Teatro e dança estudantis em festa

As infanticidas Maria Farrar ganhou melhor espetáculo, direção, cenário e iluminação de teatro adulto. Foto: Pedro Portugal

A festa de premiação do 9º Festival Estudantil de Teatro e Dança, realizado entre os dias 11 e 27 de agosto, foi ontem à noite, no Teatro de Santa Isabel. O festival teve uma extensa programação: 19 espetáculos teatrais e 65 coreografias.

Participaram da festa de premiação a Cia. Vias da Danças, com o trabalho Atípico, criado e dirigido por Heloísa Duque; a bailarina Patrícia Pina Cruz, da Dante Cia. de Dança e Teatro, com um solo trecho do espetáculo Sob a pele, que dialogou com um vídeo realizado por Denni Sales em homenagem às atrizes brasileiras; e o ator Asaías Lira, do Coletivo Grão Comum, com trechos do espetáculo Mucurana – de mundo afora e história adentro; além do cantor Romero Brito, de apenas 20 anos, e da sua banda.

Confira a lista de premiados:

Melhor Espetáculo de Teatro Para Crianças:
Retrato de família (Grupo Teatral Se Der Certo Continua e Escola Municipal Casa dos Ferroviários)

Melhor Diretor de Teatro Para Crianças:
Allan Shymytty (Menino Minotauro)

Melhor Ator de Teatro Para Crianças:
Cícero Manuel (Menino Minotauro)

Melhor Atriz de Teatro Para Crianças:
Inês Mendes (Retrato de família)

Melhor Ator Coadjuvante de Teatro Para Crianças:
Tiago Lourenço (O sumiço da Abelha Rainha)

Melhor Atriz Coadjuvante de Teatro Para Crianças:
Anna Catharina Barros (O Mágico de Oz)

Melhor Cenário de Teatro Para Crianças:
Allan Shymytty (Menino Minotauro)

Melhor Figurino de Teatro Para Crianças:
Anderson Gomes (Retrato de família)

Melhor Maquiagem de Teatro Para Crianças:
Lucila Fernanda Salles (O sumiço da Abelha Rainha)

Melhor Espetáculo de Teatro Adulto:
As infanticidas Maria Farrar (Curso Avançado de Teatro do SESC Santo Amaro)

Melhor Diretor de Teatro Adulto:
Rodrigo Cunha (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Ator de Teatro Adulto:
Raphael Bernardo (A partida)

Melhor Atriz de Teatro Adulto:
Aryella Lira (Crônicas de uma pensão)

Melhor Ator Coadjuvante de Teatro Adulto:
Anderson Leite (O amor de Zé e Mariquinha – Uma comédia regional)

Melhor Atriz Coadjuvante de Teatro Adulto:
Talita França (O Amor de Zé e Mariquinha – Uma comédia regional)

Melhor Cenário de Teatro Adulto:
Rodrigo Cunha (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Figurino de Teatro Adulto:
Claudio Lira (Os Pintados em: Romeu e Julieta)

Melhor Iluminação de Teatro Adulto:
Ana Catarina Maia (As infanticidas Maria Farrar)

Melhor Texto (inédito de autor pernambucano):
Anderson Abreu (Retrato de família)

Prêmio Destaque em Teatro:
Os jurados decidiram, por unanimidade, premiar Allan Shymytty em nome do trabalho desenvolvido com os moradores da cidade de Manarí, como forma de homenagear e incentivar esta iniciativa que mostra que a arte teatral é capaz de transpor quaisquer barreiras, financeiras, sociais ou geográficas.

O Grupo Matulão de Dança ganhou o Prêmio Destaque em Dança. Foto: Reginaldo Azevedo

Melhor figurino na categoria iniciantes em dança:
Sandra Lima (coreografia Planamente, da Esquadros Cia. de Dança e Escola Municipal Três Carneiros)

Melhor figurino na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
André Aguiar e Natalie Revorêdo (coreografia Txeckuh, com alunos do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal de Pernambuco)

Melhor figurino na categoria avançados em dança – grupos:
Fábio Costa (coreografia Ave Poesia, do Grupo Matulão de Dança)

Prêmio Destaque em Dança:
Grupo Matulão de Dança, pelo envolvimento com a cultura popular valorizando o seu aspecto mais cênico em diálogo com outras linguagens artísticas

Melhor bailarina na categoria iniciantes em dança:
Vanessa Alcântara (pela coreografia Todo bailarino é louco, do Grupo Seis’Um de Dança e Escola Estadual Professor Jordão Emerenciano)

Melhor bailarino na categoria iniciantes em dança:
Filipe Sabóia (pela coreografia Com-Munione, do Núcleo de Danças Venícius Passos)

Melhor bailarina na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Janaína Santos (pela coreografia Ginga de matamba, do Nortess Coletivo de Dança e Escola Estadual João Pessoa Guerra)

Melhor bailarino na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Danilo Rojas (pela coreografia Uníssono, do Aria Social)

Melhor bailarina na categoria avançados em dança – grupos:
Stefany Ribeiro (pela coreografia Narciso, o reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura)

Melhor bailarino na categoria avançados em dança:
Diogo Lins (pela coreografia Narciso, o reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura)

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria iniciantes em dança:
Ana Emília Freire (pela coreografia Ubanco, do Aria Espaço de Dança e Arte)

Melhor coreografia na categoria iniciantes em dança:
Passos (1 e 2 Cia. de Dança e Colégio e Curso João Paulo I)

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Carla Machado (pela coreografia Uníssono, do Aria Social)

Melhor coreografia na categoria avançados em dança – solos, duos e trios:
Ginga de matamba, do Nortess Coletivo de Dança e Escola Estadual João Pessoa Guerra, de Igarassu

Melhor coreógrafo ou coreógrafa na categoria avançados em dança – grupos:
Inêz Lima (pela coreografia Bandolins, do Aria Clássico)

Melhor coreografia na categoria avançados em dança – grupos:
Narciso – O reflexo do eu, da A Sós Cia. de Dança e Associação dos Moradores da UR-3 Ibura

Vou aproveitar para publicar a versão completa de uma matéria minha que saiu no Diario de Pernambuco sobre o trabalho de Allan Shymytty na cidade de Manari:

Menino Minotauro ganhou melhor direção, cenário, destaque e ator de teatro para crianças

Manari sobe ao palco

Tinha sido um dia chuvoso em Manari, a 318,4 km da capital pernambucana. Mesmo assim, a família de Maria Quitéria, 16 anos, que mora no Sítio Garrote, na Zona Rural, decidiu sair de casa. Era um compromisso especial: os pais foram prestigiar a estreia da filha como atriz. Eles mesmos nunca tinham visto uma peça, ido ao teatro. Manari não tem lá muitas opções de atividades culturais e esse é só um dos problemas do município que, em 2004, ganhou as manchetes do país com uma triste estatística – era a cidade com o mais baixo índice de desenvolvimento humano do país.

Desde então, algumas iniciativas governamentais e da sociedade civil têm tentado mudar cenários de miséria. “Com o teatro, nós mostramos que, apesar de tudo, somos capazes”, diz a jovem que está no elenco de Menino Minotauro, montagem que encerrou o 9° Festival Estudantil de Teatro e Dança.

A produção que tem texto de Luiz Felipe Botelho leva ao palco 26 atores, entre nove e 17 anos. O protagonista é Cícero Manoel Gomes da Silva, 13 anos, que interrompeu o jogo de futebol na rua para dar entrevista ao Diario. “Nunca tinha visto teatro não. E eu nem sabia, aí um colega meu passou lá em casa me chamando para fazer esse curso. Gostei muito de fazer teatro”, diz o intérprete de Guga. “Ele brinca, arruma namorada e dona Zulmira, a professora, (interpretada por Quitéria) não gosta dele”, explica o garoto.

O diretor Allan Shymytty, que deu um curso de teatro de quatro meses para 102 pessoas antes de escolher o elenco da montagem, diz que a primeira barreira foi a dificuldade com a leitura. “Começamos com interpretação de texto. Nesse caso específico, ainda cumprimos um papel importante, porque a montagem fala do primeiro beijo, primeiro amor, a descoberta do sexo e foi uma forma deles começarem a discutir e tratar desses temas, que normalmente os pais não falam em casa”, conta. Outra dificuldade superada foi o preconceito que os meninos têm com teatro. “É como se teatro fosse coisa de mulher. Mas é um tabu, uma questão pedagógica, de base. O teatro vai ensinar como esses jovens devem lidar com as diferenças, tratar as pessoas”, avança o diretor.

Bruno da Silva Amorim, 23 anos, diz que a peça o ajudou com um problema antigo: a timidez. O universitário que mora com os pais agricultores e todos os dias faz um trajeto de duas horas de ônibus para ir e duas para voltar até Arcoverde para assistir às aulas do curso de História explica que a peça vai “tirar a má impressão que as pessoas têm com a cidade. Queremos mostrar as coisas boas, a nossa arte”.

Um diretor desbravador

Allan Shymytty é acostumado a desbravar lugares onde o teatro ainda não chegou. Ano passado, com um grupo de jovens de Tupanatinga, cidade a 321 km do Recife, Shymytty montou uma versão de Os saltimbancos intitulada A revolta dos bichos, que também se apresentou no Festival Estudantil de Teatro e Dança. “Essa é a função da Equipe Teatral de Arcoverde, Etearc, que eu dirijo há dez anos. Trabalhamos com crianças carentes, comunidades e regiões menos favorecidas”. O diretor tinha 15 anos quando fez o primeiro curso de teatro em Arcoverde, ministrado por Geraldo Barros, que comandou a Etearc até 2001, quando faleceu. “Eu dava opinião da iluminação ao cenário. Então assumi essa função de diretor. A primeira peça que dirigi profissionalmente mesmo foi Pluft, o fantasminha”, relembra.

“Nós passamos alguns meses nas cidades e a ideia é, nesses lugares, preparar novos atores, diretores, interessados em continuar o trabalho”, explica. Será assim com Manari, que recebeu uma oficina de iniciação teatral por quatro meses, uma iniciativa do Ponto de cultura O resgate multicultural Manari via progresso. “Manari tem um potencial cultural muito grande. Tem grupos de mazurca, São Gonçalo, banda de pífano, sanfoneiro. E agora as próprias escolas estão começando a fazer teatro, organizar grupos”, conta Paulo Celso, professor, coordenador do ponto de cultura. Na estreia de Menino Minotauro em Manari, os 300 ingressos colocados à venda foram comprados.

Teatro com índios

Nem acabou ainda o projeto em Manari e Allan Shymytty já está envolvido numa nova empreitada: uma montagem com os índios da tribo Kambiwás, próxima à cidade de Ibimirim (339 km do Recife), na subregião do Vale do Moxotó. “É uma comunidade pequena, pego uma estrada de terra, no pau de arara, pra chegar até lá”. A peça terá 25 índios atuando e 10 na produção. O mais velho é o cacique de 42 anos. A montagem, que deve estrear em outubro, vai contar a história da própria tribo. “Cada vez mais percebo o quanto o teatro é uma linguagem universal. A história do velho Pajé vai falar do massacre que eles sofreram em Serra Negra e terá a dança típica, a dança do toré”, adianta.

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