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Festival Reside Amaro
Uma experiência artística inovadora no Recife

Vizinhos no bairro de Santo Amaro participam de ações artísticas. Foto: Rogério Alves

O Festival Reside Amaro, que ocorre nestes dias 7, 8 e 9 de fevereiro de 2025, é mais que um evento no calendário cultural do Recife; é um manifesto vivo, uma declaração ousada sobre o potencial transformador da arte quando esta pulsa organicamente com o tecido social de uma comunidade.

Paula de Renor, uma produtora cultural com uma visão ousada, sempre sonhou em realizar um festival teatral inovador, diferente dos modelos tradicionais. A inspiração que faltava surgiu quando ela conheceu o trabalho do Teatro Bombón e o conceito de “teatro vecinal” (teatro de vizinhança) da artista argentina Monina Bonelli. Com essa nova perspectiva, Paula uniu forças com Bonelli e o curador Celso Curi para dar vida ao Reside Amaro, um projeto que leva o teatro para o coração do bairro de Santo Amaro, no Recife. Essa proposta única transforma a comunidade no centro pulsante da experiência teatral, promovendo uma colaboração íntima entre artistas e moradores locais para criar performances autênticas e envolventes.

A escolha de Santo Amaro como palco para esta experiência não foi aleatória. O bairro, com sua rica vivência histórica e cultural, serve como um microcosmo perfeito do Recife e, por extensão, do Brasil urbano contemporâneo.

“Santo Amaro é um paradoxo vivo,” aponta Roger de Renor, produtor e ativista cultural e vizinho inspirador. Neste território, casarões coloniais expõem a luta pelo espaço urbano com prédios altíssimos. Comunidades de pescadores, cujas tradições remontam a séculos, convivem lado a lado com startups de tecnologia de ponta.

Esta complexidade sociocultural de Santo Amaro serve como um terreno fértil para o tipo de narrativas plurais que o Reside Amaro busca explorar.

Monina Bonelli_Paula de Renor_Celso Curi._Foto Rogério Alves

O Reside Amaro destaca-se por sua natureza site-specific, onde cada apresentação é cuidadosamente elaborada para se integrar e dialogar com o ambiente específico em que ocorre. Esta técnica transforma espaços cotidianos – desde casas particulares até bares locais – em cenários teatrais singulares, criando uma experiência imersiva tanto para os artistas quanto para o público.

O aspecto comunitário do festival é igualmente central. Ao envolver ativamente os moradores de Santo Amaro no processo criativo, o Reside Amaro opera essa via de mão dupla: traz o teatro para a comunidade, mas também traz a comunidade para o teatro. Esta abordagem resulta em performances que são autênticas reflexões das histórias, culturas e experiências locais.

A maioria das performances é criação original, desenvolvida especificamente para o festival. Outra característica marcante do Reside Amaro é seu caráter processual. Muitas das ações e performances começaram a ser desenvolvidas apenas nas últimas semanas antes do festival. Este curto período de gestação confere às apresentações um frescor e uma espontaneidade raramente vistos em produções teatrais tradicionais. 

“É fascinante ver como as técnicas de teatro comunitário desenvolvidas em Buenos Aires se adaptam e ganham novos significados no contexto de Recife”, observa Monina Bonelli. “Há um diálogo intercultural acontecendo aqui que é verdadeiramente enriquecedor”.

Espetáculos internacionais Rainha, com Maiamar Abrodos e Da Melhor Maneira com Federico Liss e David Rubinstein. Foto: Divulgação

O festival apresenta duas peças argentinas em espanhol com legendas em português. Rainha (Reina en el Gondo), dirigida e escrita por Natalia Villamil e estrelada por Maiamar Abrodos, retrata a vida de uma mulher transgênero idosa no Gondolín, um hotel-refúgio em Buenos Aires, explorando suas memórias e reflexões sobre identidade. Já Da Melhor Maneira (De la mejor manera) é uma obra de Jorge Eiro, Federico Liss e David Rubinstein, dirigida por Eiro e atuada por Liss e Rubinstein. Esta peça acompanha dois irmãos que retornam ao bar da família durante o velório do pai, enfrentando o vazio deixado por sua perda e o desafio de seguir em frente diante de um “abismo silencioso”.

Além das performances, o Reside Amaro tem um forte componente educacional. Alunos do Curso de Interpretação para Teatro do Sesc Santo Amaro estão ativamente envolvidos em todas as etapas do festival, desde a concepção até a execução. Esta iniciativa aprimora o aprendizado dos estudantes, contribuindo para a formação de uma nova geração de artistas.

Com mais de 70 apresentações distribuídas ao longo de três dias, o festival oferece uma programação diversificada e acessível. Todas as apresentações são gratuitas, com ingressos distribuídos uma hora antes de cada sessão. O evento também prioriza a acessibilidade, oferecendo tradução em Libras para várias performances e garantindo que os espaços sejam acessíveis para pessoas com deficiência.

PROGRAMAÇÃO

CASA 1 (Rua Capitão Lima) CENTRAL DE INFORMAÇÕES

Casa 2 Rua (Rua Capitão Lima) LENE CONVIDA
Performance participativa onde Lene estreia um programa de entrevistas intimista. Recebe personalidades para conversas sinceras e inspiradoras sobre Pernambuco.
Dramaturgia/Direção: Giordano Castro, Mateus Condé.
Atuação: Lene Maria.
07/02: 19h30-22h, 08-09/02: 18h30-21h30. Fluxo contínuo.

Casa 3 (Rua Capitão Lima) COMUNHÃO MUSICAL
Espetáculo musical que une diferentes gerações e histórias de vida. Performances de um padre, uma cozinheira e um cantor profissional.
Direção musical: Douglas Duan.
Vozes: Padre Caetano, Alê Maria, Carlinhos Monteverde.
07/02: 19h, 08-09/02: 18h.

Casa 4 (Rua da Piedade) ÁLBUM DOS VIZINHOS
Projeção de retratos que capturam a essência dos moradores da vila. Transformação de memórias em arte, reforçando laços comunitários.
Fotos: Rogério Alves. Coordenação: Ingredy Barbosa.
07/02: 19h30-22h, 08-09/02: 18h30-21h. Fluxo contínuo.

Casa 5 (Rua Capitão Lima) SOM NA RURAL
Festa itinerante que transforma as ruas em palco de celebração. Picadeiro sonoro que constrói novas histórias e memórias.
comunicação: Roger de Renor. DJ: Dj Vibra.
07/02: 22h-23h.

Casa 6 (Travessa do Ferreira) HEY, HEY, HEY! ROBERTO É O NOSSO REI!
Karaokê em homenagem a Roberto Carlos, realizando o sonho de João Paulo. Inclui mural no Beco do Roberto, multiplicando a presença do Rei.
Artista vizinho: João Paulo Silva. Artista ativador: Douglas Duan.
07/02: 20h-22h, 08-09/02: 19h-21h30. Fluxo contínuo.

Casa 7 (Rua da Piedade) ALTA VIGILÂNCIA
Instalação dramatúrgica que explora a cultura da fofoca em Pernambuco. Narradoras compartilham histórias bisbilhotadas na rua Piedade.
Dramaturgia: Newton Moreno. Narradoras: Amanda Menelau, Márcia Luz.
07/02: 20h-22h, 08-09/02: 19h-21h30.

Casa 8 (Rua da Piedade) CASINHA DE ROGÊ
Instalação/performance que convida à intimidade da casa de Roger de Renor. Reflexões sobre cidades horizontais, utopias e memória. Performance: Roger de Renor.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 20h e 21h, 08-09/02: 19h e 20h.

Casa 9 (Rua da Piedade) INDO PARA LÁ
Performance documental sobre uma travessia imaginária de barco. Explora conversas, histórias e imagens que permanecem na memória. Direção: Quiercles Santana. Atuação: Clau Barros, Dorgival Fraga. Duração: 30min. Capacidade: 20 pessoas/sessão. 07/02: 20h e 21h, 08-09/02: 19h e 20h.

Casa 10 (Rua da Piedade) PRONTA PRA GUERRA; PULANDO FOGUEIRAS E DECORANDO O TEXTO COM FUXICOS
Performance inspirada na vida de Joana d’Arc e Ivete Alves de Mesquita. Explora a luta pela existência através de costura, fuxicos e memórias.
Dramaturgia/Encenação: Anderson Leite.
Atuação: Augusta Ferraz.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão. 07/02: 20h30 e 21h30, 08-09/02: 19h30 e 20h30.

Casa 11 (Rua da Piedade) NO FRIGIR DOS OVOS TUDO TEM SOM
Performance documental que explora os sons e aromas da cozinha. Inspirada na vida de Geraldo Maximiano de Lima, o Rei do Omelete.
Direção: Quiercles Santana. Atuação: Djalma Albuquerque, Anne Andrade, Lua Alves.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 20h30 e 21h30, 08-09/02: 19h30 e 20h30.

Casa 12 (Rua Capitão Lima) SABOR DO DESTINO
Audioguia e experiência sensorial baseada na vida de Detinha. Percurso sonoro guiado pelos sabores, com participantes de olhos vendados.
Dramaturgia/Direção: Júnior Sampaio.
Narração: Fabiana Pirro.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 20h e 21h, 08-09/02: 19h e 20h.

Casa 13 ((Rua Capitão Lima) RITO DE PASSAGEM
Performance em movimento conduzida por HBlynda até a casa de Reina. Compartilha desafios enfrentados na jornada de reafirmação de identidade.
Criação/Performance: HBlynda Morais.
Duração: 30min.
Capacidade: 30 pessoas/sessão.
08-09/02: 19h.

Casa 14 (Rua Capitão Lima) AMARO
Exibição do curta-metragem desenvolvido durante a residência do festival. Retrata um dia na vida de Amaro, homem emocionalmente contido.
Roteiro/Direção: Diogo Cabral.
09/02: 19h-21h. Fluxo contínuo.

Casa 15 (Rua Capitão Lima) RECEITA PARA CONTAR HISTÓRIAS
Performance documental sobre histórias familiares e receitas. Mistura memórias do Maranhão a Pernambuco através do doce de banana.
Dramaturgia/Direção: João Pedro Pinheiro, Larissa Pinheiro. Com: Lannje Falcão, Aurian Falcão.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 20h30 e 21h30, 08-09/02: 19h30 e 20h30.

Casa 16 (Rua Capitão Lima, 410) UMA DOR MENOR
Teatro documental sobre impasses de um enterro familiar. Explora o conflito entre luto pessoal e cerimônia pública de um político.
Dramaturgia/Atuação: Ivana Moura.
Direção: Luiz Felipe Botelho.
Duração: 30min.
Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 20h30 e 21h30, 08-09/02: 19h e 20h30.

Casa 17 (Rua Capitão Lima, 408) RAINHA
Peça argentina sobre a vida de uma mulher transgênero idosa. Explora memórias e reflexões sobre identidade no hotel Gondolín.
Dramaturgia/Direção: Natalia Villamil. Atuação: Maiamar Abrodos.
Duração: 60min.
Capacidade: 30 pessoas/sessão.
08-09/02: 19h30.

Casa 18 (Rua Capitão Lima – auditório da TV Jornal) NOS BASTIDORES DOS PROGRAMAS DE AUDITÓRIO: CONHEÇA A HISTÓRIA DA TV JORNAL
Vídeo que relembra 65 anos da TV Jornal pernambucana. Destaca programas de auditório e participações importantes.
Criação/Produção: TV Jornal.
Duração: 5min. Capacidade: 20 pessoas/sessão.
07/02: 19h, 19h15, 19h30 e 19h45.

Casa 19 (Rua Capitão Lima) CASAR, PARA QUE?
Quadrilha que desafia superstições sobre casamento. Celebra o casamento de dona Neta e Luiz com pompa e circunstância.
Direção/Coreografia: Mônica Lira. Casal: Erivonete Barbosa, Luiz Elias.
08/02: 21h30-23h.

Casa 20 (Rua Capitão Lima – na rua) BOI MARINHO
Cortejo que mistura tradições populares, com destaque para o Cavalo Marinho. Ativação com alunos da Escola Sylvio Rabello e vizinhos.
Mestre/Direção: Helder Vasconcelos. Contra mestra: Laura Tamiana.
09/02: 18h-18h40.

Casa 21 (Rua Capitão Lima – Restaurante Casa Capitão) DA MELHOR MANEIRA
Peça argentina sobre dois irmãos lidando com a perda do pai. Explora o luto e o desafio de seguir em frente após uma perda.
Dramaturgia: Jorge Eiro, Federico Liss, David Rubinstein. Direção: Jorge Eiro.
Duração: 60min.
Capacidade: 30 pessoas/sessão.
08-09/02: 20h.

FICHA TÉCNICA

Idealização
Monina Bonelli

Criação
Monina Bonelli e Celso Curi

Artista criador convidado
Quiercles Santana

Curadores
Paula de Renor e Celso Curi

Vizinho inspirador
Roger de Renor

Vizinha embaixadora
Ingredy Barbosa

Assistente de criação
Márcio Allan

Artistas convidados
Álefe Passarin, Amanda Menelau, Anderson Leite, Augusta Ferraz, Bailarinos da Quadrilha Evolução (Damas – Giovanna Seabra Paiva Carneiro, ⁠Hellen Cavalcante, Perollah Hair, Rayssa Gomes de Vasconcelos, Thadgya Dos Santos Silva e Thais Maely Sidronio. Cavalheiros – Adones Vasconcelos, Aleson Willam Souza, Anthony Matheus de Aquino, Lourival Rodrigues, Rodrigo de Oliveira e ⁠Wladiel Queiroz), Boris Trindade Júnior (palhaço Tapioca), Carlinhos Lua, Carlinhos Monteverde, Carlos Santos, Clau Barros, David Rubinstein, Dj Vibra, Douglas Duan, Fabiana Pirro, Federico Liss, Giordano Castro, HBlynda Morais, Helder Vasconcelos e o Boi Marinho, Ivana Moura, Jeison Wallace, Jerlane Silva (palhaça Bilack), João Pedro Pinheiro, Jorge Eiro, Júlio Brito, Júnior Sampaio, Jurema Fox, Kleber Santana, Larissa Pinheiro, Luiz Felipe Botelho, Maiamar Abrodos, Mônica Lira, Natalia Villamil, Newton Moreno, Pinho Fidelis, Rafael Chamié e Roger de Renor.

Vizinhos artistas
Alê Maria, Alice Barbosa, Aurian Falcão, Dorgival Fraga (Paizinho), Erivonete Barbosa (dona Neta), Everton de Holanda Júnior, Geraldo Maximiano de Lima (Rei do Omelete), Ivete Alves de Mesquita, Joana d’Arc Dantas Mesquita, João Paulo Silva, Lannje Falcão, Lene Maria, Ligia Vieira, Luiz Elias, Maria José (dona Detinha), Maria Laura (Laurinha), Padre Caetano e Thiago Santos.

Artistas Residentes
Alunos do CIT / Sesc Santo Amaro – Anne Andrade, Bibi Santos, Caví Baso, Diogo Cabral, Djalma Albuquerque, Fanny França, Lua Alves, Márcio Allan e Mateus Condé.

Beco do Roberto
Produção: Arte da Imagem Produções
Apoio: Gabinete de Inovação Urbana

Fotos álbum dos vizinhos
Rogério Alves

Fotos registro
Gianny Melo

Fotos e vídeos making of
Ivo Barreto e Wesley Kawaai

Comunicação comunitária
Djalma Albuquerque

Designer
Clara Negreiros

Assessoria de imprensa
Márcio Bastos

Gestão de redes sociais
Cognos Comunicação – Luiza Maia e Tiago Barbosa

WebDesigner / Front-End
Sandro Araújo (SandroWeb)

Acessibilidade comunicacional
CENTRAE

Coordenador de produção
Ivo Barreto

Produção
Remo Produções Artísticas
Paula de Renor e Wesley Kawaai

Assistente de produção
Elias Vilar

Coordenador técnico
Eron Villar

Assistente técnico
Caví Baso

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Resgate de vozes silenciadas
Crítica de As Mulheres de Nínive

Atriz Nínive Caldas no espetáculo Mulheres de Nínive. Foto: Felipe Souto Maior / Divulgação

No domingo, 24 de novembro, no Teatro Hermilo Borba Filho, no centro do Recife, uma situação inesperada transformou um contratempo técnico em uma experiência singular. O atraso em uma hora e meia do espetáculo Mulheres de Nínive, devido a problemas na mesa de luz, poderia ter sido motivo de frustração geral. Alguns espectadores partiram para outra atração do 23º Festival Recife do Teatro Nacional. No entanto, para quem ficou, a sessão  se tornou um momento de cumplicidade energética entre a artista, sua equipe criativa, os técnicos do teatro e o público. Essa conexão não planejada gerou uma atmosfera de solidariedade e expectativa compartilhada.

A permanência do público, que decidiu ficar, demonstrou uma disponibilidade e abertura, além da aceitação do imponderável de um evento ao vivo, marcado por uma magia rara. O erro, a falha e o imprevisível, às vezes, têm esse poder de transformar e unir, criando uma experiência e memorável para os envolvidos.

A atriz Nínive Caldas, ao concluir a sessão, expressou uma gratidão genuína que ressoou em cada canto do teatro lotado. Essa gratidão foi um reflexo da ligação afetiva que se formou naquele espaço, onde a arte foi além da cena, transformando-se em uma experiência coletiva de empatia, inspiração e beleza. 

Peça expõe e combate o apagamento sistemático do feminino. Foto: Morgana Narjara / Divulgação

O espetáculo Mulheres de Nínive,, concebido e protagonizado pela atriz, apresentadora e produtora cultural Nínive Caldas, sob a direção da atriz, psicóloga e diretora teatral Hilda Torres, desafia a narrativa histórica dominante ao destacar o apagamento sistemático do feminino. A obra entrelaça figuras históricas e mitológicas, como Maria Madalena, Semíramis e as Eufames, para questionar as estruturas de poder que determinam quais histórias são preservadas e quais são extintas. Esta perspectiva se alinha com teorias feministas contemporâneas, que argumentam que a história é um campo de batalha ideológico, como enfatizado por teóricas como Joan Scott, Gerda Lerner e Michelle Perrot.

A peça utiliza uma estrutura não-linear para criar um diálogo entre passado, presente e futuro, sugerindo que as experiências de opressão e resistência das mulheres formam um continuum histórico de padrões de violência e silenciamento. Em essência, Mulheres de Nínive se apresenta como um ato de arqueologia feminina, desenterrando e reinterpretando a história das mulheres frequentemente ignorada pela historiografia tradicional.

Embora o título do espetáculo coincida com o nome da atriz, a peça vai além de experiências pessoais. A inspiração para a obra nasceu da conexão de Nínive com Maria Madalena, uma personagem que ela interpretou numa encenação da Paixão de Cristo em Fazenda Nova, no maior teatro ao ar livre do mundo, situado no interior de Pernambuco. Durante sua investigação, Nínive percebeu que Madalena era mais uma mulher cuja história havia sido destruída ou distorcida.

De batismo, a atriz carrega o nome de uma cidade histórica citada tanto nas narrativas bíblicas quanto nas tradições pagãs. Nínive, outrora capital da Assíria, estava situada na antiga Mesopotâmia, correspondendo hoje ao território do Iraque. Na tradição cabalística, Nínive é evocada como um símbolo de força primordial, remontando a tempos muito anteriores a Cristo.

Dentro desse contexto, destaca-se a figura lendária de Semíramis, uma das primeiras mulheres a ganhar notoriedade na história. Celebrada como uma guerreira e arqueira formidável, Semíramis lutava ao lado dos homens, se sobressaia nas caçadas, encarnando poder e liderança feminina em um cenário predominantemente masculino.

O espetáculo propõe que Semíramis perpetuou a herança da rainha de Sabá, assumindo o papel de guardiã dos segredos do sagrado feminino, transmitidos desde os tempos de Eva. As discípulas de Eva eram conhecidas como Eufames e detinham um profundo conhecimento das fases lunares, protegiam o fogo sagrado e eram versadas nos oráculo.

A peça insiste que as lacunas da ação feminina deve-se ao fato que a história foi escrita por homens

Como pano de fundo para discutir a violência contra as mulheres, a montagem comenta a destruição histórica de Nínive. A peça imagina um centro místico liderado pelas Eufames, que enfrentam perseguição e supressão. Embora não existam registros específicos sobre esse centro, a ausência de documentação é utilizada para destacar como a história foi predominantemente escrita por homens, frequentemente ignorando ou omitindo as contribuições e experiências das mulheres. Essa lacuna histórica serve como um poderoso lembrete da marginalização feminina ao longo dos séculos.

No Livro de Jonas, parte do Antigo Testamento da Bíblia, encontramos a narrativa desse profeta, que recebe a tarefa de levar uma mensagem de arrependimento à cidade de Nínive. Optando inicialmente por fugir, ele embarca em um navio para Társis. Durante a viagem, uma tempestade ameaça a embarcação, e Jonas, considerado responsável pela calamidade, é lançado ao mar, onde é engolido por um grande peixe. Após três dias e três noites de reflexão e oração, ele é libertado e decide cumprir sua missão em Nínive. A cidade, impactada pela mensagem, se arrepende, e a narrativa descreve que Deus poupa seus habitantes.

Até o Padre Antônio Vieira, no Sermão da Sexagésima, faz referência à cidade de Nínive, de uma perspectiva religiosa, como parte de sua argumentação sobre a eficácia da pregação e da conversão. Vieira utiliza a história de Nínive, que é mencionada na Bíblia, para ilustrar o poder transformador da palavra de Deus quando transmitida de forma eficaz.

O espetáculo tem direção de Hilda Torres e preparação corporal de Lilli Rocha. Foto: Felipe Souto Maior

A forte presença cênica de Nínive Caldas combina intensidade física e emocional, que se manifesta na forma como a atriz ocupa o espaço cênico, na modulação de sua voz e na precisão de seus gestos. Sua atuação confronta estereótipos, apresentando uma feminilidade que reivindica a beleza como parte integral da força feminina. A direção de Hilda Torres orquestra os elementos cênicos e a atuação de Caldas, criando um espetáculo coeso e envolvente. Sua direção parece focar em extrair o máximo da presença da atriz, criando momentos de intensidade dramática equilibrados com sutilezas na cena. O trabalho corporal de Lili Rocha é evidente na fluidez e precisão dos movimentos da intérprete.

Uma saia cenográfica monumental simboliza as águas da vida, o fluxo do tempo e a vastidão da experiência feminina ao longo da história. Sua versatilidade permite que Nínive Caldas a manipule de maneiras diversas, criando espaços cênicos variados ao apresentar múltiplas personagens e situações. A iluminação desempenha um papel crucial na criação da atmosfera e na condução da narrativa. Duas musicistas criam e amplificam efeitos sonoros e musicalidades. Elas contribuem no andamento e a atmosfera sonora de cada passagem.

O figurino evoca uma guerreira, com a atriz utilizando espadas (de São Jorge) para se proteger e avançar. A elegância no deslocamento de Nínive pelo palco é notável, combinando doçura e firmeza. Apesar de sua vasta experiência no teatro, ela mantém um frescor em sua interpretação, onde a determinação, o combate, as denúncias e os posicionamentos contra o patriarcado não reproduzem os códigos de violência masculina que são combatidos. 

Mulheres de Nínive é uma produção teatral de inegável força e impacto. No entanto, há espaço para refinamento, especialmente na apresentação dos nomes das mulheres retratadas. A riqueza e complexidade da narrativa podem, por vezes, obscurecer a identidade específica de cada personagem, limitando a compreensão plena do público. Uma ênfase mais pronunciada nos nomes e identidades das mulheres poderia permitir uma conexão mais evidente com cada história individual. Pois a obra convida à reflexão sobre gênero, poder e identidade, desde que essas vozes sejam ouvidas com nitidez e urgência.

Ficha técnica:
Idealização e atuação: Nínive Caldas;
Direção: Hilda Torres;
Preparação Corporal: Lilli Rocha;
Preparação vocal: Ceci Medeiros;
Músicas: Ana Paula Marinho
Trilha sonora e musicistas: Ana Paula Marinho e Nana Milet;
Núcleo de pesquisa/ figurino: Fabiana Pirro, Hilda Torres, Marcelo Mendx, Nínive Caldas e Xuruca Pacheco;
Núcleo de pesquisa de cenário: Hilda Torres, Marcelo Mendx, Nínive Caldas e Xuruca Pacheco;
Costureiras: Fátima Magalhães, Franci arte e costura, Expedita;
Iluminação: Natalie Revorêdo;
Técnica: Eduardo Autran (Dudu);
Textos: Nínive Caldas, Ezter Liu, Ana Paula Marinho, Khalil Gibran;
Dramaturgia: Hilda Torres e Nínive Caldas;
 VIsagismo:  Laércio Azevedo
Identidade visual: Maria Eduarda Caldas
Fotografia: Ravmes
Teaser: Morgana Narjara
Vídeo: Morgana Narjara
Social Mídia: Li Buarque
Núcleo de comunicação: Dea Almeida (Alcatéia Comunicação) e Márcio Santos;
Produção Executiva: Catarina Caldas;
Produção Geral: Nínive Caldas.

 

O Satisfeita, Yolanda? faz parte do projeto arquipélago de fomento à crítica,  apoiado pela produtora Corpo Rastreado, junto às seguintes casas : CENA ABERTA, Guia OFF, Farofa Crítica, Horizonte da Cena, Ruína Acesa e Tudo menos uma crítica

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Poética de Hilda Hilst abre Festival Gambiarra

Fabiana Pirro em Obscena – Um Encontro com Hilda Hilst. Foto: Divulgação

Quarteto do Coletivo Gambiarra: Hugo Coutinho, Olga Ferrario, Dea Ferraz e Cláudio Ferrario. Foto Reprodução do Facebook

No horizonte, atualizada praticamente em tempo real pelas redes e telas, uma guerra esdrúxula ameaça a todes, em camadas diversas. Tempos medonhos, sem Carnaval, com pandemia, com o infame brasileiro e seus asseclas a prosseguir o desmonte político das artes e da cultura, da ciência e da cidadania, a ameaçar a floresta, violar direitos dos povos originários. Enquanto a fome de alimentos, de dignidade, de vergonha na cara se alastra pelo país, os partidários da necropolítica atentam contra a vida com suas canetadas e votações imorais de projetos de lei, fundos eleitorais com o Supremo com tudo…

Mas nesse cenário é preciso despertar corações e mentes, ficar atentes porque bombas explodem de todo lado.
Nesse cenário é preciso fazer o que se sabe de melhor.
O Coletivo Gambiarra, com sede em Gravatá – Pernambuco, abriu os paraquedas coloridos (imagem-proposta de Ailton Krenak, em Ideias para adiar o fim do mundo) e articula o Festival Gambiarra.

Uma investigação poética da obra de Hilda Hilst abre os caminhos. Obscena – um encontro com Hilda Hilst, interpretado pela atriz Fabiana Pirro é apresentado na plataforma Zoom nesta sexta-feira (04/03), com ingressos esgotados, e sábado (05/03), à 20h. O Festival Gambiarra conta ainda com as atrações O Último Encontro do Poeta com a sua Alma, com Claudio Ferrario e Olga Ferrario (18/03, sexta-feira, às 20h), Avós, com Olga Ferrario (08/04, sexta-feira, às 20h) e Opá, com Lívia Falcão (22/04, sexta-feira, às 20h).

Fabiana Pirro trabalha a loucura e a estranheza das figuras de Hilda Hilst. Foto Divulgação

Líria, personagem interpretada por Fabiana Pirro, é uma mulher madura, incendiada de desejos; uma figura independente, febril e poderosa como as figuras femininas criadas por Hilda Hilst. No seu fluxo de consciência fragmentado, a personagem-narradora experimenta os ânimos do sagrado e do profano, em cruzamentos de presenças e ausências.

A vida da escritora traz disparadores para a atriz somar com sua vivência, das referências da força masculina de pai, filho e Deus. “Quando em 2013 comecei a adentrar na poesia da Hilda, fiquei muito impressionada. Vi que ela se tornou escritora para dar continuidade à obra do pai Apolonio de Almeida Prado Hilst, como eu também queria fazer algo no teatro para o meu pai. Ela veio como uma luz”, testemunha Fabiana Pirro.

O projeto de Obscena começou em janeiro de 2014 com uma minuciosa pesquisa sobre a poética de Hilda Hilst feita por Fabiana Pirro e Luciana Lyra. Intérprete e diretora passaram uma temporada na Casa do Sol – chácara em Campinas (SP) onde a escritora viveu, e que hoje funciona como o Instituto Hilda Hilst. Obscena estreou no Recife em janeiro de 2015. No mesmo ano viajou para a Paraíba, Portugal e Ceará.

Coletivo Gambiarra: criação em família, arte e transformação. Foto Divulgação

O Coletivo Gambiarra foi criado em 2020, em Gravatá, Pernambuco, no auge do isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 para desenvolver experimentações de linguagens em formato híbrido, da interseção entre a tecnologia, o teatro e o cinema.

O quarteto do Gambiarra é composto pelo ator Cláudio Ferrario, pela atriz Olga Ferrario, pelo músico Hugo Coutinho e pela cineasta Dea Ferraz.  Eles apontam que a experiência é como um atravessamento entre teatro e cinema, feita pelo jogo cênico da câmera de Dea Ferraz (Câmara de EspelhosSete Corações), que filma ao vivo, em plano sequência como “um olho-corpo presente e atuante”. A imagem ganha contornos sensoriais, que permite uma aproximaçãode presença, apesar da virtualidade.

As imagens são construídas, decupadas e ensaiadas como cenas de um filme, mas tudo ao vivo, compartilhado com o público, com o risco do erro e da falha, próprios do teatro.

O Festival Gambiarra foi aprovado na Lab Recife, Edital Joel Datz.

PROGRAMAÇÃO

Fabiana Pirro. Foto: Divulgação

Obscena – Um Encontro com Hilda Hilst – Fabiana Pirro
4 e 5 de março (sexta-feira e sábado), às 20h

Criado para o teatro, o espetáculo Obscena – um encontro com Hilda Hilst, com a atriz Fabiana Pirro, chega ao CineTeatro Gambiarra e ganha nova leitura. Agora traduzido para essa linguagem híbrida entre o teatro e o cinema.

Claudio Ferrario e Olga Ferrario. Foto: Divulgação

O Último Encontro do Poeta com a Sua Alma – Claudio Ferrario e Olga Ferrario
18 de março (sexta-feira), às 20h

Num diálogo intenso e profundo, acompanhamos o poeta num encontro com a sua alma. Ele repassa a vida que teve, seus caminhos, os medos, as escolhas amorosas e suas entregas.

Olga Ferrario. Foto: Déa Ferraz / Divulgação

Avós – Olga Ferrario
8 de abril (sexta-feira), às 20h

A vida é uma espiral em movimento e a peça faz um mergulho em sentimentos, aprendizados, nascimentos e mortes. Uma experimentação poética sobre os ciclos.

Lívia Falcão em Opá. Foto Divulgação.

Opá – Lívia Falcão
22 de abril (sexta-feira), às 20h

A Palhaça de Lívia Falcão, Xamãe Zanoia, é uma benzedeira antiga, descendente direta da xamã mais velha, de terras distantes. Um lugar de abundâncias e milagres, de onde veio sua voz e a sua Opá. Xamãe Zanoia usa de seus poderes mágicos e entra na virtualidade para conectar-se com os inúmeros mundos à sua volta, fazendo de sua Opá um lugar de encontro, riso, leveza, cura e amor.

Serviço:
Obscena – um encontro com Hilda Hilst (solo com a atriz Fabiana Pirro)

Quando: Sábado (5 de março), às 20h
Quanto: R$ 15 (social), R$ 30 (sugerido) e R$ 50 (abundante)
Bilheteria virtual: wapp (81) 995297939
Mais informações no perfil do Instagram @cineteatrogambiarra.

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Medusa contra o Feminicídio

Fabiana Pirro em Medusa. Foto Renato Filho

Em todo o mundo houve aumento de violência doméstica desde o início das medidas de isolamento social provocados pelo novo coronavírus. No Brasil, os números são alarmantes. Por dia, em 2020, pelo menos cinco mulheres foram assassinadas ou vítimas de violência, segundo dados da Rede de Observatório da Segurança. Os casos de feminicídio (quando as vítimas foram mortas por serem mulheres) aumentaram 2,2% em relação ao ano anterior.

A atriz Fabiana Pirro entra em cena a performance #MedusaMusaMulher

Porque somos constantemente assediadas, boicotadas, erotizadas, exploradas, mutiladas, desumanizadas, silenciadas, invisibilizadas, traficadas, estupradas e assassinadas— por homens. Ela diz basta!

Porque é uma injustiça culpabilizar a vítima em caso de estupro. Isso produz raiva e revolta, sentimentos que são combustíveis para a luta. Ela reage.

Porque a mulher não pode ser incriminada por ser bonita, desejável, por não corresponder às cobiças, por não se deixar enquadrar como objeto, pelo fato de ser mulher. Ela quer cura.

A artista levanta sua voz, avança com seu corpo para apontar os horrores e usa sua potência interpretativa para combater a violência de gênero. Pirro assume de forma furiosa uma posição de combate, pelo resgate da beleza, da força e da esperança.

#MedusaMusaMulher, é a versão escrita por Cida Pedrosa e dirigida por Breno Fittipaldi, que vem sacudindo as mentes e corações no protesto contra o feminicídio e todas as violações da integridade das mulheres.  

A apresentação online de #MedusaMusaMulher tem o apoio da Lei Aldir Blanc de Pernambuco. A programação começa nesta segunda-feira (8 de Março) com o debate Medusa Agora. Do Mito À Mulher e se estende até 15 de Março, com a performance ao vivo pelo Instagram e Facebook @fabianapirro. As exibições são gratuitas.

O debate vai abordar o dia a dia do enfrentamento ao Feminicídio em Pernambuco, numa conversa entre a atriz Fabiana Pirro, o diretor Breno Fitipaldi e a promotora de Justiça, Henriqueta de Belli, que projetam a tragédia da Medusa para os dias atuais. A mediação é da jornalista Ana Nogueira.

Peça é baseada no mito grego. Foto Renato Filho

A concepção de #MedusaMusaMulher tem como base o mito grego de Medusa, que narra que a sacerdotisa foi castigada por um crime que não cometeu. Por ser um mito, há várias versões. Em essência, os deuses gregos estavam embutidos de suas características divinas, mas pareciam com os humanos em desejos, defeitos e virtudes; tudo maximizado, sem limites.

Medusa, sacerdotisa do tempo da deusa Atena, cidade grega de Hélade, era cobiçada por muitos. Ela despertou o desejo de Posseidon, o deus dos mares. Medusa o recusou. Posseidon não admitiu a rejeição. Invadiu o templo, quando Medusa estava sozinha, e a estuprou. 

Em cólera com a profanação de seu templo, Atena decidiu punir o culpado por tal injúria: Medusa. Parece quem tem alguma coisa errada aqui, não? Pois bem, a sacerdotisa foi culpabilizada por ter sido estuprada. Atena arrancou de Medusa toda a beleza e seus cabelos viraram um ninho de serpentes e ela foi condenada a rastejar. E quem a encarasse diretamente nos olhos seria subitamente petrificado. Medusa foi transfigurada em uma criatura monstruosa chamada Górgona. Em seu fim, Medusa teve sua cabeça decepada por um semideus, Perseu, filho de Zeus.

Medusa que se tornou o avatar perfeito na luta contra a violência sofrida pelas mulheres, seja física, sexual ou psicológico. #MedusaMusaMulher é uma batalha constante pelo humano e sua humanidade.

Fabiana Pirro apresenta #MedusaMusaMulher desde 2018. Foto Renato Filho / Divulgação

A estreia de #MedusaMusaMulher ocorreu em setembro de 2018 na programação do Festival Transborda do SESC Pernambuco, numa exibição a bordo do catamarã sobre as águas do rio Capibaribe. Seguiram-se apresentações na Mostra de Música Leão do Norte, do SESC Arcoverde, no I Festival Chama Violeta, na Ingazeira, ambos no Sertão pernambucano, e no Festival Ojuobá de Esporte e Cultura, em Icaraizinho de Amontada, no litoral do Ceará.

Em 2019, a performance percorreu vários palcos e eventos, levantando o debate sobre o feminicídio, destaque para a apresentação em comemoração aos 13 anos da Lei Maria da Pena, a convite da Comissão da Mulher Advogada (CMA) da OAB Pernambuco. Desde o início da pandemia, tem realizado apresentações on line, como no Festival Ocupa Maravilhas e na Mostra Marcos Freitas – Território das Artes, do SESC Garanhuns.

FICHA TÉCNICA
#MedusaMusaMulher
Direção e criação: Breno Fittipaldi
Performance e concepção: Fabiana Pirro
Texto: Cida Pedrosa
Trilha sonora: Cannibal Santos e Pierre Leite
Figurino: Eduardo Ferreira
Adereços: Maria Teresa Pontes (@terafeitoamao)
Sandália: Jailson Marcos
Maquiagem: Henrique Mello
Fotos: Renato Filho
Produção: Ellyne Peixoto e Fabiana Pirro
Assessoria de Imprensa: Ana Nogueira

SERVIÇO
8 de MARÇO (segunda-feira): MEDUSA AGORA. DO MITO À MULHER – debate com a
promotora de Justiça, Henriqueta de Belli, às 17h
15 de MARÇO (segunda-feira): apresentação da performance #MedusaMusaMulher, às
17h
Onde: INSTAGRAM e FACEBOOK @fabianapirro

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Violetas da Aurora estão de olho no seu voto

Coletivo de palhaças do Recife estreia série Zona Eleitoral, uma campanha em 4 episódios. Foto: Ricardo Maciel

Fabiana Pirro é Uruba, Mayara Waquim é Maroca. Foto: Li Buarque

Ana Nogueira  é Dona Pequena. Silvinha Góes é Sema Roza Madalena . Reprodução do Facebook

Terra plana. Negação da ciência. Incêndios no Pantanal, devastação na Amazônia. “Milagres” da Cloroquina… Mentiras, mentiras, mentiras!!! País-gigante humilhado na ONU. Mais de 140 mil óbitos por Covid-19 desde o começo da pandemia (dados de 25/09). Ataques à integridade da cultura. Aumento do desemprego, descida ao mapa da fome.

– Oxe! E o que o meu voto tem a ver com isso?

– Tudo!!! Tudinho… tudão.
Foi com o golpe de 2016 e o confisco do mandato de uma presidenta mulher sufragada democraticamente que esse traçado anunciou o pior que estava por vir. E veio na eleição de 2018. E piorou e piora com o Nojento.

Por essas e outras, elas, as super-meninas, as Violetas da Aurora, estão de olho no seu voto! Ana Nogueira (Dona Pequena), Fabiana Pirro (Uruba), Mayara Waquim (Maroca) e Silvinha Góes (Sema Roza Madalena) estreiam neste sábado (26/09), às 21h, a série Zona Eleitoral, uma campanha em 4 episódios. O primeiro deles Sem Convenção marca também a volta de Dona Pequena ao picadeiro.

Meu voto será feminista – Violetas no Poder !!! Estão ouvindo a multidão gritar? É isso aí meu povo, o coletivo de palhaças se joga de corpo, alma e graça na campanha política 2020. No primeiro encontro, dos quatro episódios, elas vão fazer a prévia para a escolha da candidata oficial, “aquela que irá representar os desejos e anseios de violetas das mais variadas matizes e lutas desta cidade que é o mundo todo”.

“Bora juntes bulir com as estruturas podres”, convocam. Reprodução do Facebook

A série Zona Eleitoral chega repleta de fatos e fotos da vida real na visão peculiar das Violetas.

“E se o mundo ficar pesado???… Se o mundo emburrecer???… Se o mundo andar pra trás???…
Ops! Ficou!!!! Emburreceu!!!! Andou!!!!
Pois vamos abrir com alegria as palavras sabedoria, poesia, rebeldia, teimosia, utopia em todo canto, fresta, chão ou janela, a plantar, chover, escrever, gritar, abraçar o milagre da transformação…
É tudo nosso e a luta também!!!!!
Estamos juntes…
Mais do que nunca…
Sem convenção que seja, mas juntes pra valer!!!!!”

Como de costume, o trabalho junta os investimentos de atuação e afeto: palhaçaria feminina, piadas, contação de histórias, poesia, dança, canto, teatro. Dessa vez elas vão disputar seu coração e principalmente o seu voto. Cada uma na singularidade de sua figura. É para rir, mas também refletir, que vivemos num tempo político. Como lembra a poeta polonesa Wislawa Szymborska, no mais que belo Filhos da época: “Somos filhos da época / e a época é política…”

Essa maravilha de coletivo feminista de palhaças, o único só de mulheres palhaças em atuação no Recife, vai lembrar – porque a memória está curta, né minha filha???!!! – o que se passa nos bastidores da escolha de candidaturas majoritárias, os lances e os interesses que estão em jogo, Dona Pequena, Uruba, Maroca e Sema Roza Madalena reforçam a urgência do empoderamento da mulher na sociedade. Todo voto é decisivo. “Bora juntes bulir com as estruturas podres”, convocam.

As palhaças Violetas da Aurora nasceram juntas para o picadeiro e para a vida. Dona Pequena, Maroca, Sema Roza Madalena e Uruba foram gestadas em 2010 durante o Curso de Formação de Mulheres Palhaças, efetivado pela Duas Companhias e sustentado pelo edital do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) do Governo de Pernambuco. A atriz-palhaça Adelvane Neia, a palhaça Margarida, pioneira na área da comicidade feminina e perita parteira de palhaças e palhaços Brasil a dentro, foi a responsável pela façanha de trazer ao mundo esse quarteto de palhaças.

Ana Nogueira passou um susto com o joelho, mas já está de pé. Foto: Li Buarque

Em meados de agosto, as Violetas da Aurora estavam com agenda marcada para ocupação na Casa Maravilhas. Ensaio geral, com cenário, figurino, maquiagem, tudo de cima e a alegria do reencontro para fazer a festa no picadeiro… Mas a vida apronta suas ciladas. E de repente, Dona Pequena caiu do banquinho e machucou o joelho. Um acidente de trabalho. A ocupação foi adiada por tempo indeterminado.
Teve muita reza, cirurgia, solidariedade, vaquinha para o joelho novo de Dona Peq, ela sempre astuta e aperaltada, cheia de anedotas e leseiras cativantes.
No Facebook, ela escreveu:

Há três semanas lancei aqui um pedido de ajuda. Hoje, venho agradecer. O retorno foi o melhor possível, pois tive por parte de todes palavras e gestos que me deram força e segurança para os primeiros passos no primeiro mês da recuperação. Ontem, 20.09, fez um mês da cirurgia. Avancei, avançamos, um pouquinho a cada dia. Superar o medo de dar o passo seguinte foi o ganho maior dessa etapa. O mergulho na dor física é algo novo para mim. E se não for assim, não tem avanço.
Saí da cadeira de rodas, passei pro andador e agora estou de muletas, liberada para colocar 30% de carga na perna.
Essa semana teremos mais um desafio: retomar o trabalho com as Violetas da Aurora

Salve salve as Violetas da Aurora!

 

SERVIÇO
Estreia da série Zona Eleitoral: primeiro episódio Sem Convenção com as Violetas da Aurora e participação especial da DJ Marte Rafaella Rafael
Quando: sábado (26), às 21h
Onde: Instagram da @casamaravilhas
Ingresso: no chapéu democrático (virtual)
NuBank – Banco 260
Agência 0001
Conta 43218962-0
CNPJ 27.677.055/0001-97
Ana Nogueira
*Se preferir transferir para Caixa, Banco do Brasil ou Itaú, elas tem também.
Mais informações: Ana Nogueira 81.99918.4817

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