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Palco é solo sagrado

Trilha sonora do espetáculo Ossos é assinada por Juliano Holanda. Foto: Ivana Moura

Trilha sonora do espetáculo Ossos é assinada por Juliano Holanda. Foto: Ivana Moura

Antígona desafia o decreto do rei Creonte, que proibia que fossem prestadas honras fúnebres a seu irmão Polinices. Para a jovem filha de Édipo e Jocasta esse era um dever sagrado. Por esse ato, ela foi condenada a ser encerrada viva no túmulo da família. A peça Antígona é uma das mais belas tragédias do dramaturgo grego Sófocles, que completa a Trilogia Tebana, com Édipo Rei e Édipo em Colono.

O dramaturgo e ator francês Jean-Baptiste Poquelin, o nosso Molière se sentiu mal no palco, quando encenava o Doente Imaginário. Seu texto atacava com sarcasmo os doutores da medicina.  Nenhum médico quis cuidar dele. Molière despertou a ira de outros: padres e devotos.

E negaram sepultura em cemitério ao autor de O Tartufo. O dramaturgo mais célebre da sua época, foi plantado em solo não-consagrado, como um proscrito.

O poeta Federico García Lorca foi fuzilado em 1936 na Guerra Civil Espanhola. Seu corpo permanece desaparecido. Seus restos mortais não tem endereço certo.  Crueldade e injustiça aos artistas que “não tiveram sequer o direito de ser enterrados” ou a uma sepultura digna.

Na última música da trilha sonora de Ossos, assinada por Juliano Holanda, o espetáculo do Coletivo Angu de Teatro homenageia seus artistas. Até porque “o palco é nosso solo sagrado”. E clamam pelos ossos de Luiz Mendonça, Pernalonga, Dona Dinah (de Oliveira), Hermilo Borba Filho.

Segue o vídeo.

 

SERVIÇO
Ossos, do Coletivo Angu de Teatro
Quando: Sextas, às 20h, sábados, às 18h e às 21h e aos domingos, às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3355-3321

FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

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Humor zombeteiro da Burralheira

Espetáculo é dirigido por Henrique Celibi.

Flavio Andrade (Príncipe) e Filipe Enndrio (Burralheira) no espetáculo dirigido por Henrique Celibi

A “gréia” pernambucana brota de farrapos de orgulho e de deboche crítico. O povo das terras João Cabral e de Chico Science tem a mania de achar defeito. E aponta, mete o dedo na ferida. Mas com humor. Um humor zombeteiro, é verdade. Essa galhofa, que chega a níveis extremos e imprevisíveis, é muito apreciada nas artes. No cinema faz o maior sucesso. E no teatro é defendida por alguns. Entre eles o autor, diretor e ator Henrique Celibi, que criou uma Cinderela suburbana, da periferia do Recife, gay e que vai à luta pelo bofe magia. Ela aprendeu “a dar o truque” na família exploradora, com a ajuda da fada-madrinha.

Há muitas versões da história da Gata Borralheira. Dizem que são mais de 700 e tem até apontamentos para 850 a.C. Não fui tão a fundo.

A bicha borralheira, a variante de Celibi foi erguida em 1985, para ocupar os intervalos dos habituais shows de dublagem que ocorriam na extinta boate Misty, na rua das Ninfas, no bairro da Boa Vista. Depois ganhou os palcos com a Trupe do Barulho, já com o título de Cinderela, a estória que sua mãe não contou. E se transformou no maior sucesso recifense de bilheteria da década de 1990.

Para celebrar 31 anos do texto original, Celibi e seu grupo fizeram uma meteórica temporada de A Bicha Burralheira, a estória que sua mãe não contou, em abril, no Teatro Hermilo Borba Filho. Ficou pouco tempo por escassez de pauta nos teatros municipais.

A Bicha Burralheira ganha mais duas sessões, hoje e amanhã, no Teatro Apolo, às 19h30.

Elenco

O espetáculo ressalta a ideia de que todos trapaceiam. Alguns para o seu próprio bem, outros em proveito próprio associado à ação de prejudicar, humilhar ou arruinar o outro. Ninguém é totalmente bonzinho, como nas historietas para crianças.

A protagonista é maltratada pela meias-irmãs e pela madrasta. Sofre Bullying por ser gorda. Mas responde à altura. Tem autoestima robusta. Essa Burralheira tem andar desengonçado, gestual largo com direito a gestos licenciosos, e um vocabulário e pronúncia do subúrbio recifense, pleno de gírias e palavras obscenas. E um “baile” na ponta da língua.

Essa paródia de humor escrachado marca discussões de gênero, de quem está à margem sob vários quesitos. Os personagens são gays ou trans e sabe que não pode contar muito com a comunidade. É cada um por si.

Mas a Cinderela arranja uma fada-macumba, interpretada por Celibi, que tem por missão viabilizar um cartão do sistema VEM para que a Gata possa ir ao baile encontrar seu Príncipe, em algum ponto do centro do Recife.

Há espaço para improviso, show de bizarrices. Manifestações de fetiche, arriação e gozação. As interpretações estão coladas ao que o Grupo Vivencial desenvolvia em Olinda nas décadas de 1970/1980, brilho e purpurina. Irreverência e uma devoção tão grande em fazer teatro que transforma o lixo em cenário, figurinos, adereços.

É tudo meio precário. Mas o grupo dá um truque da pobreza; um tapa na falta de politicas públicas.

Prima pela estética da sujeira na cena. Em todos os elementos, inclusive nas interpretações. E dela tira a vivacidade das gags, a força das palavras toscas, de expedientes vulgares, a comunicação imediata e rasteira com o público. É para rir. Mas um teatro mesmo com toda gozação, político. De um lugar da periferia que não se deixa calar.

Elenco

Elenco

Ficha técnica:
Texto, direção, produção: Henrique Celibi
Elenco: Carlos Mallcom (Madrasta), Filipe Enndrio (Burralheira), Flavio Andrade (Príncipe), Renê Ribeiro e Robério Lucado (as irmãs), Henrique Celibi (Bicha Madrinha), Ítalo Lima (vassalo do rei)

SERVIÇO
A Bicha Burralheira, a estória que sua mãe não contou,
Onde: Teatro Apolo (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 15 e 16 de junho, às 19h30
Preço único: R$ 20

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Fósseis do amor e da luxúria

Ossos, com o Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Teatro Apolo

Ossos, com o Coletivo Angu de Teatro, está em cartaz no Teatro Apolo

Ossos, o espetáculo do Coletivo Angu de Teatro, já nasceu grande. É corajoso. E não vai gerar consenso. A prosa vigorosa do escritor Marcelino Freire chega ao palco potente, com as sujeiras do escândalo. A montagem está impregnada pelas marcas de trepadas pagas, cinismo como moeda de sobrevivência, pequenas ações traiçoeiras para se dar bem. Estão expostas alma, coração, pele, carne até o osso. Heleno de Gusmão é o protagonista que precisa resgatar e devolver o corpo morto de um michê aos pais do garoto, que moram no interior de Pernambuco. Heleno se mudou na juventude do Recife para São Paulo por causa de Carlos, seu primeiro amor, e para escrever peças. Alcançou notoriedade. E perdeu muitas coisas pelo caminho, da ingenuidade à fé na vida.

Enquanto encara a missão “o meu boy morreu” navega por sua própria história, do teatro feito no Recife à conturbada peregrinação de imigrante nordestino que vence em São Paulo.

A tensa, densa e intensa trajetória dramática de Heleno se manifesta enredada entre aventuras intelectual e sexual, com simpatizantes e michês. Ao expor sucessos e fracassos do protagonista como faces da mesma moeda da ilusão, Ossos faz uma ode ao teatro, um metateatro indireto celebrando suas funções.

Um desafio e tanto para o grupo. Materializar na cena os fósseis com a melancolia da infância, a paixão pelo boy, as figuras da noite, os nove irmãos, os outros michês, o IML, o carro fúnebre de Lourenço, os seios de Estrela, o assassinato no ir-e-vir de uma narrativa transbordando de malandragem paulistana.

O espetáculo flui. Os elementos bolem de forma verossímil. O ritmo da prosa de Marcelino – direta, seca, afiada – é amplificado. E ganha reforço na música de Juliano Holanda, que às vezes amacia as situações para provocar um corte ainda mais profundo. O elenco canta bonito. É uma comunhão. Juliano Holanda é aquele artista pernambucano que o Brasil inteiro precisa conhecer. Show de talento.

O discurso indireto livre – técnica que aproxima a voz do narrador com a voz dos personagens – do romance original assume alternadamente planos da memória, alucinação e do desencanto real, que se embaralham em ordem não cronológica. A linguagem do cinema é harmonizada nessa convivência de planos. O teor noir na cartela de cores escolhida para o protagonista e o coro de urubus sem vivacidade, enquanto as lembranças de Heleno são bem coloridas.

Os personagens secundários do romance formam o coro de urubus na peça, que expõe os episódios de forma alegórica. As cenas fortes no envolvimento sexual são ousadas e convincentes. Os corpos desnudos ou cobertos trafegam com desenvoltura pela cena.

Enquanto o público se acomoda, o ator André Brasileiro espia a movimentação dos espectadores da plateia. No palco os homens-urubus traçam suas coreografias. A sombra, o escuro iluminado em partes e um clima de noite gay decadente tomam conta do teatro.

Com temática LGBT, peça mostra o lado humano e sentimental de personagens ainda estigmatizados

Marcondes Lima interpreta Estrela, uma trans

Há o tratamento de uma humanidade sem maquiagem, no fundo machucada por alguma injustiça. A luz de Jathyles Miranda reforça a escuridão da alma, os abismos dos personagens. E dramatiza com vermelhos, monta luzes na beirada do palco num misto de boate e circo, distorce ambientes. O espetáculo tem um tom escuro, numa iluminação que traduz suas figuras atormentadas e febris.

As curvas sinuosas da narração são bem dirigidas por Marcondes Lima e sua assistente de direção Ceronha Pontes. O Coletivo Angu de Teatro mostra plena maturidade com a montagem.

Marcondes Lima mais uma vez assina direção de arte e o elegante figurino da peça, que compartilha com as opções da montagem. A peça apela para o pop, na iluminação, música, direção de arte e até atuação do elenco. A dramaturgia do texto e da cena traz essa combinação Marcelino Freire puro sangue com Marcondes Lima em voo inspirado.

O elenco está afinado. André Brasileiro se dedica a interpretação sóbria, que carrega o peso do tempo e das desilusões do protagonista. O versátil Arilson Lopes faz várias participações e a do Seu Lourenço, o motorista, é preciosa. Marcondes Lima é tão bom ator quanto diretor. Ele defende Estrela, a trans com pulso e graça e arrancou aplausos da plateia na estreia. Ivo Barreto é um ator que consegue fazer um cafuçu e um gay com a mesma propriedade, convicção e alegria de atuar. Tanto Daniel Barros quanto Robério Lucado interpretam os michês com dignidade, demonstrando a mistura de esperteza e graça dos personagens. Barros se sobressai no papel de Cícero e Lucado eleva o tom na dança de “moreno tropicano”.

Marcelino Freire, que tem um livro de contos chamado Amar é Crime erigiu seu Heleno, nesta peça dura e triste, dos fósseis do amor não cultivado, não compartilhado. O personagem não exercita relações amorosas, mas o contato sexual com michês, perfeitos em seus ofícios. Destituído de amor, o sexo de curiosidade, as metidas de rua e o foder gostoso são opções com gosto de morte.

Angu de Teatro - 3

Coro de urubus

A estreia do espetáculo no Teatro Apolo fez a festa na rua do mesmo nome. Uma fila imensa já dobrava a esquina uma hora antes do início marcado. Muitos artistas da cidade compareceram, inclusive o autor do romance e da peça Marcelino Freire.

O calor no Recife e a espera podem ter contribuído para que, psicologicamente, o espetáculo parecesse estendido no final.

E depois teve uma festa na área de convivência entre Apolo e Hermilo Borba Filho, animada pelo DJ Pepe Jordão. Foi de arrasar.

SERVIÇO
Ossos, do Coletivo Angu de Teatro
Quando: Sextas, às 20h, sábados, às 18h e às 21h e aos domingos, às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3355-3321

FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

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Pelo resgate da dignidade esgarçada

Depois de cinco anos sem estrear espetáculo, retorna aos palcos com Ossos, de Marcelino Freire. Joanna Sultanum

Depois de cinco anos sem estrear espetáculo, Angu de Teatro retorna aos palcos com Ossos. Foto: Joanna Sultanum

A peça Ossos, do Coletivo Angu de Teatro, é a estreia mais aguardada do Recife deste ano; ou pelo menos deste primeiro semestre de 2016. Com texto de Marcelino Freire, adaptado pelo autor do romance Nossos Ossos (Record, 2013) para o dramático, a montagem reafirma a parceria entre o escriba e o grupo teatral, que começou em 2003 com a encenação de Angu de Sangue, passou por Rasif – Mar que arrebenta, e chega a Ossos. O espetáculo dirigido por Marcondes Lima inicia temporada neste sábado, dia 11 de junho, no Teatro Apolo e segue até 26 de junho, com sessões nas sextas, às 20h, nos sábados, às 18h e 21h, e nos domingos, às 19h.

Cada um carrega o que o constitui. Lembranças, fantasmas, decepções, alegrias e muitas pessoas – vivas ou mortas – que atravessaram o caminho. O cadáver do amante do dramaturgo Heleno de Gusmão está no centro da narrativa de Ossos. O protagonista precisa entregar os restos mortais do garoto aos familiares em Sertânia, no interior de Pernambuco. Em nome de uma dívida de sobrevivência e da dignidade esgarçada.

Os acontecimentos são expostos de modo não linear, embaralhados no tempo/espaço. Parte se desenvolve no submundo paulistano e outra se move na estrada que leva o escritor até o Sertão pernambucano de sua infância.

Com temática LGBT, peça mostra o lado humano e sentimental de personagens ainda estigmatizados

Com temática LGBT, peça mostra o lado humano e sentimental de personagens ainda estigmatizados

A peça dramatiza a subjetividade de Heleno de Gusmão, com estilhaços de memória, cenas de sonho e materialização de uma vida suprarreal. A atmosfera carregada de sombras, formas bizarras e distorções visuais, remete para o universo fronteiriço de sonho e pesadelo.

Nessa narrativa fragmentada, a peça dá saltos para a frente e para trás, explorando cortes secos, sobreposições e fusões de cenas, nas pegadas de um processo cinematográfico.

O clima sombrio é reforçado pela presença de um coro de urubus, permeado pela presença da morte; e subvertido pelo humor e o colorido da ação de alguns personagens.

No elenco estão os atores André Brasileiro, Marcondes Lima, Arilson Lopes, Ivo Barreto, Daniel Barros e Robério Lucado. A trilha sonora, assinada por Juliano Holanda, conta com mais de 20 canções. O autor Marcelino Freire é aguardado na estreia.

A montagem de Ossos é patrocinada pelo prêmio Myriam Muniz da FUNARTE – Ministério da Cultura – Governo Federal.

SERVIÇO
OSSOS
Estreia: 11 de junho, às 21h
Temporada: de 11 a 26 de junho – Sextas, às 20h; Sábados, às 18h e 21h; Domingos, às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingressos: R$20,00 inteira / R$10,00 meia-entrada
Informações: 81 3355-3321
Classificação indicativa: 16 anos

FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

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A volta da Borralheira

A Bicha Borralheira 31 anos depois. Fotos: Ítalo Lima

A Bicha Borralheira, a estória que sua mãe não contou, performance de Henrique Celibi que deu início ao megassucesso Cinderela, a estória que sua mãe não contou, inicia nesta quinta-feira (13) uma pequena temporada, no Teatro Hermilo Borba Filho, às 20h, onde fica em cartaz amanhã e na próxima semana, dias 20 e 21 de abril.

Na releitura do conto dos irmãos Grimm, a periferia recifense é representada pelo humor potente do dramaturgo, que pinta personagens que driblam a escassez financeira e os preconceitos sexuais.

Celibi corre atrás de sua própria história. No ano passado, ele que já foi o mascote do grupo Vivencial – trupe irreverente que marcou o teatro pernambucano dos anos 1970/1980 – montou espetáculo Cabaré Diversiones. Além dele, outra viveca veterana participou da peça, Sharlene Esse. E um bando jovens atores, que em parte compõe o elenco de A Bicha Borralheira.

A estreia original ocorreu na antiga Misty, da Rua das Ninfas, em 12 de abril de 1985. Há 31 anos, portanto. Na boate, a micropeça preenchia o intervalo dos números de dublagens. Celibi inclusive era famoso por sua Maria Bethânia.

Do lado de fora, o Brasil vivia um clima de desconfiança, de esperanças frustradas, depois da euforia de uma campanha pelas Diretas Já e de uma vitória parcial, quando foi escolhido o presidente pelo Colégio Eleitoral. Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito, depois do período de regime militar no Brasil, em eleição indireta pelo Congresso Nacional, não tomaria posse. O mineiro foi considerado clinicamente morto no dia 12, mas o óbito só foi anunciado no dia 21 de abril.  “Após 38 dias de agonia, e sete cirurgias, o primeiro presidente civil eleito desde o Golpe Militar, morre.”

O vice da chapa, José Sarney, do PFL, assume a presidência. Durante o período de comoção nacional alimentado pelas emissoras de TV, e, principalmente depois, especulou-se sobre um plano arquitetado pelas mãos do regime autoritário para que o poder permanecesse com quem já estava.

Essa discussão não vem ao caso. Mas é interessante notar como Celibi, com as antenas de artista, capta em seu título algo que merece reflexão ontem e hoje. A história que sua mãe não contou. A História subtraída e que ganha narrativas estranhas novamente pelos agentes da plutocracia.

Elenco

Elenco

Em meados da década de 1980, falar dos excluídos e de sua força de subverter lugares era um ato político muito mais arriscado. Com um humor explosivo, Henrique Celibi investia nisso. Atualmente as questões de gênero ganham outras conotações e requerem outros avanços.

Celibi, além de dirigir e produzir, atua como a fada-macumba, que tem por missão viabilizar um cartão do sistema VEM para que Cinderela vá ao baile encontrar seu Príncipe, na Rua da Concórdia, durante o Galo da Madrugada.

Henrique Celibi. Foto: Facebook

Henrique Celibi. Foto: Facebook

ENTREVISTA // HENRIQUE CELIBI

Pelas minhas contas, a Bicha Borralheira teria 31 anos. Lembro que foi na época em que Tancredo Neves agonizava e causava uma comoção nacional. O que você lembra dessa época que você escreveu?
São 31 anos mesmo. A estreia na Misty aconteceu no dia 12 de Abril de 1985. Da época, como você bem disse; eu me lembro da euforia que tomava o país e nos enchia de esperança com uma República Nova, ao contrário da insegurança que as especulações políticas de hoje, que nos assustam.

Eu escrevi alguns releases para enviar aos jornais – Valdi Coutinho, Enéas Alvarez e outros – para lhe ajudar. Estávamos juntos porque ensaiávamos uma peça de Joaquim Cardozo, acho.
Sim você ajudou muito fazendo os releases que precisei para o jornal, pois, estávamos juntos na montagem do Casamento de Catirina, da obra do Joaquim Cardozo, adaptada por Vivi Pádua pelo Haja Teatro e Grupo Bumba, com direção de Paulinho Mafe e Carlos Varela; morávamos juntos praticamente. Você faz parte desta “estória” bem no inicio…

Bem, acho que no começo era uma performance e depois você foi acrescentando outras coisas, engrossando a peça. Você recorda qual a intenção ao escrever a Bicha Borralheira?
Fui convidado por Fefé e José Carlos (donos da Misty) para dirigir um show e como eu achava muito repetitiva a fórmula, que já era muito usada nas boates, decidi fazer algo mais pras revistas com quadros de humor. Fiz primeiro o Ensaios espontâneos que contava a história de um teste para a montagem de um musical, meio que “máfia” das amigas. Deu certo e em seguida fiz a Bicha Borralheira que era pra ficar duas semanas e ficamos três meses. Depois fiz A Batalha na Guararapes e Um, dois, direita, esquerda, vou ver… E o propósito sempre foi o mesmo: trabalhar pra sobreviver!

Você esperava a repercussão que teve com a montagem da Trupe do Barulho? A que você atribui esse sucesso?
Quando Jeison Wallace (Cinderela dos palcos e midiática) pediu os direitos de montagem em 1991, nem ele mesmo imaginava o que aconteceria. E o que aconteceu, o fenômeno, eu atribuo em grande parte ao querido José Mario Austregésilo, por ter dado a oportunidade para aqueles personagens entrarem nas casas das pessoas através da cobertura do carnaval da TV Jornal, conquistando logo a simpatia de todos que lotaram o Teatro Valdemar de Oliveira durante quase uma década. Sem a projeção da mídia talvez a história fosse outra, apesar do talento dos protagonistas.

Por que montar o “marco zero” da Bicha Borralheira? O que mudou para a Bicha e para a cidade do Recife?
A montagem é uma grande celebração ao teatro. A esse “teatro” específico que é tão mal visto por muitos que fazem teatro nesta cidade. E porque eu acredito ser o teatro a arte mais agregadora, apesar de alguns, que insistem em excluir e ou classificar o teatro por “tipos”. E porque já foi mais que provado que santo de casa faz milagres sim! Na época em que o “fenômeno” aconteceu, as salas de teatros andavam vazias, como estão hoje. E por ser também o homossexualismo um assunto tão velho que ainda é para muitos, um motivo de piadas de mau gosto.
Claro que a montagem não tem a pretensão de repetir o feito, mas, será bom para o teatro as diferentes visões e versões de uma mesma “estória”…
Quando me refiro ao santo de casa fazer milagres quero dizer que a Trupe do Barulho, mesmo nunca tendo incentivos de leis, estão produzindo com investimentos próprios há vinte e cinco anos. Assim como eu agora e muitos tantos que acreditam no que de maior existe no teatro, além do dinheiro que com ele se possa ganhar. Pra mim há muitas outras satisfações.

Ficha técnica:
Texto, direção, produção: Henrique Celibi
Elenco: Carlos Mallcom (Madrasta), Filipe Enndrio (Burralheira), Flavio Andrade (Príncipe), Renê Ribeiro e Robério Lucado (as irmãs), Henrique Celibi (Bicha Madrinha), Ítalo Lima (vassalo do rei)

SERVIÇO
A Bicha Borralheira, a estória que sua mãe não contou,
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, s/n, Bairro do Recife)
Quando: 13,14, 20 e 21 de abril, às 20h
Preço único: R$ 20

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