Amor e música pop

Peça do curitibano Felipe Hirsch tem três horas de duração e é a segunda parte da trilogia Som & fúria

A peça de Felipe Hirsch Trilhas sonoras de amor perdidas era a mais aguardada do Festival de Teatro de Curitiba. É verdade que a mostra principal também abriga o lançamento dos espetáculos do Grupo Galpão, Tio Vânia, direção de Yara Novaes para o texto de Tchekhov; da Armazém Cia. de Teatro , Antes da coisa toda começar, Tathyana, da Cia. Deborah Colker, a versão de Édipo, de Sofocles, de Elias Andreato, Os 39 graus, dePatrick Barleow, comdireção de Alexandre Reinecke com Dan Stulbach e Danton Melo no elenco; Preferiria não?, 27º espetáculo de Denise Stockos. Mas nada se igualava à expectativa de Trilhas sonoras… A pré-estreia no Teatro Bom Jesus foi com casa lotada.

É a segunda parte da trilogia Som & fúria, iniciada com A vida é cheia de som e fúria, em 2000, que fez temporada no Recife na sequência.

Em Trilhas sonoras de amor perdidas, Hirsch derrama suas memórias musicais na trajetória do jornalista e radialista, que encontra Soninho, apaixona-se por ela e com ela divide as mixtapes (fitas caseiras com várias músicas de artistas diferentes) para todas as horas. Das fitas para ouvir no carro às das loucuras da intimidade.

Guilherme Weber é o protagonista da montagem, que utiliza algumas referências recentes da vida cultural de Curitiba, como a lendária rádio curitibana Estação Primeira. A atriz Natália Lage faz Soninho e a peça também conta com as participações de Maureen Miranda e Luiza Mariani.

O roteiro utiliza as passagens musicais para contar essa história do radialista com Soninho, entre 1989 e 1994, quando ela morre abruptamente de embolia pulmonar, jovem, muito jovem, aos 23 anos de idade.

O narrador protagonista empreende um mergulho nostálgico de luto e reparação quando começa a abrir aquelas caixas para contar do amor e da convivência com Soninho.

Atores Guilherme Weber e Natália Lage protagonizam Trilhas sonoras de amor perdidas

A memória musical do protagonista, e de Felipe Hirsch, está repleta da sonoridade de Velvet Underground, Lou Reed, Husker Du, Cure, The Smiths, Lloyd Cole, Sonic Youth, T-Rex, Gladys Knight , Jesus & Mary Chain, The Replacements, Pretenders. E referências literárias do poeta, romancista e cantor Leonard Cohen e literárias como J.D. Salinger e Arthur Rimbaud.

A peça que se passa em Curitiba e São Paulo, depois que o protagonista fica viúvo e chega à conclusão que tem que seguir em frente, com outras músicas, mesmo que sua alma vibre na memória das músicas do passado. O texto é cheio de frases de efeito e umas ideias bem humoradas, beirando o surto de deduções juvenis, como a que afirma que o Desintegration, do The Cure, foi determinante para a queda do Muro de Berlim, por exemplo.

São três horas de duração, em dois atos, com 15 minutos de intervalo. Desfilam trechos de 90 músicas. Parece um exagero. Mas analisando com distância, talvez o diretor queira impor à plateia esse tempo dilatado que traduz a dor da perda. Parece um tempo que não acaba nunca, para quem está passando por isso. O tempo infindável da dor.

* A jornalista viajou a convite da produção do Festival de Teatro de Curitiba

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