Tercer Cuerpo, o bom teatro argentino

Ana Garibaldi, Daniela Pal e José Marìa Marcos. Fotos: Ivana Moura

A solidão coletiva, mesmo que o termo traga em si uma contradição, parece um mal dessa época acelerada. Um deles. Essa solidão ganha contornos quase doentios quando o cenário é deslocado para uma empresa, onde pessoas passam parte produtiva de suas vidas. Em Tercer Cuerpo, da companhia e escola de teatro Timbre 4, de Buenos Aires, cinco personagens têm muitas dúvidas sobre sua existência, sofrem de carência de afeto, que escondem por trás de muitas máscaras, pois não podem se expor como são publicamente.

Três deles trabalham numa mesma empresa e os outros dois, um jovem casal em crise, tentam resolver conflitos. Cada um tem seus segredos.

Atores Hernàn Grinstein e Sofía Magdalena Grondona

A inteligência e o humor dos diálogos promove a força e a graça do espetáculo argentino apresentado ontem, e hoje, no Teatro Sesc da Esquina, no Festival de Teatro do Curitiba. O texto é do ator, dramaturgo e diretor argentino Claudio Tolcachir, também autor de La omisión de la familia Coleman, que iniciou a trilogia em 2007 e El viento en un violin, de 2010.

O espaço da peça transita entre um escritório, a casa de um casal, um bar e um consultório médico. Mas o cenário do espetáculo apresenta uma repartição pública decadente, ou abandonada em suas funções pela tecnologia. Mas o espectador precisa fazer algum esforço para juntar as peças, pois a montagem alterna tempos e lugares, provocando certa confusão. O diretor quebra eixo do tempo-espaço, como unidade convencional e transforma esse espaço uno em muitos.

O trabalho dos atores está em primeiro plano nessa proposta dramática recheada de humor. E que vai da compaixão ao humor cruel. Os personagens se agarram a suas rotinas, mas querem amar e viver apesar de tudo. O desejo de Sandra (Ana Garibaldi) é ter um filho, Moni (Daniela Pal) sonha com uma casa enquanto solta os maiores disparates na convivência com seus colegas, Hèctor (José Marìa Marcos) é o mais velho da turma e acabou de perder mãe. Em meio a tarefas inúteis e diante a incerteza que a repartição vai continuar, eles vão se conhecer.

Na outra ponta do espetáculo estão Manuel (Hernàn Grinstein) e Sofía (Magdalena Grondona).

Esses dois mundos paralelos vão se encontrar em algum momento. Enquanto os dilemas pessoais são discutidos, a tensão aumenta. Existe um barril de pólvora preste a explodir por trás de uma capa de banalidade do dia a dia.

Tolcachir trabalha com mão de mestre com elipses temporais no espetáculo, com poucos recursos.

Atores argentinos dão show de interpretação

A inteligência e sensibilidade do espetáculo estão nas muitas camadas. Da iluminação simples, branca e funcional aos figurinos. Da tristeza, da melancolia, da esperança, e da dura realidade dos personagens, mas repleta da poesia absurda do cotidiano.

Há uma falta de sentido nas frases, insinuações e diálogos, entrecortados, incompletos, como nossas conversas contemporâneas. E a vida segue. E esses personagens com sua riqueza ficam guardados num cantinho da nossa memória.

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