Arquivo da tag: Sesc Piedade

Aldeia Yapoatan movimenta Jaboatão

Aldeia Yapoatan começou com cortejo cultural. Foto: Jefferson Figueirêdo

Aldeia Yapoatan começou com cortejo cultural. Foto: Jefferson Figueirêdo

Começou nesta sexta-feira o projeto Aldeia Yapoatan – II Mostra de Artes em Jaboatão dos Guararapes, realizado pelo Sesc Piedade. A abertura foi com um cortejo que saiu da Igreja de Santo Amaro e reuniu grupos de teatro, dança, circo, música e cultura popular. Foi só uma amostra do que virá durante o festival, que acontece até o dia 22 de setembro, com 13 polos e cerca de 60 grupos envolvidos.

Fazem parte da programação, por exemplo, o Grupo Teatro VentoForte, idealizado por Ilo Krugli, com três montagens: As 4 Chaves (dia 14, às 15h, no Sesc Piedade), História de lenços e ventos (dia 15, às 15h, no Sesc Piedade) e Ladeira da memória ou Labirinto da cidade (dia 16, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão).

Mas a maior parte da grade é mesmo composta por grupos pernambucanos. Só para citar alguns espetáculos de teatro há, por exemplo, Luiz Lua Gonzaga (dia 14, às 16h, no Parque Dona Lindu), O beijo no asfalto (dia 17, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça), As confrarias (dia 18, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça) e ainda Algodão doce (dia 14, às 16h, no Espaço Criança Esperança), O menino da gaiola (dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão) e Pluft, o fantasminha (dia 21, às 16h, no Espaço Criança Esperança).

Apenas os espetáculos que acontecem no Teatro Luiz Mendonça são pagos. Os ingressos custam R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada).

As confrarias será apresentada dia 18, no Luiz Mendonça. Foto: Pollyanna Diniz

As confrarias será apresentada dia 18, no Luiz Mendonça. Foto: Pollyanna Diniz

O menino da gaiola terá sessão no dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão. Foto: Divulgação

O menino da gaiola terá sessão no dia 20, às 15h, no Espaço Criança Esperança de Jaboatão. Foto: Divulgação

Confira a programação completa do Aldeia Yapoatan.

Entrevista // Daniela Travassos, supervisora de Cultura do Sesc Piedade

Como foi pensada a programação do Aldeia Yapoatan?
A programação foi pensada a partir da ideia de Aldeias Culturais, implantada pela Gerência de Cultura do SESC Nacional, cujo interesse é descentralizar ações culturais nas diversas linguagens artísticas, possibilitando que comunidades mais distantes dos grandes centros recebam ações culturais gratuitas. Dessa forma, montamos a programação contemplando teatro, dança, cinema, circo, cultura popular, artesanato, literatura e música, distribuídos em cerca de 10 bairros da cidade de Jaboatão.

Qual a importância do festival para os diversos polos que recebem a programação?
A importância está justamente na oportunidade do acesso à cultura, que é um direito de toda a população e que estamos dando a diversas comunidades da cidade. Muitas delas estão recebendo pela primeira vez espetáculos artísticos. É comum percebermos que o Projeto Aldeia é o primeiro contato que algumas crianças e adultos têm com a arte. E poder discutir e saber deles a impressão e o encantamento que isso traz à comunidade, transformando-a, levando saber e formação, é de importância ímpar.

Qual a atuação do Sesc Piedade, não só na unidade, mas nesses polos? E como isso pode ser incrementado a partir do festival?
Não queremos que a realização do Aldeia seja uma ação pontual, efêmera. Queremos que essa ideia de formação e fruição perpasse toda a programação de cultura da Unidade ao longo do ano. Tanto que estamos sempre mantendo cursos dentro e fora do SESC e realizando ações artísticas nos bairros. Além disso, mantemos nossa Escola de Teatro profissionalizante, realizamos Seminário de Arte-Educação, lançamento de livros que seguem gratuitos para bibliotecas de diversos bairros. Enfim, o nosso trabalho segue no intuito de levar para a cidade de Jaboatão a oportunidade não só da apreciação artística, mas principalmente da formação e do debate. Essa é a orientação do Programa de Cultura do SESC Pernambuco, através da gerência de Cultura de José Manoel e da gerência do SESC Piedade, que é de Rudimar Constâncio.

Sabemos que são muitas atrações na programação, mas quais destaques você faria?
Na verdade, tenho muita dificuldade de destacar alguém da programação porque é uma programação muito consistente no que diz respeito à qualidade dos grupos em suas diversas linguagens. Mas posso arriscar um destaque: as ações que estamos realizando dentro das escolas públicas de Jaboatão, com cursos e apresentações, além do polo circo, que não conseguimos realizar na primeira edição e este ano volta com uma programação também com oficinas e espetáculos circenses.

*O Satisfeita, Yolanda? e o Sesc Piedade fizeram uma parceria para a publicação de duas edições do Jornal Aldeia Yapoatan e para a apreciação crítica de alguns espetáculos. Continuem acompanhando a cobertura da mostra aqui no blog.

Algodão doce será encenada neste sábado (14), às 16h, no Espaço Criança Esperança. Foto: Ivana Moura

Algodão doce será encenada neste sábado (14), às 16h, no Espaço Criança Esperança. Foto: Ivana Moura

Postado com as tags: , , , , , ,

Melodrama em três quadros

Espetáculo Relações enquadradas

Primeiro quadro – Um papel em branco
Três textos do gaúcho José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Qorpo Santo (1829-1883), são a base do espetáculo Relações enquadradas, do grupo Matraca, que cumpriu temporada recente no Teatro Marco Camarotti, no Recife. A montagem, que teve direção de Claudio Lira, foi dividida em quadros, costurados por dois personagens, apresentadores de uma espécie de programa de auditório.

Das linhas dos textos de Qorpo Santo, podem saltar questões como amor, poder, interesse, moral, sociedade e até política, mesmo que a lupa do autor esteja focada no relacionamento de casais.

Para a montagem, o grupo decidiu fazer algumas adaptações, entre elas a supressão de alguns personagens e a mudança de quadros de outros, e escolheu o invólucro do melodrama como estilo.

Segundo quadro – Separação de dois esposos
Parece ter sido exatamente nessa escolha que a crítica social tão pulsante no texto de Qorpo Santo se desprendeu da montagem, perdendo força e alcance.

Vamos ao enredo: no primeiro quadro, Um papel em branco, Espertalínio, professor e de Mancília, “seduz” a jovem. O verbo seduzir talvez nem seja o mais adequado, porque ela está mesmo doida para entregar-se ao senhor. No auge do amor, até uma criança eles tentam engabelar para ter alguns momentos de privacidade. Com o tempo, no entanto, as artimanhas não serão mais para se ver próximo, mas para conseguir alguma liberdade, mesmo que a volta para casa seja reconfortante.

Separação de dois esposos


No segundo, Separação de dois esposos, Farmácia e Esculápio têm uma relação em crise. Eles não sabem como agradar-se e nunca estão satisfeitos. Farmácia até já tem um namorado, Fidélis; e Esculápio também sai em busca de uma relação de “amizade”, mas ao final, os dois estão ali juntos para tudo, inclusive para morrer. Nesse texto, o autor parece usar esse casal para tratar de questões que vão muito além. “Mas quem poderá viver sem regras ou sem preceitos que regulem seus direitos; seus deveres; seus poderes!? Seriam as sociedades um caos. Anarquizar-se-iam, e logo depois — destruir-se-iam”, questiona Esculápio. No original, esse quadro tem ainda dois servos amantes, que ficaram para o final da montagem.

No terceiro, Mateus e Mateusa são idosos que se toleraram (ou não!?). Tem três filhas que lutam para ver quem consegue atrair mais o amor do pai. Nesse caso, o texto questiona a crença nas instituições, não só a do casamento, mas inclusive na justiça.

Terceiro quadro – Mateus e Mateusa
Ano passado, uma montagem fez muito sucesso na capital pernambucana: O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, da Trupe Ensaia Aqui e Acolá. A pesquisa do grupo também era baseada no melodrama. Para quem viu as duas peças, impossível não traçar paralelos: os gestos prolongados, as músicas, as caras e bocas dos personagens. Não que isso de alguma forma traga prejuízos à Relações enquadradas, mas é interessante notar como as duas montagens beberam na mesma fonte, sendo que a execução de O amor de Clotilde…, até por se tratar de um grupo com atores mais experientes, mostra-se melhor resolvida no palco. Alguns elementos em Relações enquadradas beiram o humor raso, escrachado, como quando um cupido de formas, digamos, um pouco avantajadas, entra em cena.

Outra questão é que, ao retirar os dois servos amantes do seu texto original e deixá-lo para o fim da montagem, a impressão que se dá é que aquele último quadro é forçado, estereotipado. Está certo que se baseia quase integralmente nas diretrizes do texto original, mas talvez fosse tratado de maneira mais orgânica à montagem se não tivesse sido deixado para o fim. Por outro lado, algumas soluções cênicas merecem elogios, como colocar as três irmãs do quadro Mateus e Mateusa vestindo a mesma saia.

Epílogo
Relações enquadradas foi montado por um grupo de ex-alunos do Sesc Piedade, o grupo de Teatro Matraca. E os textos escolhidos deram a possibilidade dos atores mostrarem realmente as suas potencialidades, inclusive com espaço para alguns curtos monólogos. Alguns desses atores se destacam. É o caso de Catarina Rossiter (Farmácia e Catarina) e de Maurício Azevedo (Esculápio, Silvestra, Tatu e Avó 1), esse último principalmente pelo talento para a comédia. Ainda estão no elenco Ariele Mendes (Menina e Mateusa), Geraldo Dias (Senhor Quadrado e Fidélis), Ju Torres (Quadradete e Avó 2), Mário Rodrigues (Espertalínio e Tamanduá), Ubiratan Cavalcante (Mateus) e Viviane Braga (Mancília e Pêdra).

Na ficha técnica, Claudio Lira assina direção, direção de arte, maquiagem e programação visual; Diogo Felipe a direção musical; Sandra Rino fez coreografias e preparação corporal; Agrinez Melo assina iluminação; Flávia Layme a preparação vocal; e a execução de cenário, figurinos e adereços foi de Manuel Carlos de Araújo.

Postado com as tags: , , , , , , , , , , , , , , , , ,