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Magiluth reverencia Gonzagão

Grupo Magiluth estreia Luiz Lua Gonzaga. Foto: Ivana Moura

No intervalo de quatro dias, o Grupo Magiluth apresentou seis sessões na rua do espetáculo Luiz Lua Gonzaga. Assisti sábado passado, na Praça da Sé. Uma roda estava formada, com gente sentada e em pé, magnetizada pela trupe, que expunha suas experiências recentes e remotas com a figura e as músicas do sanfoneiro.

A arte de Luiz Gonzaga compõe o imaginário de parte dos brasileiros; está carimbada na sensibilidade de muitos. Por isso mesmo há infinitas possibiidades para levar para a cena algo que tenha alguma ligação com esse homem, esse músico. O pré-texto do espetáculo trata das preparação de uma festa, em que os personagens esperam o retorno de alguém.

O clima é de celebração, mas abre espaço para os questionamentos diretos e pertinentes sobre as angústias do sertanejo diante da aridez, diante da carência de tudo e diante das políticas excludentes que marcam a região Nordeste há seculos. Cada ator contribuiu com suas memórias. A encenação se alimenta da diversidade e do confronto de pontos de vista.

Cada um do Magiluth levou suas referências para a criação das cenas, para a formação do jogo cênico. Isso reverbera das memórias individuais e coletiva, costuradas em dramaturgia por Giordano Castro. A direção é de Pedro Vilela, que também toca zabumba na montagem.

Espetáculo é o primeiro do grupo idealizado para ser apresentado na rua

O ator Pedro Wagner tenta contar várias vezes sua experiência e os motivos de até então detestar São João. Até que consegue falar que a data lembrava a fumaça das fogueiras, e o medo que fazia tremer seu cachorro quando escutava os fogos.

Giordano Castro, um garoto urbano, fala de outras lembranças. Em um determinado momento da peça, ele sobe em uma cadeira e aponta para cima, num gesto parecido com o feito nas montagens Um torto e Aquilo que meu olhar guardou para você , mas que aqui ganha outros significados.

Entre a seca e a espera pela chuva, os atores encontram soluções simples e incrivelmente belas. Uma delas é a utilização de borrifadores de água que eles apertam no ritmo de uma música. Outra é a procura entre o público pelo São Francisco e as bacias de alumínio iluminadas com fotos de santos.

Com o prêmio do edital da Funarte, o Magiluth faz um experimento interessante. Uma poética sempre com humor.

Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth
Dramaturgia: Giordano Castro, a partir das colaborações do grupo
Direção: Pedro Vilela
Elenco: Giordano Castro, Pedro Wagner, Pedro Vilela, Lucas Torres, Erivaldo Oliveira, Mário Sérgio
Banda: João Tragtenberg, Pedro Cardoso e Pedro Vilela
Direção de arte: Guilherme Luigi e Pedro Toscano
Produção executiva: Mariana Rusu

Montagem talvez volte a ser encenada durante o Janeiro de Grandes Espetáculos

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Que zona é esta?

Magiluth estreia no Recife versão de Viúva, porém honesta. Fotos: Pollyanna Diniz

“Quando se trata de operar dramaticamente, não vejo em que o bom seja melhor que o mau. Passo a sentir os tarados como seres maravilhosamente teatrais. E no mesmo plano de validade dramática, os loucos varridos, os bêbedos, os criminosos de todos os matizes, os epilépticos, os santos, os futuros suicidas. A loucura daria imagens plásticas e inesquecíveis, visões sombrias e deslumbrantes para uma transposição teatral”. Parece que os atores do Magiluth compreenderam muito bem o que queriam dizer as palavras de Nelson Rodrigues.

No último domingo, na abertura do festival A letra e a voz, eles apresentaram uma versão digna da “falsa irresponsável” que Nelson dizia ser a peça Viúva, porém honesta. Vale dizer que o teatro estava lindo (e foi a primeira vez que o grupo se apresentou no Santa Isabel). Lotadíssimo. Há muito eu não via tanta fila para entrar no teatro mais nobre da cidade; e para conferir a peça de um grupo subversivo, habituado a um teatro que não se deixa prender a convenções, que acompanha o seu tempo – melhor ainda.

O Magiluth fez uma verdadeira zona de Viúva, porém honesta. Foi um mergulho vertical no jogo teatral e também na estética defendida pelo grupo para a montagem. Poderiam dizer que foi demais. Mas nunca agradariam Nelson se ficassem no meio termo – e realmente não ficaram. Na encenação, na cenografia, no sexual, na brincadeira, na picardia.

Os cinco atores – Pedro Wagner, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira, Pedro Torres e o estreante na trupe Mário Sérgio (que é irmão de Pedro Wagner) – passeiam por todos os personagens. No início até parece que haverá alguma ordem, quando Pedro Wagner assume por um bom tempo o papel de Dr. J.B. Mera ilusão. Daí para a frente é uma loucura desenfreada totalmente coerente com a proposta do “jogo” que o Magiluth tanto gosta de fazer entre os próprios atores e com a plateia.

Espetáculo é um jogo. Cada ator representa todos os personagens

Giordano Castro e, principalmente, Pedro Wagner, mostraram maturidade em cena. Eles sempre estiveram muito bem nas peças do Magiluth e aqui não seria diferente. Daria destaque, no entanto, a Erivaldo Oliveira e a Pedro Torres – que nessa temporada de imersão em que o grupo passou morando juntos em São Paulo, no Rio, dedicados exclusivamente ao teatro – cresceram bastante como atores. Acho que quem acompanha o grupo, percebe isso rapidamente.

Giordano Castro brincano de boneca como Ivonete

Deve ser bem difícil conseguir o tom de uma montagem dessas – sim, porque por si mesma ela já é uma profusão de imagens, música, gritos, “sujeira” cênica – e Pedro Vilela, que assina a direção e está no palco comandando a mesa de som e luz e fazendo algumas intervenções em momentos estratégicos, conseguiu. Só ficou exagerada porque era para ficar exagerada mesmo.

É teatro. E os atores fazem questão de mostrar que é teatro o tempo inteiro. Riem, se divertem, entram e saem do personagem, brigam (mesmo que seja fake, tudo bem – aqui não soa falso) porque um deles levou uma puxada no cabelo de verdade. Sobram batatas voando por todos os lados. É uma cena kitsch, carregada, de tons que podem ser bastante vermelhos como o inferno, de flashbacks que são dados apenas com um pulo no palco. Para quem vai ao teatro sem saber do que se trata, querendo a “cena sóbria e quadrada” da década de 1980 (aquela em que insistem permanecer alguns encenadores e parte do público), quebra a cara. Mas a porrada pode fazer tão bem…

Grupo deve fazer duas apresentações no Teatro Arraial dias 30 e 31

Festival A letra e a voz – O festival, que homenageia Nelson Rodrigues, continua sendo realizado na Livraria Cultura, no Bairro do Recife. Hoje, sexta-feira, a Yolanda Ivana Moura vai participar de uma mesa, das 18h30 às 19h45. E tem também Newton Moreno. Confira a programação do festival:

Sexta, 24
17h às 18h15 – A letra e a voz de Newton Moreno (PE) com mediação de Thiago Soares (PE)
18h30 às 19h45 – Nelson Rodrigues: modos de pensar, com Luís Reis (PE), Luís Augusto Fischer (RS) e Ivana Moura (PE)
19h45h às 21h – A letra e a voz de Paulo Henriques Britto (RJ) com mediação de Fábio Andrade (PE)

Sábado, 25
17h às 18h15 – Literatura brasileira contemporânea, como entendê-la? Com Manuel da Costa Pinto (SP) e Lourival Holanda (PE)
18h30 às 19h45 – Como traduzir o presente?, com Rubens Figueiredo (SP) e Diogo Guedes
19h45h às 21h – A letra e a voz de Zé Miguel Wisnik com mediação de Talles Colatino (PE)

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Avante, Magiluth!

Magiluth estreou Viúva, porém honesta no Rio de Janeiro. Foto: Zé Britto

No último fim de semana, o Magiluth estreou mais um espetáculo: a sua versão para o texto Viúva, porém honesta, de Nelson Rodrigues. Como não conseguimos acompanhar as duas apresentações, que foram no Rio, no festival que está levando à cena todos os textos teatrais de Nelson, pedimos que o ator e dramaturgo do grupo, Giordano Castro, nos contasse como foi. Um relato especial para o Satisfeita, Yolanda?

Por Giordano Castro

Em todos os momentos da vida do Magiluth temos sempre uma música que marca alguns períodos. Às vezes é no processo de montagem que ela chega, às vezes é por acaso numa viagem, ou é simplesmente uma música que é usada como aquecimento e que acaba ficando… Nesse caso, a nossa música do momento é Bravura e brilho, de Siba, que está no CD novo dele, o Avante.

Esse ano esta sendo bem recheado de coisas boas pra gente e uma delas foi o prêmio para montagem de Viúva, porém honesta. A proposta dessa peça foi lançada por Pedro Vilela – ele conhecia o texto e acreditava que era a peça de Nelson que mais tinha a nossa cara. E também o prêmio vinha como uma oportunidade de sair do vermelho que ameaçava o grupo. Sempre tínhamos muito cautela ao pensar em montar um “textão” sabe? Às vezes questionavam a gente perguntando: “e aí quando vão montar um clássico?” ou “queria ver vocês fazendo o Shakespeare…” mas talvez isso não tenha sido um tesão nosso ainda… quem sabe um dia a gente faça, quem sabe não… mas a vez do Nelson chegou!

Quando ficamos sabendo da noticia de que passamos no edital estávamos em Santos montando O Canto de Gregório e ficamos muitos felizes, pulamos, rimos e etc… mas minutos depois olhamos um para cara do outro e dissemos: “Agora Fu…!”.  Não sabíamos o que fazer com esse Nelson, não tínhamos pensando anteriormente ou passado por um processo de estudo, coisa que sempre fazemos antes das nossas montagens. Em resumo, tínhamos apenas três meses pra colocar essa peça de pé. Na outra semana, já estávamos com os textos nas mãos, fazendo leitura para nos familiarizar com o Viúva. Aproveitamos também e demos umas lidas em outras obras e nas crônicas para entender as suas construções e não tem como negar, Nelson é Fo… Se você pega um texto e lê duas linhas que seja, você já olha e diz: isso é de Nelson! E não tem como negar quando você ouve um texto sendo dito, você já sabe, esse texto é de Nelson! Então concluímos, no texto dele a gente não vai mexer, mas como ele vai pra cena? Ah, aí é outra história.
Estando em São Paulo ocupando o espaço da Funarte por dois meses com os nossos outros trabalhos, tivemos que organizar e dividir o nosso tempo entre as ações que estávamos executando (temporada, oficinas, leitura, debates) e os ensaios para Viúva, identificamos também que era necessário um preparo para os atores, especialmente na voz. Para isso chamamos Mônica Montenegro, uma profissional que trabalhou com grandes nomes do teatro Paulista.  Já tínhamos ouvido falar dela por diversas pessoas e já que estávamos lá, não íamos perder essa oportunidade. Aproveitamos também a passagem do nosso amigo Ricardo Martins, ator da Cia. Armazém de Teatro, e pedimos a ele que trabalhasse conosco algo voltado para a construção de personagens, um trabalho fundamental para a modelagem das figuras que fazemos na peça.

Trabalhávamos em dois turnos e a noite todos os nossos papos eram: “ei… vamos fazer isso naquela cena?”, “olha, tive uma ideia…”, “Pedro, eu vi isso aqui, olha, será que serve pra gente?”. Foi um período de imersão total para a montagem, não tínhamos tempo para muitos questionamentos, tínhamos que fazer e, por isso, de certa forma, o tempo corrido foi um aliado para os resultados.

Com um mês de ensaio já tínhamos a metade da peça resolvida. Pra gente era tudo muito divertido, mas o x da questão era: e público será que eles vão se divertir também? Aproveitamos a passagem de amigos por São Paulo e convidamos eles para assistirem a alguns ensaios abertos. O Francis Wilker, do Teatro do Concreto (DF),  foi um dos convidados; as meninas da Cia. Brasileira (PR) – Nadja Naira e Giovana Soar, e também amigos que fizemos por lá… Biagio Picorelli performer e amigo nosso que mora hoje em São Paulo… Todos os que podiam contribuir de alguma forma eram muito bem vindos. Depois desses ensaios, percebemos que precisaríamos de alguém pra dá uma ordem ao caos (caos que adoramos) e pra isso, chamamos Simone Mina.

Simone Mina é uma artista que há muito tempo acompanhávamos. Ela trabalha com a Cia. Livre e também fez outros trabalhos da Cibele Forjaz. Muitos trabalhos que a gente admira tem a mão dela envolvida. Queríamos que a peça não perdesse muito da cara que tinha nos ensaios. Gostávamos do tom de precariedade e de ressignificação que dávamos aos elementos e ela soube respeitar isso e potencializar outros aspectos.

Partimos para o último mês e a corda começava a apertar o pescoço… correndo contra o tempo e ainda tendo que dar conta das outras atividades dos grupos. Mas era tão bom ensaiar o Viúva que esse resto de tempo que parecia ser desesperador, na verdade, foi ainda mais  divertido. Agora era só esperar a estreia no Rio…

No Rio, continuávamos ensaiando e em todas as pausas que tínhamos e saíamos do teatro para dar uma respirada, víamos a movimentação na bilheteria. Logo mais a produtora do teatro avisa a gente que os ingressos de sábado já estavam esgotados – frio na barriga – é bom lembrar que os ingressos estavam a preço super populares e todas as apresentações do festival A gosto de Nelson estão tendo a casa lotada.

Chegou a hora da estreia. E apresentação foi para nós muito boa. Apesar de ser um estreia (geralmente há pontos que ainda precisam ser ajustados na estreia), a apresentação foi no tom. E, o que é melhor, o público mostrou ter gostado bastante. No domingo conseguimos ajustar os últimos detalhes e novamente ficamos felizes com o resultado final. Ah… é importante agradecer ao grupo Armazém 88, que quebrou um galho pra gente emprestando 20 cadeiras que usamos na peça.

E agora voltamos para o Recife… extremamente ansiosos para a nossa estreia aqui e para saber como o público vai receber essa Viúva!

Ah… e o que a música tem a ver com essa história? Nada! Mas ela é tão bonitinha! hehehehehehehehe
O dia acaba de amanhecer
O meu herói vem me despertar…

A peça Viúva, porém honesta, abre o Festival A Letra e A Voz. A coletiva de imprensa foi hoje pela manhã. A apresentação será no dia 19 de agosto, às 17h. É a primeira vez que o Magiluth se apresenta no Santa Isabel.

Grupo abre o Festival A letra e a voz, no Teatro de Santa Isabel, dia 19 de agosto

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