Arquivo mensais:dezembro 2016

Fiac segue na inquietude de seu tempo

Nós, do Grupo Galpão. Foto: Fiac / Divulgação

Nós, do Grupo Galpão. Foto: Fiac / Divulgação

“Para onde ir?”, debate-se o Grupo Galpão, num movimento interno de auto purgação, que também provoca pequenos abalos sísmicos pelo país com o espetáculo Nós. Os atores estão vibrando sobre convivência em grupo, diferenças, tolerâncias e afetos alçados ao limite. Mas também da ambivalência, de um ethos desnudado frente ao público e que revela as contradições do mundo contemporâneo.

A peça Nós é a 23ª produção da trupe mineira em 34 anos de existência. O trabalho dirigido por Marcio Abreu – encenador da Companhia Brasileira de Teatro – com dramaturgia construída coletivamente e texto assinado por Eduardo Moreira e pelo diretor, traduz inquietações dos seus integrantes, os atores Eduardo Moreira, Antonio Edson, Chico Pelúcio, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André e Teuda Bara.

Já no início da peça, a trupe chama para a ideia de comunhão, quando Teuda Bara entoa “comendo a mesma comida, bebendo a mesma bebida, respirando o mesmo ar”, versos de Lama, de Paulo Marques e Ailce Chaves, um dos sambas-canções mais celebrados no repertório de fossa, gravado por Linda Rodrigues, Gilda Valença (em forma de fado), Maria Bethânia e Núbia Lafayette.

Essa ideia de confraria se faz presente na preparação da sopa, na frase cênica de Teuda Bara “É pra refrescar!”, que salienta a importância do encontro. As conversas entrecortadas aceleram para outros caminhos, de repetições, perguntas, coreografias. Para conjecturar sobre o espaço da partilha, da confraternização, de estar junto, da vontade da maioria, do respeito à minoria. A encenação Nós também rasga os tecidos da violência que contagiou o mundo e toca na crise da esquerda brasileira.

Numa cena emblemática do espetáculo, a personagem de Teuda Bara é escorraçada, expulsa de forma agressiva, à base de sopapos e pontapés, apesar de sua resistência. É possível associar a cena ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff, mesmo que tenha sido criada antes do impeachment. É um momento angustiante que traça um arco da política do micro ao macro.

A encruzilhada que a pergunta inicial suscita, reforçada pela expulsão de Teuda Bara, me fez convocar pensadores para tentar entender questões caras cravadas em nossa carne pela eletrizante performance do grupo. Enxergo espelhada na cena uma crítica da ética indolor, na perspectiva do filósofo francês Gilles Lipovetsky, que vem na esteira do esgotamento dos ideais e do declínio da moral. Com o self interest do sujeito exaltado por Lipovetsky o dever é diminuído às rés do chão nessa sociedade pós-dever, sem obrigações difíceis.

Contra o minimalismo ético de Lipovetsky (fincado na exaltação dos desejos, do ego, do individualismo hedonista e narcisista), pulsam na cena lampejos do que o teórico da “modernidade líquida”, o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama de “ser-para”, de que existe uma responsabilidade para com o outro, da alteridade.

Então, mesmo diante desse cenário movediço de incerteza e de relativismo moral, de ligações e de desligamentos, em que as pessoas se constroem e desmancham-se, há uma corrente que defende que não somos meros objetos a serem descartados. A construção da democracia no jogo cotidiano se faz também do atrito entre figuras diferentes. A peça Nós pergunta antes de tudo terminar: como recomeçar ou começar algo novo? Alguma esperança na seara dos afetos, com o espelho refletindo o espectador antes do chamamento para a balada.

O espetáculo Nós abriu o Festival internacional de Artes Cênicas da Bahia – Fiac, realizado de 25 a 30 de outubro de 2016, em Salvador, e que nesse ano reforçou a urgência de tomar posições críticas diante da realidade. Uma edição que assumiu a política no seu sentido mais franco e humano, a micropolítica de todo dia comprometida com o coletivo, com aquilo que nos é comum, nas palavras de Felipe Assis, um dos coordenadores gerais do Festival, ao lado de Ricardo Liborio.

Pátio do Institulo Goethe. Foto: Fiac / Divulgação

Pátio do Goethe-Institut. Foto: Leonardo Pastor / Fiac / Divulgação

Como posicionar discurso e ação, quebrando regras para criar outros jogos e novos modos de (re)existir em tempos de crise, como convocar a participação coletiva foram disparadores da nona edição do Fiac Bahia. A proposta é de engajamento direto, em detrimento a esquemas de representação. Uma convocação à presença; ou seja, um convite para “meter mão”, tanto no sentido figurado, quanto literal.

Em conversa com o Felipe Assis, ele ressaltou a importância dos trabalhos que se apresentam como resultado, mas também as atividades de formação. A quebra da hierarquia foi um procedimento para valorizar também o processo. “Porque os resultados podem servir a uma lógica de mercado de produto. Mas a gente sabe que é o tempo contínuo de elaboração também se conecta o processo da prática artística. E que nos últimos tempos se tem valorizado o lugar do processo em detrimento muitas vezes do resultado”. Por isso que para ele uma atitude, uma postura política pode ser em alguns casos mais relevante que o resultado estético muito bem-acabado e facilmente comercializável.

Aplicação variada de prática artísticas na curadoria como risco, presença, múltiplas tradições, narrativas fragmentadas, participação estiveram na mira do festival. E em 2016 o Fiac deu relevo à participação como princípio ativo. Para isso contou com um grupo gestor e curador ampliado, composta por 16 mãos que construíram a identidade do festival – coordenações geral, administrativa, técnica, logística e de atividades formativas, além da assessoria jurídica e de comunicação. A equipe fez com que essas ideias pulsassem em todas as ações do festival, das questões políticas e da coletividade.

Ao longo de seis dias, a pergunta que norteou as ações do Fiac Bahia foi como reinventar a participação coletiva diante de tantas rupturas? As respostas vieram de várias formas, principalmente nas tentativas de fortalecer vínculos comuns, entre artistas, produtores, público, sociedade. Tarefa difícil, mas engendrada nas microrrelações de empoderamento.

O festival se tornou “uma rede que se retroalimenta e estabelece vínculos com outras iniciativas interessadas mais em perguntas do que em respostas”.  Muitas ações foram feitas a partir dessa decisão: de criação e intervenção visual e algumas oficinas, ampliação do Seminário Internacional de Curadoria e Mediação em Artes Cênicas.

As peças de divulgação reforçam a proposta de horizontalidade. O público e os participantes do Fiac Bahia foram convidados a personalizar cartazes e programas nos ateliês abertos de serigrafia, carimbo, estêncil e xilogravura montados no Pátio do Goethe-Institut. A confecção desse material incorpora produção industrial e artesanal e foi possível a partir da parceria da TANTO Criações Compartilhadas com a Sociedade DA Prensa. O festival incentivou a “meterem mão” nesse processo e customizar ao mesmo tempo que provoca reflexões sobre autoria, gesto artístico, ser artista e ser público.

Festa em Casa: Ocupação Coaty. Foto: Leonardo Pastor

Festa em Casa: Ocupação Coaty. Foto: Leonardo Pastor

Festa em Casa: Casa Preta - FIAC Bahia 2016. Foto: Leonardo Pastor

Festa em Casa: Casa Preta – FIAC Bahia 2016. Foto: Leonardo Pastor

O festival se espalhou por 12 espaços de Salvador. Com exceção do Teatro Castro Alves, com capacidade para mais de mil pessoas (mas que na realidade funcionou no palco para público mais concentrado), os outros espaços estão voltados para plateias de até 200 lugares, incentivando um convívio mais próximo da experiência cênica. Foram utilizados Teatro e Pátio do Goethe-Institut, e Teatro Vila Velha, Teatro Martim Gonçalves, Espaço Cultural Barroquinha, Teatro Martim Gonçalves, Teatro Experimental, Teatro Gregório de Mattos, Casarão Barabadá, Casa Preta, Coaty e Oliveiras.

Os sentidos de convivência, de se apropriar da cidade em seus casarões carregados de história ganharam atitudes nos encontros noturnos do Fiac, com as “Festas em Casa”. Na direção de dialogar com os projetos de ocupação artistas de Salvador receberam artistas e público para contato mais próximo. Um impulso para essa reinvenção do coletivo, da possibilidade de compartilhamentos com instigação festiva. Bandas e Djs de vozes e ritmos variados animaram o Casarão Barabadá, Ocupação Coaty, Oliveiras, Casa Preta.

O exercício do pensamento crítico teve atuação da DocumentaCena, com a participação das casas Questão de Crítica (RJ), Satisfeita, Yolanda (PE)? e Horizonte da Cena (BH), e de outros profissionais como Antropositivo (SP), Agora (RS), Barril (BA) e Precisa-se Público (RJ).

A programação reuniu um leque de espetáculos posicionados de forma crítica frente às questões da contemporaneidade. Nessa 9ª edição, o Fiac quis sacudir o “espectador” para assumir um papel mais ativo, na cena ou fora dela. Chacoalhou.

Seguem comentários sobre outros espetáculos que assisti durante o festival:

O BOBO

Caio Rodrigo mistura Yorick, da peça Hamlet, e a figura do bobo de Rei Lear, ambas de William Shakespeare, para criar um personagem que dispara sua metralhadora giratória, contra tudo e todos. E ele está no meio. O espetáculo O Bobo, do Teatro Terceira Margem, se arvora a dizer verdades antes de um suicídio anunciado. O ator está em cena vestido apenas por uma cueca preta. A ironia que sai da sua boca e de seus gestos se esparrama pelo teatro e ele convoca trechos de obras de Albert Camus, Maquiavel, Caetano Veloso, fragmentos de ensaios filosóficos para reforçar sua munição acusatória.

O intérprete joga com as teorias teatrais e envereda em seu discurso pelas ruelas do ofício do ator, questionando filigranas e trocando de máscaras para defender seus pontos de vista.

Caio Rodrigo anuncia a si próprio como codiretor rejeitado duas vezes na pós-graduação, músico amador e maconheiro, figurinista que não teve trabalho, ator/criador meio frustrado e aspirante a professor da UFBA. Ficção com fundo de verdade?

Criação conjunta de Caio com o diretor teatral Daniel Guerra, O Bobo é bom de provocações metateatrais. Dividida em quadros, a peça circula por várias poéticas e questiona o conceito da presença e a relação entre artista e público. Algumas funcionam, outras nem tanto, como a “para quem se faz teatro?”, que se torna uma questão primária diante de todo o esforço de criar um mosaico inteligente e desafiador de pensamento cênico performado. A trilha sonora de Juracy do Amor (Beef), explora texturas, riffs de guitarra ao vivo e potencializa o clima do programa.

ENDOGENIAS

O título Endogenias traduz o processo de valorização dos próprios intérpretes do Balé Teatro Castro Alves como criadores da companhia baiana de dança contemporânea. O espetáculo é formado por três coreografias distintas (Generxs, de Leandro de Oliveira; Youkali, de Konstanze Mello; e Dê Lírios, de Tutto Gomes), apresentadas com a plateia sentada no próprio palco da sala principal.

Imagens e contextos do cotidiano são inspiradores da coreografia Generxs que cria um ambiente de embate para discutir o gênero, a identidade de gênero, a sexualidade, a relação de poder entre masculino e feminino, o machismo. A obra de Leandro de Oliveira produz potentes movimentos e fluxos de imagens nas articulações das cenas sobre a criminalização e o preconceito; a tolerância relativa; e a celebração. Em determinado momento da peça coreográfica, pessoas do público recebem bolinhas e são incentivadas a jogar em um personagem que assume sua homossexualidade. Em seguida, outro bailarino, montado em uma sandália plataforma, pega o microfone e parte para discutir com a plateia sobre o procedimento, questiona a ação e faz um discurso contra o preconceito.

Tudo é permitido sem censura ou julgamentos em Youkali, da coreógrafa Konstanze Mello. É um quadro bem sensual. O bar dançante se transforma em lugar utópico onde os seres podem realizar seus desejos. Lá não existe conflito, discriminação, nem qualquer tipo de censura. A peça é livremente inspirada na obra Cabaré Youkali, do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), e do também alemão, o compositor Kurt Weill (1900-1950). Sugere uma caverna pós-moderna para onde se pode fugir da realidade opressiva e perversa.

Dê Lírios, de Tutto Gomes, trata das desilusões amorosas e chega ao palco com um sotaque nordestino e as influências norte-americanas e europeias. Carrega um tom nostálgico reforçado pela música Chorando e cantando de Geraldo Azevedo. A coreografia também faz referências indiretas ao Movimento Armorial lançado pelo escritor paraibano Ariano Suassuna (1927-1914).

Monica Santana questiona a invisibilidade, a visibilidade reduzida, os estereótipos, o silenciamento, a exotização e a hipersexualização.

Mônica Santana questiona a invisibilidade, os estereótipos, o silenciamento e a hipersexualização da mulher negra

ISTO NÃO É UMA MULATA – SOLO PERFORMÁTICO

No teaser do espetáculo Isto não é uma mulata, a atriz Mônica Santana queima uma edição de Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, entre outros livros e revistas. Ela defende o procedimento como ação política contra a lógica da democracia racial. Na peça, a atriz cita a famosa frase “branca pra casar, preta pra trabalhar e mulata para fornicar”. É contra esse tipo de discurso que a intérprete levanta a performance, da invenção da mulher negra no Brasil.

Antes de começar a sessão, enquanto o público aguardava o chamado, uma moça circulava a limpar o chão. Achei estranho. Mas isso já fazia parte da performance, da demonstração de invisibilidade dos papeis subalternos.

O espetáculo se alinha com o processo de muitas mulheres negras e da própria atriz. Dos procedimentos que adotou para ser notada, para parecer branca. Do autoengano de que não é tão preta assim à consciência da beleza e forças negras, que não admite o exotismo a animalização nem a hipersexualização.

A performance ironiza de forma potente a imagem da mulher negra nas artes e na mídia. Isto Não é Uma Mulata ataca clichês na representação da mulher negra. E é bastante contundente ao criticar os papeis redutores do trabalho doméstico, da sensualidade da passista carnavalesca e do corpo exuberante.

Como exercício de teatro político, a peça também cumpre a função de falar de afetividade e solidão, da feminilidade estilhaçada, de racismo. Enquanto prática política. Isto Não É Uma Mulata leva para o centro da discussão a invisibilidade, a visibilidade reduzida, os estereótipos, e o silenciamento. Num tom empoderado, agressivo até, de quem está pronta para o combate.

Antígona Recortada

Antígona Recortada, do Grupo Bartolomeu de Depoimentos

ANTÍGONA RECORTADA: CANTOS QUE CONTAM SOBRE POUSOS PÁSSAROS

Os clássicos são assim: têm fôlego para aceitar demandas contemporâneas, para afinar urgências políticas e crescer em poéticas. Ocorre com Antígona recortada: cantos que contam sobre pousos pássaros, montagem do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, que traz o mito grego de Antígona para os tempos atuais. A tragédia de Sófocles serve de base para mostrar meninas da periferia, que organizam uma ação contra o extermínio de seus irmãos pela ação do tráfico.

Já faz 13 anos que o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos surgiu com o intuito de traçar fluxos entre a cultura hip-hop com o teatro épico. O grupo é formado por Claudia Schapira, Eugênio Lima, Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva.

No texto original de Sófocles, Antígona defende o direito de enterrar o seu irmão Polinices com todas as honras fúnebres. Isso vai de encontro às ordens de Creonte (a figura do Estado), que decidiu que somente o outro filho de Édipo, Etéocles é merecedor de tais honras, pois foi morto em combate pela defesa Tebas, cuja sucessão do trono foi motivo da batalha entre os irmãos.

Antígona recortada pega do original grego a discussão do direito de as periferias sepultarem dignamente seus mortos exterminados pelo tráfico e com isso se insurge contra os chefes.

As atrizes-MCs Luaa Gabanini e Roberta Estrela D’Alva expressam com o corpo e a voz o trabalho de recolher os corpos dos meninos para promover o justo descanso. A palavra pronunciada ritmicamente (“spoken word”) pelas duas intérpretes é cercada, trancada e comentada nas batidas sintetizadas e misturadas pelo DJ Eugênio Lima, provocando uma potente experiência sensorial. E nessa mistura sonora entram diversos sons, falas – como as de Juscelino Kubitschek e Lula – e músicas de vários matizes, do MPB ao funk.

Com texto e direção de Claudia Schapira, a peça mira a violência exercida nas periferias e favelas, mas remete para as reivindicações de injustiças praticadas na ilegalidade ou ainda sob a capa da legalidade.

Artistas falam de um lugar que não existe mais

Artistas falam de um lugar que não existe mais

NÃO ME ENVERGONHO DO MEU PASSADO COMUNISTA

Sanja Mitrović (1978) e Vladimir Aleksić (1977) nasceram em Zrenjanin, na República Socialista Federativa da Iugoslávia, atual Sérvia. Ela trabalha atualmente entre Bruxelas e Amsterdã. Ele voltou à Sérvia para reconstruir sua vida. Amigos de infância, eles comungam da mesma memória de um país que não existe mais. A partir dessas lembranças pessoais, do passado socialista, do sentido de comunidade e da história do cinema iugoslavo, eles ergueram o espetáculo Não me envergonho do meu passado Comunista (I Am Not Ashamed of My Communist Past).

O sentimento de perda desses dois artistas é mostrado na peça numa mistura melancólica do auge ao colapso das empresas socialistas e o avanço do conservadorismo. Sanja e Vladimir traçam um diálogo entre cinema e teatro e utilizam uma série de estratégias – de comentários em áudio, sincronização simultânea para criar uma cena física e elucidação do que é fictício ao entrelaçar suas experiências de vida com as dos filmes, que formam um mosaico da história do território iugoslavo.  

Partindo da autobiografia da dupla, a peça expõe as transformações geográficas e afetivas impostas pelas guerras, o pós-socialismo, o neoliberalismo. A devastação da cidade natal dos artistas, que era uma potência econômica, atingiu a vida pessoal de cada um deles. Com arquivos de filmes que refletem uma multiplicidade de posições políticas e culturais, eles projetam as contradições da sociedade em que viveram.

Os testemunhos reais estão repletos de humor e de crítica ao capitalismo desenfreado, dos perigos do nacionalismo, do racismo e do ódio, da iconografia da destruição do Leste Europeu, e as identidades europeias numa época de grandes migrações globais.

Ator Eduardo Okamoto

Ator Eduardo Okamoto

OE

Um poema para a cena que sintetiza 28 imagens oscilantes entre a tradução do sonho e memória, vivência e imaginação, palavras e silêncios. O espetáculo Oe tem essa pretensão grandiosa, apesar de sua aparência simples. Traz um corpo altamente emotivo em gestos e expressões, mesmo as mais suaves. Esse solo com dramaturgia inspirada na obra do escritor japonês Kenzaburo Oe – vencedor do Nobel de Literatura de 1994, mais especificamente no livro Jovens de um novo tempo, despertai! trabalha com urgências e impossibilidades. Ao identificar a ameaça da morte, um homem escreve para o seu filho primogênito, que possui  deficiência intelectual, um livro contendo a definição de todas as coisas existentes no mundo.

O ator Eduardo Okamoto encara a vertigem terrível de um pai dividido entre amor e culpa em relação ao seu primogênito, um menino que sofre de uma deficiência intelectual congênita e se supõe eternamente dependente.

O diretor Marcio Aurelio utiliza poucos recursos: cenário reduzido a alguns objetos, uma movimentação desenhada e breves oscilações na voz. A dramaturgia de Cássio Pires ergue episódios que não seguem uma ordem lógica ou temporal.

O filho só desenvolveu a fala depois dos seis anos de idade, aprendendo com o som dos pássaros. O menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor respeitado no Japão e fora dele.

O espetáculo propõe um chamado para novas formas de cidadania, baseadas na responsabilidade intransferível de cada ser sobre suas ações: “[há uma] conexão existente entre a violência em escala mundial, representada por artefatos nucleares, e a violência existente no interior de um único ser humano”, escreve Kenzaburo Oe.

Para dar vida a tão profundo personagem, o ator Eduardo Okamoto realizou um estágio em 2014, no Kazuo Ohno Dance Studio, localizado no Japão, transportando sensações aos movimentos do corpo tirados do Butoh, dança japonesa criada por Tatsumi Hijikata e Kazuo Ohno.

 

 

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Para pensar sobre portas trancadas

Os dois Mateus do Baile do Menino Deus procuram a casa da Família Sagrada. Foto: Ivana Moura

Os dois Mateus do Baile do Menino Deus procuram a casa da Família Sagrada. Foto: Ivana Moura

Todos os anos, a chuva e o vento atuam como vilões do espetáculo O Baile do Menino Deus, erguido no Praça do Marco Zero, no centro do Recife, a céu aberto. Na sexta-feira, 23 de dezembro, estreia da temporada de 2016 eles fizeram o seu papel. Molharam o cenário,  desequalizaram o sistema de microfones, desafinaram refletores, instalaram uma guerra de nervos e provocaram um atraso de quase uma hora. Foi uma estreia tensa. Enquanto Quiercles Santana, diretor de cena, atores e coro; Tomás Brandão, assistente de direção musical e outros integrantes da equipe tentavam resolver esses percalços técnicos, os dois Mateus – Arilson Lopes e Sóstenes Vidal buscavam acalmar o público que aguardava impaciente com seus bordões e tiradas bem-humoradas.

Esses dois personagens indômitos da trama – a chuva e o vento – chegam sem avisar. É preciso saber conviver com eles. Sofri com os atores testando o som, naqueles minutos que pareciam infindáveis, torcendo para que tudo desse certo. Deu.

E o Baile começou com toda a garra e alegria que esse elenco de atores e dançarinos e a orquestra podem transmitir. Teve início uma magia que se repete há 13 anos no Marco Zero. Em busca dessa casa onde estão Jesus, José e Maria seguem os dois Mateus.

Para quem já viu tantas vezes consegue perceber até os defeitos, as falhas, o funcionamento do jogo. Mas o espetáculo é maior que tudo isso. Ele é grande. O Baile tem aquelas belas músicas de Antonio Jose Madureira (Zoca Madureira) executadas por uma orquestra regida pelo maestro José Renato. Um coro de vozes infantis e adultas afinadas e até quando saem do tom dão conta do recado.

Os solistas quebram a narrativa e conferem relevância às músicas nas variadas modalidades. Isadora Melo e José Barbosa, que interpretam também Maria e José; Silvério Pessoa em várias canções com pleno domínio de palco; e as vozes poderosas de Jadiel Gomes, Surama Ramos e Virgínia Cavalcanti.

Depois de muitas tentativas, os Mateus conseguem permissão para fazer a festa.

Depois de muitas tentativas, os Mateus conseguem permissão para fazer a festa

O espetáculo investe na busca do ser humano pelo sagrado, traduzido de uma forma bem concreta na perseguição dos dois Mateus por encontrar Jesus, José e Maria. Eles precisam descobrir o local e depois fazer com que a porta se abra.  É interessante a metáfora que o diretor e dramaturgo Ronaldo Correia de Brito costuma usar para as portas fechadas nesse mundo capitalista, dos muros segregadores (reais ou invisíveis) que excluem pessoas aos acessos aos direitos e bem-estar e o individualismo que predomina na sociedade.

Essas coisas estão nos subtextos dos dois bufões que amenizam a gravidade das coisas com suas brincadeiras e presepadas, cenas de efeito e um talento para comandar essa brincadeira. Arilson diz que faz um Mateus lírico. Sóstenes faz um contraponto mais prosaico. Os dois comandam bem o jogo nessa peregrinação.

Coro infantil.

Coro infantil.

Mas o encanto vem da recriação dos passos e danças dos brinquedos populares do Nordeste. A coreografia assinada por Sandra Rino cria desenhos de movimentos e ressalta a combinação do povo brasileiro na sua diversidade cultural.

Esse espetáculo popular usa estratégias de demonstração, reforçando algumas imagens que são aludidas na trilha sonora ou nos diálogos, como por exemplo a aparição de um galo, uma vaca e um carneiro. 

Já assisti ao Baile do Menino Deus muitas vezes. E fico me perguntando o que me atrai para ir de novo. O encontro, o clima, a orquestração de um espetáculo popular de rua, a energia da plateia – formada por pessoas tão diferentes.

Dessa vez captei na montagem um tom melancólico, isso a partir da trilha sonora e suas músicas de andamento mais suave como Beija-Flor, Ciganinha, Acalanto, Lua e Estrela, Sol, que lembram as apresentações dos blocos líricos nos Carnavais de Olinda e Recife.  Mesmo as canções que aceleram como Boi, Jaraguá, Anjo bom, Jesus da Lapa, Cabocinhos e Zabilin carregam alguma nostalgia.

O figurinista (e também professor, encenador, cenógrafo) Marcondes Lima criou novas peças com inspiração na cultura africana e do Oriente Médio. As roupas mais coloridas causaram uma percepção mais alegre no conjunto da obra. 

O espetáculo que também incentiva uma desacelerada típica do período funciona como ritual para pensar sobre os valores de humanidades e solidariedades que o dinheiro não compra.  Assim como Um Conto de Natal, de Charles Dickens que dá as lentes para que o leitor enxergue que o Natal pode tocar a vida de cada um e desadormecer os melhores sentimentos, o Baile do Menino Deus insiste que é possível construir um mundo mais justo. É uma semente. 

SERVIÇO
Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal
Quando: 23, 24 e 25 de dezembro de 2016, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Acesso gratuito
Classificação livre

 

 

 

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Uma opereta para alegrar o Natal

“…o baile aqui não termina,
o baile aqui principia
do mesmo jeito que o sol
se renova a cada dia,
da mesma forma que a lua
quatro vezes se recria,
do mesmo tanto que a estrela
repassa a rota e nos guia”
Baile do Menino Deus é encenado no Marco Zero, no centro do Recife há 13 anos. Foto Filipe Cavalcanti

Baile do Menino Deus é encenado no Marco Zero, no centro do Recife, há 13 anos. Foto Filipe Cavalcanti

O Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal é um procedimento que dá certo no palco há 33 anos. Há 13 é quase um destino obrigatório do período natalino na Praça do Marco zero, no centro do Recife. O que faz esse espetáculo ser tão especial? É uma química, uma combinação certeira de elementos da cultura popular nordestina, de músicas inspiradas nos folguedos, no talento de artistas, no clima da época que juntos provocam uma alegria genuína, uma esperança na humanidade (que os céticos dirão; “tolos”). Mas talvez precisemos dessas pequenas doses de bálsamos para seguir.

O espetáculo faz três apresentações, de 23 a 25 de dezembro, ao ar livre, às 20h. Com texto de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima e trilha sonora de Antônio Madureira (que é a alma da obra) a peça integra a Trilogia das Festas Brasileiras, composta ainda por Bandeira de São João e Arlequim.

A montagem busca encorpar a já desgastada expressão espirito natalino, na dramaturgia do texto, da cenografia e figurinos, das canções, no humor das manifestações culturais do Nordeste brasileiro que se erguem no palco em passos de esplendor.

Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal é um símbolo pernambucano . Essa opereta nordestina junta as danças populares da região, músicas incríveis e personagens que nascem de uma mistura de reisados, maracatu, cavalo-marinho e bois. Explosão de beleza.

A história é simples. Dois Mateus perseguem a casa onde estão alojados José, Maria e o recém-nascido Jesus, para fazer uma festa na entrada. A porta está trancada. Para abrir a porta eles fazem rezas, prendas, mágicas fajutas. E convocam os seres encantados – como Jaraguá e a burrinha Zabelim, além das pastoras, a Lua, a estrela e o Sol – para reforçar a empreitada.

E a festa passa diante de nossos olhos. A música de Zoca Madureira é executada ao vivo por uma orquestra regida pelo maestro José Renato Accioly, que faz desfilar frevo, maracatu, caboclinho, ciranda e bumba meu boi.

Sóstenes

Sóstenes Vidal interpreta um dos Mateus há 13 anos

Sóstenes Vidal que interpreta um dos Mateus do Baile há 13 anos (e durante dez anos fez o Mateus na montagem do Balé Basílica, do Balé Popular do Recife), garante que é uma realização profissional – pelas pessoas envolvidas e pela grandeza do espetáculo. “A parceria com Arilson Lopes , não poderia ser melhor. Considero um dos grandes atores brasileiros, um carisma maravilhoso, profissional, desde o primeiro ano, tive a certeza que estava muito bem acompanhado no palco”.

Arilson Lopes também está no Baile do Menino Deus desde o primeiro ano no Marco Zero. “São exatos 13 anos festejando o Natal com um elenco incrível de músicos, cantores, bailarinos, atores, técnicos e uma multidão de espectadores apaixonados”, comenta com indisfarçável alegria.

“Considero o Baile do Menino Deus um espetáculo extremamente importante na minha trajetória como ator, pela beleza dessa história que contamos, pela direção generosa e atenta de Ronaldo Brito, pela poesia do personagem que defendo, por compartilhar esse aprendizado com uma equipe talentosa e dedicada e por atuar na praça para milhares e milhares de pessoas. É uma alegria também estar em cena com o ator Sóstenes Vidal, que faz o Mateus 2. Ele é um grande parceiro. Estamos juntos nesse espetáculo desde o comecinho e nossa convivência sempre foi de respeito e admiração mútuos. Sempre nos ouvimos muito, discutimos cada proposta de cena e vibramos a cada nova descoberta”, conta.

Para manter acesa a chama, o Baile do Menino Deus acrescenta novidades na encenação a cada ano. A principal delas em 2016 é que o visual ganha inspiração da cultura africana e do Oriente Médio.

Com isso, são acrescidas peças de figurinos de José e Maria, dos Mateus, da orquestra, do coros adulto e infantil, de alguns solistas e das ciganas. O multiartista Marcondes Lima, que assina a direção de arte, incrementa as roupas com mais colorido, com estampas, elementos pouco explorados nas edições anteriores. “Os figurinos terão um contraste ainda maior diante do cenário que se define como um fundo neutro, com as casas quase totalmente brancas”, pensa Marcondes, que criou 50 novas peças.

“O conceito visual da arte bizantina permaneceu nos quatro primeiros anos do Baile. Depois tivemos um conceito palestino-árabe, numa perspectiva da presença dessa cultura no Nordeste. Em seguida, nos inspiramos no leste europeu; e, por fim, agora, na cultura africana e na do Oriente Médio”, explica o diretor Ronaldo Correia de Brito.

Isadora interpreta Maria

Isadora Melo interpreta Maria

Outra alteração de registro se refere à Sagrada Família, que segundo Correia de Brito recebe um tratamento de “humanização”. “José e Maria já tinham uma performance bem humana, bem popular e agora têm algo mais moderno. Queremos dessacralizar cada vez mais essas duas figuras”, pontua o diretor. Por exemplo, Maria, interpretada pela atriz e cantora Isadora Melo, não usará mais véu e os seus ombros ficarão à mostra.

Outro detalhe dessa edição é que a encenação vem com dois Reis Magos e uma Rainha, além de uma mulher também no grupo de caboclinhos, anteriormente composto apenas por homens. A bailarina Marcela Felipe defende esses novos papéis femininos.

O Baile aglutina uma equipe caudalosa. São mais de 300 pessoas envolvidas. Sendo uma orquestra com 14 músicos, coro de 26 cantores (13 adultos e 13 crianças) e seis solistas, incluindo o cantor Silvério Pessoa.

O Mateus mais lírico, Arilson Lopes, lembra que o texto original já recebeu vários tratamentos, novas palavras e novas cenas. “ Acho que o Baile do Menino Deus é um sucesso porque o público se vê, se reconhece nas brincadeiras, nas músicas, nos folguedos ressignificados, no sotaque, na nossa cultura. Já não vejo o Natal do Recife sem essa celebração que se tornou o Baile do Menino Deus, no Marco Zero”.

SERVIÇO
Baile do Menino Deus – Uma Brincadeira de Natal
Quando: 23, 24 e 25 de dezembro de 2016, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero, Bairro do Recife
Acesso gratuito
Classificação livre

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Peça sobre Dom Helder Camara vem ao Janeiro

Foto: Alecio Cezar

O Avesso do Claustro fecha o Janeiro de Grandes Espetáculos. Foto: Alecio Cezar

A memória de Dom Helder Camara (1909-1999) está talhada no coração da dramaturgia de O Avesso do Claustro, espetáculo da Cia. do Tijolo. A peça encerra a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos versão 2017, no Recife, com sessões nos dias 28 e 29 do mês que vem, no Teatro de Santa Isabel. A encenação é construída enquanto missa profana e poema, celebração da utopia e da canção, na definição dos criadores.

Assisti ao Avesso do Claustro na quarta edição do MIRADA – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, que ocorreu em setembro deste ano.  Escrevi uma crítica sobre a montagem para o site do Sesc, promotor do festival que pode ser acessado pelo link  DOM DA LIBERDADE .

É uma encenação urgente e necessária, calorosa e inteligente, que acolhe nossas fragilidades diante do mundo, que “traça paralelos da luta do Dom Helder durante o regime militar brasileiro e essa outra Idade Média que encaramos sem tantos eixos de sustentação”, como escrevi para o MIRADA. E incentiva a obstinar na justiça.

Dinho Lima Flor, que interpreta Dom Helder Camara, é pernambucano de Tacaimbó. Ele divide a direção do espetáculo com o mineiro de Belo Horizonte Rodrigo Mercadante. A vontade da Cia. do Tijolo de vir ao Recife com a peça era tanta que o grupo entrou para a programação do Janeiro de Grandes Espetáculos em condições bem especiais, dividindo os custos. Os ingressos para as sessões de O Avesso do Claustro terão preços diferenciados para complementar as despesas. Serão R$ 60 e R$ 30.

O festival ocorre de 12 a 29 de janeiro e conta com um orçamento super reduzido: R$ 400 mil, contra cerca de R$ 900 do ano passado que já era apertado.

Dinho Lima Flor interpreta o bispo no espetáculo O avesso do Claustro. Foto: Alecio Cezar

Dinho Lima Flor interpreta Dom Helder Camara. Foto: Alecio Cezar

Rememorar a história do bispo vermelho nesses tempos incertos reforça o ânimo para a boa luta. A trupe paulistana de oito anos de existência leva para a cena a trajetória do cearense que se tornou arcebispo de Olinda e Recife.

Os episódios da vida e da militância do religioso católico progressista são narrados a partir de três personagens que tentam se conectar com ele: Rodrigo Mercadante faz um pesquisador que busca investigar as trilhas do bispo no Recife; uma paulistana interpretada por Lilian de Lima, que vive numa quitinete de 15 me perambula pelo centro de São Paulo de estação em estação dando socorro aos mais desvalidos e Karen Menatti assume o papel de uma cozinheira que está aos pés do Cristo Redentor e assiste o projeto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na construção do conjunto habitacional Cruzada São Sebastião no bairro carioca do Leblon.

Essas três figuras cheias de questionamentos e perplexidades diante da realidade brasileira dialogam com Camara em encontros inusitados quase 20 anos após sua morte. Elas ouvem de novo a voz do religioso, seus lampejos e sua lira de poeta. Nessas conversas, eles chegam a questionar o bispo.

A ação da moradora da maior metrópole da América Latina ao aportar na estação Santa Cecilia e se deparar com o aviso “Deus não existe”, abre para um debate sobre o uso indevido do nome de Deus na atualidade. O narrador questiona: “Como Deus não existe? Deus nunca esteve tão presente nos adesivos de carros, em declarações públicas e, até mesmo, nas reuniões na Câmara dos Deputados!”.

O mundo cada vez mais conservador, a mentalidade retrógrada pulverizada no cenário brasileiro foram motivações para o grupo erguer o espetáculo. A Cia. Do Tijolo quis fazer um contraponto ao papel político exercido atualmente pelas igrejas evangélicas. Dom Helder Camara é o personagem ideal: de ideologia alinhada à esquerda, que se projetou internacionalmente por suas ações de combate à miséria e discursos igualitários. A montagem dá uma resposta estética e política à atuação da chamada BBB do Congresso Nacional, a bancada da Bíblia, do Boi e da Bala.

Elenco de O Avesso do Claustro

Elenco de O Avesso do Claustro.  Foto: Alecio Cezar / Divulgação

Dom Herder Camara é um personagem de luta, das históricas lutas de resistência política durante a ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985). Defensor da não-violência e de uma Igreja Católica voltada aos pobres, por sua militância pela defesa dos direitos humanos, o clérigo foi indicado quatro vezes ao prêmio Nobel da Paz. E por denunciar internacionalmente os crimes de tortura pelo regime militar no Brasil ele foi impedido pelo AI-5, a partir de 1986, de ter seu nome citado pela imprensa brasileira.

Já no início do espetáculo temos o batuque a evocar nossas raízes africanas. Na última cena, grandes bonecos carnavalescos representam Patativa do Assaré, Paulo Freire, Dom Hélder e García Lorca. Essas figuras já foram celebradas em outros espetáculos da Cia do Tijolo. O mestre da cultura popular Patativa do Assaré (1909-2002) foi protagonista da montagem Concerto de Ispinho e Fulô. A peça Ledores do Breu foi inspirada no texto Confissão de Caboclo, de Guimarães Rosa, e no pensamento e prática do educador Paulo Freire. Cantata para um bastidor de utopias tem por base num texto de Federico García Lorca: Mariana Pineda.

Os personagens de O Avesso do Claustro (interpretados por Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante e Flávio Barollo, além dos músicos Aloísio Oliver, Maurício Damasceno, William Guedes e Leandro Goulart) ousam imaginar novos horizontes para esses tempos tenebrosos. No território profano, utópico e poético do teatro se cozinha o alimento da esperança e tonifica o espírito para a batalha.

SERVIÇO
O Avesso do Caustro, com a Cia. do Tijolo, dentro do Janeiro de Grandes Espetáculos
Quando: 28 e 29 de janeiro de 2017
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quanto: R$ 60 e R$ 30

Ficha técnica
O avesso do claustro
Dramaturgia: Cia. do Tijolo
Direção: Dinho Lima Flor e Rodrigo Mercadante
Direção Musical: William Guedes
Com: Lilian de Lima, Karen Menatti, Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante e Flávio Barollo
Orientação teórica: Frei Betto
Músicos: Maurício Damasceno,William Guedes, Clara Kok Martins, Eva Figueiredo e Leandro Goulart
Figurinista: Silvana Marcondes
Concepção e construção de cenário: Cia. do Tijolo e Silvana Marcondes
Assistentes e aderecistas: Alexandra Deitos e Isa Santos
Rede e bonecos de pano: Silvana Gorab
Bonecões: André Mello e Cleydson Catarina
Cenotécnica: Julio Dojcsar e Majó Sesan
Costureira: Atelier Judite de Lima e Cecília Santos
Desenho de luz: Aline Santini
Operadora de luz: Laiza Menegassi
Assistente de luz: Pati Morim
Operação de som: Emiliano Brescacin
Orientação cênica: Joana Levi e Fabiana Vasconcelos Barbosa
Orientação vocal: Fernanda Maia
Composição de trilha sonora original: Caique Botkay e Jonathan Silva
Produção executiva: Cris Raséc
Assistente de produção: Lucas Vedovoto
Designer gráfico: Fábio Viana
Fotos: Alécio Cezar

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Mostra de esquetes no Espaço Cênicas

Cenas curtas inspiradas na literatura brasileira. Foto: Cênicas Cia. de Repertório

Cenas curtas inspiradas na literatura brasileira. Foto: Cênicas Cia. de Repertório

Contos da literatura brasileira são a base para as cenas curtas articuladas nos exercícios de interpretação dirigidos por Antonio Rodrigues, da Cênicas Companhia de Repertório. A 3ª edição da Mostra Pequenos Grandes Trabalhos ocorre neste fim de semana, no Espaço Cênicas. nos dois dias são exibidas as atividades artísticas, sábado (17) às 20h e domingo (18) às 19h. No sábado são apresentadas Caixinha de música, A Coroa de Orquídeas, Triangulo em Cravo e <em>Flauta Doce, Totonha e Nossa Rainha; no domingo terão Terça-Feira Gorda, A Cartomante, Réquiem Para um Fugitivo, Despeito, Vestido Longo e Aqueles Dois.

PROGRAMAÇÃO


Sábado (17/12)às 20H:

Caixinha de Música, de Caio Fernando Abreu, por Sophia Coutinho e Ricardo Andrade.
A Coroa de Orquídeas, de Nelson Rodrigues, por Almir Guilhermino.
Triângulo em Cravo e Flauta Doce, de Caio Fernando Abreu, por Thayana Monteiro, João Victor e Flávio Moraes.
Totonha, de Marcelino Freire, por Vitória Medeiros.
Nossa Rainha, de Marcelino Freire, por Bero Andrade.

Domingo (18/12), ÀS 19H
Terça-feira Gorda, de Caio Fernando Abreu, por Fábio Queiroz.
Réquiem Para um Fugitivo, de Caio Fernando Abreu, por Fernando Pessôa.
A Cartomante, de Machado de Assis, por Emília Marques, Nemu Campos, Surete Martins e Marcionillo Pedrosa.
Despeito, de Nelson Rodrigues, por Jandson Miranda, Heloísa Medeiros, Fernanda Brasil e Ricardo Andrade.
Vestido Longo, de Marcelino Freire, por Cássia Souza.
Aqueles Dois, de Caio Fernando Abreu, por Milton Raulino e Marcionillo Pedrosa.

SERVIÇO
3ª Mostra Pequenos Grandes Trabalhos
Quando: 17 E 18 de Dezembro De 2016
Sábado 20:00h e Domingo às 19:00h
Onde: Espaço Cênicas (Rua Marques de Olinda,199 – segundo andar. Bairro do Recife Antigo – entrada pela Vigário Tenório.
Quanto: R$ 20,00 e 10,00 meia
Plateia limitada 80 lugares
16 anos
Informação 81 99609-3838

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