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Versão feminista da Bíblia

Peça com Inez Viana é inspirada em romance de Moacir Scliar. Foto: Divulgação

Peça com Inez Viana é inspirada em romance de Moacyr Scliar. Foto: Divulgação

A peça A Mulher que Escreveu a Bíblia existe desde 2009, com a atriz Inez Viana, dirigida por Guilherme Piva. Baseada no romance de Moacyr Scliar, a história mostra uma dona considerada feia e por isso rejeitada sexualmente. A personagem chegou a ser 700ª esposa do rei Salomão, mas continuou virgem após a noite de núpcias.

Inteligente, vivaz, ela tomou gosto pelo ofício de escrever. E a criatura desprezada por sua carcaça é encarrega pelo rei a contar a história povo hebreu com as mais lindas palavras. Os relatos ganham outras nuances, pois a figura é feminista, combate o machismo e tem uma crítica bem aguçada.

A personagem que compôs a Bíblia descobriu sua identidade ancestral, a partir de uma terapia de vidas passadas. O monólogo é adaptado aos palcos por Thereza Falcão.

O espetáculo fica em cartaz de quinta a sábado (sessões de 25 a 27/05, e de 1º a 3 de junho), às 20h, na Caixa Cultural Recife. O projeto inclui uma oficina gratuita de produção cultural no dia 2 de junho (das 15h às 18h), a ser ministrada pela diretora de produção Cláudia Marques. Interessados devem ter mais de 18 anos e enviar o currículo para o e-mail contato@fabricadeeventosrj.com.br. Inscrições até 30/05. O grupo selecionado será informado por e-mail.

Ficha técnica:
Concepção e direção: Guilherme Piva
Texto: Moacyr Scliar
Adaptação: Thereza Falcão
Performance: Inez Viana
Direção Musical e música original: Marcelo Alonso Neves
Cenário: Sérgio Marimba
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurino: Rui Cortez
Preparação corporal: Daniela Amorim
Designer gráfico: Paula Joory
Produção local: Pedro Vilella
Direção de produção: Cláudia Marques.

Serviço
A Mulher que escreveu a Bíblia, monólogo com Inez Viana
Quando: de hoje a sábado e de 1°a 3 de junho, às 20h
Onde: Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3425-1900

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Como é bom este tal de ócio…

Montagem tem texto de Ariano Suassuna e direção de João das Neves

Elogio ao “ócio criador do poeta”, Farsa da boa preguiça é uma das obras-primas de Ariano Suassuna. A peça foi escrita em 1960, cinco anos após Auto da Compadecida. O texto é composto de três atos que podem ser representados de forma independente. Seguindo a tradição medieval, Suassuna termina cada ato com um exemplo, uma lição. A montagem do encenador João das Neves transforma as três pequenas histórias exemplares numa verdadeira festa nordestina. Essa versão estreou em 2009, quando o diretor completou 50 anos de carreira. De hoje a sábado, estará no Teatro de Santa Isabel.

“Há um ócio que é puro desperdício. Mas há outro tipo de ócio que é necessário para a atividade criadora”, comenta o diretor, um dos fundadores do Grupo Opinião, um marco cultural de resistência à ditadura militar dos anos 1960 e 1970. “No Brasil, até a década de 1930, quem fazia música era visto como vagabundo. O pobre coitado ficava treinando o instrumento o dia inteiro, e pensavam que ele não estava trabalhando. Por outro lado, os filhos da elite passavam horas estudando piano e isso era considerado educação”, compara João das Neves.

“Eu sou adepto do ócio criativo, acho importante esse respiro para arte”, defende o ator Guilherme Piva. “Na arte, na criação, na interpretação, é importante ter esses momentos de vazio. A força da criatividade gera muita dor, muita angústia, muito prazer, ela mexe e precisa desse descanso. A peça fala disso”, arremata Piva.

Em Farsa da boa preguiça, o poeta de cordel Joaquim Simão (Guilherme Piva) e sua religiosa mulher Nevinha (Daniela Fontan) são tentados pelo casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão (Jackyson Costa) e Clarabela (Bianca Byington), que tem um relacionamento aberto. Apesar dos ricos acharem os pobres inferiores, eles querem estabelecer uma relação sensual com eles. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal caia no pecado, enquanto dois santos tentam intervir. Entre a tentação e a salvação, diálogos ricos em humor e ação cheia de encontros e desencontros.

“Ao encenar esse texto, queremos reverenciar o mestre Ariano Suassuna e sua obra. Queremos celebrar, com carinho e alegria, aquilo que somos: artistas do povo brasileiro” atesta João das Neves. Essa celebração de som e cor é composta também pela música de Alexandre Elias (com referências nordestinas e medievais), pelo cenário de Ney Madeira, pelos figurinos coloridos de Rodrigo Cohen e pelos mamulengos do Nordeste, criados sob orientação do artista plástico Gil Conti. E além do quarteto principal, também estão no elenco os atores Leandro Castilho, Vilma Melo, Fábio Pardal e Francisco Salgado.

O processo de construção do espetáculo teve início com um mergulho na cultura nordestina. O ator Guilherme Piva conta que, entre as atividades, passaram por leitura e criação de poemas de cordel e aulas de dança e música, confecção e manipulação de bonecos. Mas, além da riqueza dos elementos nordestinos, Farsa da boa preguiça trabalha com a distinção entre pobreza, riqueza e miséria. Um rico pode ser até mais miserável que um pobre. Pois isso estaria ligado com fortunas de outros territórios, e não só material. No caso de Aderaldo, escravo de seus bens, ele se torna um ser miserável. Revela toda sua mesquinhez em falas como: “Eu não vou na casa de minha mãe para ela não visitar a minha e não desequilibrar meu orçamento”. Ele não compreende que um pobre possa ser feliz e critica Simão: “Ele se faz de feliz só para me fazer raiva!”.

Peça fica em cartaz até sábado, no Teatro de Santa Isabel

Já Simão possui uma leveza dos que sabem driblar a vida. Quando Clarabela lhe pergunta se ele é autêntico, ele responde: “Não senhora, eu sou um pouco asmático, autêntico, não”. Farsa da boa preguiça é bom divertimento com reflexão crítica.

“A história do rico que virou pobre
que ficou mais rico ainda
e foi pro inferno viver ao lado do cão!
E do pobre, do pobre que virou rico
e ficou pobre e novo!
Foi-se embora pelo Sertão!”

Serviço:

Farsa da boa preguiça
Quando: Hoje, às 20h; amanhã, às 21h e sábado, às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel (Centro)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: 3355-3324

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