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Teatro dificulta apreciação de dança britânica

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2faced Dance Company aposta na força e técnica dos bailarinos. Fotos: Daniel Isolani

O Festival de Teatro de Curitiba programou três espetáculos internacionais para esta edição. O primeiro deles, o espetáculo belga Kiss & Cry, da companhia Charleroi Danses, foi cancelado. O segundo Pansori Brecht UKCHUK-GA, com a coreana JaRam LEE, foi a melhor peça da programação. E a dança In the Dust, da britânica 2faced Dance Company, formada apenas por homens, teve duas apresentações.

Composta por três coreografias, o grupo da diretora Tamsin Fitzgerald, exibe em In the Dust aquela força masculina, para mostrar estados de decadência e destruição, vitalidade e resistência, incerteza e agitação política.

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Espetáculo In the dust fez duas apresentações no Festival de Teatro de Curitiba

As coreografias investem no atlético da dança contemporânea e juntam-se aos movimentos do break e da street dance. Testosterona para explorar os limites do corpo em desenhos desafiadores.

Mas as apresentações tiveram o problema da escolha do Teatro Marista. Mais para auditório do que para teatro, o local não se mostrou o mais apropriado para a exibição da companhia britânica. Quem não estava nas primeiras fileiras (as três primeiras) não conseguiu ver o todo, o quadro do conjunto, nem os detalhes do movimento dos bailarinos. Resultado: o desinteresse chega galopante.

Cerca de 20 pessoas foram embora no primeiro intervalo. Cerca de 50 no segundo. E a recepção do trabalho do grupo foi prejudicada.

Esse grupo não foi o único a sofrer com a escolha do teatro. Gonzagão, a lenda, que se apresentou no Grande auditório do Teatro Positivo, encantou e contagiou a plateia. Mas a peça foi desenvolvida mais ao fundo do palco, porque o local, segundo fui informada, não dispõe de varas de iluminação frontal. Com isso o público perdeu detalhes do belo figurino de Gonzagão e as expressões dos atores.

*A jornalista Ivana Moura viajou a convite do Festival de Curitiba

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Hamlet desperta opiniões divergentes

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Trupe Clowns de Shakespeare fez duas sessões em Curitiba. No fim de semana vai a João Pessoa. Fotos: Emi Hoshi

Não fui assistir a versão de Hamlet, da trupe Clowns de Shakespeare aqui no Festival de Curitiba. Quero rever em alguma outra situação por considerar o grupo um exemplo de organização e pesquisa, por sua trajetória e seriedade. E principalmente porque vi na estreia, no Janeiro de Grandes Espetáculos, no Recife, e fiz muitas restrições. Como são muitos espetáculos, melhor aproveitar a oportunidade para acompanhar coisas que ainda não vi.

Na Mostra 2013 são 32 espetáculos, sendo oito estreias – mas não dá para ver nem 15, isso se você ficar o festival inteiro, porque os horários batem. Além dos 374 espetáculos no Fringe (mas houve desistências).

Depois de Curitiba, Hamlet vai a João Pessoa (PB) neste fim de semana (Teatro do SESI, sábado (05), às 20h, e domingo (06), às 19h). E a montagem já passou por Fortaleza, numa circulação patrocinada pelo Ministério da Cultura, Petrobras, Chesf e Banco do Nordeste/BNDES, e foi apresentada também em Natal.

Mas é muito interessante ouvir a opinião dos colegas jornalistas sobre esse Hamlet. Um me falou que apreciava mais Hamlet do que Sua Incelença, Ricardo III pelo rigor na pesquisa e pela participação do encenador Marcio Aurélio – esse crítico prevê outras boas consequências para o grupo.

Hamlet não conseguiu uma unidade de opinião. Mas nenhum outro espetáculo conseguiu. O jornal Gazeta do Povo, de Curitiba deu como título “Um Hamlet arrebatador”.

E prossegue: “Este Hamlet …é um espetáculo imperdível. Isto dito por mim, que escrevi uma frase como esta acima, apenas umas duas vezes na vida. Confesso que quando vi o programa do Festival pensei, mais um Hamlet? O que entre o céu e a terra ainda não foi feito com este texto? A montagem intensa e elegante deste Hamlet, afinal um dos grandes textos dramáticos da era cristã, me surpreendeu, entretanto.

Primeiro pela cenografia que obedeceu a lógica do “menos é mais”… As soluções dadas por Marcio Aurélio, Lígia Pereira e Fernando Yamamoto (o trio de diretores, com o primeiro a frente) desprezou o menos, para valorizar o mais: o texto e a atuação arrebatadora do grupo de atores…

A atuação do elenco é uniformemente competente, mas Dudu Galvão (o texto diz Dudu Falcão, mas quem faz Hamlet é Joel Monteiro!) faz um Hamlet ao mesmo tempo demasiadamente humano e animalesco que vai direto para a antologia. Arlindo Bezerra e Marco França (em vários papéis) quase roubam a cena. Titina Medeiros emociona a plateia com a enlouquecida Ofélia”.

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Há quem ame e quem odeie a montagem de Hamlet

Na outra ponta da opinião sobre o espetáculo está a crítica do blog Atores e bastidores, do R7. O título já diz o tudo do conteúdo: “Shakespeare derrapa em Hamlet”

E desenvolve: “Quem ficou impressionado com a força da penúltima obra do grupo potiguar Clowns de Shakespere, Sua Incelença Ricardo III, sob direção do mineiro Gabriel Villela, mal pôde acreditar que seja o mesmo grupo que encenou Hamlet, neste Festival de Curitiba em 2013 no Teatro Bom Jesus.

É um trabalho que não está à altura do nome que o grupo de Natal (RN) conseguiu construir junto ao público e à crítica.

Os potiguares derraparam feio em sua tentativa de contar a história do príncipe que tenta vingar a morte de seu pai, o rei da Dinamarca, envenenado pelo tio…”

Hamlet, do grupo Clowns, nem de longe unanimidade.

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Veio da Coreia uma Mãe Coragem surpreendente

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA fez duas sessões no Festival de de Curitiba. Fotos: Ivana Moura

Nada que eu escreva aqui será suficientemente completo para descrever a beleza do espetáculo coreano Pansori Brecht UKCHUK-GA e a atuação sensacional da atriz/cantora JaRam Lee. Com a companhia Pansori Projects ZA, ela fez duas sessões no Teatro Positivo, dentro da programação do Festival de Teatro de Curitiba.

JaRam Lee assina o roteiro, as canções e também assume para si a tarefa de interpretar cerca de 20 personagens diferentes, que narram a padecida trajetória de Sun-Jeong Kim, baseada na Mãe Coragem, de Bertolt Brecht.

O pansori do título é um gênero de narrativa musical de tradição popular, que nasceu na Coreia no século 17, provavelmente como uma nova expressão das canções narrativas de xamãs. Em 2003 foi consagrado pela Unesco como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade. O canto expressivo, o discurso estilizado, um repertório de narrativas e gestos são características da manifestação. No espetáculo, JaRam Lee dá um toque mais contemporâneo e amplia de um para três o número de músicos.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Atriz/cantora JaRam Lee mostra a mudança de uma inocente mãe em uma fria negociante que vive da guerra

Da Guerra dos Trinta Anos, no século 17, a trama de Brecht é transposta para as legendárias guerras chinesas no período dos Três Reinos, no século 2. Durante o seu trajeto, Sun-Jeong Kim (que significa “obediente”) vai virar outra mulher. Ela é rejeitada pela família do marido com um bebezinho ainda de colo. Segue para outro lugar com a criança, onde encontra o segundo marido, que não lhe dá alegrias. O homem é viciado em bebida, jogos e mulheres. Ela o deixa e vai para outra região da China, onde conhece seu terceiro marido, que não é melhor que o segundo e ainda a maltrata.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Uma banda formada por três músicos, dois percussionistas e um baixista, acompanha a intérprete

Sozinha, ela luta para sobreviver com os três filhos. Muda seu nome para Anna, na intenção de mudar seu destino, e finalmente para Ukchuk, que significa “dura e implacável” em coreano.

O espetáculo é emocionante, com pitadas de humor e carregado de tristeza. O melhor de tudo é a atuação dessa grande artista mignon, mas de uma presença cênica exuberante. Quem não conferiu com os seus próprios olhos não pode fazer ideia da capacidade JaRam Lee se transformar com inflexões de voz, gestos plenos de cada personagem, andar e respirar diferente para cada um dos papéis. Ela interpreta o narrador, a protagonista Kim, seus três filhos, soldados, cozinheiro, e um fazendeiro.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

JaRam Lee assina o roteiro, as canções e se multiplica em cerca de 20 personagens diferentes

Um leque que ela segura quase o tempo todo faz algumas pontuações na transição de personagens. Leve e intenso. A artista explora a sutileza dos movimentos orientais e a profundidade da dor de uma mãe que perde seus três filhos. Ou a dureza de uma mulher que tira sobrevivência da guerra, da morte de outras pessoas, e passa a conhecer “por dentro” e em sua própria pele e coração o preço dessas batalhas insanas.

A atriz divide o palco com uma banda formada por três músicos, dois percussionistas e um baixista. Na cena praticamente vazia, ela conta com as cortinas ao fundo e com a iluminação para garantir o clima.

Carismática, ganha o público logo no começo da apresentação, ao explicar em coreano, com legendas em português, sobre o que é pansori. Ou ao agradecer a presença do público em português. “Estou muito feliz por estar com meu grupo neste lugar sorridente”. Para em seguida convidar: “venham brincar com a gente!”

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Montagem é apresentada em pansori, gênero de narrativa musical de tradição popular da Coreia

Com um sofisticado domínio técnico, JaRam Lee passa de um personagem a outro com mudança de voz e expressões faciais, com a utilização de pequenos objetos de indumentária, ou a batida do leque, que ela maneja com maestria.

O espetáculo oferece pelo menos dois momentos sublimes. Quando a protagonista, diante da cabeça cortada de seu segundo filho, nega conhecê-lo. É de uma determinação e dor profundas. Mas o que se segue funciona como uma verdadeira lâmina para cortar e extrair o que existe de humanidade em qualquer um. O seu choro desesperado pela perda do filho e pela negação de mãe vibra com a ação dos instrumentos da banda e faz o teatro trepidar. É comovente.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Nuances de voz, para distinguir os diversos papéis, e coreografia corporal enriquecem a encenação

O segundo momento é quando sua filha surda desafia os soldados para tentar salvar a comunidade. Ela bate o tambor para acordar a cidadela. Eles atiram no seu braço para tentar pará-la. Com o outro braço, a filha continua a bater mais alto. A atriz sobe numa rampa sobre o palco e a iluminação transforma o palco e a cortina do fundo em vermelho. O gestual é da personagem que a vida inteira se escondeu por trás da saia da mãe; é de revolta e de vingança, tudo que está lá em Brecht, com uma maneira de contar que vai no crescendo de uma atuação extraordinária.

Uma oportunidade rara de conhecer um pouco da cultura sul-coreana. Por cerca de duas horas e meia, com um intervalo de 15 minutos, os espectadores viveram uma experiência inédita de drama e poesia. JaRam Lee e seu grupo também ofereceram “makgeolli” (vinho de arroz da Coreia) para o público como parte dessa vivência.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Um dos momentos mais tocantes é o desespero da mãe ao perder seu filho e tê-lo renegado perante os soldados

Na primeira noite, pouco mais de 400 lugares foram ocupados das 2400 cadeiras da plateia do Teatro Positivo. Na segunda noite, com o boca a boca, esse número subiu.

Ao final, a artista levantou o polegar em sinal de aprovação, seguida por seus músicos. O público aplaudiu de pé. O grupo foi ovacionado. Ela voltou várias vezes ao palco. E quem esteve lá deve guardar na memória esse prodígio.

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Trama de Brecht é transposta para as legendárias guerras chinesas no período dos Três Reinos, no século 2

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Com um sofisticado domínio técnico JaRam Lee passa de um personagem a outro

espetáculo Pansori Brecht UKCHUK-GA. Foto: Ivana Moura

Espetáculo é emocionante

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“Um homem em cima do palco pensando”

Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier, substituiu o belga Kiss & Cry. Fotos: Daniel Isolani

Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier, substituiu o belga Kiss & Cry. Fotos: Daniel Isolani

Uma noite na lua é um espetáculo que fez muito sucesso com Marco Nanini no final dos anos 1990. A montagem com texto e direção de João Falcão utilizava recursos tecnológicos, como projeções, para contar a história de um lunático que persegue a peça perfeita, ou pelo menos sua primeira obra escrita. Mas na verdade tudo o que ele faz é para chamar a atenção de Berenice, sua ex- mulher. Seja no plano “real” ou dentro de sua cabeça, a figura busca uma explicação por ter sido largado.

Em 2012, depois de mais de um ano batalhando por patrocínio, Gregório Duvivier montou o mesmo texto de João Falcão, que também assina a direção, a movimentação de luz e as músicas. Desta vez o palco está nu e o intérprete está sozinho.

O monólogo entrou na programação do Festival de Teatro de Curitiba para substituir a montagem belga Kiss & Cry, espetáculo este que parte da pergunta “Para onde as pessoas vão quando desaparecem de nossas vidas?”. As mãos são os personagens principais dessa jornada de lembranças para reviver o primeiro amor de uma mulher. Intrigante.

Um rapaz ao meu lado falava ao telefone e comentava com sua interlocutora que havia comprado ingresso para a encenação belga. Como ela foi cancelada e ele não trocou o ingresso, foi conferir Uma noite na lua, que não sabia nem do que se tratava. Mas a meia casa do enorme Teatro Guaíra não era só de desavisados. Havia fãs de Duvivier e do trabalho que o ator desenvolve, inclusive na internet. Os admiradores foram parabenizar o intérprete depois da apresentação.

Luz do espetáculo funciona quase como personagem

Luz do espetáculo funciona quase como personagem

Bem, de qualquer forma, foi um desafio e tanto. O protagonista parte de uma frase “Um homem em cima do palco pensando” para criar diálogos com ele mesmo, que em sua cabeça se transformam em vários seres, todos eles no fundo lutando pelo amor de Berenice. São os fluxos de pensamento do personagem. E ele vive diversas emoções, desde a sensação de fracasso por ainda não ter concluído um único texto ou peça até culpar os grandes escritores que nasceram antes. Porque o nosso herói teria aquela ideia brilhante de Shakespeare ou de Garcia Lorca.

Nesse costurado de João Falcão, o ator percorre um caminho que parece um jogo em que ele pode avançar ou retroceder. No fundo é uma peça contemporânea sobre o amor, com doses generosas de humor e poesia. E que ganha o espectador ao mostrar as fragilidades do homem que precisa de sua Berenice para viver melhor.

Duvivier se entrega totalmente ao personagem e à cena. E elogia seu encenador (quando vou conversar com ele nos camarins) dizendo que João Falcão é o melhor diretor de ator do Brasil, que nada fica fora do lugar, que o Falcão amarra bem as cenas, com palavras, entonações e gestos.

Duvivier conquistou o troféu de “ator em papel protagonista” do 7º Prêmio APTR de Teatro, promovido pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro

Duvivier conquistou o troféu de melhor ator do 7º Prêmio APTR de Teatro

O miolo da peça é simples. O protagonista vai a uma festa (na esperança de encontrar Berenice) e num determinado momento oferece um texto a um jovem ator em ascensão. O ator topa a parada e diz que vai pegar a obra no dia seguinte. O problema é que não existe obra nenhuma. Ele não escreveu nada ainda.

O personagem enfrenta seus fantasmas, articula histórias sem lógica, que entram pela madrugada. É o show de Gregório Duvivier. Seus deslocamentos físicos traçam desenhos coreográficos no palco. Seu gestual tanto segue por momentos grandiosos quanto investe em mínimos detalhes, sempre com muita propriedade. A voz do ator é boa e ele traça modulações enquanto o tempo passa e o seu estado de espírito vai ganhando novas camadas. É uma interpretação potente, de um jovem de 26, que mereceu o troféu de “ator em papel protagonista” do 7º Prêmio APTR de Teatro, promovido pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro, que foi entregue na segunda-feira.

O rapaz do lado riu em alguns momentos, praticamente não se mexeu na cadeira e aplaudiu com entusiasmo ao final.

* A jornalista viajou a convite do Festival de Teatro de Curitiba

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Para que peça eu vou? Eis a questão.

Kiss and cry, um dos mais aguardados espetáculos do FTC, foi cancelado por problemas de transporte do cenário

Kiss and cry, um dos mais aguardados espetáculos do FTC, foi cancelado por problemas de transporte do cenário

Viver é fazer escolhas. Saber qual é a melhor, o tempo se encarrega de dizer. Às vezes a resposta vem rápida. Outras vezes esse retorno pode demorar um pouco mais. O discernimento chega um dia. No festival de Curitiba o ato de selecionar os espetáculos virou também uma prova. O trio de arbitragem (ops.) de curadores (Celso Curi, Lúcia Camargo e Tânia Brandão) põe a nossa capacidade de optar à prova.

Para se ter uma ideia, só no primeiro dia da mostra oficial eram quatro opções. Com a saída da peça belga Kiss & Cry, por problemas de transporte dos equipamentos, entrou no seu lugar Uma noite na lua, com o ator Gregório Duvivier. Além dela, concorria na minha grade a estreia de Parlapatões revisitam Angeli. Visitei a exposição em homenagem ao cartunista que esteve em cartaz no Itaú Cultural. O conjunto da obra é deslumbrante, com toda carga de humor, poesia e irreverência desse polêmico artista.

 Parlapatões revisitam Angeli teve o cartunista na plateia. Foto: Ernesto Vasconcelos

Parlapatões revisitam Angeli. Foto: Ernesto Vasconcelos

No palco, um encontro com os personagens do cartunista Rê Bordosa, Meia Oito, Bob Cuspe, Bibelô, Moska e Os Escrotinhos. A trilha da montagem é do titã Branco Mello em parceria com Emerson Villani. E pra piorar o meu drama, o ator Raul Barretto, disse que vai demorar para que o espetáculo entre em cartaz. A trupe formada por ele e mais Paula Cohen, Hugo Possolo, Rodrigo Mangal e Hélio Pottes só vai fazer duas apresentações em São Paulo (num período em que não estarei lá) e retoma a circulação do repertório do grupo pelo Brasil. Além disso o próprio Angeli estaria na plateia (e esteve). Criador e criaturas, um raro encontro.

Cine monstro versão 1.0 com Enrique Diaz, possivelmente a mais experimental dessa leva do primeiro dia, é outra coprodução do Festival de Teatro de Curitiba e do Instituto Itaú Cultural (Parlapatões também), e expõe o processo de criação do espetáculo Monstro. O ator assume diversos personagens.

O mestre das relações miúdas,  Daniel Veronese, se junta ao o grupo Espanca!. em O líquido tátil. Foto: Guto Muniz

O mestre das relações miúdas, Daniel Veronese, se junta ao grupo Espanca! em O líquido tátil. Foto: Guto Muniz

E ainda O líquido tátil, uma montagem do grupo Espanca!. A parceria da trupe mineira com o diretor/dramaturgo argentino Daniel Veronese é daqueles encontros felizes. Grace Passô interpreta uma atriz decadente que largou o palco pelo casamento. Marcelo Castro faz o marido, o obtuso Peter, um intelectual que defende o teatro como arte sublime, e o irmão dele, o confuso Michael, um ator em crise seduzido pelo cinema, defendido por Gustavo Bones. Metalinguagem da criação teatral e reflexão sobre o artístico. Mas essa montagem eu vi no Festival de Teatro da Bahia.

Fiquei com Uma noite na lua, porque é de João Falcão. Acho que fiz a escolha certa para mim.

Grande expectativa para as apresentações da peça coreana Pansori Brecht – Ukchuk-Ga

Grande expectativa para as apresentações da peça coreana Pansori Brecht – Ukchuk-Ga

Mas a brincadeira de escolher continua. Além dos Parlapatões, Cine Monstro e O líquido tátil, são apresentados hoje Pansori Brecht Ukchuk-Ga, da Coreia, com roteiro, canções e interpretação de Ja Ram Le; A marca d’água, da Armazém Companhia de Teatro, com direção de Paulo de Moraes. Além de Os bem intencionados, com o Lume Teatro, texto e direção da mineira Grace Passô. A peça trata das motivações de aspirantes a artistas nestes tempos de celebridades instantâneas.

Vou conferir a companhia sul-coreana Pansori Project ZA’s. Os argumentos do jornalista Ruy Filho, da revista virtual de teatro e política cultural Antro Positivo me convenceram. Ele disse que o espetáculo Pansori Brecht – Ukchuk-Ga, apresentado no último final de semana no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, o levou “ao mais profundo do teatro, da arte, da alma humana e de Brecht”.

Talvez escreva um pouco mais sobre o quebra-cabeça que é selecionar os espetáculos. Ou não…

Imagino o trabalhão que a equipe curatorial teve.

Mas se todas as minhas dúvidas fossem essas, escolher quais espetáculos assistir, a vida seria uma delícia sem fim…

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