho deste ano, no Recife.  A censura do JGE “fere nossa liberdade coletiva de ofício, nesse momento crucial onde diversos festivais têm se posicionado como reais espaços de resistência ao fascismo e a onda conservadora que assola o país. Não podemos coadunar com mais esse passo da bancada evangélica em nosso Estado”, pontua o comunicado.

Sabemos: os conservadores transformaram a peça O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu em ré, que está sendo julgada a cada nova apresentação. Pela segunda vez, a obra escrita pela autora trans inglesa Jo Clifford e com atuação da atriz transsexual Renata Carvalho, é convidada e desconvidada por evento cultural em Pernambuco. A primeira vez foi em julho, no Festival de Inverno de Garanhus.

Domingo último, o festival Janeiro de Grandes Espetáculos, da Apacepe, excluiu a peça anunciada dois dias antes como uma das principais atrações da programação. “Anteriormente, quando do ato de censura no FIG 2018, tínhamos nos posicionado publicamente sobre qual seria nossa decisão caso estivéssemos na grade do evento: ou O Evangelho se apresentaria ou nós também não subiríamos ao palco’, reforça a Trema. E prossegue: “continuaremos honrando com nossa palavra. Afinal, onde não cabe o ofício da artista Renata Carvalho, da diretora Natalia Mallo e de toda a equipe do Núcleo Corpo Rastreado, também não cabe o nosso”.

Lembra daquela história que bombou logo após sair o resultado das eleições presidenciais do Brasil – “ninguém solta a mão de ninguém”? O diretor Pedro Vilela, e sua turma, diz que abre mão de privilégio em prol do real significado da frase . “Estaremos juntos por nenhum direito a menos”.

Carta da Apacepe

Hoje (27) pela manhã, a Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) veio novamente tentar explicar sua posição. Mas parece o Queiroz. Na carta aberta, argumenta que com o intuito de “resguardar a realização do próprio projeto e preservar suas fontes de financiamento”, a direção do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos “se viu obrigada a retirar da programação do festival a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”.

E que o cancelamento se deve porque a peça seria apresentada em um teatro público e ainda devido à pressão da bancada evangélica de Pernambuco. E cita que “por motivos similares, a montagem já enfrentou ações judiciais e passou por outros cancelamentos em território brasileiro”.

Sim. Desde a sua estreia, em 2016, O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu enfrenta um mundo de perseguições. A apresentação da peça foi cancelada em setembro de 2017 em Jundiaí (SP) e outubro em Salvador, ambas por decisão judicial, sob o argumento de que Renata Carvalho “vilipendia artigos religiosos”. Em junho deste ano, o prefeito do Rio de Janeiro, Crivella, cancelou a mostra Mostra Corpos Visíveis, sob a desculpa de que a Arena, palco do evento está fechada devido a “um problema na licitação”.

Mas, nesses casos, não foram os produtores que convidaram a obra que fizeram esse papel de censor.

A nota da Apacepe reforça com palavra contraditórias “o seu compromisso com a liberdade de expressão”. Diz que foi esse o motivo para realizou o convite ao Evangelho. “Por não aceitar este tipo de censura, a direção do festival está dando suporte à produção do espetáculo para que ele seja encenado, na mesma data que ocorreria no Janeiro, em um espaço privado e de maneira independente”.

O JGE ainda está em dívidas com os credores, artistas inclusive, da edição de 2018. Talvez seja essa uma motivação, já que, segundo a Apacepe o Janeiro 2019 tem todos os seus subsídios oriundos do poder público. Isso quer dizer o quê?

 

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1 pensou em “Trema retira Altíssimo da programação do Janeiro em solidariedade ao Evangelho Segundo Jesus

  1. ANTONIO DONIZETE DOS SANTOS

    Assisti essa peça em minha igreja (Anglicana) em São Paulo. Amei! A Renata é fantástica. Tive a oportunidade de dar um abraço nessa atriz maravilhosa. Aos censores e à Apacepe só um recado. Saiam da idade das trevas. O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu, é muito mas muito maior que vocês.

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