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A entrevista com Leda Alves em vídeo

Gestora já atuou na Fundarpe, Fundação de Cultura Cidade do Recife, Teatro de Santa Isabel e Companhia Editora de Pernambuco

Gestora já atuou na Fundarpe, Fundação de Cultura Cidade do Recife, Teatro de Santa Isabel e Companhia Editora de Pernambuco

Como foi bem longa, dividimos o vídeo com a entrevista da secretária de Cultura Leda Alves, gravada semana passada e já postada em texto aqui no Yolanda, em três partes. Na primeira parte, ela fala porque aceitou o cargo e confessa que chegou a reclamar intimamente: “pô, isso chegar agora, na minha velhice?”.

Perguntada sobre a representatividade de sua figura (que assim como o escritor Ariano Suassuna, virou um escudo cultural do governador Eduardo Campos, desde sua gestão passada), de certa forma blindada com relação a críticas da categoria artística, ela reconhece isso, guardada as devidas proporções. Leda acredita que existe uma força maior e canta “não sou eu que me navego, quem me navega é o mar…”. E lembra-se da boa receptividade com sua chegada.

Ciente da competição das vaidades, das traições e deslealdades, da inveja que sempre rondam o poder ela confessa que já foi traída por um sujeito, que foi tirado do grupo. “Cheguei e encontrei uma equipe pequena, mas completamente apática”. E que vem lutando para melhorar as condições físicas de trabalho, “que são péssimas” e as condições salariais, “que ainda são bastante degradantes”.

Na segunda parte da entrevista, Leda Alves pontua que não houve transição da gestão anterior (o jornalista Renato L foi o secretário do prefeito João da Costa durante três anos e pouco e a produtora e atriz Simone Figueiredo assumiu os últimos meses). Anuncia o chefe da divisão de Artes Cênicas, o diretor, o pesquisador e diretor Romildo Moreira (indicado por Carlos Carvalho [diretor do Centro Apolo-Hermilo] e Williams Sant’Anna [do Teatro Luiz Mendonça]). Conta como resolveu os problemas da Orquestra Sinfônica do Recife e diz que ainda não tem uma definição sobre o Sistema de Incentivo à Cultura (SIC). Explica ainda que começou a trabalhar sem dinheiro: “a gente não tinha um tostão no orçamento. O orçamento não foi pensado”.

Na terceira parte da entrevista, a secretária fala da mudança de conceito. E que no São João os artistas locais ganharam espaço e que isso será repetido no Carnaval. Ela fez uma ressalta: “Nós não somos produtores. Muito menos de eventos. A proposta, o compromisso da secretaria de Cultura é fomentar, apoiar, incentivar, dar oportunidade e espaço a todas as expressões de nossa cultura, respeitando a tradição, respeitando o novo, respeitando o jeito que o Nordeste tem de brincar e de se alegrar, em todas as linguagens”.

Também ressalta que pretende investir a vocação do Centro Apolo-Hermilo de formação. E que os festivais de dança e de teatro já estão pensados e estão na mão de Carlos Carvalho, coordenador do Centro Apolo-Hermilo.

O fomento de artes cênicas, no valor de R$ 100 mil, que não é realizado há alguns anos, ela alega que tem que ser repensado. “Tem que se rever muito esse negócio de dinheiro público, de fomento, de fundo de cultura”. Leda também fala sobre a manutenção e ocupação dos teatros municipais e a política cultura que está construindo.

Entrevista com Leda Alves 1

Entrevista com Leda Alves 2

Entrevista com Leda Alves 3

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Balanço da gestão Leda Alves nas artes cênicas

Leda Alves, 82 anos, secretária de Cultura do Recife. Foto: Ivana Moura

Leda Alves, 82 anos, secretária de Cultura do Recife. Foto: Ivana Moura

Há alguns meses tentamos marcar uma entrevista com a secretária de Cultura Leda Alves. Mas o nosso encontro, por motivos vários, ainda não tinha dado certo. Depois de uma reunião do Fórum de Artes Cênicas, no último dia 14, no entanto, enxergamos o óbvio com muita clareza: essa conversa era fundamental. Afinal, passados oito meses de gestão, a equipe de artes cênicas não havia sido montada e a classe artística estava ali reunida, ouvindo um gestor técnico (Gustavo Catalano, gerente geral de ações culturais e infraestrutura da Fundação de Cultura da Prefeitura do Recife) perguntar se seria possível realizar o 18º Festival Internacional de Dança do Recife e o 16º Festival Recife do Teatro Nacional juntos. Não havia sequer uma resposta segura com relação aos orçamentos destinados aos dois eventos, completamente consolidados na cidade.

Em quase duas horas de conversa com a secretária, na última terça-feira (27), fizemos vários questionamos sobre diversos problemas da área de artes cênicas – o SIC (Sistema de Incentivo a Cultura), a manutenção dos espaços, a formação. Novamente, o óbvio ululante se instaura: há muito por ser feito e posicionamentos ainda bastante vagos. Leda Alves, pelo que demonstra na entrevista, deposita muita confiança e também responsabilidade no diretor, dramaturgo, ator e gestor Carlos Carvalho, que assumiu o Centro Apolo-Hermilo.

Aos 82 anos, a atriz e gestora, que já passou pela Fundarpe, Fundação de Cultura Cidade do Recife, Teatro de Santa Isabel e pela Companhia Editora de Pernambuco, e viu Geraldo Júlio e Eduardo Campos engatinhando, tem muitos desafios pela frente. Começou tentando exterminar os ratos e baratas que, explica ela, tomavam conta da sua sala no 15º andar da Prefeitura do Recife; e dividindo a sua sala noutras três, tão grande seria o espaço. Teria resolvido também os problemas da Orquestra Sinfônica do Recife; e agora, finalmente, durante a entrevista, anuncia o novo Chefe da divisão de Artes Cênicas (conhecido com gerente de artes cênicas): o diretor, dramaturgo e ator Romildo Moreira. Estão subordinados a ele o chefe do setor de serviços de Circo – Cleiton Osman Ferreira de Oliveira, nome também revelado na entrevista, o gestor responsável pela Dança, Fred Salim (que já assumiu o cargo) e o chefe do setor de serviços de Teatro. Esse último ainda não foi escolhido. Pelo menos até terça-feira passada. E ah, como o céu seria de brigadeiro se a pendência fosse só essa!

Entrevista // Leda Alves

Porque você aceitou ser secretária de Cultura do Recife?
Eu acho que a palavra nem é “aceitou”. A palavra é comparecer, dizer sim. O sim não quer dizer aceito. Quer dizer que acredita. Tenho uma perspectiva na minha vida muito ligada a uma fé, a um sentido da minha vida, a uma consciência de missão, a uma consciência de que sou parte de um plano de Deus. Não tenho dúvidas que Ele pensa em cada um de nós e, consequentemente, em mim também. E em toda a minha vida eu peço para eu não colocar obstáculos no plano de Deus sobre mim. Era tão fora da minha perspectiva essa secretaria! Porque eu tinha atravessado o momento mais difícil na Cepe (Companhia Editora de Pernambuco), que foi logo quando eu cheguei. Mas aí a gente abriu veredas do ponto de vista da democracia, da cidadania, da justiça social, da inserção e da abertura para outros códigos da cultura, muito sérias, profundas e bonitas. Nenhuma coisa que estou falando aqui se refere a mim. Eu só fui instrumento ali. Só chamei para junto de mim um bando de gente que acredita nas coisas e tem talento e deu no que deu. E aí eu estava vivendo o momento que o governador um dia me disse: “Leda, quando você colocar esse cargo nos trilhos, você viajar em céu de brigadeiro”. E eu brincava dizendo que parecia que o céu de brigadeiro estava chegando. Não deu duas! Eu estava em Exu, nas festas de Gonzaga, quando recebi o telefonema de Geraldo (Júlio), que eu conheço desde menino porque eu era amiga dos pais dele. Então foi uma pancada tão grande na minha cabeça, no meu coração, que eu estava almoçando, bebendo, saí da mesa e, quando voltei, não sabia nem em que chão eu estava pisando, voltei meio aérea. E à noite fui pro show e disse, “Geraldinho”! Eu não entendia o que ele estava me pedindo: “eu?”. Engasguei e disse: “Deixe eu conversar com Dudu (Eduardo Campos)”. “Mas é com o governador sabendo de tudo que eu estou telefonando”, ele respondeu. Aí eu fui ainda alimentando uma esperança que Eduardo dissesse: “não, eu não estou liberando você não. Quero que você termine meu governo”. Como ele dizia: “enquanto eu for governador, daqui você não sai”. Aí encontrei com ele à noite, ele beijou a minha testa e eu disse: “Dudu, olha a situação!”. Aí ele: “Vamos trabalhar? Eu quero você lá. Vamos trabalhar?”.

Espiritualizada, Leda Alves acredita em missão

Espiritualizada, Leda Alves acredita em missão

A sua escolha tem uma força política grande. E você, de certa forma, é uma pessoa, assim como Ariano, blindada com relação a críticas da categoria artística. O que você pensa sobre isso?
Guardando as devidas proporções com Ariano! Mas eu pensei sobre muitas coisas, sobre uma saudade do que não fui na minha juventude em relação a isso. Cheguei a reclamar dentro de mim: “pô, isso chegar agora, na minha velhice?”. Eu nunca pretendi, nunca insinuei, nunca desejei. Mas mais ligada ao doutor Arraes (Miguel Arraes de Alencar) do que eu era e depois a Eduardo? Que vi andando, engatinhando? Mas eu nunca insinuei nada disso porque sempre pensei que no balanço do mar..não sou eu quem me navego, quem me navega é o mar! (cantando). Então o mar para mim é uma força muito poderosa e eu sempre tento boiar na vida. Não de apatia, mas eu me largo completamente. E, se você não se largar, você não boia. É condição de boiar, você largar. Se você fizer uma forcinha, o corpo afunda. Então eu navego assim. Agora que estou terminando a missão? Chega um tamanho de missão desse? Mas, ao mesmo tempo, reflito: essa é a minha praia e eu trabalhei nela de várias maneiras, em várias frentes, desde quando tive minhas decisões de vida, de existência e de fé. Eu nunca tive desvio. Sempre fui desse lado e nesse código. O capitão Antônio Pereira dizia a Hermilo (Borba Filho) um negócio lindo: “ô Hermilo, só tem um caminho. O resto são veredas.” Eu nunca tomei outra vereda. Fui nesse caminho. Então agora você vai assumir a secretaria de Cultura. Sofri tanto ao longo desses caminhos vendo as besteiras que eram feitas, os desvios que faziam, a competição das vaidades, as traições e deslealdades com os outros, a inveja. Mas eu estava muito mais ligada aos artistas, apesar de sempre conviver com o poder. Mas o poder nunca me fez mal não. Eu ia como emissário. Agora quando eu aportei aqui, eu já vim bem, dessa expressão, que você usa, que eu senti que a categoria me quis. Eu vindo de Exu para cá, o telefone não parou um minuto. Das pessoas das mais diferentes linguagens, que me telefonavam, uns dizendo, “conte comigo, agora a coisa vai, a gente tem esperança, toque para frente, a gente ajuda no que puder”. Então isso é oxigênio. E eu tenho é que ouvir essas vozes. E se estão querendo, esperando e acreditando, é porque eu posso fazer, com eles eu posso. Aí eu vim para a posse. Também achei a receptividade da posse, quando meu nome foi anunciado, muito grande. E aí são as antenas de atriz, uma porção de coisas. Eu sou meio bicho para esse negócio de: comunico ou não comunico? Misturo pele, misturo uma porção de coisas…sinto logo quando a pessoa…não dá! Há pouco tempo eu tive uma reunião aqui, o sujeito estava sentado nessa cadeira, e eu disse: esse vai trair, esse não vai ser desse grupo. Não deu outra. Dez dias depois as coisas estavam virando e ele era o mentor da virada. Então isso eu sinto. Mas isso não é de agora não. Isso é de muito tempo! Então cheguei e tive uma reunião ainda no dia da posse. Eu acho que foi, porque eu cheguei até aos lugares sem pisar no chão, eu acho que é capaz de ter sido nessa sala. Quando eu disse a eles, aos funcionários, eu renovei o meu compromisso com eles que eu vivi há 28 anos. Se eu tenho hoje 82, eu tinha 54 anos. No auge da energia, já com uma maturidade, de experiência. Eu disse a eles que estou do lado deles, do ponto de vista do funcionalismo, do profissionalismo, da capacitação, das condições físicas de trabalho, que são péssimas, das condições salariais, que ainda são bastante degradantes. E aqui eu cheguei e encontrei uma equipe pequena, mas completamente apática. A barata “comia no centro”, quando você saia à noite, elas tomavam conta. Puxasse o telefone, saia uma barata de dentro. ‘Se botava’ spray para durante à noite não invadirem. Tinha rato, tinha barata, tinha tudo aqui dentro. Os roedores se misturavam com a gente. Cada vez que eu fui lá dentro e voltei…eu não sabia por onde começar! Mas fomos devagarzinho. Me pegaram logo, fizeram uma decoração de carnaval, logo no começo, do jeito que eu gosto. Pobre do ponto de vista do custo, mas sóbria, discreta e de bom gosto. Só com o essencial. Aí colocamos um som aí, só músicas de carnaval. Porque eu elogiei? Elogiei porque gostei e o pessoal nunca tinha tido um elogio. Aí eu os reuni aqui nessa sala para conversar sobre a situação de cada um, o que cada um fazia. As coisas mínimas! Muitos foram do meu tempo e outras não. Os mais novos não me conheciam. Olhe, houve gente que chorou, porque nunca tinha entrado nessa sala, nunca tinha sido ouvido, nunca tinha sido chamado pelo nome. Eu fui vendo como é fácil você administrar pessoas que têm a sensibilidade de sentir falta. Então vi que todos estavam vivos, todos estavam com possibilidade de querer alguma coisa. Hoje a gente está com uma equipe entusiasmada, cumprindo as etapas e as tarefas, querendo acertar. A equipe administrativa, que é a mais difícil, porque é meio cru, aquele negócio do papel, do papel, do papel. E eu tenho dado mais atenção a eles. Tirei umas coisas absurdamente erradas. Aí, para não sentirem muita falta, vai se colocando outras coisas. Estou apertando na disciplina de horário, coisas que incomodam. Tiramos uns negócios que eram assim já de vício.

Houve uma transição? Você chegou a conversar com Simone Figueiredo, a secretária da gestão anterior?
Não. Simone me entregou dizendo que tinham umas pastas e que, se eu precisasse de alguma coisa, se colocou à minha disposição, mas fui me virando com o pessoal que está aqui, que era com eles que eu tinha que viver.

Você sabe que viemos aqui principalmente para falar sobre as artes cênicas. Que é também a sua área. Então vamos começar: porque a gente não tem um gerente de artes cênicas? Porque a equipe de artes cênicas não está estruturada?
Passou a ter a partir de ontem (segunda).

Então anuncie! Que nós não estamos sabendo!
Danado é que eu não sei os nomes…

Saiu no Diário Oficial?
Não, não saiu ainda. Foram Carlos Carvalho (diretor do Centro Apolo-Hermilo) e Williams Sant’Anna (do Teatro Luiz Mendonça). Já sei. O gerente de artes cênicas é Romildo (Moreira). Agora a gente está pensando em Romildo. É porque mudaram as nomenclaturas. Agora ainda não foi publicado. Eu estou dizendo a vocês e vocês aguentem…Porque aí o prefeito vai dizer: eu nem assinei ainda a portaria e Leda já está dizendo?”.

Mas você sabe que toda a classe quer essa informação!
Uma coisa que eu acho formidável é que não há nenhuma pressão do prefeito em empurrar nomes. A gente está fazendo uma mudança agora radical no desenho do carnaval. A conversa da gente toda é com as agremiações. Ontem passamos a tarde com algumas categorias. Amanhã de tarde outra, depois de amanhã outra. Apresentando uma proposta e discutindo com eles. Para depois eu comunicar ao prefeito.

Mas sobre a sua equipe: eu conversei com Gustavo Catalano (gerente geral de ações culturais e infraestrutura da Fundação de Cultura da Prefeitura do Recife) na última reunião do Fórum de Artes Cênicas, no dia 14 de agosto, e ele me disse que ainda não tinha equipe porque não tinha encontrado as pessoas capacitadas.
Mas já está encontrando. Porque a gente está no fazer das nossas ideias e do que a gente sonha, do que a gente pensa em caminho novo – e nem sempre caminho novo obrigatoriamente é caminhado por jovens, mas por experiências renovadas, não é? A gente está ouvindo muito as pessoas que estão na área, trabalhando, caminhando, fazendo ou refazendo. Então isso tem sido uma hora de muita escuta.

Orquestra Sinfônica do Recife foi uma das primeiras bombas que estourou na mão da secretária

Orquestra Sinfônica do Recife foi uma das primeiras bombas que estourou na mão da secretária

Esse tempo foi essa escuta? Porque, afinal, são oito meses de gestão.
Também. Mas aí quando a gente está escutando, a gente também está operacionalizando muita coisa. Por exemplo, a Orquestra Sinfônica do Recife. Fui eu chegar e, um mês ou dois depois, estourou o negócio. E estourou não foi um fato isolado. E estourou, uma orquestra gritou: “estamos morrendo”. E morrendo por dentro. Até que vomitaram, de maneira errada ou certa, não quero avaliar a dor de ninguém. O fato é que Gioia (Osman) entregou o cargo, e a gente ficou: “e agora?”. Uma torre de Babel lá dentro. Cada um falava de um jeito, chorava de um jeito e agredia de outro.

Mas a sensação que se tinha na área de artes cênicas, logo que você chegou, uma pessoa da área. E nesse intervalo…
Artes cênicas não é só teatro não. Eu estou falando de ópera, eu estou falando de música clássica. E isso está sendo um feito muito bom, que essa Prefeitura está ganhando, rapaz! A gente trouxe Marlos Nobre, cidadão acima de qualquer suspeita. Ele não participa de nenhuma corrente artística aqui no Recife. Então ele entrou com muita competência, com um nome internacional. Foi ele quem me procurou para dizer: “estou acompanhando a agonia da Sinfônica. Eu sendo daí, estou sofrendo pelo Recife”. Eu estava almoçando quando ouvi uma frase: “Leda, pode contar comigo”. Isso não foi em vão, que eu ouvi essa frase! Ele falou, falou, e eu disse que voltava a ligar. Aí fui para o prefeito. Quando eu falei, contei tudo, ele disse: “vamos chamar esse maestro aqui?”. Levei, sentamos os três e ele ouviu de mim, do prefeito; e ele, naquela hora, Marlos saiu comprometido em cuidar da Sinfônica. E ele é muito mais do que um maestro. Está sendo um amigo, um irmão, um confidente, um psicólogo. Então ele restaurou por dentro os músicos. Os músicos hoje estão alegres. E ele pensava que não poderia preparar um concerto antes de três meses de trabalho. De tal maneira, porque ele viu como ela estava desfalcada, instrumentos, plano de cargos e carreira…Claro que isso é o somatório de muitas coisas que vivemos no passado, de muitos não, não, não, esquecimento, e tudo. Não é de valor do pessoal não. E ele investiu, ele apostou. Aí o prefeito disse: “Eu estou com você e o que você precisar eu quero fazer”. Pronto. Ele mergulhou dentro do teatro e amanhã (quarta / na realidade, o concerto foi adiado por conta do apagão no Nordeste) ele entrega a Sinfônica, que ele acha “eu estou entregando ao Recife uma Orquestra Sinfônica, que faz jus ao título de ser a mais antiga do Brasil”. É exercício. A gente não comprou os instrumentos ainda, porque o processo de comprar fora do país é coisa para seis meses de burocracia. Mas já está tudo levantado, aprovado por ele, aprovado pelo prefeito, é só o tempo de os instrumentos chegarem. Ele então resolveu, um negócio que eu achei formidável, pegar músicos jovens, do Conservatório Pernambucano de Música, do antigo Centro de Criatividade Musical, e também dos meninos do Coque, também era o sonho dele. Mas o juiz Targino (João Targino) não concordou e não cedeu um músico para se incorporar à orquestra! O que eu achei lamentável! Então ele (Marlos Nobre) pegou: são quinze ou dezesseis, que também estreiam agora, já ganhando, pouquinho, mas ganham, e de janeiro em diante a gente vai ver. Isso daí, nessa área, missão cumprida, no sentido de ter limpado o chão, tirado as cascas de ferida, ninguém comenta mais o passado, tem gente que já estava se entregando à bebida, entendeu? E ele levantou tudo. Ele é forte e ao mesmo tempo muito suave.

Mas esse descontentamento é o que a senhora vai encontrar, pelo menos se Gustavo conversou com a senhora depois da reunião do Fórum de Artes Cênicas, nas três áreas, circo, teatro e dança. Porque as pessoas estavam muito cansadas. Porque estavam com aquela esperança e aí chegou o mês de agosto e não tinha gerência! Na reunião ouvimos um gestor perguntar: “e aí, quais são os problemas do festival de teatro e do festival de dança?”. Nós estamos em agosto, um dos festivais era teoricamente em outubro, o outro em novembro, “quais são os problemas do festival para a gente tentar resolver?”. Como assim? Você não tem nem gerente! Se você tivesse um gerente, ele saberia dos problemas. A gente tem uma avaliação do festival de teatro todo ano.
Não… Foi horrível.

Então os festivais, isso não é nenhuma novidade para quem é da área. Isso é uma construção. Então eu queria saber sobre os principais problemas das artes cênicas. Por exemplo, nessa reunião, foi levantada a questão do SIC. Como será resolvida a questão do SIC?
Vai se resolver. Todas as questões vão ser resolvidas primeiro numa mesa, conversando. E aos pouquinhos isso está acontecendo. Você veja a conferência da gente, se bem que eu acho que têm coisas muito deficitárias nas conferências: por exemplo, a ausência de artistas. Na minha opinião, ela é muito mais um encontro de política partidária. E a ausência de jovens. Acho que discutir partido é outra coisa. Participei de tudo. Foram horas difíceis, por conta das brigas das correntes e das tendências. Mas eu achei: classe média lá não pisou. Tudo foi comunidade. Mas fizemos e abrimos a porta para ingresso de outras faixas da sociedade civil. O SIC é uma coisa que a gente vai, já começamos a pensar, a tratar, e ver como é que a gente vai fazer. É claro que a gente vai ver como é que conduz. Discutindo. Há quem pense que a gente deveria deixar o que não foi feito, não foi feito, e começar a pensar e organizar de agora pra diante. Esse é um pensamento, com o qual eu me afino mais. Eu não posso dizer a vocês ainda. O universo é muito grande. A Sinfônica me pegou muito tempo, porque a gente não tinha um tostão no orçamento. O orçamento não foi pensado.

Essa foi uma situação geral? Todas as secretarias chegaram sem dinheiro?
Praticamente.

Por que isso aconteceu?
Porque não foi planejado antes. A gente agora já tem que encaminhar todas as verbas para o próximo ano. E se ela não foi pensada, a LOA (Lei Orçamentária Anual), e tudo, a gente não tem. Tudo é o prefeito que está encaminhando, suplementação, suplementação.

Vamos para os festivais. E os festivais? Como você vai resolver essa pendenga?
Vão acontecer. Não é pendência não. A cada dia basta o seu fardo. Então cada vez que vem, a gente se senta, pensa, reflete, discute e tenta fazer. Graças a Deus o pessoal do secretariado, a parte de finanças, está olhando com muita boa vontade, com muito respeito e credibilidade os pedidos de Cultura, que não são pequenos. A gente saiu com o carnaval. Quanto é que a gente gastou no Carnaval? Eu sou péssima para números! Este carnaval vai ter um desenho completamente diferente dos outros.

Qual a diferença?
Construído! Vai ser diversificado, vai ser realmente discutido, como a gente fez o São João. Eu vou dizer uma coisa que digo sempre. Eu não pensei em viver a experiência que vivi no São João. Pode para vocês ser até…até artesanal. Mas nós, este ano, eu queria que vocês ressaltassem isso, a gente passou a usar, nas nossas programações artísticas e culturais, um instrumento chamado edital. Esse edital é uma coisa formidável. Fizemos no São João. Esse edital democratiza e evita injustiças, abre espaço e vez para todos. Se bem, um parêntese, a gente vai ver como reformular as leis que regem um item que se chama prestação de contas, documentação, para os artistas populares. Isso bate no Tribunal de Contas, mas isso a gente ainda pensa em mudar. Mas, fechando o parêntese, com o edital, todo mundo tem acesso. Não tem boquinha também: eu não recebo pedido seu, pedido seu, pedido seu. Parente, aderente, neto, avó, compadre, nada! Aí vem: “Leda..”. Eu secretária, então! “Meu grupo, não sei o que, não sei o que”. Eu digo: “vocês se inscreveram no edital?”

Mas isso especificamente para o São João?
Não! Vou fazer para carnaval, vou fazer para Natal. É caminho definido de politização, política cultural. Não há apelação, quem não estiver inscrito no edital, perdeu! E aí eu recebo os nomes, a relação toda, e a gente vai sentar aqui, uma equipe, e vai decidir.

Então existe uma mudança de conceito. Com relação ao São João, é o forró pé-de-serra? Em detrimento aos outros?
Não! Coco, ciranda, aboiador, todas as expressões concernentes ao nosso São João, a gente descobriu, catucou, vem pra cá! Vamos nos apresentar!

Mas o que não era do nosso São João, por exemplo, que estava tendo vez?
Tinha, tinha muita coisa de fora que vinha para cá porque tinha prestígio. O que todos nós vivemos, não precisa eu denunciar. Todos nós vivemos e sabemos qual era a receita: era a da amizade, do sujeito que tem nome, da sujeita que tem fama. Se você fosse ao Sítio da Trindade, não precisava eu falar nadinha! Você ia ver a mudança que foi esse São João no Sítio da Trindade, em estética, beleza, organização e a qualidade do que se apresentou no palco. E tem mais, viu? Não houve uma briga, assalto, furto!

O Carnaval vai seguir essa linha? Não precisa ter artista de fora?
Não, não precisa. Este ano teve, mas para o próximo não. Agora a gente ainda não pode dizer como vai ser a abertura do carnaval, porque o grande homenageado deste carnaval será o frevo.

Mas vamos voltar ao assunto festival. Os festivais de dança e teatro, que são para agora, como você está pensando em produzir esses eventos?
Você usou uma palavrinha que eu não uso. Nós jamais produzimos. Nós não somos produtores. Muito menos de eventos. A proposta, o compromisso da secretaria de Cultura é fomentar, apoiar, incentivar, dar oportunidade e espaço a todas as expressões de nossa cultura, respeitando a tradição, respeitando o novo, respeitando o jeito que o Nordeste tem de brincar e de se alegrar, em todas as linguagens. Para as artes cênicas, eu pensei muito no Centro Apolo-Hermilo. Não foi nem um minuto pelo nome de Hermilo apenas. Mas é porque o projeto daquilo é que seria um centro de formação. Ele foi durante um tempo no começo, mas depois os tumultos da vida foram afastando, afastando. E hoje eram dois espaços sem nenhuma linha cultural, de compromisso, de nada. Aquele “espontaneísmo” da mediocridade. Então chamei para lá Carlos Carvalho, que estava no Governo do Estado. Conversei com Fernando (Duarte) e pedi Carlos para a gente. Ele é um homem de artes cênicas, escritor, encenador, foi ator. Mas ele é um idealizador, um líder e também com muita ligação com a cultura popular. Por coincidência, ele é hoje o homem de teatro que mais trabalhou sobre a obra de Hermilo, adaptando até para a dança. Ele seguiu essa estética. Passou seis anos no Governo do Estado, exatamente trabalhando muito com os artistas populares. Aí chamei Carlos. Ele veio para cá e está dando tempo integral. E aí ele está pensando. O projeto dele tem coisas muito boas de formação. E os festivais estão acontecendo, irão acontecer, já estão pensados, todos eles.

Secretária afirma que festivais de dança e de teatro já estão pensados

Secretária afirma que festivais de dança e de teatro já estão pensados

Como assim já estão pensados? Se a gente, há menos de um mês, teve uma reunião com a classe em que não sabíamos nem o orçamento dos festivais?
Vocês sabem que Carlos Carvalho é o coordenador do Centro Apolo-Hermilo? E esses projetos de festival estão na mão de Carlos.

Como é que ele vai dar conta de dois festivais e do Centro de Formação Apolo-Hermilo?
Você vai perguntar a ele. Ele está com esses dois festivais, distribuiu nos outros teatros.

Mas você está falando do Festival Recife do Teatro Nacional? Porque geralmente há uma curadoria, além do coordenador, o que demanda um tempo.
Mas isso está havendo. Procure Carlos, converse com Carlos.

Está bem. Vamos adiante. Outra questão é sobre o fomento de artes cênicas, que sempre foi alvo de muitos questionamentos, principalmente por conta do valor, que é apenas de R$ 100 mil. E há alguns anos ele não sai.
Deixa eu dizer uma coisa a vocês. Não está decidido, não foi maturado, mas eu acho que tem que se rever muito esse negócio de dinheiro público, de fomento, de fundo de cultura. Um produtor veio um dia me pedir um apoio para uma viagem para o exterior. E aí ele disse, agora você me dá, vamos dizer, R$ 20 mil, para os atores poderem sair, passear, comprar presentes, beber, uma farrinha. Você não tem o despudor de me pedir isso não? Desde quando dinheiro público é para isso? Para isso ele bota a mão no bolso, do dinheiro dele, que ele leva. E quem não leva porque não pode levar, não faz farra, nem traz presentes. O que é isso? Eu vou custear isso? Já sabe que não vai. Não dou um tostão. Então você não sabe o que é se sentar nessa mesa e ouvir pedido. Vem as coisas mais absurdas do mundo pedindo dinheiro para você! Porque há uma deformação. O sujeito vem com uma série de apoios e vem, pede R$ 90, pede R$ 80, pede R$ 120 mil. Pede 13 passagens de ida e volta para a Europa, 20 passagens. Então não há nenhuma consciência disso. Você foi para o Funcultura (Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura), você recebeu? Como também a gente sabe que um projeto encaminhado ao Funcultura, um fulano pode ser beneficiado em seis projetos. Quando ele vai somar os dinheiros, botou um bom dinheiro no bolso. Entendeu? Muda só a posição dele, o nome do projeto, mas é tudo uma mesma cadeia. Essas coisas têm que ser moralizadas.

Você pensa em criar um fundo municipal, como o Funcultura?
Eu estou dizendo a você que como está não presta. Agora qual é o caminho que a gente vai seguir, vocês também têm que propor. Está na hora de propor. Vocês sabem quando a coisa não presta. Vocês sabem quando não está correto o negócio. Só não presta quando não vem benefício? Quando vem benefício para mim eu me calo? Não pode! Olhe, facilitar isenção de pauta no Teatro de Santa Isabel. Eu entrei radical. Eu só dou isenção quando o ingresso é de graça. Chega um sujeito cheio de apoios e cobra R$ 80, R$ 100, R$ 120 por ingresso. E eu vou dar o da gente de graça? Não. Agora, se é de graça, se vem com preços populares, às vezes simbólicos só, se a troca é, como por exemplo, com Deborah Colker. Esse espetáculo de hoje (terça) à noite, que a gente ajudou, ela deu para a Prefeitura do Recife, para a secretaria de Educação. As escolas da gente vão todas hoje. O que ela está chamando de ensaio aberto. É o espetáculo. Então negocio com isso, com uma troca de benefícios. Se você faz de graça, você tem todo o meu apoio, se você está entregando ao povo um produto de primeira, de graça, eu também vou dar ao povo o Teatro de Santa Isabel de graça.

Você saberia dizer quanto Deborah Colker recebeu?
Foi R$ 20 mil. Só para a secretaria de Educação a gente entregou 1.200 ingressos. E teve uma oficina de dança. Aí ela deixa um benefício aqui.

Vamos adiante. Queria saber sobre a manutenção dos nossos teatros e aí, claro, vamos entrar inevitavelmente na questão do Teatro do Parque.
Que não é da secretaria de Cultura, é da Fundação de Cultura, mas já foi criado um grupo, os projetos já estão sendo desenhados. Isso aí vai para frente. Eu tenho certeza que agora o Teatro do Parque vai. É coisa para mais um ano, um ano e tanto, talvez até dois anos.

Daqui a dois anos, quando o Teatro do Parque completar cem anos, ele vai estar aberto? Vamos lá, o seu compromisso para a câmera!
Vai, vai estar aberto. É Roberto Lessa quem está encarregado disso, mas eu participo de algumas reuniões. Porque o Teatro do Parque pertence à Fundação de Cultura. Ele e o Barreto Júnior. Daqui são Teatro de Santa Isabel, Dona Lindu, Apolo-Hermilo, o de Peixinhos. Esses, fizemos um grande projeto pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), encaminhamos ao Minc (Ministério da Cultura), o Iphan liderando isso, e chegou o sinal verde de que tinham sido aprovados os projetos para restauração de luz e de som. Dinheiro do Ministério da Cultura.

Para compra de equipamentos de luz e som?
Exatamente. Eu acredito! Se eu não acreditar, o que é que eu faço?

Pensando no Teatro do Parque como um problema que vem desde a outra gestão, você não vai gostar da palavra mas, existem outras heranças malditas?
Palavrinha muito cansada. Mas não. Eu prefiro não falar sobre isso. Porque é tão contundente, que eu prefiro não falar. Vamos trabalhar, vamos colocar para frente, o pessoal de Carnaval, que diziam tanta coisa, a gente vai pagar os atrasados. Tenham paciência, porque tudo agora é emergencial!

A sua principal vertente em formação é o Centro Apolo-Hermilo? E o que você vai fazer com relação à Escola João Pernambuco?
Mas ela não pertence à secretaria de Cultura não. Pertence à secretaria de Educação. Agora, no afã da Sinfônica, falamos muito sobre ela. Acho que o maestro até ia visitá-la. Mas eu ouvi do secretário de Educação, numa conversa, que está tirando a João Pernambuco do lixo, do chão. Está levantando.

E sobre o Apolo-Hermilo?
Eu quero dar uma ênfase muito grande ao Apolo-Hermilo. A Semana de Hermilo, que há três anos não acontecia, ela nasceu muito bem, ela foi muito bem, uns quatro, cinco anos, depois ela caiu. Ela caiu e caiu para a mesmice, para a coisa medíocre e morreu. Agora Carlos (Carvalho) deu uma linha dos espetáculos populares nordestinos, ele trouxe o filé de tudo e, a partir dali, debates com teóricos, com estudiosos, com doutores, com especialistas e com os mestres populares. A gente repetiu um modelo que aconteceu com o Teatro do Estudante de Pernambuco no fim dos anos 1940. A gente voltou a reunir os mestres populares para discutir as coisas. Agora, não sei porque, público lá não foi. Quinze, vinte pessoas é muito pouco.

Falando do Apolo-Hermilo, uma das vocações do Apolo-Hermilo, por ser um centro de formação, é o de fomentar o novo…
O que você entende por novo?

É o teatro contemporâneo, instigar o novo, a produção, discutir dramaturgia.
Você não acha que o contemporâneo também se alimenta do acúmulo de experiências do que você viveu? Você transforma, você renova. Então a gente não pode excluir nada. A pauta do Hermilo está aberta para ocupação do teatro, diferente do Santa Isabel. O espaço do Santa Isabel não pode ser para um teatro experimental. Não pode ser um teatro de comunidade que vem testar. Não se estreia espetáculo no Santa Isabel. Ele é um teatro municipal, que tem características, que tem peso, um custo altíssimo, cada vez que aquela cortininha se abre. Ali só pode vir espetáculo testado já. Quando Carlos Carvalho estreou O inimigo do povo, eu disse: “de jeito nenhum. Você vá embora para os outros teatros, enxuga esse espetáculo, amadureça. Quando ele tiver vida já testada e tiver pauta no Santa Isabel você traz. Mas aqui não se pode experimentar”. Agora, o Apolo-Hermilo, não quer dizer com isso que venha qualquer porcaria, porque toda peça, há que haver uma avaliação. Não pode chegar assim. Vamos fazer das coisas um passo para a melhoria. O que você faz numa sala no seu bairro, numa garagem, você dali está caminhando, pensando em um dia levar para a cena mesmo. Para isso você tem que testar o começo, acrescentar as coisas, dominar as técnicas e capacitar o elenco. Ninguém nasce pronto, não é? Para um dia chegar lá. Agora nessa semana (Hermilo) o que eu achei formidável é que tinha espetáculos de dança contemporânea e tinha espetáculos de dança popular. Entendeu? E o debate não foi grande porque o público não dizia nada.

Uma das preocupações de Leda é com sua equipe de funcionários

Uma das preocupações de Leda é com sua equipe de funcionários

Que tipo de política cultural você está construindo? Você teria um conceito?
Eu não formulo pensamentos. Até porque vocês falam em sete meses, isso não é nada. Isso não é nada. Eu só consegui diminuir o meu gabinete, que era muito grande – do que a gente tirou, eu fiz três salas. A gente não arrumou a casa, o programa de cargos e salários dos funcionários. Arrumei umas melhorias pequenas, estou moralizando um negócio que se chama diária de evento. Diária de evento surgiu no meu tempo. Não fui eu quem inventou não, mas é do meu tempo. Para os funcionários que trabalhavam, vamos dizer, nos ciclos culturais. E trabalha, viu? O pessoal administrativo vê o dia clarear preparando pagamento. É incrível. Então há o valor de uma diária, duas, três, dependendo do quanto você trabalhou. Isso seria um nome para gratificação. Isso de tal maneira se alastrou, que entra saúde, entra tudo com diária de evento. E ela se transformou em complementação salarial. Eu chamo você para um trabalho e lhe digo: “o seu salário é R$ 1,2 mil, mas você tem de diária de evento outro pacotão. Isso não incorpora na sua aposentadoria, não incorpora em nada. Então a gente está acabando com isso. Ela voltar a ser, até haver outra possibilidade, das pessoas que trabalham mais, ganhar mais.. Mas isso é uma máquina tão ronceira, que por mais que a gente esteja tentando impregnar de prazo para poder viver… A mínima coisa! Prazo para se cumprir, ninguém cumpre! Então colocar esse negócio para a frente. Você não pode ir para casa tendo um ofício pra despachar. Volta para a tua mesa, despacha tudo, vá para casa, bote a cabeça no travesseiro dizendo: “fiz”. E transformar em servidor público um funcionário público é um processo de mutilação, às vezes, porque é muito difícil. Então não é uma frase que vai dizer o que a gente pensa. É uma constatação depois que a gente estiver fazendo. Se daqui a um tempo vocês disserem: “Leda, em que você acha que vocês mudaram?”. Que não sou eu! Ou esse bonde vai junto ou não caminha. Aí a gente hoje é uma secretaria assim, quero informatizar ela todinha, mas isso não se faz em dois meses, nem com pouco dinheiro. Agora é que eu estou colocando uma pessoa para captação de recursos. A engrenagem é muito difícil! Mesmo que todos os secretários não tenham mais do que 45 anos, é tudo gente bem jovem, mas é fogo! Eu esperneio, perco paciência, difícil, muito difícil.

Qual o seu sonho? Quando você deixar essa secretaria, o que você quer? Deitar no travesseiro e dizer: “fiz”?
Se ela puder ser democrática, se ela puder refletir a vontade do povo, sem demagogia, se ela puder criar espaço para todos os artistas terem condições de desenvolver o seu talento, o seu ofício, viver do seu ofício e ser feliz! Se a secretaria de Cultura puder contribuir para isso, eu me dou por satisfeita.

O prefeito é sensível à cultura?
Sensibilíssimo. Não é artista, mas ele é…você falou, ele diz: “não posso, agora não dá” ou diz: “vamos fazer”. Não enrola. Esse defeito ele não tem.

Muito obrigada!
Obrigada por eu ter a chance de falar nas coisas nas quais eu acredito.

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Leda Alves é a secretária de Cultura da PCR

Leda Alves vai deixar a presidência da CEPE para assumir a secretaria de Cultura do Recife, na gestão de Geraldo Júlio

Depois de alguma expectativa e burburinho de que a cultura do Recife iria virar um caldeirão, a atual presidente da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, Leda Alves, foi anunciada como a nova secretária de Cultura da Prefeitura do Recife na próxima gestão, do prefeito Geraldo Júlio. Leda não está no Recife. Ela está em Exu acompanhando as comemorações do centenário de Gonzagão.

Personagem de destaque na política cultural pernambucana, Leda está em cargos de gestão pública há praticamente 40 anos. Passou pela Fundarpe, Fundação de Cultura Cidade do Recife, Teatro de Santa Isabel e atualmente é a presidente da Cepe. Ela é uma ardorosa defensora da cultura popular. Como filiada do PSB, do governador Eduardo Campos, Leda Alves deve encarar o cargo de secretária como mais uma missão.

Com uma estrada tão extensa e com posições tão claras e firmes, Leda Alves não é uma unanimidade. Entre decisões polêmicas e até usadas pelos produtores de teatro contra ela está a de quando decidiu que o teatro de Santa Isabel não tinha equipe nem condições para receber produções para a infância.

Confira a entrevista que fizemos com Leda em junho do ano passado, quando ela comemorou 80 anos.

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Prefeitura promete pagamento

Fizemos uma lista de perguntas para a secretária de Cultura do Recife, Simone Figueiredo. Desde questionamentos sobre as dívidas da Prefeitura, até a organização do Festival Recife do Teatro Nacional. E estamos cientes de que algumas questões são reflexos de toda uma gestão – já que Simone assumiu praticamente agora a pasta. Uma pena que a resposta da assessoria da secretaria tenha sido: “Com relação às perguntas, a secretária dará entrevista em algum momento oportuno”.

Ainda assim, a assessoria – diante da repercussão da carta do diretor Francisco Carlos – resolveu divulgar uma nota afirmando que, em 15 dias, o pagamento será realizado; e que, em 14 anos de festival, nunca houve problemas com pagamentos de grupos.

Reproduzimos aqui a nota na íntegra:

“Resposta à carta aberta do diretor de teatro Francisco Carlos

Em atenção à carta escrita e enviada pelo diretor de teatro Francisco Carlos aos meios de comunicação, a Secretaria de Cultura do Recife informa que reconhece que a peça Jaguar Cibernético fez parte da programação do XIV Festival Recife do Teatro Nacional, realizado de 16 a 28 de novembro de 2011. Reconhece também que até o presente momento não foi efetuado o pagamento aos atores congregados para esse espetáculo.

Foi constatado no início da nova administração da Secretaria de Cultura, em meados de abril de 2012, que a referida despesa não possuía o prévio empenho, necessário para a liquidação da dívida. Esta secretaria já iniciou o processo de indenização e dentro de 15 dias estará sendo concluído.

Vale ressaltar que em 14 edições do FRTN nunca houveram problemas com documentação e pagamentos dos grupos participantes. Desde a realização do FRTN até o momento, foram estabelecidos vários contatos com a Sra. Rosário Conde, representante legal da Cine a Vapor, a fim de instruir o processo de indenização. Ao contrário do que foi dito, nunca foi negado o diálogo ou reconhecimento da dívida.

Além disso, se faz importante dizer que os funcionários desta secretaria são profissionais idôneos e comprometidos com a legal aplicação do erário público e com serviços prestados à sociedade e classe artística comprovados.”

Atores de Jaguar Cibernético serão, finalmente, pagos. Foto: Val Lima/Divulgação

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Na boca de Matilde

Todos os anos, os erros do festival são apontados na avaliação pública. Foto: Val Lima/Divulgação

Uma figura da prefeitura me provocou dizendo. “Você deu uma barrigudinha”. Respondi: “ué, a confirmação veio da equipe de artes cênicas”. Mas não importa como as informações foram obtidas. Na verdade, o diretor e ator Francisco Medeiros não aceitou o convite de ser o curador, ou cocurador do Festival Recife do Teatro Nacional, que chega ao 15º ano abalado por denúncias de não pagamentos de cachês de edições anteriores e perda de importância para o público.

Sendo ou não sendo Medeiros, a questão levantada por mim no outro post permance. Existia um curador apalavrado, o crítico, pesquisador, jornalista, escritor Valmir Santos (que por boa-fé não fez um contrato com a Prefeitura do Recife antes de inciar sua curadoria do ano passado). E se outro ou outros convidados não aceitaram, INSISTO, a equipe da prefeitura não teve um posicionamento ético, elegante, de dispensar os serviços do anterior, antes de partir à cata de um novo.

Fiquei muitos dias esperando que alguém da Secretaria de Cultura/ Fundação de Cultura Cidade do Recife se pronunciasse, explicando o que aconteceu, reconhecendo que errou. Só os grilos cri-cri-cri…

Agora, o diretor Francisco Carlos distribuiu via internet uma carta de cobrança e denuncia do Festival Recife do Teatro Nacional.

Se as pessoas utilizaram o silêncio para calar algumas vozes, dessa vez ficou difícil. Francisco Carlos apresentou Jaguar Cibernético e diz que não recebeu o cachê. O festival foi em novembro do ano passado. Bom, o diretor enviou o e-mail para centenas de pessoas, que por sua vez reenviam para outras e isso virou uma bola de neve. O nosso querido festival de teatro, que tem um reputação a zelar corre em boca de Matilde pela falta de planejamento, gestão política ou algo pior. Não sei. Só sei que isso não pode continuar. Nem o silêncio que o órgão público dá como resposta a qualquer crítica e o não pagamento do que se deve.

Outro questionamento importante: mais uma vez o festival será realizado com um cronograma apertadíssimo? Sim, porque se até agora nem o curador foi escolhido, o que diremos da programação? Ou quem pensa que os grupos do país estão com milhões de datas livres ansiando pelo convite do nosso festival? Vai ser feito as pressas e, mais uma vez, isso repercute em público. Porque não há divulgação, o programa não sai..enfim…

Porque o Festival de São José do Rio Preto, por exemplo, tem uma média de público de 90 mil pessoas? Nós sabemos quais são as nossas debilidades. Temos as soluções – ou quem acompanha todos os anos as avaliações do festival sabe quais são – o que falta é colocar em prática.

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