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Quebra de protocolo

Protocolo, com o grupo português Mala Voadora. Foto: Divulgação

Protocolo, com o grupo português Mala Voadora. Foto: Divulgação

Trema!

Os salamaleques inventados pelo Rei Luís XIV de França, que ficou conhecido como O Rei Sol, são as motivações do espetáculo Protocolo, da trupe portuguesa Mala Voadora. A montagem abriu ontem o TREMA – Festival de Teatro de Grupo do Recife, no Teatro Hermilo Borba Filho. O sistema de etiqueta inventado pelo soberano é descortinado em passos bem ensaiados, ironias, joguetes entre os dois intérpretes e a solicitação da participação da plateia, que é apontada com nomes de figuras da corte.

Para ser sincero é só abrir a boca, diz um dos personagens. Acionou uma chave da memória, da minha, e, enquanto os atores faziam suas piruetas, um filminho foi passando na minha cabeça. Conversas na saída do cinema após um festejado filme pernambucano. Comentários demolidores, desses que não lemos mais nos jornais. Um determinado crítico da cidade disse que não gostou, mas não queria se indispor com o autor da obra. Mascaramento de opiniões.

Ser sincero é uma coisa perigosa. Principalmente numa terra de capitanias hereditárias, em que os coronéis da cultura ditam gosto e pensamento.

Ah, mas os atores deram mais umas voltinhas e apontam mais alguns espectadores como os ilustres da corte de Luiz. São divertidos os passinhos, a disputa entre os dois para impressionar os presentes, espectadores/corte/nobres.

Em meio à dança, o duo explica que essas regras de etiquetas formam um sofisticado sistema de convivência social. A ideia é que temos que nos agradar uns aos outros, conceito que é repetido ao longo da peça.

O público não me pareceu que se sentiu fortemente incluído pelas atribuições de títulos dados pelo ator Jorge Andrade. Percebi uma recepção fria.

Sabemos e os atores nos lembram isso em meio a lições de como levantar o mindinho ou se portar com o guardanapo, que esse protocolo foi um instrumento de poder usado sabiamente por Luís XIV. O disciplinamento prossegue vindo de vozes sem a mesma realeza.

Anabela Almeida e Jorge Andrade

Anabela Almeida e Jorge Andrade

A coreografia da cordialidade em alguns momentos é quebrada pelos atores para salientar as rusgas, os embates e descortesias. Mas a dupla se recompõe da ironia, porque é preciso conviver em sociedade. Enquanto paródia, o espetáculo se mostra com pouco arsenal para instigar. Tudo parece um pouco esticado, o tempo, as ações. As repetições não se apresentam como exercício de linguagem, mas como multiplicações esvaziadas.

Os atores Jorge Andrade e Anabela Almeida são bons, mas fazem um esforço demasiado para a falta textual e de amplitude na concepção do espetáculo. Os códigos de convivência, o desejo de ser benquisto, esses disciplinamentos dos sentidos ficaram a meu ver a gritar por entrar na peça, mas foram barrados ou constrangidos pelas regras.

Protocolo contém coreografias, pequenos monólogos, diálogos e uma vontade imensa da participação do público. Os intérpretes atuam próximos da plateia. Por trás de uma cortina vermelha se encontra um espelho, em que os espectadores veem refletidas suas imagens, numa ideia de inclusão. Ainda como parte da cenografia, todo o chão está coberto por uma relva sintética, que deve ter algo com um certo jardineiro de Luís XIV, e uma placa em que estava escrito “étiquette”.

Senti falta de ressignificações com o contemporâneo, de feixes de luz de simulacros de simulação (Baudrillard) no contexto da obra, de um ir adiante na intercambiação de papéis. Enfim, Protocolo parece um novelo de renda insuficiente para uma rica colcha de cama king.

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Festival Recife de teatro – tempo de editais

Galpão apresenta Os Gigantes da Montanha no Sítio Trindade, dia 22, na abertura do festival

A programação do Festival Recife do Teatro Nacional – FRTN foi anunciada nesta quinta-feira. A curadoria, que atuou nos últimos anos com recortes para a formação de sentidos, ficou para trás. A 16º edição é norteada por editais – instrumento defendido pela atual gestão como a forma mais democrática de formatar os eventos promovidos pela Prefeitura do Recife.

A grade da programação inclui 18 espetáculos em dez dias de apresentações – do dia 22 deste mês a 1º de dezembro. O mineiro Galpão abre o festival, às 20h, no Sítio da Trindade, com a peça Os gigantes da montanha, participação que o Satisfeita, Yolanda? anunciou ainda em julho. A secretária Leda Alves assistiu à peça no Festival de Inverno de Garanhuns e após a sessão fez o convite à trupe.

Os outros grupos foram garimpados de 150 projetos inscritos, segundo informou o gerente do Centro Apolo- Hermilo, Carlos Carvalho, que coordena o FRTN. Trinta e seis passaram na peneira e uma comissão formada pelo ator Paulo Mafe, representante do Conselho Municipal de Política Cultural do Recife; o diretor do Teatro Williams Santanna; e a diretora e pesquisadora Clara Camarotti, fechou os grupos.

Gustavo Catalano, Carlos Carvalho e Leda Alves durante coletiva do festival

“Fizemos um edital para dar a possibilidade de as pessoas se oferecerem para vir ao Recife. Isso despertou o interesse dos grupos”, disse Carlos Carvalho.

Bem, dessas companhias, algumas ainda não passaram pelo Recife com os espetáculos que trazem. O próprio Galpão, a carioca Armazém Cia. de Teatro com A Marca da Água; a gaúcha Casa de Madeira com As Bufa; as catarinenses Traço Cia de Teatro/Companhia Zero com As Três Irmãs, o grupo paulista Clariô de Teatro, com Hospital da Gente; a mineira Cia. Pierrot Lunar com Acontecimento em Vila Feliz. Além da outra mineira, Cortejo Cia de Teatro, com Uma História Oficial.

O Coletivo Cênico Joanas Incendeiam, de São Paulo, apresentou recentemente Homens e Caranguejos na cidade. E Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços da Paraíba vem com um espetáculo de repertório, Como Nasce um Cabra da Peste, que esteve no Recife há muitos anos.

Das montagens locais para o público adulto, todas já fizeram temporada ou foram vistas algumas vezes na cidade. São elas Vestígios (Relicário/PE), com texto de Aimar Labaki e direção de Antonio Cadengue; Luiz Lua Gonzaga, do Grupo Magiluth; O Beijo no Asfalto, com texto de Nelson Rodrigues e direção de Claudio Lira; As Confrarias, da Companhia Teatro de Seraphins, com texto de Jorge Andrade e Antonio Cadengue. E Cafuringa, com o Grupo Cafuringa.

As peças infanto-juvenis também já estiveram em cartaz no Recife. São elas As Levianinhas em Pocket Show para Crianças, da Cia Animée; De Íris ao Arco-Íris, de Produtores Independentes e O Menino da Gaiola, Bureau de Cultura e Turismo.

O espetáculo Coisas do Mar, do Grupo Teatral Ariano Suassuna e Escola Estadual Santos Cosme e Damião, de Igarassu, ganhou visibilidade ao conquistar vários prêmios no 11º Festival Estudantil de Teatro e Dança, realizado em setembro, na categoria Teatro Para Crianças. A encenação levou para casa os troféus de melhor espetáculo, direção (Albanita Almeida e André Ramos), ator (Elton Daniel), cenário (André Ramos), figurino (Kattianny Torres) e texto inédito (o grupo).

O orçamento desta edição encolheu em R$ 400 mil em relação ao do ano passado. Ficou em R$ 700 mil – sendo R$ 50 mil da Caixa Econômica Federal e o restante dos cofres da Prefeitura. A Prefeitura não conseguiu renovar o Pronac – Lei Rouanet, nem a prestação de contas da Funarte e por isso não pode concorrer a esses incentivos.

O teatrólogo Samuel Campelo é o homenageado desta edição

O homenageado deste ano é o diretor Samuel Campelo, fundador do Grupo Gente Nossa no Recife dos anos 1930. A pesquisadora Ana Carolina Miranda da Silva vai lançar um livro sobre Campelo e também vai fazer palestra sobre O Grupo Gente Nossa e o Movimento Teatral no Recife.

“Vamos ter um grande festival, que oportuniza espetáculos que não teriam oportunidade de estar aqui. A gente tem grupos que nunca vieram ao Recife e tem grupos que já vieram como a Cia. Armazém ou o Galpão. E ter a possibilidade de ter os que já vieram com aqueles que nunca vieram isso nos enriquece. Isso abre pra gente uma felicidade de dizer nos estamos abrindo o FRTN para o Brasil, pelo meio mais democrático, que é o edital”, entusiasma-se Carvalho.

16º Festival Recife do Teatro Nacional

Programação

Sexta-feira (22)
Os Gigantes da Montanha (Grupo Galpão/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 20h
Duração: 80 minutos

Sábado (23)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As bufa. Foto: Mariana Rocha

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

Banda de palhaças mostram repertório para crianças. Foto: Lana Pinho

Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

Montagem comemora 25 anos da Armazém Companhia de Teatro

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

História da curiosa lagarta, que quer chegar ao reino encantado. Foto: Angélica Gouveia

Domingo (24)

As Bufa (Casa de Madeira/RS)
Local: Teatro de Santa Isabel, às 21h
Duração: 55 minutos

As Levianinhas em Pocket Show para Crianças (Cia Animée/PE)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h
Duração: 60 minutos

A Marca da Água (Armazém Cia de Teatro/RJ)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 75 minutos

De Íris ao Arco-Íris (Produtores Independentes/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 16h
Duração: 50 minutos

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Dois policiais e um professor de história numa peça sobre a tortura. Foto: Américo Nunes

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 50 minutos

Homenagem do Grupo Magiluth ao rei do baião

Segunda-feira (25)

Vestígios (Relicário/PE)
Local: Teatro Apolo, às 19h
Duração: 55 minutos

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 50 minutos

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Obra do dramaturgo Anton Tchékhov a partir da técnica do clown. Foto: Nassau Souza

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

A partir dos contos de Marcelino Freire, Grupo Clariô de Teatro/SP mostra a vida dura de vários personagens

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 55 minutos

Versão teatral da Cia. Pierrot Lunar para o conto homônimo de Aníbal Machado

Terça-feira (26)

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro/Companhia Zero/SC)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 80 minutos

Hospital da Gente (Grupo Clariô de Teatro/SP)
Local: Espaço Fiandeiros, às 20h
Duração: 90 minutos

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Sítio da Trindade, às 16h
Duração: 60 minutos

Conhecido como Homem da Cobra, o mestre Cafuringa é acompanhado por vários bonecos

Quarta-feira (27)

Acontecimento em Vila Feliz (Cia. Pierrot Lunar/MG)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 55 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Bomba do Hemetério, às 16h
Duração: 60 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Quinta-feira (28)

Luiz Lua Gonzaga (Grupo Magiluth/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 50 minutos

O Menino da Gaiola (Bureau de Cultura e Turismo/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 16h
Duração: 50 minutos

O protagonista, o garoto Vito, de 9 anos, quer libertar o sonho das pessoas

O Beijo no Asfalto (Claudio Lira/PE)
Local: Teatro Marco Camarotti (SESC Santo Amaro), às 20h
Duração: 90 minutos

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Sexta-feira (29)

Como Nasce um Cabra da Peste (Agitada Gang – Trupe de Atores e Palhaços/PB)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 60 minutos

Cafuringa (Grupo Cafuringa/PE)
Local: Coque/Joana Bezerra, às 16h
Duração: 60 minutos

Sábado (30)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Espetáculo de estreia da Cortejo Cia de Teatro reflete sobre os autoritarismos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

Família foge da seca e chega à cidade e aos mangues do Recife

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

A Conspiração Mineira por um ângulo incomum, com texto de Jorge Andrade e direção de Antonio Cadengue.

Domingo (1)

Uma História Oficial (Cortejo Cia de Teatro/MG)
Local: Teatro Luiz Mendonça, às 20h
Duração: 70 minutos

Coisas do Mar (Grupo Teatral Ariano Suassuna/PE)
Local: Teatro Apolo, às 16h
Duração: 50 minutos

Homens e Caranguejos (Coletivo Cênico Joanas Incendeiam/SP)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h
Duração: 90 minutos

As Confrarias (Companhia Teatro de Seraphins/PE)
Local: Teatro Barreto Junior, às 20h
Duração: 70 minutos

Oficinas:

Por uma Metodologia da Encenação Teatral
Ministrante: Antonio Edson Cadengue
Local: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Oficina de Teatro de Rua
Ministrante: Lindolfo Amaral
Local: Escola Pernambucana de Circo (a confirmar)
Data: De 25 a 29 de novembro, das 13h às 17h

Exercícios para uma Cena Dialética
Ministrante: Márcio Marciano
Local: Museu Murilo La Greca (a confirmar)
Data: De 25 a 27 de novembro, das 13h às 17h

Palestras:

A Experiência do Cooperativismo em São Paulo
Palestrante: Ney Piacentini
Data: 26 (terça-feira)
Local: Espaço Fiandeiros, às 18h0

O Grupo Gente Nossa e Movimento Teatral no Recife
Palestrante: Ana Carolina Miranda da Silva
Data: 26 (terça-feira)
Local: Salão Nobre do Teatro de Santa Isabel, às 18h

Tecendo Redes – A Redemoinho no Recife
Palestrante: Fernando Yamamoto e Ney Piacentini
Data: 28 (quinta-feira)
Local: Teatro Hermilo Borba Filho, às 18h

Serviço
Ingressos espetáculos nos teatros: R$ 10 e R$ 5 (meia entrada).
Os espetáculos de rua são gratuitos

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Peça As Confrarias expõe lado podre do poder

Espetáculo As confrarias, montagem da Cia Teatro de Seraphim. Foto: Larissa Moura

Uma mulher do povo contra um mundo injusto, desumano e cruel. Como Antígona, heroína de Sófocles, Marta desafia os poderosos para sepultar seu ente querido. O dramaturgo Jorge Andrade (1922 -1984) foi buscar material no Brasil colonial (tempo da mineração) para falar das atrocidades que brasileiros anônimos foram vítimas no final da década de 1960. Uma estratégia para estabelecer o distanciamento crítico.

O espetáculo As Confrarias leva para o centro da cena a trajetória de uma mãe, Marta, na sua determinação por enterrar seu filho, José, um ator assassinado. As autoridades desconfiaram que ele participava de movimentos revolucionários e o extinguiram. Sua morte, como sua vida, vale pouco para os detentores do poder, mas não para a sua mãe. José multiplicava seu corpo em muitas vidas, nas suas metamorfoses de ator. Morto vira uma arma em mãos maternas para lutar contra a prepotência e a hipocrisia desses “clubes” que se arrogam ser senhores do destino material e espiritual de toda comunidade. No final do espetáculo ela fala: “(…) Sabe por que o deixei naquele adro? Por que usei seu corpo? (…) porque… se eu o enterrasse com minhas mãos, esqueceriam que você viveu… e porque morreu”.

Nilza Lisboa, como Marta, Roberto Brandão (José) e Carlos Lira (Sebastião)

Não, não é uma peça fácil de ser erguida. A começar pelo número de personagens, mais de 40. As mudanças temporais também exigem uma engenharia (produção, verba para traduzir a opulência das confrarias) e criatividade para não cair no didatismo. E também uma pulsação contemporânea para que a peça não seja encarada como um episódio longínquo do passado. Criar nervuras que toquem e signifiquem no presente.

Escrita em 1969, a peça As Confrarias ficou inédita até este ano, quando a Cia. Teatro de Seraphim encarou o desafio de encená-la. A montagem fez temporada no Teatro Barreto Júnior, no Recife, e participou há pouco do  Aldeia Yapoatan – II Mostra de Artes em Jaboatão dos Guararapes.

O encenador Antonio Cadengue diminuiu a peça, cortou cenas, personagens, multiplicou papéis para um mesmo intérprete. O espetáculo de um único ato está dividido em dois planos de ação: presente e passado. A Marta do presente é interpretada por Lúcia Machado. A do passado, por Nilza Lisboa. Alternando entre passado e presente, estão as passagens – muito bonitas, por sinal – da mãe e de Quitéria, namorada de José, carregando uma rede com o corpo inerte do filho de Marta. As portas do cenário significam, fecham e abrem, em movimentos de revelação/ocultação. A cenografia é assinada por Doris Rollemberg.

Portas se abrem para revelar a passagem do morto

Um dado histórico é de fundamental importância para o entendimento dessa luta. Não existiam cemitérios públicos no período colonial brasileiro. Os que existiam funcionavam junto às igrejas, em solo dito sagrado. As igrejas guardavam os registros de nascimento, casamento ou morte. Pense num poder!!! Isso passa a ser um problema para Marta, porque seu filho não era vinculado a nenhuma ordem.

E os integrantes das irmandades e confrarias não eram santos e estavam muito mais preocupados com o reino da Terra e os seus prazeres materiais do que com o reino do Céu. Funcionavam como clubes fechados que serviam aos interesses de determinados grupos sociais. Para participar de cada uma delas havia uma longa lista de exigências. E por trás dessas exigências se escondiam a tirania de seus dirigentes, que manipulavam discursos e regras a partir de seus interesses, dando interpretações bem pessoais às leis.

Pároco da Irmandade de São José (Rudimar Constâncio) pressiona Marta

Pároco da Irmandade de São José (Rudimar Constâncio) pressiona Marta

Marta, uma desclassificada, questiona o poder das confrarias ao aparecer em cada uma delas para pedir um lugar para sepultar o corpo de José. É um embate individual contra o mundo hostil que a cerca. Os diálogos estão repletos de tensão e ironias de todos os lados.

A peleja de Marta é travada em um único dia, em Vila Rica (hoje Ouro Preto, Minas Gerais), no século XVIII, à época da Inconfidência Mineira. Andrade não enfocou os que a Pátria consagrou como heróis. O dramaturgo põe uma lente de aumento na relação de despotismo dos religiosos para com os marginalizados. E desnuda os procedimentos de exclusão por parte de quem estigmatiza os abandonados da sociedade. No caso os confrades desqualificam, eliminam de seus quadros tendo como parâmetros – não muito claros – questões de cor e raça. Muitas profissões também são alvo de perseguição, a de ator é uma delas.

A protagonista de As Confrarias também é personagem de outra peça de Jorge Andrade, O Sumidouro, em um papel secundário de uma empregada questionadora. Em As Confrarias, Marta conduz a trama. O debate sobre o papel social do produtor de arte também é levantado pelo autor em O Sumidouro, só que lá as crises de criação se concentram na figura do dramaturgo.

Os bastidores do poder são expostos a partir das confabulações, intrigas e decisões das irmandades e confrarias.

Os bastidores do poder são expostos a partir das confabulações, intrigas e decisões das irmandades

Como sabemos desde as bancas do colégio, devido à exploração do ouro, Minas Gerais teve um desenvolvimento muito grande. As “ligas” dirigidas pelos religiosos gostavam de exibir opulência. Na peça aparecem quatro de muitas que existiram em Vila Rica, no século XVIII. São elas: Irmandade do Carmo (confraria dos brancos e ricos); Irmandade do Rosário (dos negros puros); Irmandade de São José (dos pardos que recebia os artistas) e Irmandade da Ordem Terceira das Mercês (que juntava negros, brancos e mulatos).

A primeira Confraria visitada é a da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, que recusa o pedido:

Ministro – Não sabe que infiéis, suicidas e atores não podem ser enterrados em igrejas?

Marta – Uma confraria cativa em gargalheiras de sangue, de crença, interesses, de leis, torna-se covil de tiranos. Não seria aqui que deixaria o corpo do meu filho…

Antes desse arremate há todo um jogo de revelações até a conclusão de que o filho era ator, uma profissão considerada perigosa e marginal.

A Confraria do Rosário, que reúne escravos e ex-escravos, foi a segunda a ser visitada. “Meu filho viveu entre pessoas como vocês(…) e amou mulher de sua raça”, argumenta Marta. Mas por meio do embate discursivo ela chega à conclusão de que essa irmandade é tão preconceituosa quanto a outra: “A única diferença entre vocês e o Carmo é a cor da pele. Escondem-se atrás dela, e só sabem se lamentar. O que geram seus pais é produto de venda, compra ou troca. Escravizam também por este ouro! São tão odientos quantos os brancos”.

A Irmandade São José, dos mulatos, é a terceira a ser visitada por Marta. Lá também é rechaçada. Gananciosos e ávidos pelo poder, tentam conseguir informação sobre os inconfidentes para negociar em benefício próprio. Marta dá o troco deixando uma sacola de areia, que eles pensam que é ouro.

Cobiça é um dos pecados desses grupos

Cobiça é um dos pecados desses grupos

A quarta e última visitação de Marta é feita à Ordem Terceira da Mercês, irmandade que, teoricamente, admite sujeitos de todas as origens. O debate dos seus integrantes é o mesmo das outras confrarias, ouro, poder e desta vez se divertem com a notícia de que Marta pregou uma peça na irmandade de São José.

“Devem estar aqui os que pensam como meu filho, os homens que ele procurava. É esta a minha igreja”, provoca Marta. Depois de uma longa e torturante inquirição por parte dos religiosos, a protagonista grita: “Por quem meu filho morreu? Por vocês? Malditos hipócritas!”

Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses

Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses

As cenas seguem uma ordem de revelações. Abre com o ator Gilson Paz como o Anjo Negro de Mapplethorpe em sequência de poses (algumas carregando flores) para celebrar as imagens do fotógrafo norte-americano Robert Mapplethorpe (1946-1989), famoso por suas fotografias de nus masculinos, carregadas de erotismo homossexual. Esse Anjo volta a parecer no decorrer do espetáculo, ou para saturar sentidos Terra/Céu, para investir na cena de sensualidade ou estabelecer conexões entre cenas.

A interpretação dos atores salienta o jogo de teatralidade. Isso ganha grandes proporções nos embates entre Marta e os confrades. Mas não há muitas variações entre presente e passado. No geral há uma frieza na montagem, que não aquece as palavras do autor. É como se as interpretações seguissem uma linha monocromática e previsível – mesmo com a alternância entre planos e a exposição de episódios soturnos, não ganham relevo.

O texto de Jorge Andrade é complexo e vai desfiando aos poucos a história de Marta, de seu marido Sebastião e de seu filho José. Em cada irmandade é revelada um pouco mais dessa trajetória.

Lúcia Machado

Lúcia Machado

Lúcia Machado vive a Marta da via-crucis. Com maestria faz o jogo teatral, provocando seus interlocutores, explorando com riqueza expressões faciais e gestuais. Mas houve problemas com a voz. Na apresentação no Teatro Luiz Mendonça, por exemplo, estava com pouca projeção vocal, o que dificultou a audição.

Brenda Ligia está bem no papel de Quitéria (namorada de José) que ganhou a liberdade com o dinheiro ganho como cortesã e desafia os costumes.

A opção do encenador de dobrar papéis é válida. Mas como os atores que se revezam nas confrarias pouco se diferenciam entre si, parece que há apenas trocas de figurino. Mesmo as reações mais fortes de um ou outro intérprete, como Rudimar Constâncio ou Ivo Barreto, Marcelino Dias ou Taveira Júnior, não demarcam as diferenças entre eles.

Não enxerguei individuações entre os representantes de cada confraria. E chego a pensar que isso poderia ter sido proposital para produzir o sentido de que todos agem da mesma forma. Mas o preconceito dos diferentes ganharia mais relevo.

A narrativa vai se encaixando e revelando detalhes terríveis da constituição humana. Mas sinto falta de vigor na montagem. Ela não vibra, com exceção da atuação de Lúcia (embora prejudicada pela projeção vocal). A história desperta interesse, mas não toca. Parece parada num passado distante sem que isso nos diga respeito.

A ideia de espelhamento de Marta, entre passado e presente é bem interessante. A Marta do passado (Nilza Lisboa) parece mais presa, meio sufocada em suas vestes. O melhor momento é quando ela desafia o religioso que tenta “catequizar” Quitéria. Marta busca chocar o homenzinho da igreja ao afirmar que assiste às cenas de amor de seu filho com a namorada.

Roberto Brandão interpreta José

Roberto Brandão interpreta José e Brenda Lígia, Quitéria

A atuação de Roberto Brandão, ator que faz José, é correta, mas sem brilho. Não traduz a juventude de seus anos nem a ousadia de suas escolhas. Parece acanhado, tímido demais para desafios tão grandes. O link com o presente – da insatisfação contra o mundo e manifestações que ocorrem mundo afora – poderia ter potência nas cenas das buscas do jovem ator, mas isso não se estabelece.

No metateatro (nas representações cênicas de José à partir da memória de Marta), falta fôlego a essa “apologia da expressão teatral”. Na tragédia Catão ele faz Marco-Bruto, com roupa de centurião, e falta peso, densidade, vigor.

Não podemos deixar de registrar que há uma meticulosa precisão na marcação cênica feita pelo encenador. Mas essa ocupação de espaços com suas hierarquias não é suficiente para incendiar a mente do espectador.  As marcas do encenador estão lá, mas parece um registro dobrado de si mesmo.

A revolta transforma um pacato cidadão

A revolta transforma um pacato cidadão

Carlos Lira, que interpreta Sebastião, não destaca a transformação pela qual passa esse pacato cidadão que plantava e colhia nas terras de Morro Velho. Encontraram ouro e anunciam que o subsolo pertencia ao Estado e à Igreja. Suas terras são confiscadas. Os momentos da revolta inicial, passando pelo engajamento político – de fazer justiça com as próprias mãos –, ao desfecho de ser enforcado, não são devidamente ressaltados em sua riqueza de detalhes.

Os figurinos e adereços de Anibal Santiago e Manuel Carlos são elegantes com seus ternos e opas. A iluminação tem momentos de envolvimentos, como nas aberturas das portas e passagem das mulheres carregando a rede, mas em outros parece errar a mão e a marcação, deixando atores no escuro, por exemplo.

A trilha sonora de Eli-Eri Moura dá textura às situações dramáticas; cria climas com os cruzamento das músicas sacras, barroca, até o toque do maracatu. É uma presença.

De todo modo, a Cia. Teatro de Seraphim e seu diretor Antonio Cadengue prossegue e persegue um teatro crítico, que leva à reflexão.

*Este texto é resultado de uma parceria com o Sesc Piedade, realizador do Aldeia Yapoatan

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Cia Teatro de Seraphim estreia As Confrarias

Antonio Cadengue assina direção de As confrarias. Fotos: Américo Nunes

Antonio Cadengue assina direção de As confrarias. Fotos: Américo Nunes

O decreto de Creonte era claro: dizia que o corpo de Polinice não deveria ser pranteado ou enterrado. Assim como Antígona não deixou o irmão insepulto, na tragédia grega escrita por Sófocles, no teatro moderno de Jorge Andrade (1922-1984), a personagem Marta também venceria qualquer obstáculo para conferir dignidade ao filho José, depois da morte. O drama dessa mãe é contado em As confrarias, texto que – apesar de escrito em 1969 – só estreia nacionalmente agora, em encenação pernambucana assinada por Antonio Cadengue. A montagem marca a retomada das atividades da Companhia Teatro de Seraphim, cuja última produção foi A filha do teatro, há seis anos. A peça entra em cartaz no dia 9 de junho, cumprindo temporada até o fim do mês, de quinta-feira a domingo (20h), no Teatro Barreto Júnior.

Em 1977, Jorge Andrade concedeu entrevista à Folha de S. Paulo em que sentenciou: “Não há censura que acabe com o homem brasileiro. Ninguém pode apagar a história. Uma hora ou outra ela vem à tona. A minha obrigação é escrever, registrando o homem no tempo e no espaço. Se a peça vai ser encenada agora, ou não, isso é outro problema. Um dia ela será”. A declaração evidenciava a noção do dramaturgo quanto à dificuldade de se montar As confrarias à época, oito anos depois de escrita.

Aquele era um tempo de censura ferrenha – o primeiro ano de vigor do Ato Institucional nº 5, no governo do general Costa e Silva. Talvez por isso aspectos práticos, como o número de personagens do enredo, não importaram ao autor: são 43, se considerarmos todas as indicações. O desafio de transpor ao palco uma dramaturgia com tantos personagens não assustou a Seraphim que, em 1995, empreendeu outra estreia nacional – Os Biombos, de Jean Genet – com mais de cem deles.

“Como não houve montagem, Andrade não teve chance de ouvir o texto, de revê-lo através do palco, como aconteceu com outras obras, principalmente com aquelas encenadas pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), como Pedreira das almas, A escada, Os ossos do Barão e Vereda da salvação”, explica o diretor que, ao lado da atriz Lúcia Machado e de Igor de Almeida Silva, doutorando em Artes Cênicas, adaptaram a dramaturgia. Foram cerca de 15 versões testadas à exaustão durante os ensaios – 14 atores se revezam na interpretação dos personagens.

Peça de Jorge Andrade nunca havia sido montada

Peça de Jorge Andrade nunca havia sido montada

Jorge Andrade usa um pano de fundo histórico: ambienta a ação em Vila Rica, hoje Ouro Preto, à época da Inconfidência Mineira, no século 18. Marta carrega o corpo do filho, na difícil missão de enterrá-lo, já que não havia cemitérios públicos. Para ser sepultado, o morto deveria pertencer a uma confraria, só que o filho exercia uma profissão profana: ator de teatro. A mãe vai, então, percorre quatro confrarias: a Irmandade do Carmo (confraria dos brancos), a Irmandade do Rosário (dos negros puros), a Irmandade de São José (dos pardos, que aceita artistas, pintores, escultores, trabalhadores) e a Ordem Terceira das Mercês (mistura de negros, brancos e mulatos).

Essa jornada materna evidencia questões sociais, políticas e econômicas – a desigualdade social, os preconceitos, as injustiças. O autor vasculhou a história, mas para referir-se ao seu tempo, ao Regime Militar. Parece o mesmo intuito da montagem agora ao lançar discussões, por exemplo, sobre a intolerância.

Teatro Político – A peça utiliza ainda do recurso da metalinguagem e questiona as funções do ator e do dramaturgo, da arte e do teatro na contemporaneidade, principalmente no que diz respeito ao caráter de contestação que podem assumir. Ao rememorar o passado, Marta resgata a figura do filho representando, por exemplo, a tragédia Catão, de Almeida Garret, que tratava dos abusos de poder na Roma Antiga. “Tenho algumas mães na minha carreira, como a de Bodas de sangue, de Federico Garcia Lorca, mas faltava Marta. É muito forte perceber que ela praticamente leva o filho à morte, porque o incitou a lutar através dos personagens que ele fazia”, diz Lúcia Machado.

Desde 2007, a atriz estava longe dos palcos, exercendo funções relacionadas à gestão cultural, como a coordenação do Centro Apolo-Hermilo, ligado à Prefeitura do Recife. O elenco conta com mais duas mulheres: Nilza Lisboa, que faz a Marta jovem; e Brenda Lígia, interpretando Quitéria, amante de José. Completam o time de atores Rudimar Constâncio, Alexsandro Marcos, Gilson Paz, Ivo Barreto, Marinho Falcão, Mauro Monezi, Ricardo Angeiras, Taveira Júnior, Carlos Lira, Marcelino Dias e Roberto Brandão. Os três últimos estavam em Vestígios, montagem mais recente assinada por Cadengue. “As confrarias é uma peça em que a teatralidade está muito baseada na imagem, uma característica, aliás, dos trabalhos do diretor”, comenta o ator Rudimar Constâncio.

Na encenação, Cadengue explora o “estranhamento brechtiano” – elementos que tiram por alguns instantes o espectador da fábula e podem ser até bizarros. “Inicialmente, para resolver um problema da encenação, imaginei a figura de um anjo que vai aparecer em alguns momentos da peça. Como Jorge Andrade, gosto da metalinguagem e trago elementos intertextuais para a cena. Esse anjo tanto é uma homenagem a Nelson Rodrigues e ao seu Anjo negro quanto às referências interétnicas da obra do fotógrafo americano Robert Mapplethorpe e a própria Seraphim, cujo ícone é um anjo de fogo”, afirma. Outras influências para a cena também foram trazidas pelo diretor, como o filme Terra em transe, de Glauber Rocha.

Montagem marca a retomada da Cia Teatro de Seraphim

Montagem marca a retomada da Cia Teatro de Seraphim

A ficha técnica da produção, que conta com o apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), inclui a cenógrafa Doris Rollemberg, parceira da companhia desde Os biombos; figurinos, adereços e maquiagem de Aníbal Santiago e Manuel Carlos; luz de Luciana Raposo; e trilha sonora de Eli-Eri Moura. Para o diretor, ainda que tenha um traço trágico, a peça carrega em si o valor da esperança. Numa das falas, Marta diz que gosta de plantar. “É uma montagem que trata deste país. De como ele é complexo, difícil, mas como pode ser lido através da poesia, pela lente do teatro.”

* Esse texto foi originalmente publicado na edição de junho da Revista Continente

Serviço:
As confrarias
Quando: estreia neste domingo (9), somente para convidados
Temporada: de quinta a domingo (de 13 a 30 de junho), às 20h
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Estudante Jeremias Bastos, s/n, Pina)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)

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