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A dança do outro

Quasar apresenta seu mais recente espetáculo hoje, no Dona Lindu. Foto: Lu Barcelos, Chocolate Fotografias

O espetáculo começa com uma música de Naná Vasconcelos. Os corpos aparecem suspensos, delimitados pelo recorte de luz até que tomam forma e extensão – no outro. Na sua 22ª criação para a companhia Quasar, o coreógrafo Henrique Rodovalho resolveu que deveria construir os movimentos de acordo com as relações de um bailarino com outro. “Antes dessa montagem, trabalhava muito o indivíduo e tudo parecia consequência disso. Agora, resolvi abrir mão disso. Tanto é que alguns movimentos começam com um bailarino e só terminam no outro”, explica. O espetáculo a que se refere Rodovalho é Tão próximo, que terá sessão única hoje, às 21h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, dentro da programação do Festival Internacional de Dança.

Há pelo menos seis anos, a Quasar, mais importante companhia de Goiânia, com projeção internacional, não se apresenta no Recife. “Temos que somar esforços, estudar projetos, que tenham uma continuidade, para que possamos vir mais”, avalia Rodovalho. No Nordeste, o Recife é a primeira cidade que verá o espetáculo que estreou ano passado em São Paulo. Oito bailarinos – sendo quatro mulheres e quatro homens – estão em cena na montagem que trata de relacionamentos. “Não me interessava muito as relações mais óbvias, claras. As relações não são só amor ou ódio. Até que ponto você faz o bem para si mesmo ou para o outro? Só ajudo o outro porque isso vai me levar para o céu?”, questiona.

Em Tão próximo, o palco é revestido por uma manta de pelúcia e o figurino é bastante simples – short, camiseta, top. Na trilha, além de Naná, as batidas eletrônica do alemão Hendrik Lorenzen “ele já é meu parceiro” e algumas outras participações, como a da cantora Céu.

Quando a Quasar foi criada, em 1988, havia um pequeno grupo de bailarinos em Goiânia interessados em investigar novas possibilidades para a dança, além do balé clássico. Henrique Rodovalho, por exemplo, só começou a dançar depois dos 20 anos, na faculdade de Educação Física. “Agora temos uns oito grupos de dança contemporânea em Goiânia. Estamos avançando”, comenta. No intuito de incentivar a formação de novos bailarinos, a companhia criou, em 2007, a Quasar Jovem, que já possui três espetáculos em seu repertório e duas premiações nacionais. “Ficamos vários anos sem nenhum bailarino de Goiânia e isso nos preocupava. O projeto não tem a intenção de formar só para a Quasar, mas de formar”, avalia. Depois de ser visto no Recife, Tão próximo será apresentado novamente em São Paulo e ainda vai para o México e Bélgica. Ingressos: R$ 5 (preço único).

Tão próximo é a 22° criação de Rodovalho para a companhia de Goiânia

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Dança contemporânea no Dona Lindu

Lua Cambará faz última sessão antes de turnê . Foto: Fernando Azevedo

Já que estamos falando em dança, vamos aproveitar para dar uma dica para esta terça-feira à noite. O Ária Social apresenta o musical Lua Cambará às 20h, no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu.

O elenco é formado por 52 jovens e conta ainda com a participação da bailarina Cecília Brennand, que assina a coordenação geral da montagem. A coreografia e a direção são de Ana Emília Freire e Carla Machado e a direção musical e a regência de Rosemary Oliveira.

Lua Cambará, que estreou em agosto do ano passado, é inspirada na obra de Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, com música de Antonio Madureira. A coreografia traduz em dança contemporânea a história de uma mulher apaixonada que, envolvida em assassinatos, é condenada a vagar eternamente.

Depois da apresentação no Dona Lindu, o grupo segue para a sua primeira temporada fora do Recife. O Ária Social se apresenta no Rio de Janeiro no dia 06 de julho, no Teatro Carlos Gomes; em São Paulo, nos dias 09 e 10, no Teatro Paulo Autran, no SESC Pinheiros; em São João Del Rey (MG), no dia 12 de julho, no Teatro Municipal de São João Del Rey; e em Ouro Preto (MG), no dia 14, no Teatro de Ouro Preto.

Lua Cambará
Quando: nesta terça (14), às 20h
Onde: Teatro Luiz Mendonça, Parque Dona Lindu, Avenida Boa Viagem
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-9823

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Resumo da ópera deste fim de semana

Caetana abre Palco Giratório às 19h30. Foto: Roberta Guimarães

O Palco Giratório começa hoje. Decidi então postar um resumo das opções “giratórias” para este fim de semana. A abertura da maratona é com a rezadeira Benta, que encomendou muitas almas aos santos, mas não estava preparada para encarar a própria morte. Essa é a sinopse da peça Caetana, que será encenada pelas atrizes Lívia Falcão e Fabiana Pirro. A apresentação única e gratuita será hoje, às 19h30, no recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça, que fica no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. A sessão contará com o recurso da audiodescrição, para pessoas com deficiência visual.

Depois de Caetana e da pré-estreia de Essa febre que não passa, no Hermilo (off Palco),vamos conferir a Cena bacante, no Espaço Muda. Lá, as meninas da Cia Animé apresentam As levianas. Tem ainda as comidinhas da Cena Gastrô e vinho Rio Sol.

Ceronha Pontes e Hermila Guedes em Essa febre que não passa. Foto: Ivana Moura

Já no sábado, o Palco começa a sua programação com a Cia Polichinello, de São Paulo, que apresenta Frankenstein no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro, reduto do teatro infantil neste festival, às 16h30. A peça será reapresentada no domingo, no mesmo horário. O grupo, que pesquisa o teatro de bonecos, traz a história do cientista Victor Frankenstein, que abandona a sua criação.

Frankenstein faz duas apresentações no Marco Camarotti

À noite, às 20h, no Hermilo Borba Filho, o Coletivo Angu de Teatro estreia o seu quarto espetáculo: Essa febre que não passa (a gente vê hoje e conta tudo por aqui amanhã. Ivana Moura esteve no ensaio ontem para tirar fotos!), baseado em contos do livro homônimo da jornalista e escritora Luce Pereira. Também no sábado, no Teatro Capiba, às 20h, no Sesc Casa Amarela, o grupo Teatro Independente apresenta Rebú. O texto de Jô Bilac mostra o sufoco de Bianca, obrigada a receber em casa a problemática cunhada Vladine e ainda um “protegido” dela. No domingo, a montagem será reapresentada às 20h, com os recursos da audiodescrição. Também no domingo, mas em São Lourenço da Mata, na Praça Senador Carlos Wilson, o grupo Grial de Dança apresenta gratuitamente o espetáculo A barca, às 17h.

No domingo, outra opção de teatro adulto é a peça A galinha degolada, da Persona Cia de Teatro & Teatro em Trâmite, de Santa Catarina. A montagem conta a história de um casal que tem quatro filhos portadores de uma doença mental incurável; a rotina é alterada quando eles têm uma menina que não sofre do mesmo mal. A encenação será no Teatro Apolo, às 19h. Os ingressos para as peças custam R$ 10 e R$ 5.

A galinha degolada faz apresentação única no Apolo

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Caminhando ao passado

Filha da anistia. Fotos: Vítor Vieira

Quando decidiram montar Filha da anistia, os atores da Caros Amigos Cia. de Teatro, de São Paulo, não queriam uma peça datada ou histórica sobre a época em que o Brasil vivenciou uma ditadura militar. Por isso mesmo, nas quatro apresentações gratuitas que o grupo fará no Recife – de hoje a domingo, sempre às 20h, no Teatro Apolo – não espere música de Geraldo Vandré ou cenas de tortura.

A intenção dos atores era trazer uma história em que as pessoas, de todas as idades, se interessassem, se identificassem e pudessem, aí sim, refletir sobre o passado. “É uma inquietação enquanto artistas e cidadãos, de olhar para o nosso passado tão recente e ver parte da história que não está esclarecida, não é conhecida de verdade”, explica o ator Alexandre Piccini, que divide a cena e a autoria do texto com Carolina Rodrigues. A direção é de João Otávio.

No enredo, Clara também não conhece a sua história. Foi criada pelos avós, ouvindo que a mãe havia morrido no parto. Quando os avós morrem, ela vai em busca do pai e descobre que tudo que sabia sobre si mesma não era bem verdade. “Criamos uma ficção, mas que é um recorte de muitas histórias de pessoas que viveram nessa época”, conta o ator.

Ele e Carolina passaram três anos pesquisando em arquivos públicos, livros, documentos e ouvindo depoimentos para montar a dramaturgia da peça, que recebeu incentivo do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura de São Paulo em 2009, estreou em 2010, e agora estabeleceu uma parceria com o projeto Marcas da memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Através dessa parceria, a peça vai passar por lugares como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina e Brasília, além de Pernambuco.

Clara não sabe a sua própria história

Depois de cada apresentação, é realizado um debate com os atores, convidados e o público. “Já tivemos conversas maravilhosas, porque na plateia acontece o encontro de gerações que nos interessa muito. E assim conhecemos o nosso presente. Porque a nossa educação, cultura, segurança pública, a maneira de se comportar dentro de uma democracia, foram moldados a partir do período da ditadura”, finaliza o ator.

CURTINHAS:

Muita coisa rolando hoje na cidade. Aí vão outras dicas:

1 Torto, do Magiluth, será apresentado no Teatro Arraial, na Rua da Aurora, às 20h. O texto e a encenação são de Giordano Castro e a direção é de Pedro Wagner. O grupo propõe um jogo cênico com o cotidiano de um personagem que vive procurando palavras para dizer quem é e não consegue domar o coração. Pode ser brega e até prolixo; mas é, sobretudo, um cara comum. Aproveitem porque, por agora, esa será uma das últimas oportunidades de ver a peça, já que, por estes dias, a companhia estreia O canto de Gregório. Ingressos: R$ 10.

Giordano Castro protagoniza 1 Torto. Foto: Val Lima

– O espetáculo Separação amigável faz, nesta quinta (31) e sexta-feira (01), às 20h, as duas últimas apresentações da temporada no Teatro Valdemar de Oliveira, na Boa Vista. A montagem traz Renata Phaelante, Pascoal Filizola, Sandra Rino e Valdir Oliveira no elenco e tem direção de Kleber Lourenço. O texto é de Renata Phaelante (estreando na dramaturgia), que começou a carreira de atriz aos nove anos, em 1982, com a peça A capital federal, uma montagem do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP). A montagem traz um casal em crise, depois que o marido foi “flagrado” com a vizinha piriguete no elevador. Só que ela tem um marido ciumento e muito estranho, que veio cobrar satisfação! Ingressos: R$ 10 e R$ 5.

Pascoal Filizola e Renata Phaelante interpretam casal em crise. Foto: Val Lima

-O Grupo Grial de Dança apresenta, hoje e amanhã, o espetáculo Travessia, às 20h, no recém-inaugurado Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu. Se você ainda não conheceu a nova casa, está aí uma ótima oportunidade! Segunda etapa da trilogia Uma história, duas ou três – iniciada em maio, com A barca, na Praça do Arsenal – o espetáculo celebra os contadores de histórias da atualidade, a partir do legado de Dona Militana, romanceira potiguar falecida em junho, aos 85 anos. A coreografia contempla desde as pinturas rupestres e itaquatiaras (pedra pintada, em tupi) que registram o início da história da humanidade, até as histórias transmitidas oralmente, nos dias atuais. A cantadeira Nice Teles, do Cavalo Marinho Estrela Brilhante, de Condado, canta ao vivo durante Travessia, que teve cenários criados por Dantas Suassuna. Os ingressos são gratuitos e podem ser retirados com duas horas de antecedência.

Grial homenageia Dona Militana, romanceira potiguar

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Enfim, o parque completo!

Vinte e seis de março de 2021. Marque na agenda. Abra o jornal para ler a reportagem. Se os nossos governantes foram eficientes e cumpridores dos seus papeis, essa será a data em que o Teatro Luiz Mendonça e a galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, estarão completando 10 anos de atividades. O repórter certamente irá ouvir as pessoas que estiveram na inauguração (realizada sábado), e puderam acompanhar um show memorável de Lenine e da Orquestra Sinfônica do Recife e passear pela exposição Amor e solidariedade, de Abelardo da Hora.

Lenine e a Orquestra Sinfônica fizeram show inesquecível. Foto: Ivana Moura

A galeria Janete Costa, por exemplo, tem um espaço físico que possibilita a realização de grandes exposições. “Como noutros locais projetados por Niemeyer, aqui também há uma dificuldade na hora da montagem das exposições, da iluminação, por conta do projeto arquitetônico. Mas o espaço está bem resolvido. O Recife merece uma galeria assim e mamãe certamente estaria muito feliz”, disse no último sábado a galerista e filha de Janete Costa, Lúcia Santos.

A mostra Amor e solidariedade, que comemora os 60 anos da primeira exposição do artista Abelardo da Hora, realizada em 1948, oferece a possibilidade de se conhecer mais de perto a obra desse pernambucano de 86 anos, que vai muito além das famosas esculturas de mulheres espalhadas por edifícios da cidade. O que talvez mais chame atenção seja a preocupação e o retrato social que podem ser resgatados daquelas obras – tanto das esculturas como dos desenhos. Como na série Família, desenhos de 1970, ou da escultura Hiroshima. “Ele é o meu mestre. Precisa mais do que isso?”, questionou a artista Guita Charifker, que conta ter participado do Ateliê Coletivo, ao lado de artistas como Samico e José Cláudio, fundado por Abelardo da Hora.

Na rápida solenidade de abertura dos equipamentos culturais, o prefeito João da Costa subiu ao palco do Luiz Mendonça e disse que sempre defendeu o projeto do parque, desde quando ainda era secretário do ex-prefeito João Paulo. “É um equipamento público que a cidade do Recife reclamava, precisava”.

Galeria Janete Costa foi inaugurada com mostra de Abelardo da Hora. Foto: Nando Chiappetta

Depois, foi a vez de Elba Ramalho fazer um participação muito especial. Contou um pouco da sua própria história ao relembrar o amigo Luiz Mendonça, diretor teatral que ela conheceu na época em que foi para o Rio de Janeiro com o Quinteto Violado e decidiu ficar. “Ele perguntou se eu era atriz, se eu cantava, dançava. Disse que sim. Ele disse então que tinha uma apresentação em Vitória. Perguntei quando era o ensaio e ele disse que não tinha ensaio, tinha estreia”. Depois de interpretar Veja Margarida, Elba deixou o palco para as atrações principais: Lenine e a Orquestra Sinfônica.

Como bem disse Lenine, as suas músicas foram “vestidas de roupa de domingo”. Aquele melhor traje, que a gente só usa em ocasiões especiais, e quer até registrar em foto. Composições de tom tão contemporâneo, que fazem sucesso nas rádios e trilhas de novelas, ganharam o acompanhamento de quase 80 músicos. Os arranjos e o comando do piano foram de Ruriá Duprat, ´meu alter ego sinfônico`, disse Lenine; e a regência da Sinfônica do maestro Osman Gioia. Em Paciência, o público cantou junto; ficou encantado com os arranjos de Silêncio das estrelas; com Leão do Norte, se encheu de orgulho; se balançou ao som de Lavadeira do rio. Ao final, a sensação foi de que essa era apenas uma – de muitas – noites culturais que o Recife ainda pode prestigiar naquele espaço. O recifense pode cobrar.

Teatro Luiz Mendonça. Foto: Nando Chiappetta

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