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Adeus ao provocador Abujamra

Antonio Abujamra morreu aos 82 anos. Foto: Bertolucci/ Tv Cultura

Antonio Abujamra morreu aos 82 anos. Foto: Bertolucci/ Tv Cultura

A última vez que o ator e diretor Antônio Abujamra esteve no Recife com um espetáculo foi Começar a terminar, apresentado no Teatro Barreto Júnior, em janeiro de 2010. O texto do próprio Abujamra tratava da morte, da velhice, a partir de fragmentos da obra de Samuel Beckett. No palco ele clamava que o “o mundo é feio, que culturalmente está tudo acabado”. E emendava com um apesar disso, “todo mundo quer me entrevistar”.

Antônio Abujamra virou personagem de si mesmo há muito tempo e vinha desenvolvendo com petulância e ousadia esse papel, que fez sucesso no programa Provocações, que apresentava desde 2000 na TV Cultura.

Sua irreverência e iconoclastia vão fazer falta. Nesta terça-feira o ator e diretor de teatro de 82 anos partiu para outras esferas. Ele foi encontrado morto por um sobrinho em sua casa na Rua Maranhão, Higienópolis, Zona Oeste de São Paulo. Morreu dormindo.

A TV Cultura divulgou uma nota na página do programa no Facebook: “É com grande pesar que informamos que hoje, 28/04/2015, o apresentador de Provocações, Antônio Abujamra, faleceu. Agradecemos o carinho e apoio de todos que tem nos acompanhado ao longo desses 14 anos de programa”.

O cineasta Samir Abujamra, sobrinho de Antonio, também publicou no Facebook. “Morreu meu ídolo, meu segundo pai, o homem que me fez ser artista. Tio Tó, Antonio Abujamra”.

Artista de múltiplos talentos, Abu (como era conhecido entre seus pares) exerceu as funções de autor, iluminador, tradutor, ator, diretor teatral e apresentador. Nascido em Ourinhos, no interior de São Paulo, em 15 de setembro de 1932, ele foi pioneiro a praticar no Brasil os métodos teatrais de mestres como Bertolt Brecht e Roger Planchon. Ele trouxe essas ideias do período que passou estudando teatro na Europa – esteve em Madri, Paris e Berlim.

Na TV Globo, Abujamra fez muito sucesso na novela Que rei sou eu? (1989) como o vilão Ravengar.

Performance do artista. foto: Adriana Elias

Performance do artista. foto: Adriana Elias


Formado em filosofia e jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, em 1957, ele também exerceu a crítica teatral. Atuou como ator e diretor no Teatro Universitário, entre 1955 e 1958, nas peças O Marinheiro, de Fernando Pessoa; À Margem da Vida e O Caso das Petúnias, de Tennessee Williams; A Cantora Careca e A Lição, de Eugène Ionesco; e Woyzeck, de Georg Büchner.

Sua estreia profissional como encenador foi em São Paulo, no Teatro Cacilda Becker em 1961, com Raízes, de Arnold Wesker, e no Teatro Oficina, com José, do Parto à Sepultura, de Augusto Boal. E não parou mais, com especial interesse pelo teatro político fincado na técnica brechtiana.

Em 1965, Abujamra dirige, no Rio de Janeiro, a montagem de O Berço do Herói, de Dias Gomes, peça que foi interditada pela censura no dia do ensaio geral. Na década de 1970 recebe o Prêmio Molière, pela direção de Roda Cor de Roda, de Leilah Assumpção.

A carreira de ator profissional só é iniciado quando ele já tem 55 anos. Participa de duas telenovelas e três peças no intervalo de dois anos e é premiado pelo desempenho no monólogo O Contrabaixo, de Patrick Suskind, 1987.

Em 1991, recebe outro Prêmio Molière pela direção de Um Certo Hamlet, espetáculo de estreia da companhia Os Fodidos Privilegiados, fundada por Abujamra para ocupar o Teatro Dulcina, no Rio. Com os Fodidos Privilegiados ganhou também o o Shell de 1997 por O casamento, direção que dividiu com João Fonseca.

Abaixo o último programa Provocações, que foi exibido em 21 de abril

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