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Crítica: Amizade é coisa séria em peça de bonecos

Aqueles Velhos de... Foto: Pablo Gonzales

Aqueles Velhos de… , espetáculo argentino de títeres para adultos. Foto: Pablo Gonzales

A certa altura do espetáculo Aqueles velhos de… uma das personagens pergunta o poderíamos fazer se alguém do nosso convívio cometesse uma grande besteira, um erro daqueles que não dá para voltar atrás. Para responder no segundo seguinte. Iria salvá-lo. Quanta filosofia, quanto humanidade, ditas com palavras simples, quase desenhadas, para falar de coisas praticamente perdidas nesse mundo que virou uma selva. O que se escuta ou percebe por aí é essa gente toda de sensibilidade embotada ou diluída vibrar com “Eu sobrevivo à sua morte, ao seu desaparecimento real ou simbólico, ao seu apagamento”. Isso dito em atos ou palavras de rejeição e de conveniência. Juárez e Juanito pegam uma vereda possível da emoção, de uma humanidade que se reconhece tanto no outro, que ele precisa sobreviver, ser resgatado, com o mesmo zelo de quem nina o próprio filho.

A peça mostra a força da arte ao provocar um deslocamento e descolamento da vida prosaica, com suas amarras egoístas. E projeta um mundo do sonho possível. Do respeito pela centelha divina que existe no outro e que não pode ser machucado.

O artista argentino Sérgio Mercurio, conhecido como El Titiritero de Banfield, interpreta a figura do Juárez e manipula o boneco em tamanho humano, Juanito. Os dois já viveram bastante e cada um tem suas própria memórias. Juanito, o boneco, começa a apresentar sinais do mal de Alzheimer, e o amigo se desdobra para não perder esse laço amoroso.

A porta de entrada do jorro de afetos que o espetáculo provoca é a amizade – não a do Facebook, de quem curte tudo e sabemos que não podemos contar – mas de outra natureza que não abandona o semelhante à própria sorte em momento de vulnerabilidade. Seria um diálogo a menos, uma potência de vida subtraída, um convívio de jogos desligado, e o mundo ficaria mais pobre.

Esses dois homens, de temperamentos tão diferentes e que entram também em discordâncias, são da essência do amor, o que salva, que vai pro confronto, que aponta defeitos, que manga do outro, mas que precisa existir e não sucumbir.

Com rompantes de humor, a peça explora situações simples do convívio desses camaradas. Seguindo uma complexa e sofisticada manipulação, o andamento do espetáculo lança lufadas de benquerença para sacudir qualquer espectador de uma possível estagnação dos sentidos.

Um dos engenhos da montagem é a criação de uma técnica de animação com erva-mate, do chá e chimarrão que traduzem encontros e compartilhamentos. Com muita habilidade, Mercurio cria ao vivo imagens que são transformadas em outras. Os desenhos são feitos, ao vivo, sobre uma mesa e o público acompanha a tudo projetado em uma tela. O personagem trabalha com essa ideia da memória, das próprias lembranças e da esperança de resgatar o amigo.

Além de Mercurio, a atriz e bonequeira pernambucana Odília Nunes participa do circuito da peça, na função de contrarregra. Ela auxilia o artista argentino e manipula alguns objetos, conferindo mais graça e agilidade à cena. Aqueles velhos de… faz a segunda semana da temporada na Caixa Cultural Recife, de hoje a sábado.

Mercurio passou dois anos para desenvolver uma técnica de animação com erva-mate. Pablo Gonzales

Mercurio passou dois anos para desenvolver uma técnica de animação com erva-mate. Pablo Gonzales

SERVIÇO:
Aqueles Velhos de…, por Sergio Mercurio
Onde: Caixa Cultural Recife – Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife,
Fone: (81) 3425-1915
Quando: 30, 31/08 e 1 e 2/9, às 20h
Ingressos: R$ 20,00 e R$10,00 (meia para estudantes, professores, funcionários e clientes CAIXA e pessoas acima de 60 anos)
Duração:75 minutos
Classificação Indicativa:16 anos
Produção executiva:Banalíssima Arte
Produção:Alexandre Sampaio

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Velhice embala teatro de títeres para adultos

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Velhice embala teatro de títeres para adultos

Sergio Mercurio apresenta 8 sessões do espetáculo Aqueles Velhos de.., último da trilogia sobre a velhice. Foto: Pablo Gonzales

Sergio Mercurio faz 8 sessões do espetáculo Aqueles Velhos de.., na Caixa Cultural. Foto: Pablo Gonzales

Aqueles Velhos de… exalta a amizade e mostra como tudo fica mais relativo com o passar do tempo. A peça de 2013 encerra uma trilogia voltada para a temática velhice, composta também por Velhos e Beatriz, ambos em 2007. Os trabalhos são de Sergio Mercurio, mais conhecido pelo nome artístico El Titiritero de Bainfield, ou seja o bonequeiro desse tradicional bairro da cidade Lomas de Zamora, na Grande Buenos Aires, onde nasceu, na Argentina. Mercurio interpreta Juárez e manipula o boneco gigante Juanito nessa montagem de títeres para adolescentes e adultos, que faz temporada na CAIXA Cultural Recife nos dias 23, 24, 25, 26, 30, 31 de agosto e 1º e 2 de setembro.

Com técnica para provocar impacto emocional na plateia, Mercurio articula uma teia para exibir o que uma pessoa que ama outra é capaz de fazer para salvá-la. Os dois antigos amigos moram numa pensão e ostentam uma relação com várias facetas, do confronto à ternura. O titeriteiro trata os assuntos sérios com humor e sensibilidade.

Quando Juanito começa perder lentamente a memória, o seu camarada Juárez busca resgatar suas lembranças e esperanças, com desenhos. Para ilustrar as memórias, Mercurio desenvolveu uma técnica de desenhar com erva mate, com quadros feitos ao vivo sobre uma mesa e projetados em uma tela. A erva-mate desperta o universo onírico de um dos personagens, para que o público enxergue o que personagem sente.

El Titiritero de Bainfield levou mais de dois anos para desenvolver a técnica de animação ao vivo. Outro trunfo de Mercúrio nas suas encenações é o desdobramento de vozes quase simultâneas, no diálogo com seus bonecos.

Esse artista multidisciplinar argentino tem mais de 20 anos de carreira e desempenho por toda a América Latina e Europa. Ele viajou de 1992 a 2004, por países como França, Alemanha, Argentina, Bolívia, Chile, Uruguai, Peru, Brasil, Equador, Colômbia, Venezuela, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Guatemala e México, somando mais de 1700. O périplo pelas Américas rendeu o livro De Banfield ao México. E ainda a Trilogia da Viagem composta pelos espetáculos El Titiritero de Banfield; En Camino e De Banfield a Mexico.

As vendas Aqueles Velhos de…começaram nesta terça-feira (22/08) para as sessões de 23 a 26. No dia 29 iniciam as vendas para as sessões de 30 e 31 de agosto e 1º e 2 de setembro. A classificação indicativa é 16 anos.

Sergio Mercurio apresenta 8 sessões do espetáculo Aqueles Velhos de.., último da trilogia sobre a velhice.

Essa é a última peça de uma trilogia sobre a velhice

SERVIÇO:
Aqueles Velhos de…, por Sergio Mercurio
Onde: Caixa Cultural Recife – Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife,
Fone: (81) 3425-1915
Quando: 23, 24, 25, 26, 30, 31/08 e 1 e 2/9, às 20h
Ingressos: R$ 20,00 e R$10,00 (meia para estudantes, professores, funcionários e clientes CAIXA e pessoas acima de 60 anos) – a partir das 10h do dia 22/08 – apresentações de 23 a 26/08, e dia 29/08 – para as apresentações dos dias 30 e 31 de agosto e 1 e 2/09
Duração: 75 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
Produção executiva: Banalíssima Arte
Produção: Alexandre Sampaio

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