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TAP iluminado

Depois de 20 anos de espera, Cadengue consegue lançar sua obra sobre o TAP. Foto: Laís Telles

“O repertório do Teatro de Amadores não é acessível ao grosso do público. Nem se poderia argumentar que esse mesmo repertório deveria ser oferecido, como elemento educativo, a certa massa do público. Porque a seriedade da representação, a pureza do ambiente, a elevação da peça teriam de ser constantemente perturbadas pela incompreensão da plateia, nada adiantando, finalmente, à formação de uma mentalidade superior. O Teatro de Amadores não ‘faz’ educação; faz cultura”. O depoimento é polêmico; e revela um pouco de quem era Valdemar de Oliveira (1900-1977), criador de um dos grupos mais importantes da história das artes cênicas do estado: o Teatro de Amadores de Pernambuco, TAP.

Poderia ser elitista, assumidamente anticomunista, mas ao mesmo tempo, Valdemar foi um homem de teatro como poucos. Propôs rupturas com o estabelecido no palco, como o fim do ponto para os atores e a força da figura do encenador em detrimento do ensaiador, levou “a mulher da sociedade” ao palco, e essa mesma “sociedade” trouxe ao teatro para assistir à primeira peça com temática gay – Esquina perigosa, em 1949. “Paulo Francis escreveu, por exemplo, que Ariano Suassuna só foi capaz de escrever Auto da Compadecida por conta do TAP. Que a estrutura moderna se deveu ao olhar que o TAP levou para a cena”, atesta o encenador e professor Antonio Edson Cadengue que, por dez anos, se dedicou a estudar o grupo.

Odorico, o bem amado teve direção de Alfredo de Oliveira em 1969 com Reinaldo de Oliveira no papel principal

Hoje, às 19h20, Cadengue lança na Academia Pernambucana de Letras (Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças) os dois volumes do livro TAP – Sua cena & sua sombra: o Teatro de Amadores de Pernambuco (1941-1991) (Cepe Editora, 936 páginas, R$ 90). O trabalho é resultado da dissertação de mestrado (1988) e da tese de doutorado (1991) que o encenador defendeu na Universidade de São Paulo, sob orientação de Sábato Magaldi. O livro – um resgate histórico fundamental para que possamos entender a trajetória do teatro moderno em Pernambuco – já esteve para ser editado algumas vezes e, agora, 20 anos depois, está saindo por conta do apoio do Sesc Piedade.

O peru estreu em 1984 com direção de Luiz de Lima

Programa da peça À margem da vida

“Quando cheguei ao Recife, as pessoas não davam muito crédito ao TAP. Não sei se eram desrespeitosas, mas era como se o grupo já tivesse cumprido o seu papel. Anos depois, no início dos anos 1980, tive acesso ao acervo do TAP na casa de Diná Rosa Borges de Oliveira (esposa de Valdemar). E foi aí que despertei. Queria saber o que as pessoas tinham dito daqueles espetáculos. Era um tipo de teatro que víamos nos livros de história do teatro, em referências longínquas”, conta. Para se ter uma ideia, de 1941 a 1991, o TAP encenou 92 espetáculos. Cadengue faz descrições e análises das peças, além de escrever também um capítulo sobre Valdemar.

Para esta geração – que não viu montagens de peso do TAP, que só vai ao Teatro Valdemar de Oliveira, que nem de longe é mais a casa da elite intelectual do teatro -, Cadengue espera, por exemplo, que Reinaldo de Oliveira, que ganhou a responsabilidade de levar o grupo adiante depois que o pai Valdemar morreu, volte aos palcos. “É uma pena que Reinaldo não esteja no palco, mas ele tem 81 anos e é impressionante, está no hospital todas as manhãs, operando”, conta. “O caminho eu não sei qual é, mas acho que poderia haver um redimensionamento do que é o TAP, uma escola, uma montagem com atores mais jovens e mais velhos”, complementa. Será que os anos que levaram a depuração estética do TAP podem devolvê-la? Isso é mesmo possível? Questionamentos para mais dez anos de pesquisa.

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O palco está em Florianópolis

Depois de uma tarde inteirinha entre aeroporto, voo, amendoim da Gol, correria para pegar a conexão, mais voo, chegamos em Florianópolis. Viemos acompanhar o lançamento nacional do 14º Palco Giratório, promovido pelo Sesc, que será nesta quarta-feira. A coletiva de imprensa será às 15h30, aqui mesmo no Sesc Cacupé, onde estou hospedada (parece ser bem lindo, mas à noite, num deu pra ver nada!); e depois tem a apresentação da peça Rebu, do Rio, que tem texto de Jô Bilac e esteve no Recife no último Festival Recife do Teatro Nacional.

Foto: Val Lima/Divulgação

O Palco Giratório vai percorrer 114 cidades com 37 espetáculos, encenados por 16 grupos de teatro. Dois desses espetáculos são pernambucanos: O fio mágico, do Mão Molenga, e Leve, das bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz. Vou postar uma matéria que saiu no Diario na última sexta, da querida Tatiana Meira. Adoramos as colaborações baianísticas dela por aqui! 😉

Espetáculos vão girar pelo país

Apenas dois grupos pernambucanos foram selecionados, em 2011, para o Palco Giratório, projeto do Sesc nacional. O Mão Molenga Teatro de Bonecos, que completou 25 anos de atividades neste começo do ano, com O fio mágico, e o Coletivo Lugar Comum, com o espetáculo de dança contemporânea Leve. O elenco, formado pelas bailarinas Maria Agrelli e Renata Muniz, percorrerá 33 cidades em 15 estados brasileiros, entre os meses de abril e novembro.

“É um super reconhecimento do nosso trabalho, pois quem participa do Palco Giratório são grupos consagrados, com carreira bem estruturada. Nos dá a sensação de termos pulado várias etapas”, compara Renata Muniz, lembrando que este é o primeiro trabalho da dupla depois de deixar o Grupo Experimental de Dança, do qual fizeram parte por vários anos.

A turnê de Leve no Palco Giratório começa no dia 17 de abril, em Fortaleza, no Ceará. Além das apresentações do espetáculo, a itinerância inclui a participação em mesas-redondas do Pensamento Giratório, vivências com grupos das cidades visitadas, no Trocando em Miúdos, e oficinas de dança, onde detalharão o processo criativo da montagem.

Foto: Breno César/Divulgação

Com sua temporada de estreia em junho de 2009, no Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife, Leve também ficou em cartaz durante o mês de março de 2010, no Centro Cultural Correios. Também foi apresentado no festival Aldeia do Velho Chico, em Petrolina; no Festival de Inverno de Garanhuns; no encontro de coletivos Conexões Criativas e no Na Onda da Dança, do Sesc Piedade.

Resultado de um processo de criação onde toda a equipe técnica também colabrou, Leve tinha como proposta inicial dançar os sentimentos relacionados com a morte. “Trabalhamos com metáforas corporais e, a princípio, estávamos num caminho mais teórico, mas depois percebemos que queríamos falar das perdas e dos sentimentos que as envolviam”, explica Renata Muniz.

Com trilha sonora original de Isaar, que chegou a lançar um CD com as músicas, ao final de cada sessão do espetáculo serão promovidos debates com o público. A montagem teve oito indicações para prêmios no Janeiro de Grandes Espetáculos de 2010 e arrebatou a premiação em seis categorias (entre elas, melhor espetáculo e bailarina, para Maria Agrelli).

Mão molenga já é veterano No ano em que completa 25 anos de existência, o Mão Molenga Teatro de Bonecos cai na estrada. Pela segunda vez em sua trajetória, participa do Palco Giratório nacional, começando em Fortaleza, no dia 6, com o espetáculo O fio mágico. Até dezembro, o Mão Molenga terá visitado mais de 20 cidades, incluindo algumas em que não teve a oportunidade de estar com Babau, a montagem com a qual circulou o Brasil a convite do Sesc em 2006. “Vamos a cidades no interior de Santa Catarina, da Bahia e do Piauí que ainda não conhecemos. É impressionante como há uma comunicação muito direta, completa com a plateia”, aponta Marcondes Lima, diretor e um dos fundadores do grupo.

O fio mágico conta a história de Gerárd

Baseado num conto tradicional francês, O fio mágico é uma parábola sobre o tempo e como aproveitar cada experiência vivida. O espetáculo recebeu o Prêmio Myriam Muniz, da Funarte, em 2008, fazendo sua estreia passeando pelas Regiões Político- Administrativas (RPA’s) do Recife. Somente em 2010 fez temporada em espaços como o Teatro Joaquim Cardozo e se apresentou em festivais, como o Janeiro de Grandes Espetáculos, em 2011.

Na trama da peça, um menino impaciente chamado Gerárd (homenagem ao pai de Carla Denise, autora do texto) recebe uma bola mágica de presente de uma velha senhora. O artefato permite adiantar o tempo. Diante dos percalços e dificuldades da vida, o garoto acaba puxando o fio da bola e acelera os acontecimentos. Três atores-manipuladores participam da encenação: Marcondes Lima, Fábio Caio e Fátima Caio. Eles contam a história através de cerca de 25 bonecos, já que alguns mudam características físicas com a passagem do tempo, vivenciando momentos importantes da história mundial, como as grandes guerras na Europa.

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Paixão por Rilke e Salomé

Arder ou durar?

Lou Andreas Salomé, aos 36 anos, escritora consagrada, casada, não teve dúvidas quando conheceu o jovem poeta Rainer Maria Rilker, de 22 anos. Quebrou regras e desafiou o conservadorismo da Europa do século 19. Viveu intensamente sua paixão.

Ela estava viva.

O Fogo da vida, peça teatral em um ato, escrita por Sônia Bierbard e Gustavo Falcão, foi encenada no Recife em 2008, com Sônia no papel de Lou e André Riccari como intérprete de Rilke, sob a direção do encenador português João Mota.

Neste sábado (12/02), os autores do texto do espetáculo fizeram o lançamento da obra, na Livraria Cultura, com leitura de trecho da peça, exibição de vídeo e encontro com amigos. O Fogo da Vida foi inspirado no livro Humana, Demasiado Humana, da escritora Luzilá Gonçalves Ferreira, que assina o prefácio.

Fotos: Ivana Moura

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