Arquivo da tag: Vavá Schön-Paulino

De janeiro a janeiro, tem festival!

Essa febre que não passa (foto) e Aquilo que meu olhar guardou para você estarão no Festival de Curitiba. Foto: Ivana Moura

Duas montagens pernambucanas – Essa febre que não passa, do Coletivo Angu de Teatro, e Aquilo que meu olhar guardou para você, do grupo Magiluth – estão na programação da mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba. Depois do Janeiro de Grandes Espetáculos e do hiato no mundo das artes – para tudo que não é música e folia carnavalesca, claro – é Curitiba quem abre o calendário de festivais de teatro no país.

De janeiro a janeiro, tem festival em vários lugares do Brasil, com enfoques e objetivos diferentes, mas sempre proporcionando a circulação dos espetáculos e, geralmente, o acesso do público a montagens que dificilmente conseguiriam ser vistas sem o suporte de um festival – já que não há patrocínio para todas as peças e bilheteria definitivamente não garante a possibilidade dos grupos viajarem.

Conversamos com diretores e curadores dos principais festivais do país – Festival de Curitiba, Porto Alegre em Cena, Londrina, Festival de São José do Rio Preto, Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac), Cena Contemporânea e Tempo_Festival. Procuramos saber quais as propostas para este ano e, mais ainda, tentamos revelar os méritos de cada um deles para, de alguma forma, contribuir para que os nossos próprios festivais (ao menos os três maiores) – Janeiro de Grandes Espetáculos, Palco Giratório e Festival Recife do Teatro Nacional (esses também foram ouvidos, obviamente) – consigam avançar (ou também servir de espelho) em diversos aspectos.

Curitiba, por exemplo, recebe muitas críticas de que prioriza e incentiva na cidade a proliferação do teatro comercial. Apesar disso, o festival que já vai para a 21ª edição é, indiscutivelmente, um dos mais bem-sucedidos do Brasil. Consegue reunir produções de qualidade na cena nacional, inclusive muitas estreias acontecem lá, e ainda fomentar o experimentalismo, graças à mostra paralela intitulada Fringe, que foi inspirada no Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia. Este ano, o Fringe deve ter 368 espetáculos. O grupo Magiluth, que nunca participou do festival, além de estar na mostra oficial, apresenta outros dois espetáculos: 1 Torto e O canto de Gregório, numa mostra dentro do Fringe organizada pela Companhia Brasileira de Teatro, que será realizada no Teatro HSBC.

Los pájaros muertos abre festival no Paraná

A mostra oficial do festival, que acontece entre 27 de março e 8 de abril, terá 29 espetáculos de seis estados brasileiros – São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco -, além de dois internacionais – da Espanha e da Inglaterra. “Apesar dessas atrações, não queremos ser um festival internacional. O nosso grande mote é a produção nacional e mantemos esse foco”, explica Leandro Knopfholz, um dos criadores e diretor geral do evento.

A abertura da mostra será com a peça espanhola Los pájaros muertos; mas o festival tem ainda duas remontagens da companhia carioca Os Fodidos Privilegiados – O casamento e Escravas do amor -, as duas textos de Nelson Rodrigues; a estreia de Eclipse, do grupo Galpão; e de Licht & Licht, da Cia de Ópera Seca; e ainda montagens como Gargólios, de Gerald Thomas; O idiota, de Cibele Forjaz; e O libertino, de Jô Soares.

Recorte holandês no Rio de Janeiro

Qual o teatro feito na Holanda? Você já se fez essa pergunta? Os diretores e curadores Márcia Dias, Bia Junqueira e César Augusto, do Tempo_Festival das Artes – Festival Internacional de Artes Cênicas do Rio de Janeiro, já. Tanto que um recorte dessa cena teatral poderá ser visto entre 5 e 12 de outubro no chamado 2° Tempo do festival. “O festival é realizado em três tempos: o primeiro é dedicado ao pensamento – trazemos artistas internacionais para fazer residência, debates, encontros com filosófos, pessoas de outros segmentos. Já o segundo é aquele dedicado à programação artística propriamente dita. E há ainda o Tempo_Contínuo, que é o site, um suporte permanente”, conta Márcia.

Para quem duvida sobre o quanto o teatro na Holanda é profícuo, Márcia Dias responde: “Estou com material de mais de 60 espetáculos, entre teatro e dança, para que possamos fazer a curadoria”. Ano passado, o Tempo fez um recorte da cena argentina – inclusive co-produziu (com o Festival Internacional Santiago a Mil, o Festival d’Automne de Paris e a Maison des Arts et de la Culture de Créteil, na França), O vento num violino, do Teatro Timbre 4, que esteve pela primeira vez no Recife no último Janeiro de Grandes Espetáculos.

Espetáculo do grupo argentino Timbre 4 foi co-produzido por festival carioca

Londrina tem o festival de teatro mais antigo do Brasil

O festival de teatro mais antigo do Brasil é o Festival Internacional de Londrina – Filo. São 44 anos (a mostra só não foi realizada uma única vez e, por isso, o festival vai para a sua 43ª edição) e a programação inclui não só teatro, mas dança, circo, música. “Tentamos montar uma programação diversificada. E conseguimos uma média de 80, 90 e até 100 mil pessoas por edição”, conta o diretor da mostra, Luiz Bertipaglia.

A relação do Filo com a cidade, explica Bertipaglia, é bastante especial. “O festival tem 44 anos e a cidade 77. O festival foi crescendo com Londrina. As pessoas entendem que o festival faz parte da história da cidade”. Outra facilidade com relação à público é que Londrina não é tão grande – tem cerca de 600 mil habitantes e aí as ações conseguem ser mais efetivas junto ao espectador.

Segundo o diretor, a cena teatral londrinense foi impulsionada pelo Filo. “Muitas companhias foram criadas em função do festival. E acho que foi fundamental também para a criação, em 1998, do curso de Artes Cênicas da Universidade Estadual”.

Grupo belga vai encenar texto de Alejandro Jodorowsky no Filo

As inscrições para os grupos nacionais no Filo terminaram no dia 9 de fevereiro. A curadoria dos internacionais é feita pelo próprio Luiz Bertipaglia. Em primeira mão, o diretor nos confirmou a apresentação de The ventriloquist’s school, do grupo belga Poit Zero (um texto de Alejandro Jodorowsky), e Translunar paradise, montagem do grupo da Inglaterra Theatre Ad Infinitum (uma história sobre vida, morte e amor eterno que começa depois que a esposa de William morre e ele vai para uma ilha da fantasia, das suas memórias passadas). O festival será realizado entre 8 e 30 de junho.

Teatro africano no Distrito Federal

Geralmente o festival Cena Contemporânea, de Brasília, é realizado em agosto ou setembro. Esse ano, no entanto, será um pouco mais cedo: de 17 a 29 de julho. Guilherme Reis, coordenador do festival, diz que a mudança é por conta de um convite da Universidade de Brasília (UnB), que está completando 50 anos. “Vamos fazer uma edição especial, voltada para América Latina e África. Em 1987 e 1989, a UnB realizou o Festival Latino Americano. Por isso essa ação”, explica Reis que garante que terá liberdade para realizar suas escolhas, de forma independente da universidade.

El rumor del incendio, do México, estará no Cena Contemporânea

“Tenho uma oferta grande de espetáculos africanos e algumas co-produções que passam também por Portugal, Canadá e Espanha”. A grade de programação ainda não está fechada, mas o coordenador adianta que devem ser 12 ou 13 espetáculos internacionais, sendo seis ou sete latino-americanos e o restante de espetáculos africanos, além da produção nacional com a presença de montagens de diretores como Henrique Dias e Cibele Forjaz. Dos internacionais, estão confirmados The butcher brothers, da África do Sul, e El rumor del incendio, do México.

O Cena é um festival privado que nasceu em 1995, mas está indo para a 13ª edição. “Em alguns anos, não conseguimos realizar. Mas desde 2003 não paramos mais. Brasília tem uma situação atípica com relação a apoio. Pela primeira vez, ano passado, recebemos incentivo do Distrito Federal”, conta Reis. Um dos méritos do Cena é envolver a cidade – mesmo quem não vai ao teatro, não fica ileso ao Ponto de Encontro, um espaço montado na Praça do Museu Nacional da República, que abriga apresentações musicais.

Teatro de dois em dois anos

O Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte (FitBH), em Minas Gerais, acontece de dois em dois anos. “Essa já era a proposta desde que ele foi criado, em 1994. Era para ter fôlego mesmo, para fazer sempre um grande festival”, explica Marcelo Bones, diretor do evento que, ao lado da diretora Yara de Novaes e da atriz Grace Passô, fará a curadoria da mostra. O evento está marcado para acontecer entre 12 e 24 de junho. A grade de programação ainda não está fechada, mas já há algumas definições. Bones adianta que devem ser 12 espetáculos internacionais, 15 nacionais e ainda 10 montagens de Belo Horizonte – que ocupam não só os palcos dos teatros, mas também as ruas.

“Vamos trabalhar a partir de três conceitos: o teatro e a cidade; o teatro e outras linguagens artísticas; e a cooperação e o intercâmbio entre criadores”, explica Marcelo Bones. O festival, que vai para a 11ª edição, é realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte – responsável por 60% dos custos do evento. “Apesar de depender da agenda política, é um evento consolidado, importante para a cidade. Todas as pessoas sabem que o evento está acontecendo, gera movimentação”, diz o diretor.

Expandindo fronteiras

Where were you on January 8th? integrou programação do festival em São José do Rio Preto ano passado

O teatro contemporâneo é sempre o mote do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (Fit). Cerca de 40 companhias participam da programação que, este ano, vai de 4 a 14 de julho. Para se ter uma ideia, o festival recebeu 570 inscrições de grupos interessados em participar – desses, seis são pernambucanos. A curadoria é formada por Kil Abreu (que, durante quatro anos, foi curador do Festival Recife do Teatro Nacional), Sérgio Luis Venitt de Oliveira, Beth Lopes e Natália Noli Sasso. “Como festival internacional, estamos indo para a 12ª edição, mas o festival já tem 43 anos. Só na época da ditadura militar é que a programação não aconteceu uns dois ou três anos”, conta Marcelo Zamora, diretor do Fit.

“A gente achava que o festival precisava do recorte internacional”, complementa Zamora. O festival é realizado pela prefeitura, embora, o órgão seja responsável por apenas 10% do orçamento. “Somos um festival que vai atrás de propostas mais radicais, conceituais, com riscos maiores. E isso é sempre uma provocação para o nosso público”, diz o diretor. 60% da programação do festival em São José do Rio Preto, em São Paulo, é gratuita.

Relacionamento internacional

Em 18 anos, o festival Porto Alegre em Cena conseguiu estabelecer uma relação invejável com grupos internacionais. Muitas companhias vêm ao Brasil apenas para se apresentar lá. Ano passado, por exemplo, o diretor Bob Wilson só passou por Porto Alegre com A última gravação de Krapp, em que ele mesmo está em cena. “O trabalho sério e de respeito aos grupos ampliou muito os contatos do festival. É um meio onde as informações circulam. Então hoje conversamos com o mundo inteiro e, quando há um cenário propício, convidamos esses grupos”, diz Luciano Alabarse, que além de diretor é muito da alma do festival de Porto Alegre.

Bob Wilson era o diretor e o ator de A última gravação de Krapp, espetáculo apresentado no último POA em Cena. Foto: Mariano Czarnobai/Divulgação

Apesar de toda dedicação de Alabarse, a mostra não é privada, mas realizada pela Secretaria de Cultura da cidade. “A equação da qualidade é um grande desafio. Harmonizar a burocracia pública com a agilidade requerida por um festival internacional de grande porte é difícil. Há momentos em que penso em pegar em armas”, brinca Alabarse. “Importante é que não haja concessões artísticas. O festival não flerta com sucessos televisivos, celebridades duvidosas, peças de apelo comercial. O que está em jogo é a discussão cênica que faz diferença. Essa postura estabelece limites”, complementa.

Como um festival que já tem uma carreira consolidada, as negociações para que os grupos participem do POA em Cena podem durar anos. “Em 2012, o Berliner Ensemble vai visitar Porto Alegre pela primeira vez. O compositor inglês Michael Nyman, da mesma forma. E o Fuerza Bruta, sucesso mundial, vai aterrisar nos pampas. Essas são atrações já confirmadas”, adianta Luciano Alabarse.

O mais jovenzinho entre os festivais

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (Fiac) só teve quatro edições e, ao que parece, um longo percurso pela frente. A data da próxima edição já está marcada: será de 28 de setembro a 6 de outubro. “Como nos anos anteriores, não direcionaremos a seleção em torno de um conceito pré-definido. Adotamos um caráter mais panorâmico, buscando alcançar uma mostra caracterizada pela diversidade e levando espetáculos que, de alguma forma consideramos, significativos, seja pela proposta de inovação na linguagem, aposta em um processo artístico ou experimentação, ou pelo ineditismo de grupos ou artistas importantes”, explica Ricardo Libório, coordenador do Fiac.

Um dos desafios do festival, aliás, não só dele, mas de praticamente todos no Brasil, é a formação de plateia. “Estamos amadurecendo algumas ações, que vão desde a ampliação do número de sessões por espetáculos, o fortalecimento de nossa coordenação de formação de platéias e a busca de parcerias estratégicas com a Secretaria de Educação, além de buscar modelos de promoção focada em grupos específicos que tenham potencial de ampliar o público ‘consumidor’ de teatro, para beneficiar não apenas o alcance do Festival em si, mas a atividade teatral em Salvador ao longo de todo o ano”, finaliza. A grade do festival ainda não foi definida.

OS PERNAMBUCANOS

Janeiro de Grandes Espetáculos faz escala em Portugal

O próximo Janeiro de Grandes Espetáculos pode ser aberto por uma montagem idealizada na ponte áerea Recife – Portugal. A ideia é que cinco atores daqui façam um intercâmbio com o Centro Póvoa de Lanhoso, que fica na vila de mesmo nome no distrito de Braga. O projeto é de Paulo de Castro, um dos produtores do festival, ao lado de Paula de Renor e Carla Valença. “Ainda estamos fechando os detalhes; porque devemos lançar uma seleção para essa escolha. Queremos proporcionar essa vivência com um centro internacional”, explica Paula de Renor.

Curadores do Janeiro pensam em estruturar intercâmbios e parcerias

Desde 2011, o Janeiro de Grandes Espetáculos é um dos integrantes do Núcleo de Festivais Internacionais do Brasil. “Aqui em Pernambuco, somos o único festival internacional. E o que queremos realizando parcerias é melhorar a programação e ainda trabalhar o público para essas montagens, porque as pessoas ainda têm receio da qualidade; talvez pela língua, embora as montagens tenham legenda sempre que preciso”, comenta Paula.

Realmente, não são todas as montagens internacionais que empolgam o público mesmo – ao contrário da programação das peças locais. É delas, independente de quantos meses ficaram em cartaz durante o ano anterior, o maior público do festival. “Esse é realmente o nosso foco. Dar visibilidade à produção local e possibilitar melhorias na cadeia do teatro para o resto do ano”, complementa Paula.

Além do intercâmbio com Portugal, provavelmente começam aqui as comemorações dos 20 anos da companhia Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, no Janeiro do próximo ano. “Queríamos fazer uma residência com atores daqui e talvez com outros grupos. O Teatro Timbre 4, por exemplo, da Argentina, quer voltar com outros dois espetáculos. Achamos que talvez o formato de vivência seja mais interessante do que a oficina”, diz a produtora.

Espetáculo de Petrolina abre o Palco Giratório em maio

É do Sesc o festival que proporciona a maior circulação de espetáculos no país – o Palco Giratório. Em Pernambuco, além de promover a exibição de montagens em vários locais do estado, em maio, Recife recebe uma edição especial do Palco Giratório. Será praticamente um mês inteiro de programação – incluindo os espetáculos que estão circulando nacionalmente e ainda montagens convidadas, entre elas espetáculos internacionais. Este ano, o Palco Giratório no Recife será aberto no dia 4 de maio, com o espetáculo Eu vim da Ilha, da Companhia de Dança do Sesc Petrolina, no Teatro Barreto Júnior, que ganhou o Prêmio Apacepe 2012 de melhor espetáculo de dança pelo júri oficial – por conta da apresentação no Janeiro de Grandes Espetáculos.

Dois motes especiais: 15 anos e Nelson Rodrigues

Este ano, o Festival Recife do Teatro Nacional vai comemorar 15 primaveras. Como “adolescente” está no momento de repensar o seu papel para a cidade. “Sou positivo, otimista. Espero um festival muito bom. Nas conversas internas, a ideia é que a gente proponha que o mote para o festival seja essa data: os 15 anos”, explica Vavá Schön-Paulino, coordenador da mostra, promovida pela Prefeitura do Recife. Um dos desafios é agregar público; fazer parte do calendário não só para os artistas, mas para a cidade.

Segundo Vavá, Nelson Rodrigues não será o homenageado do festival – porque já foi uma vez, mas os eventos especiais devem lembrar a efeméride dos 100 anos de nascimento do dramaturgo pernambucano. “Tudo ainda vai ser conversado, mas existe sim a possibilidade de termos algum espetáculo de Nelson na grade”, complementa. A data do festival ainda não está fechada, mas deve ser provavelmente entre 15 e 30 de novembro.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Para não perder o encanto – e o público

Avaliação pública do Festival Recife do Teatro Nacional 2011. Foto: Val Lima

Na sua festa de debutante, ano que vem, quando completa 15 edições, o Festival Recife do Teatro Nacional precisa se reinventar. Atualizar a sua função e importância não só para o público em geral, mas também para os artistas que ajudou a formar na cidade. Mesmo que os números não denunciem, já que os espectadores nos teatros até aumentaram do ano passado para cá – de 4.794 para 5.089 pessoas – o fato é que, quem acompanhou os 12 dias de festival, sentiu os teatros esvaziados em muitas apresentações.

Talvez seja um reflexo, como foi levantado pelo próprio secretário de Cultura do Recife Renato L, presente na avaliação, da proposta curatorial defendida pelo jornalista e pesquisador de teatro Valmir Santos: apostar no teatro de grupo, de pesquisa, e na apresentação de peças dos seus repertórios, deixando de lado grupos mais conhecidos na cidade, que estariam sempre se revezando na programação de anos anteriores. Proposta ousada e que se mostrou importante tanto para o público quanto para os artistas que acompanharam as sessões.

A Companhia Hiato, por exemplo, de São Paulo, nunca tinha vindo ao Nordeste e teve a oportunidade de apresentar os seus três espetáculos: Cachorro morto, Escuro (que abriu a programação do festival) e a comovente O jardim. “A proposta era povoar os palcos com criadores que nunca tinha passado pela cidade. Núcleos que necessariamente não têm muita estrada, mas experiências interessantes. Jovens criadores que dialogam com a tradição, com espetáculos que não são fruto do mero ímpeto juvenil”, disse Valmir Santos. A Companhia Brasileira de Teatro, de Curitiba, também trouxe três peças: Oxigênio, Vida e Descartes com lentes. O instigante e difícil dramaturgo e diretor Francisco Carlos, do Amazonas, trouxe duas peças da sua tetralogia Jaguar cibernético.

Paulo Vieira, professor, ator e diretor da Paraíba, foi convidado para acompanhar o festival e realizar uma avaliação crítica. Vieira lembrou do tempo em que “era um jovem ator de pouco mais de vinte anos, quando vim com um grupo de amigos com os quais eu trabalhava, exclusivamente para assistir aos espetáculos que varavam a noite do Vivencial. Era a linguagem de um teatro que gostaríamos de ter por perto, de ver mais vezes e se não exatamente fazer igual, ao menos com ele reabastecer as emoções que o teatro proporcionava”. O grupo Vivencial, que teve sua história contada através de uma série publicada no Diario de Pernambuco semana passada, foi o homenageado do festival.

Mas o avaliador fez críticas, como a escolha do espetáculo Escuro, que não era “alegre, esfuziante”, como a noite de homenagem ao Vivencial pediria e denunciou as más condições da escola municipal Antônio Farias, no bairro de San Martin, que recebeu uma apresentação da montagem O encontro de Shakespeare com a cultura popular: Romeu e Julieta, do Ceará. “A degradação do ambiente me provocou a sensação de estar em uma antessala de penitenciária”.

Para o coordenador do festival, Vavá Schön-Paulino, ainda há algumas questões que em 14 anos de mostra ainda não conseguiram ser solucionadas, como uma bilheteria informatizada, um espaço de convivência do festival e um local para a central de produção. A divulgação do festival, um calo da sua organização, também recebeu críticas. A programação foi divulgada apenas com uma semana de antecedência, o site só ficou pronto quando o festival já estava acontecendo e o programa completo da mostra estava disponível já no fim do festival. Apesar disso, o clima foi amistoso e, apesar de não haver ainda uma definição sobre se Valmir Santos será o curador do ano que vem, o festival deve de alguma forma homenagear o centenário de nascimento do pernambucano mais importante da história do teatro nacional: Nelson Rodrigues.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , ,

Ói Nóis Aqui Traveiz ficou para a próxima…

Ivonete Melo falando na coletiva de imprensa do anúncio da programação. Foto: Val Lima/Divulgação

“Porque a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz não veio ao festival?” Essa foi a minha primeira pergunta ontem, na coletiva de imprensa do anúncio da programação do Festival Recife do Teatro Nacional, no Teatro Hermilo Borba Filho. Nós vimos o novo espetáculo do grupo, Viúvas – performance sobre a ausência, no festival Porto Alegre em Cena. E ficamos felizes em saber que o grupo provavelmente voltaria ao Recife para apresentar a montagem em Peixinhos, que foi onde esse projeto começou a ser idealizado. Lá em Porto Alegre, a encenação era numa ilha.

Viúvas - Performance sobre a ausência começou a ser idealizado no Recife

Postei uma foto de Viúvas e uma legenda dizendo que o espetáculo não vinha por conta de agenda. Mas o curador do festival Valmir Santos fez um comentário no post dizendo que “é improcedente a informação de que a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz não vem ‘por conta de agenda’. Foram nove meses de articulação junto a esses artistas. Eles sempre tiveram empenhados para que Recife recebesse a residência com oficina em seis regiões mais as sessões, numa delas, de Viúvas – Performance sobre a Ausência. Infelizmente, o Festival não teve condições de acolher o projeto como idealizado”. Valmir ainda está em São Paulo e, portanto, não participou da coletiva de imprensa.

Então resolvi transcrever exatamente o que foi dito pelo coordenador do festival Vavá Schön-Paulino – para esclarecer (ou suscitar mais dúvidas):

“Infelizmente, o Viúvas não vem. É uma dor, mas são os problemas da produção e da tentativa de harmonização de um festival que tem tempo definido e com as agendas dos grupos. Nesse sentindo, da nossa tabela original, nós perdemos dois grupos: o Ói Nóis Aqui Traveiz que viria com Viúvas e com uma oficina que seria voltada para a descentralização, para as RPA’s e também perdemos o Teatro Máquina, do Ceará. O Teatro Máquina perdemos assim de última hora, há uma semana. E Valmir teve que correr para substituir, foi quando entrou o Olodum. Então, o Ói Nóis Aqui Traveiz não pode vir por conta de problemas da agenda deles com as nossas datas e também ficou muito imprensado, porque também haveria uma demanda muito grande para a produção da oficina e eles assumiram também um compromisso lá com o estado do Rio Grande do Sul. Apareceu para eles uma atividade para ser feita no interior, o que impossibilitava eles estarem aqui. Porque para fazer o Viúvas e a oficina eles tinham que chegar aqui em Recife 15 dias antes do festival começar, no início de novembro e só ir embora depois. Então não dava para cobrir esses compromissos que apareceram lá no Rio Grande do Sul. Para quem não sabe, o Ói Nóis tem mais de 30 anos de vida. É um grupo de teatro que tem um compromisso político, eu diria mesmo, usando o jargão da história do teatro, eles fazem um teatro engajado, um teatro político e eles ainda hoje lutam muito no Rio Grande do Sul, tanto na capital Porto Alegre quanto no estado. Então era super importante para eles fazerem isso e aí isso impossibilitou a presença deles aqui, infelizmente. Porque o Viúvas é uma coisa linda, lá eles fazem numa ilha e aqui seria no Nascedouro, aproveitando as ruínas”.

Espetáculo Viúvas foi apresentado em Porto Alegre numa ilha que serviu como cadeia

Ah….faltam apenas cinco dias para o festival começar e o site http://www.frtn.com.br/ainda está com a programação do ano passado. Como o festival pretende agregar mais público, se comunicar, se uma ferramenta tão importante não tem a merecida atenção? Parece que esse ano a avaliação do festival começou um pouco mais cedo….

Postado com as tags: , , , , , , , ,