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Muribeca, a sobrevivente

Reinaldo Patrício em Muribeca, de Marcelino Freire, direção de Breno Fittipaldi e dramaturgia de Wellington Jr 

Muribeca é título de um conto de Marcelino Freire publicado no livro Angu de Sangue (2000). É um bairro popular em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. E tem também o Aterro Sanitário da Muribeca, mais conhecido como o Lixão da Muribeca, desativado por completo, em 17 de julho de 2009, depois de ter sido utilizado por mais de 20 anos como depósito para os resíduos sólidos das cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo e Moreno.

O conto de Freire faz referência ao Lixão; a protagonista assume o nome Muribeca e introjeta os elementos do descarte como valor positivo, a sobra como saída de sobrevivência. O texto faz uma crítica feroz ao capitalismo e seus mecanismos de subjetivação.

O Coletivo Angu de Teatro, do Recife, montou em 2004 o espetáculo Angu de Sangue e Muribeca era um dos quadros mais emblemáticos. Defendido pelo ator Fábio Caio, essa mulher que considera o lixo um paraíso tinha nuances de ironia, mas com traços de uma doçura revoltada do subalterno e a projeção do cinismo dos poderosos.

Confesso, Reinaldo Patrício, que as imagens da atuação de Caio ainda dominavam minhas lembranças ao começar a assistir Muribeca – Algo sobre viver. O trabalho é  fruto da parceria na produção do Grupo Cênico Calabouço (PE) e do Coletivo (In)comum (RJ), produzido durante a pandemia da Covid-19.

Reinaldo Patrício atua de forma visceral, no limite do arrebatamento para defender sua Muribeca. Um tecido vermelho é usado como saia e também compõe o pano de fundo para dar moldura ao quadro. Um fundo infinito. Sim, podemos ler como uma sequência de quadros, encaixilhados na telinha de um único celular fincado num ponto da pequena sala do ator. Cabe a ele mudar os enquadramentos com o deslocamento do seu corpo, aproximando-se ou afastando-se da câmera.

Essa figura que defende aquele lugar como espaço de moradia e sustento, projeto de existência e futuro dos filhos discorre sobre as vantagens de sua vida e acusa o governo de forma violenta por querer desativar o Lixão. Ela é uma sobrevivente e sabe disso. No fundo, sabe também de todas as explorações e tratamentos desiguais. E dá seu grito de revolta.

O núcleo junta pernambucanos que moram em cidades distintas. O trabalho foi erguido através de plataformas da internet, com o diretor Breno Fittipaldi fazendo suas orientações do Recife, nas trocas com Reinaldo Patrício e o dramaturgista Wellington Júnior no Rio de Janeiro. Eles executam várias funções técnicas para realizar o trabalho, nessa produção que investiga a manifestação teatral tensionada pelas novas tecnologias de informação e comunicação.

Em sua interpretação antirrealista, o ator transborda e há cenas em que é possível ver e sentir o suor, a saliva e outras secreções dos olhos da boca, da pele derramarem-se pelas telas das máquinas. Somos atingidos pelas máquinas que fazem arte. Nessa partitura de movimentos, os quadros se alternam e há muita potência nessas ações.

De dentro de Muribeca, Reinaldo Patrício desliza para outro conto de Marcelino Freire, Amor cristão: “Amor é a mordida de um cachorro pitbull que levou a coxa da Laurinha e a bochecha do Felipe. Amor que não larga. Na raça. Amor que pesa uma tonelada. Amor que deixa. Como todo grande amor. A sua marca”. Esse deslocamento me chegou como um obstáculo, para depois perceber a jogada da dramaturgia de clamar o amor violento que pulsa em todos os recantos do planeta. Ali está em carne viva. A carne encontrada no Lixão, que Muribeca come e oferece ao público.

A peça aumenta a acústica com Monólogo ao pé do ouvido, Chico Science, para avocar cabeças de movimentos sociais. “O homem coletivo sente a necessidade de lutar…”, diz o texto de Science. “Viva Zapata! Viva Sandino! Antônio Conselheiro! Todos os Panteras Negras! Lampião sua imagem e semelhança…” A utopia ardendo do Lixão para citar a Revolução Mexicana de 1910, liderada pelo camponês Emiliano Zapata; a Revolução Sandinista na Nicarágua (1979- 90), comandada por Augusto Sandino, assassinado em 1934; os Panteras Negras, grupo radical na ação pelos direitos civis dos negros norte-americanos, na década de 1960; o Cangaço, com Lampião no Nordeste do Brasil e o Movimento de Canudos, fundado por Antônio Conselheiro e abatido pelo Exército em 1897.

Depois de uma apresentação de pouco mais de meia hora, artistas e público conversam sobre a peça ou outro nome que queiram dar. Na sessão que assisti, pessoas de várias partes do país (Recife, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais…) trocaram palavras amorosas sobre Muribeca – Algo sobre viver. Numa conversa horizontalizada e afetuosa, os artistas falaram do processo de criação à distância. Receberam os elogios de quem ficou para o bate-papo e se sentiu tocado pela energia do trabalho, o talento do ator Reinaldo Patrício e a paixão de todos os envolvidos nessa experiência. Vida longa à Muribeca e outros desdobramentos. A arte se reinventa a qualquer tempo.

Serviço

MURIBECA Algo sobre viver
Quando: todos os sábados de agosto, às 21h
Ingressos: A partir de R$ 10 (contribuições conscientes à venda no Sympla)
Onde: online, através da plataforma Zoom.

Ficha Técnica
Texto: Marcelino Freire
Dramaturgismo: Wellington Júnior
Direção: Breno Fittipaldi
Elenco: Reinaldo Patricio
Cenário e Figurino: Breno Fittipaldi e Reinaldo Patricio
Sonoplastia: Breno Fittipaldi
Iluminação: Wellington Júnior
Designer: Alberto Saulo
Produção executiva: Breno Fittipaldi, Reinaldo Patricio, Uirá Clemente e Wellington Júnior
Criação: Coletivo (In)comum e Grupo Calabouço e Grupo Bixigalixa
Realização: Patricius Produções
Duração : 35min

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Cinco sugestões para o fim de semana

Apenas mais três sessões dessa temporada de O ano em que sonhamos perigosamente, do Magiluth. Foto: Renata Pires

Apenas mais três sessões dessa temporada de O ano em que sonhamos perigosamente, do Magiluth. Foto: Renata Pires

O enigma em The Lobster (A Lagosta) é uma escolha, forçada (vale salientar) de não ficar sozinho, ou melhor, de arranjar um parceiro conjugal para a vida. Sob pena, se a regra não for obedecida, de se ser transformado em animal e jogado no bosque. O filme do grego Yorgos Lanthimos arrebatou o Prêmio do Júri em Cannes em maio deste ano. É uma fábula ácida e implacável situada num futuro distópico sobre a solidão e o amor. O cineasta, que realiza “gênero de filmes em que não se compreende tudo”, ganhou fama internacional com Canino (Prêmio Un Certain Regard, Cannes em 2009) e também dirigiu Alps (Prêmio do Argumento no Festival de Veneza em 2011) é uma das inspirações, referências ou disparadores criativos do novo trabalho do grupo Magiluth.

O ano em que sonhamos perigosamente é o título de um dos livros do sociólogo, filósofo, psicanalista e crítico cultural esloveno Slavoj Žižek. Esse autor, de produção intelectual intensa, utiliza conceitos de Jacques Lacan e vai de Marx a Hegel para analisar o cinema, o fundamentalismo e a tolerância, ideologia e subjetividade em tempos pós-modernos, entre outros temas da atualidade, em linguagem clara e provocativa.

O mundo das crises econômicas aos abalos existenciais está na rota desse novo espetáculo. Na busca do que seria belo, do que seria estética, eles abraçam Anton Tchekhov. E rasgam os véus das guerras, das arbitrariedades e do capitalismo. E mesmo diante do caos, convocam resistências, como o Ocupe Estelita.

SERVIÇO
O ano em que sonhamos perigosamente
Quando: Dias 19, 25 e 26 de Junho de 2015, às 20h
Onde: Teatro Apolo, R. do Apolo, 121 – Bairro do Recife
Informações: (81) 3355-3320

FICHA TÉCNICA
Direção: Pedro Wagner
Dramaturgia: Giordano Castro e Pedro Wagner
Atores: Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Mário Sergio Cabral, Pedro Wagner, Thiago Liberdade
Preparação corporal: Flávia Pinheiro
Desenho De Som:Leandro Oliván
Desenho De Luz: Pedro Vilela
Direção De Arte: Flávia Pinheiro
Fotografia: Renata Pires
Design Gráfico: Thiago Liberdade
Caixas De Som: Emanuel Rangel, Jeffeson Mandu e Leandro Oliván
Técnico: Lucas Torres
Realização: Grupo Magiluth

Tatto Medinni e Iara Campos estão no elenco da versão teatral de A emparedada

Tatto Medinni e Iara Campos estão no elenco da versão teatral de A emparedada

Ano passado, o público televisivo assistiu entusiasmado a uma versão do folhetim A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela. A minissérie Amores roubados (Rede Globo), com dramaturgia e roteiro de George Moura e direção do mineiro José Luiz Villamarim foi deslocada do Recife para o Sertão. O ator Cauã Reymond interpreta na trama o galanteador Leandro que alardeia: “Sempre gostei do perigo. O amor que não tem risco é uma cousa desenxabida, uma aventura sem encantos e pueril”. Bem difícil resistir à atuação de Cauã Reymond.

Há alguns anos, a Trupe Ensaia Aqui e Acolá emplacou sua adaptação de A emparedada da Rua Nova, tomando liberdades estilísticas e conquistando o público com suas cores fortes do melodrama de circo. O grupo fez opção declarada pelas referências à cultura pop e pela chave cômica dessa história trágica. Uma moça teria sido emparedada pelo pai, quando este descobriu sua gravidez, isso lá no final do século 19. E o grupo abusa dos clichês presentes em folhetins, cinema e novelas, faz alterações do romance, inserindo reviravoltas e um novo desfecho.

O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas é inspirado nesse caso nebuloso, que rendeu o romance A emparedada... , escrito entre 1909 e 1912. A montagem, dirigida por Jorge de Paula, já foi vista por quase 15 mil pessoas desde 2010.

A peça que usa a estética circense, com movimentos largos dublagem engraçadíssimas, ganha duas sessões neste fim de semana, no Teatro de Santa Isabel (Praça da República), sábado (20) e domingo (21), às 20h. A direção de atores é de Ceronha Pontes e no elenco estão Iara Campos, Jorge de Paula, Marcelo Oliveira, Andréa Veruska e Tatto Medinni.

SERVIÇO
O Amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas.
Onde: Teatro de Santa Isabel (Praça da República, s/n, Santo Antônio).
Quando: Sábado e domingo (20 e 21),às 20h.
Quanto: R$ 40 e R$ 20 (meia).
Informações: 3355-3322.
Duração do espetáculo: uma hora e meia

 

Júnior Aguiar e Marcio Fecher foram buscar poesia nas cartas de Glauber Rocha.

Júnior Aguiar e Marcio Fecher foram buscar poesia nas cartas de Glauber Rocha.

Numa época pós-ideologia, é muito interessante ver no palco dois atores investigando a recente história do Brasil a partir das relações do cineasta baiano Glauber Rocha com o estado de Pernambuco. Inspirado nas cartas escritas para o poeta Jomard Muniz de Brito e o ex-governador Miguel Arraes a dupla de atores Júnior Aguiar e Márcio Fecher. Premiado como melhor espetáculo e melhor trilha sonora no 20º festival Janeiro de Grandes Espetáculos, h(EU)stória – o tempo em transe perpassa por revolução, paixões e desilusões do amor e do cinema.

SERVIÇO
H(EU)stória – O tempo em transe
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista).
Quando: Sextas e sábados, às 20h (até o dia 20 de junho).
Ingresso: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia).
Informações: 3184-3057

A Receita é um solo com Naná Sodré. Foto: Fernando Azevedo

A Receita é um solo com Naná Sodré. Foto: Fernando Azevedo

A receita apresenta uma mulher que tempera sua vida de abandono e violência com comida. Essa mulher representa as mulheres violentadas física e psicologicamente do mundo inteiro.

O solo é com a atriz Naná Sodré, do grupo O Poste Soluções Luminosas. O texto e a encenação de Samuel Santos, inspirados nos ensinamentos de Eugenio Barba,  convergem para a atuação da intérprete, num teatro ritualístico.

SERVIÇO
Espetáculo A receita
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, loja 1, Boa Vista).
Quando: De 29 de maio a 26 de junho, todas as sextas, às 20h.
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).
Informações: 8484-8421.

Manoel Carlos, André Filho e Daniela Travassos, o núcleo duro da Cia Fiandeiros

Manoel Carlos, André Filho e Daniela Travassos, o núcleo duro da Cia Fiandeiros

A Tempestade (The Tempest) é considerada a obra-prima de William Shakespeare. O poder, a comédia e o romance são os três núcleos da peça. Um duque de Milão, chamado Próspero e sua pequena filha Miranda são lançados no mar e se abrigam numa ilha tropical. De lá, Próspero provoca uma tempestade em que o rei de Nápoles Alonso, seu irmão Sebastião, Antônio, um príncipe, noivo em potencial para Miranda e alguns nobres vão parar na ilha. Próspero tem a seu serviço o monstro Caliban, que ele escravizou e “domesticou”, e Ariel, o espírito que pode se metamorfosear em ar, água ou fogo. O protagonista prepara sua vingança.

A Cia. Fiandeiros de Teatro conclui seu ciclo de leituras dramáticas com A tempestade, última peça escrita por William Shakespeare. A direção é de André Filho e no elenco estão Domingos Soares, Célio Pontes, Marília Linhares, Jefferson Larbos, Carlos Duarte Filho, Geysa Barlavento, Pascoal Fillizola, Manuel Carlos, Luís Távora, Wellington Júnior e Quiércles Santana.

SERVIÇO
Leitura dramatizada de A Tempestade
Onde: Espaço Cultural Fiandeiros (Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista).
Quando: Sexta (19), às 19h30.
Quanto: Entrada gratuita.
Informações: 4141-2431.

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Escritura clássica no foco da Cia Fiandeiros

Companhia Fiandeiros de Teatro realiza segunda edição do projeto Espaço Fiandeiros Dramaturgia neste mês de junho

Companhia Fiandeiros realiza segunda edição do projeto de Dramaturgia neste mês de junho

A Companhia Fiandeiros de Teatro investe nos processos formativos em artes nesses 12 anos de trajetória. Em 2009, o grupo criou a Escola de Teatro Fiandeiros, que veio suprir uma demanda de formação artística no Recife. Para se ter uma ideia de que existe procura pelo aprendizado na área, somente neste semestre são cinco turmas e 119 alunos matriculados. E os aprendizes já participaram de 13 peças ao longo desses anos.

O texto teatral é uma preocupação constante da trupe. Tanto é assim que no seu repertório constam montagens com escrituras originais compostas a partir de pesquisas inspiradas na dramaturgia pernambucana: Vozes do Recife – um concerto poético (2004), O capataz de Salema (2005), Outra vez, era uma vez…. (2008) e Noturnos (2011).

De 16 a 19 de junho o grupo realiza a primeira etapa da segunda edição do projeto Espaço Fiandeiros – Dramaturgia, com incentivo do Funcultura. O programa é composto de leituras dramáticas dos textos clássicos Antígona, de Sófocles; O canto do cisne, de Tchekhov e A tempestade, de Shakespeare, seguido de debates. Além da palestra A dramaturgia clássica e o teatro contemporâneo: tensões, relações e interseções, com professor da UFPE Rodrigo Dourado, que vai contar com tradução simultânea em Libras.

As leituras serão interpretadas por atores profissionais e alunos da Escola de Teatro Fiandeiros. No segundo semestre haverá apresentação de solos a partir de personagens extraídos das leituras, com participação de diretores convidados.

Na primeira edição do projeto, em 2013, o foco foi sobre os textos inéditos de autores pernambucanos. Desta vez o grupo propõe reflexões e conexões entre história, sociedade, dramaturgia e contemporaneidade à partir dessas obras clássicas.

PROGRAMAÇÃO
Dia 16/06 (terça-feira), às 19h30
Palestra A dramaturgia clássica e o teatro contemporâneo: tensões, relações e interseções – com Rodrigo Dourado

Leitura dramática seguida de debate:

Dia 17/06 (quarta-feira), às 19h30
Antígona, de Sófocles
Direção: Daniela Travassos
Elenco: Sandra Rino, Ivo Barreto, André Riccari, Eduardo Japiassú e Lili Rocha

Dia 18/06 (quinta-feira), às 19h30
O canto do cisne, de Anton Tchekhov
Direção: Manuel Carlos
Elenco: Ricardo Mourão e André Filho

Dia 19/06 (sexta-feira), às 19h30
A tempestade, de William Shakespeare
Direção: André Filho
Elenco: Domingos Soares, Célio Pontes, Marília Linhares, Jefferson Larbos, Carlos Duarte Filho, Geysa Barlavento, Pascoal Fillizola, Manuel Carlos, Luís Távora, Wellington Júnior e Quiércles Santana.

FICHA TÉCNICA DO PROJETO
Concepção e coordenação geral: Daniela Travassos
Produção executiva: Renata Teles e Jefferson Figueirêdo
Estágio em produção: Tiago Gondin (Faculdade Senac)
Realização: Companhia Fiandeiros de Teatro / Espaço Fiandeiros

SERVIÇO
Espaço Fiandeiros – Dramaturgia
Quando: De 16 a 19 de junho, sempre às 19h30
Dia 16 de junho: palestra A dramaturgia clássica e o teatro contemporâneo: tensões, relações e interseções, com Rodrigo Dourado
Dia 17 de junho: leitura dramática de Antígona, de Sófocles + debate
Dia 18 de junho: leitura dramática de O canto do cisne, de Tchekhov + debate
Dia 19 de junho: leitura dramática de A tempestade, de Shakespeare + debate
Onde: Espaço Cultural Fiandeiros: Rua da Matriz, 46, 1º andar, Boa Vista, Recife
Quanto: Entrada franca
Informações: (81) 4141.2431

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Experiência orgiástica no Recife

Breno Fittipaldi, Lucas Notaro e Wellington Júnior em Túlio Carella e o Teatro do Insólito.  Foto: Divulgação

Breno Fittipaldi, Lucas Notaro e Wellington Júnior em Túlio Carella e o Teatro do Insólito. Foto: Divulgação

Dizem que o Recife é uma cidade sensual, erótica. Que acende a libido. E que inspira até a promiscuidade. Talvez não para todos, mas para o professor argentino Túlio Carella foi um pavio de pólvora num celeiro de palha. Despertou paixões até então inimagináveis. No início da década de 1960 o poeta, ensaísta, dramaturgo, crítico e roteirista Carella, um dos escritores mais celebrados de Buenos Aires, recebeu um convite dos dramaturgos e professores Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna para dar aulas curso de Arte Dramática/Formação de Ator, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Aceitou. E no Recife experimentou tórridas aventuras. Levou uma vida orgiástica na cidade. E não nos esqueçamos que o país vivia à beira do golpe militar.

Suas peripécias eróticas foram anotadas nas páginas dos seus diários. Aulas disputadas na UFPE, aversão dos seus pares e uma trilha paralela de encontros homoafetivos incendiários. A passagem do argentino pela capital pernambucana é motivo hoje, às 20h, da leitura Orgia:Túlio Carella e o Teatro do Insólito, do dramaturgo Moisés Neto, com direção de Breno Fittipaldi e realização do Grupo Cênico Calabouço. A dramatização integra a segunda edição do projeto Segunda com Teatro de Primeira, realizado pelo Espaço Cênicas e a Cênicas Cia de Repertório.

Bem a produção promete Sexo, Paixão e Teatro como você nunca viu ou ouviu. Mas lembrem-se são palavras. “O latejante erotismo pulsa no verbo teatral”. O dramaturgo recifense Moisés Monteiro de Melo Neto indica um mergulho no absurdo existencial à partir do episódio Carella e propõe criar teias com o teatro do absurdo para discutir terror e êxtase.

“O que leva um intelectual casado e bem estabelecido a largar tudo e cair na orgia com outros homens?” Boa pergunta. Se a leitura não responder à questão vai instigar reflexões sobre subjetividades, os labirintos do ser e os valores ditos “morais” da sociedade. A peça é inspirada nos diários de Túlio Carella. Ele viveu em arrebatamento sexual. Amou e foi amado por “homens com ar de cisnes que usavam seus farrapos com uma majestade indescritível”.

Na criação do texto, o dramaturgo buscou algumas ideias de Artaud e outros autores. “Discute-se o erotismo verbal em intersecção com o insólito, ‘incomum’, como o teatro de Ionesco, Beckett e Pirandello, talvez ao de Qorpo Santo. Uma discussão sobre as palavras de amor e registro da afetividade”, atesta Moisés.

SERVIÇO
Leitura Orgia:Túlio Carella e o Teatro do Insólito
QUANDO: 27 de Abril, às 20h
ONDE: Espaço Cênicas (Rua Marques de Olinda,199 – segundo andar.
Bairro do recife antigo – entrada pela Vigário Tenório).
QUANTO: Pague quanto puder.

Ficha técnica
Leitura Orgia:Túlio Carella e o Teatro do Insólito
Texto: Moisés Neto
Direção: Breno Fittipaldi
Elenco: Breno Fittipaldi, Lucas Notaro e Wellington Júnior
Direção Musical: Lucas Notaro
Designer: Alberto Saulo
Realização: Grupo Cênico Calabouço

PROGRAMAÇÃO da 2° EDIÇÃO – PROJETO SEGUNDA COM TEATRO DE PRIMEIRA
Dia 27/04/2015: Orgia:Túlio Carella e o Teatro do Insólito – Texto Moisés Neto (Grupo Cênico Calabouço)
Dia 25/05/2015: Vênus Metálica – Texto Wellington Júnior (Teatro da Fronteira)
Dia 29/06/2015: Mau Mau Miau – Texto Felipe Botelho (Cia Incantare de Teatro)
Dia 27/07/2015: Surpresa – Texto Alcio Lins (Marcondes Lima)

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Mostra Capiba para fechar bem o ano

Hay Amor!, do grupo Os Geraldos, de Campinas, está na programação da Mostra Capiba. Foto: Claudia Echenique

Saiu a programação da VI Mostra Capiba, realizada no Teatro Capiba, no Sesc Casa Amarela, e também este ano, com ações no C.A.S.A (Centro de Articulação de Saberes Artísticos), que é na Rua Visconde de Abaeté, 166, na Tamarineira.

Mais uma vez o Satisfeita, Yolanda? é parceiro do festival, que vai de 7 a 15 de dezembro. Vou escrever sobre os espetáculos e os textos serão postados aqui no blog e no site do Sesc. Também foram convidados pra escrever sobre as peças os professores Wellington Júnior e Elton Bruno.

Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).

Vamos à programação:

TEATRO CAPIBA

Dia 7/12, às 20h:
Sereia no Escuro – Marcondes Lima (PE)
Sinopse: Exercício teatral calcado na improvisação como meio de expressão e não como meio de preparação para o trabalho do ator. Uma experiência cênica no limite entre linguagens, onde a representação, o canto e a dança são utilizados pelo ator como experimentos, sem a preocupação com certas convenções. O ator, em tom confessional, faz de si personagem. Fala sobre o seu fazer artístico, entremeando fragmentos de memória e ilustrando-as com demonstrações práticas. A figura mítica da sereia serve como metáfora do ser ator e dos estados de inadequação, de dubiedade e de inconformismo diante da existência. Também diz respeito às criaturas híbridas que rodeiam e habitam os abismos de todos nós.

Dia 8/12, às 20h:
Propriedade Condenada – Cia de Teatro da UFBA (BA)
Sinopse:
Com o texto curto Essa propriedade está condenada, Tennessee Williams trata de inocência de duas crianças (Tom e Willie) que se encontram nos trilhos do trem e os fatos cruéis que constituem a vida de Willie, como abuso sexual, abandono e exploração de menor. Através da narrativa de Willie, descobrimos toda a tragédia de sua família: após o abandono de sua mãe que fugiu com o homem que freava os trens e do sumiço de seu pai, alcóolatra, Willie e sua irmã mais velha, Alva, ficam sós em uma grande casa abandonada. Logo, os homens da região abusam de Alva até sua morte por tuberculose. Aos treze anos, Willie assume o lugar de sua irmã, transformando-se na cortesã dos homens da ferrovia.

Dia 9/12, às 20h:
Aquilo Que Meu Olhar Guardou Pra Você – Grupo Magiluth (PE)
Sinopse:
Com dramaturgia que adota a postura de “testemunho imparcial”, contando relatos que poderiam ser objeto de vários contos, Aquilo que Meu Olhar Guardou Pra Você mostra uma visão mais aprofundada das cidades com foco nas figuras, histórias e fluxos de todo o tecido social. É um espetáculo vivo e a cada apresentação, amplia o estado de jogo dos atores envolvidos e que pretende estabelecer uma ligação com o público a partir de uma humanidade comum, compartilhada e assumida. Neste sentido, a montagem radicaliza a experiência teatral, dando a platéia não mais um papel passivo e protegido em sua penumbra e sim um papel ativo e propositivo mediante aquilo que ela encontra.

Dia 10/12, às 20h:
Avesso – Educandário Cicuta Sem Estricnina (PE)
Sinopse: O espetáculo é o encontro de dois seres em busca de suas verdades através de histórias fabulosas e divagações filosóficas, apoiados em suas relações com o sistema sócio-econômico capitalista e suas atividades cotidianas. É uma redescoberta do ser humano começando do lado contrário. A trilha sonora é feita ao vivo a partir de recombinações de sons capturados por microfones espalhados pelo palco e na platéia, trazendo caráter orgânico ao universo surreal proposto.

Dia 11/12, às 20h:
Gaiola de Moscas – Grupo Peleja (PE)
Adaptado do conto homônimo do escritor moçambicano Mia Couto, Gaiola de Moscas é um espetáculo inspirado na brincadeira de Cavalo Marinho. Zuzé Bisgate é um curioso comerciante. Ele vende cuspes para engraxar sapatos e moscas para acompanhar os mortos nos funerais. Sua mulher, cansada das ideias do marido, se encanta por um forasteiro vendedor de “pintadas” de batom. A história nos remete a um vilarejo imaginário que poderia estar em Moçambique, no Brasil, ou em qualquer lugar onde se combine desigualdade social e criatividade. A encenação envolve o espectador num universo de precariedade e alegria, onde os personagens sobrevivem entre destroços e sonhos. Como “brincantes do conto”, músicos e atores-dançarinos apresentam sua própria brincadeira contemporânea e instauram o clima vivenciado nos brinquedos populares.

Na solidão dos campos de algodão, com Edjalma Freitas e Tay Lopez. Foto: Pollyanna Diniz

Dia 12/12, às 20h:
Na solidão dos campos de algodão – Cia do Ator Nu (PE)
Onde: O espetáculo não será no teatro, mas na quadra poliesportiva do Sesc Casa Amarela
Sinopse: Dois homens se encontram num lugar neutro, indefinido. Um deles pretende fornecer o que o outro desejaria, mas nem o desejo, nem a mercadoria são revelados. O jogo enigmático avança até chegar a um final surpreendente. E essa relação mostra-se, ao longo do tempo, como um combate sem vencedores tendo a solidão como horizonte. Um combate que só se realiza através da palavra. É a palavra que vai, no percurso do espetáculo, revelar que toda relação é um jogo comercial no qual um deseja e o outro sacia.

Dia 13/12, às 20h:
Olivier e Lili – Uma História de Amor em 900 Frases – Teatro de Fronteira (PE)
Sinopse: Concebido a partir de Les drôles: un mille-phrase, texto em que a dramaturga e atriz Elizabeth Mazev revive passagens de sua infância, adolescência e juventude ao lado do encenador e ator Olivier Py, o espetáculo cruza essa história de amor e amizade com fragmentos da biografia dos atores Fátima Pontes e Leidson Ferraz. Como se lesse as páginas de um diário, como se abrisse um álbum de fotos, como se revirasse um baú empoeirado, o público é convidado a compartilhar as memórias íntimas de Lili/Fátima e Olivier/Leidson: escola, família, sabores, músicas, perdas, paixões, sexo, identidades. Numa narrativa telegráfica e vertiginosa, a montagem (con)funde as camadas do ficcional e do real, do público e do privado, para celebrar os encontros de arte e vida propiciados pelo teatro.

Divinas, da Duas Companhias. Foto: Ivana Moura

Dia 14/12, às 20h:
Divinas – Duas Companhias (PE)
Sinopse: O espetáculo apresenta em clima de brincadeira e poesia três figuras contadoras de histórias, na pele das palhaças Uruba, Bandeira e Zanoia, atravessando tempos e geografias diversas numa caminhada sobre a delicadeza e a força na busca dos sonhos. O trabalho em conjunto transforma o grupo num grande amálgama de criatividade, dando continuidade ao movimento em busca de um corpo de mulher no universo do clown, criando uma linguagem própria da palhaça.

Dia 15/12, às 20h:
Hay Amor – Os Geraldos (SP)
Ao evocar que haja amor, a comédia musical pretende tratar a necessidade humana de não estar só. Através de uma criação dramatúrgica coletiva, o espetáculo busca retratar as relações amorosa do homem contemporâneo que, por conviver com a instantaneidade do mundo virtual, vê-se imerso em um universo de laços “a curto prazo” e relacionamentos a distância. Hay amor! se passa em um banco de praça de uma cidade do interior, onde jovens descobrem sua sexualidade e as relações amorosas.

C.A.S.A – Centro de Articulação de Saberes Artísticos

Dia 13/12, às 22h:
Faca de dois gumes – Grupo Cênico Calabouço – (PE)
Sinopse: Este trabalho foca sua busca nas relações entre sexualidades e cena contemporânea. O ator Nelson Lafayette apresenta seu solo dialogando com as tensões presentes em diversos materiais criativos – de sua vida até trechos de filmes e novelas.

Dia 14/12, às 22h:
Drama em Pessoa – Teatro Dubando (PE)
Drama em Pessoa é o novo projeto do Teatro Dubando. Consiste na leitura dramática do texto teatral O marinheiro, de Fernando Pessoa, e da encenação do texto Salomé do mesmo autor. Dividem a direção da leitura Edjalma Freitas e Alexsandro Souto Maior. A encenação de Salomé é dirigida também por Alexsandro. Com este projeto, o grupo pretende partilhar com o público o teatro pouco conhecido de Fernando Pessoa. Um teatro marcado pela valorização da palavra. Um teatro para ser lido, não encenado, como o próprio Pessoa admitia. O Teatro Dubando acabou por enveredar no universo lírico e onírico, presente nos dois textos, a fim de contar dramas estáticos na perspectiva de um espetáculo intimista e envolvente.

Dia 15/12, às 22h:
Cartas Autorais – A Cântaros (PE)
Sinopse: Através do jogo e performance, diferentes leituras de cartas, postais, bilhetes e outras correspondências, permeadas por memórias musicais. O roteiro e a direção são de Ana Laura Nascimento e Sonia Guimarães, que também estão no palco.

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