Inquietações no teatro brasileiro

Oxigênio tem texto do russo Ivan Viripaev. Foto: Elenize Dezgeniski

Já em 2006, Valmir Santos escreveu: “a Companhia Brasileira de Teatro se afirma como umas das experiências cênicas mais consistentes do país. O projeto artístico trilha por narrativas de estranhamento e de delicadeza felizmente correspondidas com vitalidade pelo diretor, elenco e demais colaboradores”. Nessa época, Santos certamente nem imaginava que seria curador do Festival Recife do Teatro Nacional agora em 2011. A oportunidade chegou e aí a chance de trazer à capital pernambucana a companhia de maior destaque em Curitiba atualmente, com três espetáculos do seu repertório: Descartes com lentes, Vida e Oxigênio.

O primeiro que será apresentado (hoje e amanhã, às 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho) é Oxigênio, de 2010. O texto é do dramaturgo russo Ivan Viripaev, até então inédito no Brasil. O espetáculo tem um crime como mola propulsora: um homem e sua amante são condenados pelo assassinato da esposa dele; mas, a partir daí, surgem discussões não só sobre sobre violência, mas também racionalidade, consumismo, terrorismo e, principalmente, o que nos é mesmo essencial. Em cena, Patrícia Kamis e Rodrigo Bolzan. A música é feita ao vivo por Gabriel Schwartz (que assina a trilha sonora) e Vadeco.

Das três peças que o grupo traz, talvez a mais aguardada seja Vida, também de 2010, que ganhou o Prêmio Bravo como melhor espetáculo do ano. O texto é inspirado na obra de Paulo Leminski – surgiu da convivência crítica e criativa com os ditos de um dos mais reproduzidos poetas paranaenses. Mas existem referências e citações também a Haroldo de Campos, Maiakovski, Jaymes Joyce, Beckett. Em Vida, os atores estão em cena com os seus próprios nomes. Ficção e realidade parecem se entrelaçar aos olhos do espectador: será que aquele texto é da Giovana Soar ou só da personagem? E assim acontece também com Nadja Naíra, Ranieri Gonzalez e Rodrigo Ferrarini. Os quatro fazem parte de uma banda que ensaia para a apresentação comemorativa do jubileu de uma cidade imaginária. É nesse espaço, a sala de ensaios, que surgem as relações e conflitos, mas sobretudo a tentativa de diálogo.

Vida ganhou o Prêmio Bravo de melhor espetáculo do ano

O criador da Companhia Brasileira de Teatro é o ator, dramaturgo e diretor Márcio Abreu, que assina a direção das peças e reuniu o grupo em 1999. Descartes com lentes é um trabalho feito quando a companhia já tinha 10 anos, em 2009. Foi um exercício cênico com um texto de Leminski escrito no fim da década de 1960 e considerado a semente de Catatau, uma de suas obras-primas. A atuação é de Nadja Naira.

Descartes com Lentes é um exercício cênico com um texto de Leminski

Companhia Brasileira no Festival Recife:

Oxigênio
Hoje e amanhã, às 21h, no Teatro Hermilo Borba Filho
Informações: (81) 3355-3318

Descartes com lentes
Segunda e terça, às 17h, no Teatro de Santa Isabel
Informações: (81) 3355-3323

Vida
Segunda e terça, às 21h, no Teatro de Santa Isabel
Informações: (81) 3355-3323

Ingressos: R$ 5

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