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Para que peça eu vou? Eis a questão.

Kiss and cry, um dos mais aguardados espetáculos do FTC, foi cancelado por problemas de transporte do cenário

Kiss and cry, um dos mais aguardados espetáculos do FTC, foi cancelado por problemas de transporte do cenário

Viver é fazer escolhas. Saber qual é a melhor, o tempo se encarrega de dizer. Às vezes a resposta vem rápida. Outras vezes esse retorno pode demorar um pouco mais. O discernimento chega um dia. No festival de Curitiba o ato de selecionar os espetáculos virou também uma prova. O trio de arbitragem (ops.) de curadores (Celso Curi, Lúcia Camargo e Tânia Brandão) põe a nossa capacidade de optar à prova.

Para se ter uma ideia, só no primeiro dia da mostra oficial eram quatro opções. Com a saída da peça belga Kiss & Cry, por problemas de transporte dos equipamentos, entrou no seu lugar Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier. Além dela, concorria na minha grade a estreia de Parlapatões revisitam Angeli. Visitei a exposição em homenagem ao cartunista que esteve em cartaz no Itaú Cultural. O conjunto da obra é deslumbrante, com toda carga de humor, poesia e irreverência desse polêmico artista.

 Parlapatões revisitam Angeli teve o cartunista na plateia. Foto: Ernesto Vasconcelos

Parlapatões revisitam Angeli. Foto: Ernesto Vasconcelos

No palco, um encontro com os personagens do cartunista Rê Bordosa, Meia Oito, Bob Cuspe, Bibelô, Moska e Os Escrotinhos. A trilha da montagem é do titã Branco Mello em parceria com Emerson Villani. E pra piorar o meu drama, o ator Raul Barretto, disse que vai demorar para que o espetáculo entre em cartaz. A trupe formada por ele e mais Paula Cohen, Hugo Possolo, Rodrigo Mangal e Hélio Pottes só vai fazer duas apresentações em São Paulo (num período em que não estarei lá) e retoma a circulação do repertório do grupo pelo Brasil. Além disso o próprio Angeli estaria na plateia (e esteve). Criador e criaturas, um raro encontro.

Cine monstro versão 1.0 com Enrique Diaz, possivelmente a mais experimental dessa leva do primeiro dia, é outra coprodução do Festival de Teatro de Curitiba e do Instituto Itaú Cultural (Parlapatões também), e expõe o processo de criação do espetáculo Monstro. O ator assume diversos personagens.

O mestre das relações miúdas,  Daniel Veronese, se junta ao o grupo Espanca!. em O líquido tátil. Foto: Guto Muniz

O mestre das relações miúdas, Daniel Veronese, se junta ao grupo Espanca! em O líquido tátil. Foto: Guto Muniz

E ainda O líquido tátil, uma montagem do grupo Espanca!. A parceria da trupe mineira com o diretor/dramaturgo argentino Daniel Veronese é daqueles encontros felizes. Grace Passô interpreta uma atriz decadente que largou o palco pelo casamento. Marcelo Castro faz o marido, o obtuso Peter, um intelectual que defende o teatro como arte sublime, e o irmão dele, o confuso Michael, um ator em crise seduzido pelo cinema, defendido por Gustavo Bones. Metalinguagem da criação teatral e reflexão sobre o artístico. Mas essa montagem eu vi no Festival de Teatro da Bahia.

Fiquei com Uma noite na lua, porque é de João Falcão. Acho que fiz a escolha certa para mim.

Grande expectativa para as apresentações da peça coreana Pansori Brecht – Ukchuk-Ga

Grande expectativa para as apresentações da peça coreana Pansori Brecht – Ukchuk-Ga

Mas a brincadeira de escolher continua. Além dos Parlapatões, Cine Monstro e O líquido tátil, são apresentados hoje Pansori Brecht Ukchuk-Ga, da Coreia, com roteiro, canções e interpretação de Ja Ram Le; A marca d’água, da Armazém Companhia de Teatro, com direção de Paulo de Moraes. Além de Os bem intencionados, com o Lume Teatro, texto e direção da mineira Grace Passô. A peça trata das motivações de aspirantes a artistas nestes tempos de celebridades instantâneas.

Vou conferir a companhia sul-coreana Pansori Project ZA’s. Os argumentos do jornalista Ruy Filho, da revista virtual de teatro e política cultural Antro Positivo me convenceram. Ele disse que o espetáculo Pansori Brecht – Ukchuk-Ga, apresentado no último final de semana no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, o levou “ao mais profundo do teatro, da arte, da alma humana e de Brecht”.

Talvez escreva um pouco mais sobre o quebra-cabeça que é selecionar os espetáculos. Ou não…

Imagino o trabalhão que a equipe curatorial teve.

Mas se todas as minhas dúvidas fossem essas, escolher quais espetáculos assistir, a vida seria uma delícia sem fim…

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