O que ver no Janeiro – parte 2

Atrações desse Janeiro inclui teatro música e dança

Atrações desse Janeiro inclui teatro música e dança

Paulo de Castro, um dos produtores do Janeiro de Grandes Espetáculos (as outras duas são Carla Valença e Paula de Renor) enche o peito ao dizer que qualquer coisa que colocar no festival lota. Mais uma vez tem sido assim, em teatros de pequeno e de médio porte – para no máximo 150 espectadores. Como também nas apresentações para mais de 700. Uma ou outra atração foge à essa “regra”. Algumas dessas produções, inclusive, mostraram fôlego para mais de uma sessão.

Mas não dá para entender porque programar peças chocando horários, em vez de fazer um exercício mais criativo de escalonamento. Na terça-feira, as três atrações – Puro Lixo, Microclima e o show Sons de Latada com Josildo Sá, ocorreram no mesmo horário. E por que a decisão de deixar as duas segundas-feiras apenas com leitura dramatizada e agendar em outros dias até seis ou oito montagens?

Nesta quarta-feira são seis no festival: Alguém para fugir comigo, às 19h, no Marco Camarotti; A Gaivota, Martelada e Dùvido, às 20h, respectivamente no Barreto Júnior, Arraial e Luiz Mendonça. Além do show Mestres do Mundo, com Margareth Menezes, às 20h30, no Santa Isabel e Zumba às 21, no Hermilo Borba Filho. No domingo estão na lista nove apresentações, melhor distribuídas, é verdade.

Bem, mas vamos à programação, Vanessinha, desta quarta-feira. E veja que sua opção vai depender do humor, do seu humor ou do seu amor. Tem música de Margareth Menezes para acalentar o coração em Mestres do Mundo. Mergulho na possibilidade impalpável da pós-morte ou de uma vida paralela na dança contemporânea da Sopro de Zéfiro, em Dùvido. A crença nas cumplicidades e fidelidades contra todas as evidências de traições no mundo atual, na peça Alguém para fugir comigo. As batidos do personagem do cavalo-marinho e as tradições orais no peça de Claudio Ferrario, Martelo.  A releitura do clássico A Gaivota, de Anton Tchekhov, com direção de Sandra Possani. O tom político da peça Zumba, baseada em obra de Hermilo Borba Filho. 

Mestres do Mundo, com Margareth Menezes

Margareth Menezes vai fazer um arraial no Santa Isabel. Foto: Divulgação

Margareth Menezes vai fazer um arraial no Santa Isabel. Foto: Divulgação

Sanfona, esse instrumento endiabrado, que permite possibilidades infinitas de exploração sonora é o elo de ligação do show Mestres do Mundo, que a cantora baiana apresenta nesta quarta-feira. Musa do afropop brasileiro, a artista se joga nas riquezas  rítmicas e poéticas de três sanfoneiros ilustres: Sivuca, Dominguinhos e Luiz Gonzaga. Beto Hortis lidera com o seu instrumento musical de 120 baixos uma trupe de instrumentistas. 

Duração: 1h10
Classificação etária: livre
Criação do projeto e produção executiva: Margot Rodrigues
Direção musical e arranjos: Beto Hortis
Direção artística: Maria Paula Costa Rêgo
Direção de arte: Carol Silveira
Textos: Bráulio Tavares
Plano de luz e operação: Cleyson Belo
Som: André Coroa
Câmera: João Vicente
Produção: Salviano Medeiros e Gilvan Fernandes
Músicos: Margareth Menezes (vocal), Beto Hortis (sanfona), Aglaia Costa (rabeca, violino e percussão), Gleidson Zabumbeiro (zabumba), Tiago Filho (viola de 7 cordas e guitarra), Mongol (contrabaixo), Jerimum de Olinda (percussão e efeitos) e Allyson Aguiar (bateria)

SERVIÇO
Mestres do Mundo, com Margareth Menezes
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quando: dias 25 (quarta), às 20h30h
Quanto: R$ 80 e R$ 40
Classificação etária: a partir dos 14 anos

Alguém Pra Fugir Comigo, por Quiercles Santana

Texto fragmentado e direção de Quiercles Santana

Texto fragmentado e direção de Quiercles Santana

A injustiça se banalizou, a grosseria e descortesia se manifestam a todo instante. Na fila do banco, no ponto de ônibus, na plateia do teatro. A civilidade é uma palavra em desuso, na prática. A peça Alguém pra Fugir comigo, que estreia neste Janeiro, já fez alguns ensaios abertos no ano passado. Mas eu não vi. A encenação explora esse desejo de ter companhia na caminhada pela vida.

A dramaturgia fragmentada inclui textos políticos, filosóficos, líricos, além de episódios cotidianos ocorridos recentemente ou mesmo no século 19, para amplificar no palco a crise ética, social e humana. “É sobre ser humano e ser pedra. Ter e perder o seu lugar no mundo, na vida, na relação com o outro. É sobre nós, nossos sonhos, vontades, urgências”, sintetiza o material de divulgação. Alguém pra Fugir Comigo remexe o terreno das existências apequenadas. Mas faz o giro para não ficar na acomodação e sinaliza a capacidade de insurreição, de subversão, de rebeldia inscrita na própria arte.

A encenação utiliza trechos de Margareth Atwood, Harold Pinter, Louis Vauthier, Karl Marx, Gilles Chantelet, Enrique Buenaventura, Sandor Márai, Albert Camus, Bertolt Brecht, Marcelino Freire, Quiercles Santana e alunos-atores do Curso de Formação do Sesc de Santo Amaro para formar esse caleidoscópio. A encenação é de Quiercles Santana.

Duração: 1h30
Classificação etária: a partir dos 14 anos
Textos: vários fragmentos de histórias justapostas e intercambiáveis
Encenação: Analice Croccia e Quiercles Santana
Assistência dramatúrgica: Ana Paula Sá
Desenho de luz: Elias Mouret
Direção musical: Katarina Menezes e Kleber Santana
Desenho de som: Kleber Santana
Preparação de corpo e movimento: Patrícia Costa
Cenotécnico: Flávio Freitas
Direção artística e produção: Resta 1 Coletivo de Teatro
Elenco: Analice Croccia, Ane Lima, Caíque Ferraz, Ludmila Pessoa, Luís Bringel, Nataly Sousa, Pollyanna Cabral e Willams Rosendo

SERVIÇO
Alguém Pra Fugir Comigo
Resta 1 Coletivo de Teatro (Recife/PE)
Onde: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro)
Quando: dias 25 e 26 de janeiro de 2017 (quarta e quinta-feira), às 19h
Quanto: R$ 30,00 (Inteira) e 15,00 (Meia)
Classificação etária: a partir dos 14 anos

A Gaivota, com direção de Sandra Possani

Cena de A Gaivota, com turma dos formandos do Sesc de Piedade. Foto: Divulgação

Cena de A Gaivota, com turma dos formandos do Sesc de Piedade. Foto: Divulgação

A Gaivota, com texto de Anton Tchekhov,  da turma de atores do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc Piedade, também estreia nesta quarta-feira. A peça expõe uma guerra de paradigmas entre o novo e o conservador de mentalidades e na literatura. O jovem e inseguro dramaturgo Treplev vive acuado entre a rejeição da mãe e a tristeza de ter perdido Nina, sua amada. Ele deseja renovar o teatro e encontra resistência na figura de Trigorine, autor tradicional e bem-sucedido.

O espetáculo reflete os conflitos de modelos numa sociedade em transição, a partir situações cotidianas com pessoas comuns em sua vida prosaica.

O autor russo Anton Tchekhov deixou quatorze peças teatrais, dentre elas A Gaivota, Tio Vânia (1889-1900), As Três Irmãs (1901) e O Jardim das Cerejeiras (1904). Além de dois ensaios, cinco novelas e quase duzentos contos.

Com adaptação e direção da encenadora Sandra Possani, a montagem investiga as frustrações dos personagens, suas mudanças de humores, seus desejos e ideais, perseguindo o tom tchekhoviano, de entender que as coisas são tristes e engraçadas ao mesmo tempo.

Ficha Técnica
Duração: 1h20
Classificação etária: a partir dos 12 anos
Texto: Anton Tchékhov
Direção cênica: Sandra Possani
Assistência de direção: Almir Martins
Equipe envolvida na criação/interpretação da encenação: Sandra Possani, Anamaria Sobral, Ana Elizabeth Japiá, Caio Andrade e todos os alunos
Laboratório de personagem: Cira Ramos
Iluminação: Eron Villar
Colaborador na criação da iluminação: Thiago Leal
Cenografia, figurinos e maquiagem: Célio Pontes
Visagismo de cabelo: Belas Art’s Cabeleireiros e Estética
Sonoplastia e criação sonora/musical: Adriana Millet
Composição musical: Lucas Ferr, Géssica Beda e Amanda Spacca
Técnica vocal: Leila Freitas
Assistentes de produção: Caio Andrade, Saulo Mendonça, Rakelly Nogueira, Ariele Mendes, Almir Martins e Guilherme Kokeny
Coordenação de produção: Ana Júlia da Silva e Ivana Motta
Supervisão geral: Rudimar Constâncio
Elenco de atores-alunos: Conceição Santos, Lucas Ferr, Anderson G-zuis, Amanda Spacca, Rômulo Ramos, Elisa Lucena, Géssica Beda, Jailton Júnior, Winy Mattos e Daniel Gomes

A Gaivota – Curso de Interpretação Para Teatro do SESC Piedade (Jaboatão dos Guararapes/PE)
Onde: Teatro Barreto Júnior
Quando: dias 25, 26 e 27 de janeiro de 2017 (quarta, quinta e sexta-feira), 20h
Quanto: R$ 10 e R$ 5

Martelo, com Claudio Ferrario

Claudio Ferrario. Foto: Déa Ferraz

Claudio Ferrario. Foto: Déa Ferraz

Claudio Ferrario é um velho contador de histórias, que embaralha fatos e ficções, do alto do orgulho e sabedora popular do seu personagem. Dos Mateus que encontramos nos brinquedos populares das cidades da Zona da Mata de Pernambuco, o ator compilou histórias, subverteu outras e elegeu Martelo, um desses palhaços, para ser recriado em seu espetáculo. O cabra conta suas aventuras de idas e voltas ao inferno, com doses de mistério e poesia.

A encenação tem momentos engraçados e outros mais densos. Nessa narrativa, o personagem do cavalo-marinho guardador de mistérios e histórias faz do público cúmplice. E segue num entra e sai de beco de conversas encantadas que parecem não ter fim.  E a montagem equaliza os tempos e as mudança de intenções com uma luz bem marcada.

Sozinho no palco o ator atrai para si o espírito desses Mateus a espantar os espíritos perversos com as bexigadas da figura de cara pintada e alma lavada.

Todas as sessões desta temporada de Martelo têm lotado. Então é bom não deixar para adquirir o ingresso de última hora. Sob o risco de ficar para a próxima temporada.

Zumba, de Hermilo Borba Filho

Mario Miranda,Daniel Barros e Flávio Renovato em Zumba

Mario Miranda, Daniel Barros e Flávio Renovatto em Zumba

A Gloriosa Vida e o Triste Fim de Zumba-Sem-Dente ou simplesmente Zumba é uma adaptação do diretor Carlos Carvalho do conto O Traidor, de Hermilo Borba Filho. Na peça, o sapateiro socialista Zumba desafia o regime militar e se candidata à prefeito da cidade de Palmares.
A peça mostra a pressão, as perseguições e os bastidores do poder, que ganha uma dimensão maior quando projetamos os acontecimentos reais ocorridos nos últimos tempos no Brasil.

Zumba utiliza projeções em vídeo e bonecos de mamulengo para dinamizar a montagem. Houve uma encenação, também dirigida por Carvalho e com Jones Mello no papel principal, agora defendido por Mário Miranda, que abriu o Janeiro de 2002.

Veja também outros posts sobre Zumba publicados no Yolanda: A luta de Zumba-Dentão
Política no sangue de um sapateiro

Dùvido, com a Cia. Sopro de Zéfiro

Dança explora a intuição e o mistério do universo impalpável. Foto: Fernando Azevedo

Dança explora a intuição e o mistério do universo impalpável. Foto: Fernando Azevedo

Tem gente que morre afirmando que só que existe  o que os seus olhos (limitados) conseguem ver. Mas há outras criaturas que aceitam a existência de um outro universo, mas imaterial, abstrato e metafísico onde os seres podem se encontrar. O trabalho coreográfico Dùvido, da Companhia Sopro-de-Zéfiro /Cecília Brennand mergulha nessas indagações da finitude do plano terrestre e da possibilidade de que haja algo maior no fim do túnel.

A obra investe nesses questionamentos de recomeços para a além dessa vida, universo impalpável e vazio existencial.

Duração: 1h
Classificação etária: livre
Direção geral: Cecília Brennand
Concepção, coreografia e direção artística: Ana Emília Freire
Assistente de direção: Carla Machado
Plano e operação de luz: Cleison Ramos
Coordenação de produção: Deborah Priston Carruthers
Produção executiva: Vânia Oliveira
Elenco: Alyne Firmo, Carlos Canto, Julyanne Rocha, Karla Cavalcanti, Lidy Bergman, Luzii Santos, Madson Erick, Rodolpho Silva, Rodrigo Gomes, Silas Samarky, Thiago Barbosa, Natália Jonas, Gabriel Ramos, Amanda França, Jonas Alves e Laís Roselli

SERVIÇO
Dùvido
Quando: Dia 25 de janeiro (quarta-feira), 20h,
Onde: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu)
Quanto: R$ 30 e R$ 15

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