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To the light

Outro lado, montagem do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum. Foto: Pollyanna Diniz

“É muito triste quando não se morre depois da morte”. Quando tudo antes já tem tons de cinza e a liberdade é uma ilusão. Quando perdemos a noção de há quanto tempo estamos presos. Em nós mesmos? Tentando resolver os nosso cubos mágicos? Algum dia terão solução? Precisam de solução? Porque é esta a realidade a que estamos ligados? Afinal, as combinações matemáticas são infinitas. A montagem Outro lado, do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, é assim. Repleta de questionamentos contemporâneos, de agonias e desesperos de um ser aprisionado, que aguarda o tempo passar, algo mudar.

Lembrei do trecho de um texto de Ítalo Calvino. Foi exatamente assim que a peça reverberou em mim: “Palavras que me fazem refletir. Porque não sou um cultor da divagação; poderia dizer que prefiro ater-me à linha reta, na esperança de que ela prossiga até o infinito e me torne inalcansável. Prefiro calcular demoradamente minha trajetória de fuga, esperando poder lançar-me como uma flecha e desaparecer no horizonte. Ou ainda, se esbarrar com demasiados obstáculos no caminho, calcular a série de segmentos retilíneos que me conduzam para fora do labirinto no mais breve espaço de tempo. Desde a juventude, já havia escolhido por divisa a velha máxima latina Festina lente, ‘apressa-te lentamente’.”

Peça foi encenada semana passada, durante o Trema! Festival de Teatro de Grupo do Recife, organizado pelo Magiluth

Na montagem, quatro pessoas (Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria) estão enclausuradas num lugar. Já foi um bar. E todas as noites eles aguardam (ou não? será que acreditam?) que o público venha, se acomode nas cadeiras e a cantora possa, finalmente, depois de dois anos de espera, estrear o seu novo show com músicas de Nina Simone.

Grupo esteve no Recife pela primeira vez

Parece um labirinto. Como a instalação To the light, que Yoko Ono montou na Serpetine Gallery, em Londres, em junho deste ano. Com a diferença de que lá havia luz; mesmo que a saída fosse incerta. E em Outro lado as esperanças vão minguando aos poucos e o medo do que está por vir pode aterrorizar. Porque quem saiu ainda não voltou? O medo engessa. Até provoca lembranças, memórias, questionamentos. Mas engessa de uma tal forma…

Outro lado é fruto de um trabalho de criação coletiva. O texto é de Assis Benevenuto e Marcos Coletta – com interferência dos outros atores que compõem o grupo. E a direção é assinada pelos quatro integrantes. Todos estão bem em cena – embora o trabalho de Ítalo Laureano seja o destaque. A iluminação da peça, criada por Marina Arthuzzi, nos traz o clima de penumbra; e é capaz de compor lindas imagens com o cenário de Daniel Herthel. Os ventiladores no palco são tão simples – e tão poeticamente belos.

Direção do espetáculo foi coletiva

Ficha técnica
Outro lado, do grupo Quatroloscinco – Teatro do comum
Direção e atuação: Assis Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria
Texto: Assis Benevenuto e Marcos Coletta
Figurino: Paolo Mandatti
Criação de luz: Mariana Arthuzzi
Operação de luz: Mariana Arthuzzi e Maria Mourão
Criação de cenário: Daniel Herthel
Assistente de cenotécnica: Wallace Colibri
Trilha sonora original: Marcos Coletta
Arranjo e assistência musical: Sérgio Andrade
Oficina em Feldenkrais e direção de movimento: Jimena Castiglioni
Design Gráfico: Marcos Coletta
Produção: Maria Mourão

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