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Nelson Rodrigues e as propostas para este milênio na Fliporto

Geneton Moraes Neto conversa com Heloísa Seixas e Ruy Castro. Foto: Beto Figueiroa

A homenagem a Nelson Rodrigues rendeu mesas muito interessantes na 8ª edição da Festa Literária Internacional de Pernambuco – Fliporto, que terminou no último domingo em Olinda. Perdi duas das mais esperadas – com o filho do dramaturgo, Nelson Rodrigues Filho, na sexta-feira; e com as filhas Sônia e Maria Lúcia, no domingo pela manhã. (Quem viu essas??? Compartilha as impressões nos comentários!)

No sábado, a tenda do Congresso Literário ficou bem cheia pra mesa com Ruy Castro e Heloísa Seixas, mediada pelo jornalista Geneton Moraes Neto. E aí, numa feira literária, as palavras fazem toda diferença. Muita gente (inclusive a pessoa que vos escreve) saiu meio frustrada. Não é que a mesa não tenha sido interessante; mas as perguntas da plateia geralmente apimentam o debate. Só que na programação dizia: “Ruy Castro e Heloísa Seixas ‘conversam’ com Geneton Moraes Neto”. A plateia até fez perguntas…mas elas não rolaram. (E Geneton nem entra na série #mediadoressemnoção. Alguns deixavam a plateia boaquiaberta com algumas pérolas! Uma arte essa a da mediação!)

Ruy Castro falou sobre a feitura da biografia de Nelson. Uma obra que tanto nos aproxima do pernambucano. Que faz com que a gente (mais uma vez, euzinha mesmo) quase não se perdoe por não ter nascido um pouquinho antes…pra ter tido a chance de conhecer, entrevistar, conversar, encontrar no bar esse gênio que era Nelson – mesmo diante da banalização dessa palavra.

Ruy começou contando que aprendeu a ler com Nelson Rodrigues. “Foi aos quatro anos, com minha mãe lendo para mim A vida como ela é, publicada no Última hora. Quando ela viu, eu estava juntando as letras”, contou. Disse ainda o quanto Nelson andava esquecido antes da publicação do livro. Foram a admiração e a curiosidade que impulsionaram o biógrafo. Ruy chegava às livrarias e os atendentes nem sabiam quem era Nelson. Nos sebos, os senhorzinhos diziam logo que não tinham os livros; quando o escritor insistiu, foi pra uma lista enorme de espera, num caderno de páginas amareladas.

Heloísa lembrou que certo dia Ruy a levou para uma conversa com as irmãs de Nelson. A bem da verdade, queria que ela ficasse lá entretendo as irmãs enquanto ele mergulhava nos documentos, fotos, papeis que elas tinham e não emprestavam de jeito nenhum. “Eu me vi transportada para uma peça do Nelson. Aqueles móveis de madeira escura, as cortinas de veludo”. As irmãs lembrariam as tias da peça Doroteia. E falariam dos irmãos e especificamente de Nelson com os olhinhos brilhando; até com certa sensualidade. (No dia seguinte encontrei com duas senhorinhas que tinham visto essa mesa e a das filhas de Nelson. O comentário era: ‘que absurdo! Ele falou de sensualidade das irmãs. Mas Nelson ficou doente várias vezes! E eram as irmãs que cuidavam dele!’).

Tantos as irmãs quanto Dona Elza, a primeira esposa, teriam ficado chateadas com alguns trechos da biografia, conta o próprio Ruy. Dona Elza teria voltado atrás, mas as irmãs morreram ainda arretadas com Ruy.

Geneton contou sobre a entrevista que fez com Nelson. O dramaturgo marcou na mesma hora de um jogo da seleção brasileira. E lá pelas tantas perguntou com quem o Brasil tinha jogado!

Luiz Reis, José Castello e Antonio Cadengue. Foto: Pollyanna Diniz

Nelson em cena – Outra mesa muito interessante, embora com pouco público, foi realizada no início da tarde do domingo: com o jornalista e escritor José Castello, o diretor e professor Antonio Cadengue e mediação do professor e dramaturgo Luis Reis. Castello fez logo a confissão. É Fluminense por causa de Nelson. “Eu sou um torcedor literário”, brincou. E trouxe uma ótima sacada. A partir do livro Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino, Castello elencou as ‘Seis propostas para este milênio’, tomando as crônicas de Nelson como guia. Seriam elas: imaginação, modéstia, obsessão, amizade, serenidade e transcendência.

Já Cadengue fez uma homenagem a Sábato Magaldi, que foi o seu orientador no mestrado e no doutorado, talvez o maior especialista em Nelson. Falou desde a classificação das peças teatrais até os avanços que Nelson propôs em cena, a relação com os diretores, as montagens de Antunes Filho; e peças dirigidas pelo próprio Cadengue, como Viúva, porém honesta, com o grupo Vivencial; e Senhora dos Afogados, com a companhia Teatro de Seraphim.

Ruy Castro – biógrafo e vilão?! Foto: Beto Figueirôa

Polêmica – Voltando à mesa que perdi, com as filhas de Nelson Rodrigues, o que ouvi de algumas pessoas é que elas negaram a versão de Ruy Castro na biografia O anjo pornográfico. Sônia, Maria Lúcia e Paulo César são filhos de Yolanda, que era secretária de um radialista da então rádio Mayrink Veiga, e se envolveu com Nelson na década de 1950.

Um trecho do livro diz: “Em 1967, Nelson foi procurado no Jornal dos Sports por uma menina que se dizia sua filha: Maria Lúcia, filha de Yolanda, a ‘ardente canarina’ com quem ele tivera um longo ‘caso’ nos anos 50. Maria Lúcia tinha agora 14 anos. (Quando Nelson a vira pela última vez, ela tinha quatro anos). A menina falou-lhe de seus dois irmãos. Sônia, de doze anos, e Paulo César, de dez. Durante todo aquele tempo tinham se mantido afastados porque sua mãe os proibira de vê-lo. Mas agora estavam em dificuldades: a mãe se ‘ausentara’, precisavam que lhe desse uma pensão.

Nelson não gostou do que ouviu. Admitia que o garoto fosse seu, mas nunca tivera certeza quanto às meninas. Maria Lúcia alegou que tinham certidões de nascimento, que Nelson os reconhera como filhos. Nelson negou que tivesse feito tal coisa”.

Mais lá na frente ainda diz: “Nelson disse várias vezes a Augustinho (irmão de Nelson): ‘Não me incomodaria de ajudar se elas não fossem tão desagradáveis e hostis. Desse jeito, é uma chantagem’.

Segundo o pessoal da Dupla Comunicação, as mesas gravadas depois serão disponibilizadas na internet. Vou ficar ligada para assim que essa estiver no ar, colocar o link por aqui!

As filhas de Nelson Rodrigues e Yolanda. Foto: Leandro Lima

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Centenário que rende

“O teatro foi muito importante para mim. E nós (Mia Couto e José Eduardo Agualusa) escrevemos duas ou três peças juntos. Lembro que quando assistimos, foi engraçado. Não sabíamos mais o que tinha sido feito por um ou outro”, disse Mia Couto na Fliporto na manhã de hoje. A mesa, na tenda principal, estava lotada.

Homenageando Nelson Rodrigues, nesses dois últimos dias, a Fliporto ainda tem uma programação que permeia muito as artes cênicas.

Hoje à tarde, às 16h30, Ruy Castro e Heloísa Seixas conversam com Geneton Moraes Neto. O tema é “Segredos e Inconfidências d’O Anjo pornográfico.

Às 20h, Edney Silvestre conversa com Claudiney Ferreira sobre o tema “Romance e drama” e depois haverá a leitura dramática da peça inédita Boa noite a todos, de Edney Silvestre, com Christiane Torloni.

Amanhã, às 10h, a primeira mesa é com Sonia Rodrigues e Maria Lucia Rodrigues (filhas de Nelson) e Adriana Armony, com mediação de Rogério Pereira sobre o tema As mulheres (d)e Nelson Rodrigues.

Ao meio-dia, José Castello e Antonio Cadengue, tratam do tema “Nelson Rodrigues em cena”, com mediação de Luis Augusto Reis.

Os ingressos para cada mesa custam R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada).

Christiane Torloni vai ler Boa noite a todos, de Edney Silvestre. Foto: Leandro Lima/Divulgação

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Pernambucanismo de Nelson

Obra de Nelson está impregnada de valores pernambucanos

Não é possível entender o jornalista, cronista e dramaturgo Nelson Rodrigues sem o Recife. Do mesmo modo que não dá para considerar o teatro brasileiro sem o dramaturgo ou o bailado dos dribles no futebol sem o cronista apaixonante. Ele dizia que a mais reles pelada de ponta de esquina tinha a complexidade de uma tragédia shakespeareana. Esse gênio, praticamente uma unanimidade atualmente, termo que ele combatia dizendo que toda unanimidade é burra, já foi chamado de pornográfico e coisas do gênero.

Esse Nelson nasceu no Recife, em 1912. Chegaria aos 100 anos hoje, dia 23. As sensações inaugurais que experimentou na capital pernambucana e em Olinda ficaram gravadas em suas memórias. Gostos e cheiros, de pitangas e cajus. “O mar significava Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, a minha paisagem”.

O pai, Mário Leite Rodrigues, foi um jornalista combativo formado pela Escola de Direito do Recife que havia trabalhado em 13 veículos na capital pernambucana. Ficou na miséria depois que seu jornal foi empastelado por questões políticas e foi tentar a sorte no Rio de Janeiro. Viajou sozinho. Mas a mulher e os filhos chegaram pouco depois. Nelson tinha quatro anos de idade e o sentimento do mundo impregnado nor corpo e na sua alma.

Sua filha, a jornalista e pedagoga Maria Lúcia Rodrigues tem uma tese. Para ela, ter nascido em Pernambuco e ser da família Rodrigues forjou o gênio Nelson. “A minha hipótese é que ele tem duas bases: o Recife e a família Rodrigues. De 1700 até agora, os Rodrigues sempre foram urbanos, médicos, jornalistas, profissionais da classe média. Não tinham cabedais, mas era mais livre para exercer a crítica. Essa família pernambucana o cercou durante a vida inteira. Só sobreviveram a tantas tragédias porque eram muito unidos”, avalia.

E as tragédias não foram poucas. Ele passou fome, viu seu irmão ser assassinado na redação, sofreu com tuberculose. As idiossincrasias do escritor o levaram a ser chamado de reacionário.  Seu filho Nelsinho entrou para a guerrilha contra a ditadura militar e isso agravou mais suas contradições internas.

“Um intelectual pernambucano disse que Nelson pegou os dramas do Recife e colocou uma roupagem carioca. Esse ímpeto de dar murro em ponta de faca, de dizer com todas as letras que o rei está nu, é muito mais pernambucano do que carioca”, argumenta ela. Essa ideia estruturou a exposição Ocupação Nelson Rodrigues, que esteve em cartaz no Instituto Itaú de São Paulo e chega ao Recife para se instalar na Torre Malakoff hoje.

“A firmeza com que meu pai defendia o seu ponto de vista, sem ataques pessoais, me fez ter muito orgulho dele, considerando que vivemos num país em que é comum o insulto, a difamação contra os que não comungam do mesmo ponto de vista”, atesta outra filha, Sonia Rodrigues, no livro Nelson por ele mesmo (Editora Nova Fronteira, 2012).

Já Maria Lucia lembra que o Recife foi o centro de grandes e pequenas insurreições. Teve a primeira escola destinada a escravos quando isso era proibido. O que seria o Brasil começou a ser discutido em Recife e em Olinda: “Pernambuco é o Leão do Norte, tem um orgulho de ter sido um centro cosmopolita muito aguerrido. Não podemos nos esquecer que, apesar de ter se mudado muito pequeno para o Rio de Janeiro, a família do meu pai era muito pernambucana. Com certeza, ele captou todos os valores e inclusive o sotaque. Nelson era completamente pernambucano”.

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Pense em Nelson!

O implacável Nelson Rodrigues. Foto Carlos/Cedoc/ Funarte

Desde o início de 2012 e com mais furor durante este mês de agosto, iniciativas de várias frentes, mídia e editoras de livros celebram o centenário do dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues, com exposições multimídia, remontagens de suas peças e matérias, relançamento de obras e especiais nos jornais, revistas, rádio e televisão.  O autor de frases intrigantes, inclusive de que “Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar” é alçado a posto de intelectual imprescindível para o entendimento do povo brasileiro, seja a partir de suas peças, crônicas, contos e outros textos.

Nelson Rodrigues nasceu no Recife há 100 anos, no dia 23 de agosto.

Ele morreu há 32 anos e nos deixou histórias ousadas, que são ressiginificadas neste século 21.  Sua vida foi marcada por tragédias pessoais, desde a morte do seu irmão Roberto, assassinado em sua frente, na redação de jornal do seu pai. Até sofrer com o empobrecimento da família, passando fome e adquirindo doenças (como a tuberculose). E a incompreensão de muitos, a pecha de reacionário, a tortura de seu filho Nelson Rodrigues Filho.

A morte de seu irmão Roberto causou-lhe um profundo horror ao assassinato. “Este horror é tanto que entre ser vítima ou assassino, prefiro ser vítima. A assassina foi absolvida e as pessoas aplaudiram como se estivessem em um programa de auditório. A partir deste instante, formei a convicção de que a opinião pública é uma débil mental”.

Quando à história de ser reaça, Nelson bradou que devotava à direita o mesmo horror que tinha pela esquerda. “O meu filho Nelson Rodrigues Filho foi torturado. Tive relações pessoais com o presidente Médici. Perguntei ao presidente se permitiria a meu filho, que vivia na clandestinidade, deixar o país. Mas o Nelsinho disse que só aceitaria o benefício se atingisse os seus companheiros”.

Tachado de pornográfico, Nelson também não aceitou o rótulo. “Não sou pornográfico. Pelo contrário, me chame de moralista. O único lugar onde o homem sofre e paga pelos pecados é em minhas peças. Numa época em que a maioria se comporta sexualmente como vira-latas, eu transformo um simples beijo numa abjeção eterna. Se há um brasileiro maníaco pela pureza, esse brasileiro sou eu”, comentou certa vez.

O gênio de Nelson ocupou as páginas da imprensa carioca durante várias décadas. Seu ritmo de produção era intenso. Além da seção diária de A vida como ela é…, ele escreveu as peças, crônicas de futebol e colunas esportivas para Última Hora, Jornal dos Sports e Manchete Esportiva… confissões, crônicas de costumes, contos e até seções de consultório sentimental, sob pseudônimos. Costumava dizer que trabalhava mais que um remador de Ben-Hur (filme clássico com Charlton Heston). Sonia Rodrigues, filha de Nelson, destaca que “A redação era o seu laboratório; as manchetes, um estímulo para a sua imaginação. A obrigação de escrever todos os dias o cansava, mas também dava terreno para que ele não parasse”.

Mas uma das facetas mais brilhantes desse provocador, polemista, inconformista, audacioso, contundente e inconveniente Nelson era que ele pensava por si mesmo. Um franco-atirador. Sonia acredita que na imprensa atual não há espaço para uma individualidade tão forte. “As pessoas estão certinhas, não tenho conhecimento de ninguém, no atual panorama brasileiro, que tenha coragem de esticar a corda como ele. Porque, para esticar a corda, é preciso assumir o risco da completa solidão”.

Um gênio chamado Nelson Rodrigues. Foto Carlos/Cedoc/ Funarte

100 Frases de Nelson para refletir. Concordar. Discordar. Testar a atualidade de cada uma delas…

Ou invente você mesmo o que fazer com essas palavras que chocaram, exaltaram, denegriram, provocaram…

“Deus está nas coincidências”.

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“Se há um brasileiro maníaco pela pureza,esse brasileiro sou eu”

“Só o inimigo não trai nunca”.

“Se todos conhecessem a intimidade sexual uns dos outros, ninguém cumprimentaria ninguém”

“Nem todas mulheres gostam de apanhar, só as normais”.

“Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe”.

“Três anos em uma editoria de polícia de um jornal pode formar um Balzac”.

“O pudor é a mais afrodisíaca das virtudes”.

“Só o cinismo redime um casamento. É preciso muito cinismo para que um casal chegue às bodas de prata”.

“A prostituta só enlouquece excepcionalmente. A mulher honesta, sim, é que, devorada pelos próprios escrúpulos, está sempre no limite, na implacável fronteira”.

“O dinheiro compra até o amor verdadeiro”.


“Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos…”

“O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência”.

“O brasileiro, quando não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte”.

“As grandes convivências estão a um milímetro do tédio”.

“O brasileiro não está preparado para ser o maior do mundo em coisa nenhuma. Ser o maior do mundo em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade”.


“Toda autocrítica tem a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto”.


“A liberdade é mais importante do que o pão”.


“O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda”.

“Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu”.

“A plateia só é respeitosa quando não está a entender nada”.

“Qualquer indivíduo é mais importante do que a Via Láctea”.

“A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem”.

“O amor entre marido e mulher é uma grossa bandalheira. É abjeto que um homem deseje a mãe de seus próprios filhos”.

“Todo ginecologista devia ser casto. O ginecologista devia andar com batina, sandálias e coroinha na cabeça. Como um São Francisco de Assis, com luva de borracha e um passarinho em cada ombro”.


“Os homens mentiriam menos se as mulheres fizessem menos perguntas”.


“Na mulher interessante a beleza é secundária, irrelevante e até mesmo desnecessária. A beleza morre nos primeiros quinze dias, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse de mulher em mulher anunciando: ser bonita não interessa, seja interessante!”

“Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor”.


“Qualquer menino parece, hoje, um experimentado e perverso anão de 47 anos”.

“Sem paixão não dá nem pra chupar um picolé”

“Amar é dar razão a quem não tem”.

“Se os fatos são contra mim, pior para os fatos”.


“Deus escreve certo por pernas tortas”.

“Amar é ser fiel a quem nos trai”.


“Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las”.

“A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual”.

“A companhia de um paulista é a pior forma de solidão”.

“Sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica”.


“Qualquer amor há de sofrer uma perseguição assassina. Somos impotentes do sentimento e não perdoamos o amor alheio. Por isso, não deixe ninguém saber que você ama”.

“Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado”.


“O homem começa a morrer na sua primeira experiência sexual”

“Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua”.


“Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem”.

“Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam”.

“Só os profetas enxergam o óbvio”.

“Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.


“Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém”.

“Não reparem que eu misture os tratamentos de “tu” e “você”. Não acredito em brasileiro sem erro de concordância”.


“A televisão matou a janela”.

“Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta”.

“A cama é um móvel metafísico”.

“As vaias são os aplausos dos desanimados”.

“O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota”.

“O brasileiro chamado de doutor treme em cima dos sapatos. Seja ele rei ou arquiteto, pau-de-arara, comerciário ou ministro, fica de lábio trêmulo e olho rútilo”.

“O amoroso é sincero até quando mente”.

“Toda mulher bonita é namorada lésbica de si mesma”.

“O homem só é feliz pelo supérfluo. No comunismo, só se tem o essencial. Que coisa abominável e ridícula!”


“Os defeitos existem dentro de nós, ativos e militantes, mas inconfessos…”

“O ‘homem de bem’ é um cadáver mal informado. Não sabe que morreu”.

“Até os canalhas envelhecem”.

“Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canudos para contar a história do povo brasileiro”.

“A adúltera é a mais pura porque está salva do desejo que apodrecia nela”.

“Começava a ter medo dos outros. Aprendia que a nossa solidão nasce da convivência humana”.


“Não há nada mais relapso do que a memória. Atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de figuras”.

“O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele”.

“Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.

“Se o Fluminense jogasse no céu, eu morreria para vê-lo jogar”.


“A dúvida é autora das insônias mais cruéis. Ao passo que, inversamente, uma boa e sólida certeza vale como um barbitúrico irresistível”.

“Pode-se identificar um Tricolor entre milhares, entre milhões. Ele se distingue dos demais por uma irradiação específica e deslumbradora.”

“Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante”.

“Criou-se uma situação realmente trágica: — ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”.

“Via de regra, cada um de nós morre uma única e escassa vez. Só o ator e reincidente. O ator ou a atriz pode morrer todas as noites e duas vezes aos sábados e domingos”.

“Nada nos humilha mais do que a coragem alheia”.

“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”.

” …O homem deseja sem amar, a mulher deseja sem amor”.

“Todo tímido é candidato a um crime sexual”.

“Quem nunca desejou morrer com o ser amado nunca amou, nem sabe o que é amar”.

“O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Que Brasil formidável seria o Brasil se o brasileiro gostasse do brasileiro”.

“O amigo é um momento de eternidade”.


“Não me venham falar em Di Stéfano, em Puskas, em Sivori, em Suárez. Eis a singela e casta verdade: não chegam aos pés de Pelé. Quando muito, podem engraxar-lhe os sapatos, escovar-lhe o manto”.

“O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento”.

“Nossa ficção é cega para o cio nacional. Por exemplo: não há, na obra do Guimarães Rosa, uma só curra”.


“Um Garrincha transcende todos os padrões de julgamento. Estou certo de que o próprio Juízo Final há de sentir-se incompetente para opinar sobre o nosso Mané”.


“Toda coerência é, no mínimo, suspeita”.

“A maioria das pessoas imagina que o importante, no diálogo, é a palavra. Engano, e repito: – o importante é a pausa. É na pausa que duas pessoas se entendem e entram em comunhão”.

“Se Cristo, em vez de morrer na cruz, tivesse morrido de coqueluche aos quatro anos, não teria sido Cristo!”

“Só não estamos de quatro, urrando no bosque, porque o sentimento de culpa nos salva”.

“A morte de um velho amigo é uma catástrofe na memória. Todas nossas relações com o passado ficam alteradas”.


“Em 1911 ninguém bebia um copo d´água sem paixão”.

“A fome é mansa e casta. Quem não come não ama, nem odeia”.

“Em nosso século, o “grande homem” pode ser ao mesmo tempo, uma besta!”

“Não ama seu marido? Pois ame alguém, e já. Não perca tempo, minha senhora!”


“Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura”.


“Os heróis morrem em combate. Não dá tempo ao destino de flagrá-los na cama ou na cadeira de balanço!”

“Se eu tivesse que dar um conselho, diria aos mais jovens: – não façam literatice. O brasileiro é fascinado pelo chocalho da palavra”.

“Quero crer que certas épocas são doentes mentais. Por exemplo: – a nossa”.

“No Brasil, quem não é canalha na véspera é canalha no dia seguinte”.


“Minhas peças são obras morais. Deveriam ser encenadas na escola primária e nos seminários”.

“Não admito censura nem de Jesus Cristo”.

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