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Nós, do Grupo Galpão

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Nós - Grupo Galpão - Foto Blenda Souto Maior

Fotos do espetáculo Nós, do Grupo Galpão, feitas no dia 2 de abril, durante sessão no Itaú Cultural, em São Paulo, por Blenda Souto Maior.

*Blenda Souto Maior é pernambucana, mas atualmente moradora de São Paulo. Fotógrafa freelancer, também se dedica à arte-educação. No Recife, atuou como fotojornalista, integrando a equipe do jornal Diario de Pernambuco.

Ficha técnica do espetáculo:

NÓS
Elenco: Antonio Edson, Chico Pelúcio (substituído por Roberto Branco nesta apresentação), Eduardo Moreira, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André e Teuda Bara
Direção: Marcio Abreu
Dramaturgia: Marcio Abreu e Eduardo Moreira
Cenografia: Play Arquitetura – Marcelo Alvarenga
Iluminação: Nadja Naira
Trilha e efeitos sonoros: Felipe Storino
Assistência de direção: Martim Diniz e Simone Ordones
Preparação musical e arranjos vocais / instrumentais: Ernanni Maletta
Preparação vocal e direção de texto: Babaya
Colaboração artística: Nadja Naira e João Santos
Assistência de figurino: Gilma Oliveira
Assistência de cenografia: Thays Canuto
Cenotécnica e construção de objetos: Joaquim Pereira e Helvécio Izabel
Operação e assistência de luz: Rodrigo Marçal
Desenho de som e programação de efeitos: Fábio Santos
Assistente técnico: William Teles
Assistente de produção: Cleo Magalhães
Confecção de figurino: Brenda Vaz
Técnica de pilates: Waneska Torres
Direção de produção: Gilma Oliveira
Produção executiva: Beatriz Radicchi
Produção: Grupo Galpão

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“Para onde vamos?”, pergunta o Grupo Galpão

Personagens do espetáculo NÓS são transpassado por temas contemporâneos como racismo, violência e intolerância. Foto: Guto Muniz

Personagens da peça NÓS são transpassados por temas contemporâneos como racismo, violência e intolerância. Foto: Guto Muniz

Conviver é um exercício constante de humanidade, de escuta, de abraçamento, de indulgência, de envolvimento, de inclusão, de autoconhecimento. Essa fascinante tarefa de estar junto faz suas exigências para afastar a apatia, a brutalidade das relações, a indiferença. O espetáculo Nós, do grupo mineiro Galpão investe nas relações humanas e, portanto, políticas. E questiona os posicionamentos no mundo enquanto coletivo, enquanto indivíduos inquietos diante da realidade brasileiro. A peça faz duas apresentações no Teatro Luiz Mendonça, do Parque dona Lindu, em Boa viagem, dentro da programação do 18º Festival Recife do Teatro Nacional.

Um encontro entre sete pessoas numa mesa de cozinha. Elas preparam uma sopa, num ritual de celebração e despedida. Partilham esperanças e aflições. Mergulham em conversas cotidianas, com frases repetidas e assuntos cruzados a partir dos seus testemunhos: um garoto negro humilhado por policiais, de meninas sequestradas, de escolas públicas que foram fechadas. 

Questões da atualidade são encaradas pelo grupo como alteridade, o que é público ou privado, democracia em tempos de intolerância, violência, crise da esquerda, tragédia em Mariana (MG). A trupe também lançou mão de referências em obras contemporâneas, como Ódio à Democracia, ensaio do francês Jacques Rancière.

São ecos das vozes das ruas, com destaque para a forma como as coisas são ditas

São ecos das vozes das ruas, com destaque para a forma como as coisas são ditas

O texto escrito pelo encenador convidado Marcio Abreu, da Companhia Brasileira de Teatro, e pelo ator Eduardo Moreira foi construída a partir dos improvisos com o elenco. E surgem personagens indefinidos e performáticos. Além de Moreira, estão no elenco Antonio Edson, Chico Pelúcio, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia,Paulo André e atriz Teuda Bara.

Desse jogo entre personalidades diferentes o Galpão ergue uma sinfonia cênica, com  justaposição de sons, ritmos, corpos e de reflexões diferentes que ora se harmoniza, coabitam ou se chocam.

A trilha musical e os efeitos sonoros dirigidos por Felipe Storino funcionam como importante elemento dramatúrgico, que se sobressaem nas pausas, nas tensões, nos solos e nas interpretações musicais coletivas como na canção Balada do lado sem luz, de Gilberto Gil.

As dramaturgias estão carregadas de analogias e metáforas formando um complexo quadro de personagens e de discursos. As questões políticas estão abertas a variadas interpretações. Os poderes que vigiam traduzidos em comportamentos. Em determinado momento uma personagem é expulsa do grupo contra sua vontade. E isso pode ser lido como uma alusão ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff ou os confrontos de ordem da micropolítica.

Os elementos podem não estar em estreita relação entre si, como a leitura do poema Agradecimento, da polaca Wisława Szymborska (1923-2012). Cada espectador pode ser atravessado por sensações provocadas pelas partituras do elenco. E construir seus sentidos do espetáculo.

SERVIÇO

NÓS, do Grupo Galpão, dentro do 18º Festival Recife do Teatro Nacional
QUANDO Quarta e quinta-feiras, 23 e 24/11, às 20h30
ONDE Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, Recife
QUANTO R$ 10 a R$ 5
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

FICHA TÉCNICA DO ESPETÁCULO
Elenco
Antonio Edson
Chico Pelúcio
Eduardo Moreira
Júlio Maciel
Lydia Del Picchia
Paulo André
Teuda Bara
Equipe de criação
Direção: Marcio Abreu
Dramaturgia: Marcio Abreu e Eduardo Moreira
Cenografia: Play Arquitetura – Marcelo Alvarenga
Figurino: Paulo André
Iluminação: Nadja Naira
Trilha e Efeitos Sonoros: Felipe Storino
Assistência de Direção: Martim Dinis e Simone Ordones
Preparação musical e arranjos vocais/instrumentais: Ernani Maletta
Preparação vocal e direção de texto: Babaya
Colaboração artística: Nadja Naira e João Santos
Assistência de Figurino: Gilma Oliveira
Assistência de Cenografia: Thays Canuto
Cenotécnica e construção de objetos: Joaquim Pereira e Helvécio Izabel
Operação e assistência de luz: Rodrigo Marçal
Operação de som: Fábio Santos
Assistente técnico: William Teles
Assistente de produção: Cleo Magalhães
Confecção de figurino: Brenda Vaz
Técnica de Pilates: Waneska Torres
Fotos de divulgação: Guto Muniz
Fotos do programa: Fernando Lara, Gustavo Pessoa e Guto Muniz
Imagens escaneadas: Tibério França e Lápis Raro
Registro e cobertura audiovisual: Alicate
Projeto gráfico: Lápis Raro
Design web: Laranjo Design (Igor Farah)
Direção de produção: Gilma Oliveira
Produção executiva: Beatriz Radicchi
Produção: Grupo Galpão

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Festival Recife 2016 divulga programação

Memórias de um cão é baseada na história de Quincas Borbas, obra de Machado de Assis. Foto: Arthur Chagas

Memórias de um cão é baseada na história de Quincas Borbas, obra de Machado de Assis. Foto: Arthur Chagas

A programação do 18º Festival Recife do Teatro Nacional (FRTN) foi divulgada oficialmente nesta quinta-feira (10) pela Prefeitura do Recife. Nos últimos anos, o festival vem sofrendo com cortes orçamentários, crise de identidade e até mesmo com a ameaça de sua extinção. Em 2013, primeiro ano da gestão Geraldo Júlio, recebeu duras críticas; em 2014, não foi realizado. Ano passado, ocorreu a duras penas, com uma programação arranjada às pressas e sem recursos suficientes.

Nesta edição, 17 espetáculos de grupos de Pernambuco, Paraíba, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Ceará integram a programação, que começa no sábado (19) e segue até o dia 27 de novembro, nos Teatros de Santa Isabel, Apolo, Barreto Junior, Hermilo Borba Filho e Luiz Mendonça. O FRTN é uma realização da Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Desde o ano passado, a Gerência de Artes Cênicas, sob a coordenação de Romildo Moreira, é a responsável pelo festival. Nos anos anteriores, a função era do Centro Apolo-Hermilo.

Em Nós, sete pessoas partilham angústias e esperanças enquanto preparam a última sopa. Foto: Guto Muniz

Em Nós, sete pessoas partilham angústias e esperanças enquanto preparam a última sopa. Foto: Guto Muniz

Latão volta ao Recife com peça sobre movimento grevista no ABC. Foto:

Latão volta ao Recife com peça sobre movimento grevista no ABC. Foto: Sérgio de Carvalho/divulgação

Entre os destaques da programação, o grupo Galpão, com o espetáculo Nós, dirigido por Márcio Abreu, um manifesto poético-político sobre o nosso tempo, com atuação impactante especialmente de Teuda Baura; o grupo Latão, que volta ao FRTN com O pão e a pedra, um espetáculo politicamente engajado, sobre a greve que aconteceu na região do ABC, em São Paulo, em 1979; e Memórias de um cão, do Coletivo Alfenim, que abre o festival.

Entre os espetáculos locais, Nossos Ossos, do Coletivo Angu de Teatro; MEDEIAPonto, com Augusta Ferraz; e Saudosear – A noite insone de um Palhaço, com Walmir Chagas.

Ainda na programação, o Conta Causos, do Doutores da Alegria. Os atores/palhaços Enne Marx, Fábio Caio, Greyce Braga, Juliana de Almeida e Tamara Floriano apresentam uma espécie de relato encenado das vivências dos palhaços nos hospitais.

Doutores da Alegria contam vivências dos hospitais. Foto: Léo Caldas

Doutores da Alegria contam vivências dos hospitais. Foto: Léo Caldas

Entre as ações formativas, o festival promove uma oficina/residência com o diretor e professor Sérgio de Carvalho, da Cia do Latão, sobre o teatro épico-dialético.

O homenageado da edição 2016 do festival é o Mamulengo Só-Riso, fundado há 42 anos em Olinda. Para celebrar o grupo, será instalada uma exposição, narrando a trajetória da trupe, no Centro Apolo Hermilo.

Os ingressos para as apresentações do festival custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada).

PROGRAMAÇÃO FESTIVAL RECIFE DO TEATRO NACIONAL 2016

19/11 (sábado)
Memórias de um Cão – Coletivo Alfenim – PB
Teatro de Santa Isabel, às 20h
Duração: 1h20 / Indicado para maiores de 14 anos

20/11 (domingo)
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 / Livre para todos os públicos

HARU – A primavera do Aprendiz – Rapha Santacruz Produções – PE
Teatro Barreto Júnior, às 16h30
Duração: 60 min / Livre para todos os públicos

Nossos Ossos – Coletivo Angu de Teatro – PE
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 1h20 / Indicado para maiores de 14 anos

21/11 (segunda)
Severinos, Virgulinos e Vitalinos – Dispersos Cia. de Teatro – PE
Teatro Apolo, às 16h30
Duração: 1h10 / Livre para todos os públicos

MEDEIAPonto – Grupo Pharcas Sertanejas – PE
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 1h10 / Indicado para maiores de 14 anos

O Mascate, a Pé rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas com Objetos – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 60 min / Indicado para maiores de 14 anos

22/11 (terça-feira)

O Mascate, a Pé rapada e os Forasteiros – Cia. de Artes Cínicas com Objetos – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 60 min – Indicado para maiores de 14 anos

H(EU)stória – O tempo em transe – Júnior Aguiar – PE
Teatro Barreto Jr, às 20h
Duração: 1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

23/11 (quarta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

24/11 (quinta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Saudosear – A noite insone de um Palhaço – Walmir Chagas – PE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 / Indicado para maiores de 14 anos

Walmir Chagas é dirigido por Moncho Rodriguez. Foto: Pedro Portugal

Walmir Chagas é dirigido por Moncho Rodriguez. Foto: Pedro Portugal

NÓS – Grupo Galpão – MG
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração:1h30 / Indicado para maiores de 14 anos

25/11 (sexta-feira)
O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo – Indicado para maiores de 16 anos

Dois idiotas sentados cada qual em seu barril – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr, às 20h
Duração: 50 min – Indicado para todos os públicos

26/11 (sábado-feira)
O menino e a cerejeira – Borbolina Produções – SP
Teatro Barreto Jr. , às 16h30
Duração: 60 min / Livre para todos os públicos

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Medida por medida – Teatro Popular de Ilhéus – BA
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30h – Indicado para maiores de 12 anos

Dia 27/11 (domingo)
Vento forte para água e sabão – Cia Fiandeiros de Teatro – PE
Teatro de Santa Isabel, às 16h
Duração: 55 min – Livre para todos os públicos

Sebastiana e Severina – Kamio Kaze – PE
Teatro Barreto Junior, às 16h30
Duração 1h10 – Indicado para todos os públicos

Fishman – Grupo Bagaceira – CE
Teatro Apolo, às 19h
Duração: 1h10 – Indicado para maiores de 14 anos

Fishman, do grupo cearense Bagaceira. Foto: Lina Sumizono

Fishman, do grupo cearense Bagaceira. Foto: Lina Sumizono

O Pão e a Pedra – Cia. do Latão – SP
Teatro Hermilo Borba Filho, às 19h
Duração: 2h50, com intervalo / Indicado para maiores de 16 anos

Teodorico Majestade – Teatro Popular de Ilhéus – BA
Teatro Luiz Mendonça, às 20h30
Duração: 1h30 / Indicado para todos os públicos

Programação Extra:

Dia 20/11
Exposição Mamulengo Só-Riso
Local: Teatro Hermilo Borba Filho
Abertura: às 10h
Entrada franca

Dia 22/11
Leitura Dramatizada
Medéia – O Evangelho – Albemar Araújo
Adaptação da obra de Eurípides
Teatro Joaquim Cardozo, às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 23/11
Conta Causos – Doutores da Alegria – PE.
Teatro Joaquim Cardozo, às 20h
Livre para todos os públicos. Entrada Franca.

Dia 26/11
Lançamentos: Livros, revista e o projeto: Teatro tem programa.
Com: Paulo Vieira, Pedro Vilela e Leidson Ferraz.
Centro Apolo Hermilo, às 15h. Entrada Franca.

Programação formativa:

De 16 a 19/11
Oficina/residência: O teatro épico-dialético
Ministrada por: Sérgio de Carvalho – SP
Local: Centro Apolo/Hermilo
Das 9 às 13h. Participação gratuita.

Dia 20/11
Seminário de Crítica Teatral – 2016
Tema Geral: A arte secreta do teatro – encontros infinitos
Como se forma e se quebra tradição teatral: Mestres e discípulos do teatro russo
Palestrante: Helena Vassina
Mediador: Diego Albuck
Local: Centro Apolo Hermilo

Dia 21/11
A arte solitária do autor – a criação dramatúrgica
Palestrantes: Paulo Vieira e João Denys
Mediador: Vinícius Vieira

Dia 22/11
A arte secreta da crítica – o exemplo de Sábato Magaldi
Palestrantes: Bruno Siqueira, Astier Basílico e Ivana Moura.
Mediadora: Isabelle Barros

Dia: 26/11
Mesa de debates: Pesquisa de grupo / investimentos e resultados
Palestrantes: Sérgio de Carvalho; Luiz Reis e Rudimar Constâncio.
Mediador: Romildo Moreira
Centro Apolo/Hermilo, às 09h30

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Para que serve a consciência de Till

Inês Peixoto (centro) interpreta Till com graça e humor. Foto: Ivana Moura

Inês Peixoto (centro) interpreta Till com graça e humor. Foto: Ivana Moura

X Festival de Teatro de Fortaleza

Já fazia dias, semanas até, que não caia uma gota de chuva em Fortaleza. Mas ontem, durante a apresentação do espetáculo Till, a saga de um herói torto, choveu o suficiente para interromper por duas vezes a exibição do grupo Galpão. O que poderia ser um desastre transformou-se num detalhe de congraçamento entre palco e plateia. O público buscou se proteger do aguaceiro colocando cadeiras na cabeça ou fugindo para qualquer abrigo ali por perto. Aquilo parecia provocação de São Pedro, talvez para assegurar o interesse dos espectadores. A plateia ficou por ali, e quando a chuva cessou pediu com palmas ao elenco para que voltasse para concluir a sessão. Foram momentos de comunhão do teatro, em ato encarado pelos presentes como algo precioso. Bonito de ver.

Till, a saga de um herói torto, abriu ontem a 10ª edição Festival de Teatro de Fortaleza (Ceará), ao ar livre no Estoril, na praia de Iracema. É uma montagem do Galpão de tradição mambembe, popular, de rua, fincada na comédia com doses cavalares de reflexões sobre questões contemporâneas – da necessidade de se pensar sobre a exclusão dos que já nascem enjeitados, à vontade da ressurreição das utopias para um mundo melhor. A encenação é de 2009, com direção de Júlio Maciel, um dos integrantes do grupo mineiro; e já rodou o mundo. E isso traz a vivência do palco, mas também um desgaste do que poderíamos chamar do frescor do espetáculo. Talvez por isso, o fator surpresa do vento, da chuva, e principalmente da reação do público agregou valor de experiência única à exibição.

O texto de Luís Alberto de Abreu resgata Till Eulenspiegel da cultura popular da Idade Média. Essa figura do folclore alemão conserva parecença com Gargantua e Pantagruel, personagens de François Rabelais (1493-1553), na crítica aos pequenos poderes e na referência ao grotesco e ao escatológico, mas sem a radicalidade do autor francês. A cena em que o anão escafandrista é enfiado dentro da mãe do protagonista para arrancar o preguiçoso Till lá de dentro é “tempero Rabelais”, mas as ações na sequência são suavizadas e suas estripulias o aproximam de João Grilo, do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.

O diabo é sempre sedutor, defendido por Chico Pelúcio

O diabo é sempre sedutor, defendido por Chico Pelúcio

Till nasce de uma aposta entre o Demônio e Deus. O Belzebu joga que o humano é criação falida e que bastaria tirar algumas de suas qualidades para a criatura cair em perdição. Till é a cobaia. O coitado já chega desprovido de qualquer inteligência útil e perde sua Consciência numa negociação com o Demônio.

Nessa peleja entre o Altíssimo e o Diabo, só o segundo aparece. Ele está vestido de vermelho e porta chifres que acendem. É defendido por Chico Pelúcio com graça e humor. Entra e sai do Inferno com estardalhaço e os efeitos de gelo seco.

As interpretações são propositalmente exageradas, para destacar o teor grotesco das personagens. Inês Peixoto interpreta esse presepeiro encantador, com desenvoltura explorando as facetas de tolo/esperto, poético mas com doses escatológicas.

Os três cegos que peregrinam em busca de Jerusalém. Foto: Ivana Moura

Os três cegos que peregrinam em busca de Jerusalém. Foto: Ivana Moura

Paralelamente ao percurso de Till, na sua luta pela sobrevivência e seus encontros com o diabo, também é mostrada a história de três cegos andarilhos (Alceu, Borromeu e Doroteu) que sonham em chegar a Jerusalém. O elenco trabalha com mais de uma chave interpretativa, incluindo a narração, com quebra da ilusão no interior da cena com a exposição da artesania teatral e da tradição do teatro épico.

O cenário, de Márcio Medina, traz alçapões de onde sai o diabo, deslizam Till ou emerge o anão escafandrista. Isso provoca efeitos que dão ritmo e agilidade na movimentação, que conquistam a plateia. Mas toda a estrutura está fincada na relação frontal.

Da competência do elenco já sabemos e do domínio da arte da representação. Os atores compõem figuras hilárias, grotescas, mas com algum toque de dignidade. O figurino esfarrapado é de impacto e robustece a ambiência da história, associada à maquiagem pesada.

Com humor, a peça investe na necessidade da utopia. E indica quão frágil e pequeno é esse humano formado de corpo, alma e consciência. A ação do trio de cegos capricha nas fissuradas relações humanas com suas disputas por poder, onde cabem dependência, ciúme, inveja e falsa bondade, entre outras coisitas.

Foi uma noite memorável. A saga foi tão bem recebida em Fortaleza que até o Diabo, que teoricamente perdeu a batalha para Deus e teve que devolver a Consciência de Till, conseguiu uma voluntária para subir ao palco e conhecer o seu cantinho quente.

Teuda Bara, Mãe de Till

Teuda Bara, Mãe de Till

FICHA TÉCNICA
Elenco

Antonio Edson (Borromeu / Povo / Anão)
Arildo de Barros (Parteira / Juiz / Camponês / Carrasco / Padre / Miserável)
Beto Franco (Parteira / Português / Padre / Camponês / Miserável)
Chico Pelúcio (Demônio / Camponês / Voz do Soldado)
Eduardo Moreira (Doroteu / Povo)
Inês Peixoto (Till)
Lydia Del Picchia (Parteira / Consciência / Cozinheira / Menino)
Simone Ordones (Alceu / Povo)
Teuda Bara (Mãe / Miserável)
Direção: Júlio Maciel
Texto: Luís Alberto de Abreu
Cenografia e Figurino: Márcio Medina
Direção musical – arranjos, adaptações e composições: Ernani Maletta
Preparação corporal para cena: Joaquim Elias
Iluminação: Alexandre Galvão, Wladimir Medeiros
Caracterização: Mona Magalhães
Adereços: Luiza Horta, Marney Heitmann, Raimundo Bento
Sonorização: Alexandre Galvão
Cenotécnica e contra-regragem: Helvécio Izabel
Assistente de figurino: Paulo André
Assistentes de cenografia: Poliana Espírito Santo, Amanda Gomes
Preparação vocal: Babaya
Técnica de Pilates: Waneska Carvalho
Construção do palco: Tecnometal
Ajudante de cenotécnica: Nilson Santos
Costureiras: Taires Scatolin, Idaléia Dias
Fotos: Guto Muniz / Casa da Foto
Projeto gráfico: Lápis Raro
Consultoria de planejamento: Romulo Avelar
Assessoria de planejamento: Ana Amélia Arantes
Assessoria de comunicação: Paula Senna
Estagiários de comunicação: Ana Alyce Ly e João Luis Santos
Consultoria de patrocínio: Mauro Maya
Assistente de produção: Anna Paula Paiva
Produção executiva: Beatriz Radicchi
Direção de produção: Gilma Oliveira
Produção: Grupo Galpão
Patrocínio: Petrobras

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E começou o Festival Recife do Teatro Nacional

Os gigantes da montanha, do grupo Galpão. Foto: Pollyanna Diniz

Os gigantes da montanha, do grupo Galpão. Foto: Pollyanna Diniz

O Festival Recife do Teatro Nacional começou neste último fim de semana com duas das suas principais atrações de fora: o Galpão, de Minas Gerais, e a Armazém Cia de Teatro, do Rio de Janeiro. A abertura foi com Os gigantes da montanha, do Galpão, na sexta-feira, para um bom público no Sítio da Trindade, depois de um discurso breve da secretária de Cultura Leda Alves. “Esta gestão tem uma política cultural traçada e que, aos pouquinhos, a gente está cumprindo, implantando, na medida do possível, uma cultura comprometida com a democracia, com possibilidades e oportunidades”, afirmou.

Foi um início de altos e baixos, tanto na qualidade da programação quanto com relação à lotação das casas. Se a Armazém teve um bom público no sábado no Teatro Barreto Júnior, sem nenhuma dificuldade para que as pessoas conseguissem ingresso, a montagem infantil pernambucana De Íris ao arco-íris, por exemplo, levou só 22 pessoas ao teatro no sábado. As Bufa, no Santa Isabel, teve pouca gente na plateia tanto no sábado quanto no domingo.

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Os gigantes da montanha – Grupo Galpão (MG)

Definitivamente, o texto de Luigi Pirandello não é fácil. Principalmente para uma montagem de rua, em que a dispersão se dá facilmente. Tanto em Garanhuns quanto aqui no Recife, no Sítio da Trindade, a proximidade com a plateia diminuiu a dificuldade de imersão na obra, mesmo que ela seja intrincada, tenha várias camadas: a realidade, o sonho, a loucura, a ficção, o mito, a peça dentro da peça. O Galpão não abriu concessões, não seguiu o caminho mais fácil, ao montar Os gigantes da montanha. Ao mesmo tempo, criou uma peça que encanta os sentidos – é plasticamente bela, com seus cenários e figurinos; e a trilha sonora tocada e cantada ao vivo é de músicas italianas.

Montagem tem texto de Pirandello

Montagem tem texto de Pirandello

A marca da água – Armazém Cia de Teatro (RJ)

A peça que comemora os 25 anos da Armazém Cia de Teatro nos surpreende pela plasticidade. O cenário tem um espelho de água, uma piscina em que os atores se molham, jogam água para cima e acabam construindo imagens que se somam às projeções e à iluminação de Maneco Quinderé. Apuro técnico e delicadeza visual que não necessariamente encontram paridade no texto. É a história de uma mulher, dos seus traumas e tragédias familiares, das suas relações, da memória, da loucura. Mas o texto não consegue de fato se aproximar do público, há um desnível nessa recepção. Patrícia Selonk assume o papel chave da montagem e a responsabilidade de segurar um elenco disperso, sem brilho, sem composições de destaque.

Armazém Cia de Teatro voltou ao Recife com A marca da água. Foto: Pollyanna Diniz

Armazém Cia de Teatro voltou ao Recife com A marca da água. Foto: Pollyanna Diniz

Luiz Lua Gonzaga – Magiluth (PE)

O Magiluth sempre foi um grupo de temáticas e escolhas muito “urbanas”. Então era mesmo um grande desafio falar sobre Luiz Gonzaga, mesmo que grande parte dos seus integrantes tenha vindo de lugares do interior, onde São João, forró e sanfona são elementos tão fortes. O Magiluth se aproxima de Gonzaga de maneira muito despretensiosa e conquista o público aos pouquinhos, com a inteligência na costura do enredo, que parte do mote de uma espera. Todos aguardam a chegada de um homem; enquanto isso, preparam a festa, desfiam memórias de lugares, de tradições, de cotidianos simples. O São João da infância de Giordano Castro serve para falar dos nossos próprios ou, porque não, a aversão à festa que tinha Pedro Wagner. Todos sentimos saudades e bebemos o morto. Celebramos a fartura e ficamos tristes na sequidão. Rimos e cantamos juntos as músicas tão clássicas que compõem o espetáculo. Mais uma vez, o que se sobressai no palco é o jogo entre os atores e a sensação de que eles nasceram para fazer aquilo. Que não estariam mais felizes em nenhum outro lugar, senão ali, fazendo o que acreditam. Ainda quero voltar a esse trabalho!

Peça Luiz Lua Gonzaga foi apresentada no Sítio da Trindade. Foto: Pollyanna Diniz

Peça Luiz Lua Gonzaga foi apresentada no Sítio da Trindade. Foto: Pollyanna Diniz

As Bufa – Casa de Madeira (RS)

Aline Marques e Simone De Dordi são as intérpretes de duas mendigas que ocupam um teatro abandonado. Um local de ratos, sujeira e decadência. Apesar do vigor das duas atrizes e da intensidade com quem se jogam nos papeis, é no texto que está o principal problema de As bufa. Nas escolhas dramatúrgicas que não vão além do óbvio, na costura de críticas tão claras e rasas que perdem o vigor. São caricaturas pelas caricaturas. A massificação, o consumismo, a falsa religiosidade, a globalização. Tudo isso de uma forma rasteira, sem raízes, sem aprofundamentos, sem sutilezas, nuances ou surpresas para o público.

As bufa fez humor raso e sem consistência. Foto: Pollyanna Diniz

As bufa fez humor raso e sem consistência. Foto: Pollyanna Diniz

Agenda desta noite:

Vestígios (Relicário / PE)
Onde: Teatro Apolo, às 19h

Hospital da gente (Grupo Clariô de Teatro / SP)
Onde: Espaço Fiandeiros, às 20h

As Três Irmãs (Traço Cia de Teatro / Companhia Zero/ SC)
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho, às 21h

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