Segunda parte da trilogia Som & Fúria

Foto: Ivana Moura

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas, de Felipe Hirsch, é a segunda parte da trilogia Som & Fúria, iniciada com A Vida é Cheia de Som e Fúria, em 2000.

A vida é cheia de som e fúria foi apresentada no Fringe, a mostra paralela do festival de Curitiba daquele ano. Faz 11 anos. O espetáculo lotou todos os dias e virou um dos grandes fenômenos recentes do teatro brasileiro. A grande jogada de A vida é cheia… foi justamente atrair ao teatro gente que nem pensava em passar pela porta. Lembro que, na temporada no Recife, muitas daquelas pessoas que diziam “Vá ao teatro, mas não me chame”, estavam lá batalhando um ingresso. Eram os fãs dos setlist que ficou muito na moda por um tempo e nunca saiu de cena por completo.

A vida é cheia de som e fúria é inspirada no livro Alta Fidelidade, do escritor britânico Nick Hornby e conta a história de um dono de uma loja de discos viciado em listas. Sua relação íntima e individual com a música projetava uma avalanche de emoções juvenis nesse público sedento por uma energia de show de rock na sala de teatro. Deu certo.

A carreira de Hirsch, do ator Guilherme Weber e da Sutil Cia. foram alavancadas.

Em Trilhas Sonoras de Amor Perdidas Guilherme Weber interpreta o jornalista e radialista que coleciona mixtapes e suas histórias de amor. E, para isso, utiliza algumas referências recentes da vida cultural de Curitiba, como a lendária rádio curitibana Estação Primeira. A atriz Natália Lage faz Soninho e a peça também conta com as participações de Maureen Miranda e Luiza Mariani.

O diretor Felipe Hirsch afirmou que a peça não é uma sequência de A vida é cheia… Ele garantiu, em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, que Trilhas Sonoras de Amor Perdidas não é um Som e Fúria 2:

“Isso não existe e eu deixei claro desde o começo. Em nenhum momento a história continua, não é o mesmo personagem, mas é um espetáculo sobre música… e relações amorosas. Tem uma questão central que, ao mesmo tempo, é bem abrangente; são as mixtapes (fitas caseiras com várias músicas de artistas diferentes). Material meu coletado por dez anos que me interessou desde sempre. Li um texto muito bonito sobre isso do Thurston Moore [guitarrista da banda Sonic Youth] e, a partir desse livro, dos relatos que ele coleciona lá, eu comecei a coletar esse tipo de material. Milhares de fitas minhas e de amigos… com suas histórias. A peça é uma mixtape. Uma grande colagem, e como esse processo é feito manualmente, foi uma adaptação dramatúrgica bem difícil.”

Trilhas Sonoras de Amor Perdidas abre com a música Rag and Bone, de The White Stripes. Apenas o palco iluminado e quatro minutos da música, em que Meg e Jack encontram um lugar que é feito uma mansão de sucata. E para cada objeto eles ficam imaginando um destino. Essa música foi gravada no álbum Icky Thump, de 2007.

O roteiro utiliza as passagens musicais para contar essa história de protagonista com Soninho, entre os anos 1980 e 1990 quando ela morre abruptamente de embolia pulmonar, jovem, muito jovem, aos 23 anos de idade.

Soninho deixa protagonista viúvo

Há excesso de trechos de músicas. É uma longa viagem pela geração das mixtapes. O narrador protagonista empreende um mergulho nostálgico de luto e reparação quando começa a abrir aquelas caixas para contar do amor e da convivência com Soninho, que durou de 1989 a 1994, quando ela morreu.

A memória musical do protagonista, e de Felipe Hirsch, está repleta da sonoridade de Velvet Underground, Lou Reed, Husker Du, Cure, The Smiths, Lloyd Cole, Sonic Youth, T-Rex, Gladys Knight , Jesus & Mary Chain, , The Replacements, Pretenders. E referências literárias do poeta, romancista e cantor Leonard Cohen e literárias como J.D. Salinger e Arthur Rimbaud.

A peça que se passa em Curitiba e São Paulo, depois que o protagonista fica viúvo e chega à conclusão que tem que seguir em frente, com outras músicas, mesmo que sua alma vibre na memória das músicas do passado. O texto é cheio de frases de efeitos e umas ideias bem humoradas, beirando o surto de ideias juvenis, como a que afirma que o Desintegration, do The Cure, foi determinante para a queda do Muro de Berlim, por exemplo.

Rodrigo, minha ideia era responder seu comentário. Terminei escrevendo outro post.

Postado com as tags: , , , ,

1 pensou em “Segunda parte da trilogia Som & Fúria

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *