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Um teatro contra o machismo

Trupe Ensaia Aqui e Acolá estreia Machuca, com relatos reais sobre a violência contra a mulher. Foto: Bella Valle

Trupe Ensaia Aqui e Acolá estreia Machuca, com relatos reais sobre a violência contra a mulher. Foto: Bella Valle

Em abril, 126 mulheres foram estupradas em Pernambuco e registrados 2.485 casos de violência doméstica. No mês anterior, houve 174 estupros e 2.929 ocorrências de agressão. Esses dados alarmantes são oficiais, da Secretaria de Defesa Social – SDS, do estado. Crimes inadmissíveis que se repetem pelo Brasil afora. É dessa realidade torturante, que envergonha a humanidade, que a Trupe Ensaia Aqui e Acolá buscou inspiração para erguer o espetáculo Machuca, que estreia nesta sexta-feira (19), às 20h, no Teatro Capiba, Sesc de Casa Amarela, onde fica em curta temporada nos dias 19, 20 e 21 e também 26, 27 e 28. Contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2015, Machuca terá outras cinco apresentações em espaços públicos e uma na Colônia Penal Bom Pastor para as mulheres que cumprem medidas socieducativas.

O grupo investiga histórias reais para estimular o debate sobre o machismo, a cultura do estupro e o patriarcalismo. São casos que enxovalham, arranham, mortificam, subjugam, esmagam física e psicologicamente corpos femininos.

Seja na espetacularização da morte de Eliza Samudio, o apedrejamento de Dandara dos Santos no meio da rua ou o apagamento da dor de Severina, estuprada pelo pai.

Não está fácil ser mulher e se exercer neste século 21, em que o assédio é contabilizado em oito vezes num trajeto de quinze minutos e a repetição de padrões machistas tenta coisificar a mulher. É uma guerra diária contra a misoginia, o racismo e o machismo entranhados na sociedade.

A montagem junta notícias baseadas em histórias verídicas vivenciadas por mulheres de classes sociais e experiências diversas. De casos com grande repercussão midiática e também relatos anônimos. Todos que deixaram marcas profundas de violências dessa sociedade patriarcal carcomida.

Com direção de Ceronha Pontes, Machuca tem elenco formado pelas atrizes Andrea Rosa, Iara Campos e Juliana Montenegro. Elas selecionaram fatos reais, deram um tratamento dramatúrgico e amplificaram a crueldade do machismo. A narrativa é reforçada com discursos de referências feministas como Karol Conka, Nísia Floresta Brasileira, Elizabeth Mia, Djamila Ribeiro, Ângela Davis e Maria Clara Araújo.

É uma peça política e toma partido das mulheres. Machuca é um espetáculo de denúncia, assumidamente feminista e pautado numa palavra que está muito em uso, a sororidade. Durante muito tempo, e ainda hoje, a sociedade machista e patriarcal incitou e propagou a rivalidade entre as mulheres, propalando julgamentos e afirmando estereótipos. A sororidade prega justamente o contrário. A sororidade carrega a ideia de “irmandade” entre as mulheres; uma cumplicidade, companheirismo, aliança do feminino – em dimensão ética, política e prática – na busca de transformar o mundo num lugar mais justo.

Machuca é o terceiro espetáculo da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, que já montou Rififi no Picadeiro (2007), para a infância e juventude, e o melodrama O Amor de Clotilde Por Um Certo Leandro Dantas (2010).

Peça tem direção de Ceronha Pontes e Andrea Rosa, Julliana Montenegro e Iara Campos no elenco. Foto: Bella Valle

Peça tem direção de Ceronha Pontes e Andrea Rosa, Julliana Montenegro e Iara Campos no elenco. Foto: Bella Valle

Ficha Técnica

Direção: Ceronha Pontes
Elenco: Andrea Rosa, Iara Campos e Julliana Montenegro
Dramaturgia: Ceronha Pontes e Trupe Ensaia Aqui e Acolá
Direção de movimento: Íris Campos
Preparação vocal: Carlos Ferrera
Figurino e Cenário: Marcondes Lima
Cenotécnicas: Bee Freitas e Luciana Montenegro
Execução de figurino: Maria Lima
Iluminação: Dado Sodi
Trilha sonora original: Júlio Morais
Voz em Dandara: Kalina Adelina, sob orientação de Lucíola dos Santos
Voz em Severina: Ceronha Pontes
Voz em Não nasci para ter senhor: Carlos Ferrera
Todas as músicas criadas por Júlio Morais, exceto Guerreiras, letra e música de Ceronha Pontes e Não nasci para ter senhor letra de Ceronha Pontes e música de Júlio Morais.
Locução futebol: Tatto Medinni
Locução carro de som: Marcelo Oliveira
Programação visual e design: Aurora Yett
Fotos: Bella Valle
Assessoria de imprensa: Lenne Ferreira/Afoitas, Priscila Buhr/Afoitas e Guilherme Gatis
Produção executiva: Igor Travassos
Direção de Produção: Andrea Rosa, Iara Campos e Julliana Montenegro
Produção: Trupe Ensaia Aqui e Acolá

Serviço

Machuca no Teatro Capiba
Dias 19, 20 e 21 e 26, 27 e 28
Sextas e sábados às 20h
Domingos às 19h

Apresentações com Libras: Dias 20 e 21 (sábado e domingo) e 26 (sexta)
Apresentação com audiodescrição: Dia 27 (sábado)

Apresentações na rua
Sempre às 16h
23/05 – Praça do Diário
24/05 – Praça da Encruzilhada
25/05 – Morro da Conceição
30/05 – Ilha de Deus
01/06 – Jardim São Paulo

Apresentação na Colônia Penal Bom Pastor
31/05, às 14h

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Nos territórios da delicadeza

Alaíde Costa e Gonzaga Leal no show Porcelana, dirigido por Ceronha Pontes. Foto: Geórgia Branco

Alaíde Costa e Gonzaga Leal no show Porcelana, dirigido por Ceronha Pontes. Foto: Geórgia Branco

Há mais de uma década a parceria entre a carioca Alaíde Costa e o pernambucano Gonzaga Leal é nutrida em encontros anuais, em shows e resultou no CD Porcelana, um presente de aniversário de Gonzaga Leal a Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, quando ela fez 80 anos (a moça nasceu em 8 de dezembro de 1935). O encontro musical entre os dois começou em 2006, quando a cantora foi convidada para participar do álbum E o Nosso Mínimo é Prazer. Desde então, ela dá brilho à carreira dele e ele alavanca a dela.

O repertório de Porcelana, marcado para esta quarta-feira no Teatro de Santa Isabel, é formado por pepitas garimpadas por Leal para celebrar o bom da MPB. Capiba, Zé Miguel Wisnik, Caetano Veloso, Alceu Valença, Consuelo de Paula, Socorro Lira, João Cavalcanti, entre outros.

Alaíde passeia há 60 anos por uma trilha musical eclética. João Gilberto a convidou para a patota da bossa nova quando a ouviu no estúdio, gravando seu segundo 78 rotações. Negra, suburbana da Zona Norte, Alaíde Costa destoava do perfil dominante dos bossanovistas brancos, abastados da Zona Sul carioca . Mas compôs em parceria com Tom Jobim Você é amor, e Amigo Amado, com Vinicius de Moraes, entre outros. Também foi acolhida na seleta confraria predominantemente mineira do Clube da Esquina, e fez um antológico dueto com Milton Nascimento em Me Deixe em Paz, gravação no álbum Clube da Esquina, de 1972.

Com sua sensibilidade, Leal sabe identificar e explorar preciosidades musicais como poucos. Em Porcelena, os dois sacam Quando Um Amor Vai Embora, de Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba; Divinamente Nua, a Lua, parceria de Caetano Veloso com Orlando Morais. Também exibem outra versão de Solidão, de Alceu Valença; Delicado, da paraibana Socorro Lira; Água Doce, de Consuelo de Paula; Fim do ano, de Zé Miguel Wisnik e Swami Jr. e incorporam o sotaque português de Zeca Afonso com O Meu Menino É D’oiro.

O time de músicos – Maurício Cesar (piano), Cláudio Moura (violão), Alexandre Rodrigues (clarinete e sax), Adilson Bandeira (clarinete), Aristide Rosa (viola nordestina), Fabiano Menezes (violoncelo), Júlio César Mendes (acordeon), Marcos FM (contrabaixo), Tomás Melo e George Rocha (percussão) – garante que a voz suave e sussurrada de Alaíde Costa flutue. E sublinha o melhor do canto de Gonzaga.

Ficha Técnica
Repertório e intérpretes: Alaíde Costa e Gonzaga Leal
Direção cênica, roteiro, cenografia e figurino dos artistas e músicos (estilo): Gonzaga Leal
Assistente de direção cênica: Ceronha Pontes
Direção musical e regência: Cláudio Moura
Arranjos: Maurício César, Adilson Bandeira e Marcos FM
Criação de luz e operação: Cleison Ramos
Vídeo: Ítalo Lima
Técnico de som: Júnior Evangelista
Roadie: Josué Silva
Produção geral: Jorge Féo
Músicos: Maurício Cesar (piano), Cláudio Moura (violão), Alexandre Rodrigues (clarinete e sax), Adilson Bandeira (clarinete), Aristide Rosa (viola nordestina), Fabiano Menezes (violoncelo), Júlio César Mendes (acordeon), Marcos FM (contrabaixo), Tomás Melo e George Rocha (percussão)

SERVIÇO
Porcelana – Alaíde Costa e Gonzaga Leal
Onde: Teatro de Santa Isabel
Quando: 18 de janeiro, às 20h
Quanto: R$: 40,00 (Inteira) | 20,00 (Meia)

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Camille Claudel em São Paulo

Ceronha Pontes, atriz cearense radicada no Recife, interpreta Camille Claudel. Foto: Marcio Resende

Ceronha Pontes, atriz cearense radicada no Recife, interpreta Camille Claudel. Foto: Marcio Resende

A atriz Ceronha Pontes traz sua Camille Claudel para curtíssima temporada em São Paulo, de hoje (18) a sexta-feira (21), às 21h, no Espaço Viga, em Pinheiros. Internada em um manicômio por três décadas, onde morreu em 1943, aos 79 anos, Camille viu sua genialidade aprisionada. Um espírito livre e revolucionário, abafado pela relação abusiva com Rodin, por uma sociedade hipócrita, pelo tolhimento das suas potencialidades. O trabalho, que toca diretamente em questões como arte e loucura, também trata do preconceito de gênero, do qual a artista foi vítima em várias escalas.

O espetáculo, estreado em 2006, já rendeu à atriz, cearense radicada no Recife, os prêmios de melhor atriz, iluminação e prêmio especial pelo texto no Festival de Guaramiranga. Assinando dramaturgia, direção e atuação, Ceronha Pontes assimila no próprio corpo muitas das obras da escultora, o seu tormento, a sua paixão. “O que nos mobiliza é o clamor de Camille ecoando há mais de um século: ‘exijo em altos brados a minha liberdade’. E são muitas vozes fazendo coro. Porque Camille e sua tragédia pessoal iluminam outras tantas e tantos igualmente impedidos de exercerem a própria natureza”, assinala Ceronha Pontes.

Embora a dramaturgia não seja cronológica, a história passeia por cenários como Villeneuve, território da infância, seu ateliê, o de Rodin, o manicômio. Esquecida pela família, inclusive por seu irmão Paul Claudel, Camille foi vítima de uma sociedade que não conseguia lidar com a obra e o gênio dessa mulher. O barro é um elemento de cena fundamental na construção da trajetória dessa personagem, acusada de reproduzir as obras do seu professor e amante, o escultor Auguste Rodin. Na realidade, Rodin tinha medo do talento de Camille, receio de ser superado por sua amante. A obra de Camille só foi reconhecida de fato depois da sua morte.

Camille Claudel está em circulação pelo prêmio Myriam Muniz.

Serviço:
Camille Claudel, com Ceronha Pontes
Quando: de terça (18) a sexta-feira (21), às 21h
Onde: Espaço Viga (Rua Capote Valente, 1323, Pinheiros, São Paulo)
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (11) 3801-1843

Camille foi vítima de uma sociedade que não aceitava a genialidade de uma mulher

Camille foi vítima de uma sociedade que não aceitava a genialidade de uma mulher

A escultora francesa resistiu por 30 anos dentro de um manicômio

A escultora francesa resistiu por 30 anos dentro de um manicômio

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Ossos faz temporada no Teatro Barreto Júnior

 

Marcondes Lima, o diretor, interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

Marcondes Lima, o diretor, interpreta Estrela no espetáculo. Foto: Divulgação

Ossos é o quinto espetáculo do Angu de Teatro, Coletivo pernambucano com 13 anos de existência. O terceiro da letra de Marcelino Freire – Angu de Sangue e Rasif – Mar que arrebenta são os outros dois. Além de Ópera, de Newton Moreno e Essa febre que não passa, de Luce Pereira. Todos com direção de Marcondes Lima, sendo Essa febre em parceria com André Brasileiro. Ossos narra uma história de amor e suas perversidades. O amor que move para a mudança, que traz a estagnação e a infertilidade afetiva, que lança para a morte.

O dramaturgo Heleno de Gusmão é o protagonista dessa peleja que começa em Sertânia, Sertão pernambucano, passa por Recife e chega a São Paulo e faz o caminho de volta. A estrutura da peça não segue uma linha cronológica, mas traça círculos, dá saltos, inunda de lembranças e de uma atmosfera fantástica.

A montagem volta à cena para uma segunda temporada, desta vez no Teatro Barreto Júnior, neste 19 de Agosto e fica em cartaz até 25 de Setembro, às sextas e sábados, sempre às 20h e domingo às 19h30. A primeira temporada ocorreu no Teatro Apolo.

Coro de Urubus. Foto: Divulgação

Um coro de Urubus pontua a narrativa, Urubus, sabemos, são aves de rapina necrófogas. Existem sete espécies e cinco delas circulam no Brasil. É possível observar essas aves planando sob o céu das cidades, pousando no alto de prédios, ou esquadrinhando os lixões em busca de material orgânico, pois são capazes de eliminar desde carcaças até ossos. Eles têm olfato apurado, estômago privilegiado apto a processar até carne podre e um sistema imunológico invejável. Esses faxineiros da natureza são incompreendidos. Até Charles Darwin, quando visitou a América em 1832 teria comentado: “São aves nojentas, que se divertem na podridão”.

Os Urubus da ficção de Marcelino Freire e Marcondes Lima comentam os acontecimentos da peça, são experts em dar matacão uns nos outros. Às vezes se aproximam dos personagens do teatro infantil ou dos desenhos animados e as vezes cansam ao expor de forma tão crua os sentimentos humanos. E apesar do trabalho difícil que exercem  da fama, eles também amam.

O espetáculo se desenvolve em vários cenários; nos guetos paulistanos do negócio do sexo,  nas esquinas dos michês, nos bastidores de um teatro amador, no interior de Pernambuco onde os ossinhos de bois são material para nutrir a imaginação do futuro escritor, na estrada de volta para à terra natal.

A encenação explora os acontecimentos sob a ótica do protagonista, o dramaturgo Heleno de Gusmão. Seus fragmentos de memória que aparecem como sonho ou um estado hiper-real. Ele fala diretamente ao público ou atua nas suas recordações ou projeções, às vezes de forma distorcida.

A iluminação de Jathyles Miranda é fundamental para impor esse clima que vagueia entre traços expressionistas. Sombras produzem formas bizarras e deformidades visuais, colaborando para o rompimento de continuidade de cena e aproximando de um processo cinematográfico de sobreposições, fusões de cenas e cortes secos.

O universo LGBT é mostrado sem maquiagem, os sonhos, as carências, e o lado sentimental de figuras marginalizadas com o garoto de programa e a travesti. E ergue o caráter político da existência e posicionamento das minorias aflitas no mar do consumismo. A peça é carregada de humor, às um humor doído.

E não podemos esquecer da trilha sonora do músico pernambucano Juliano Holanda, uma obra que merece levar uma vida autônoma por sua qualidade intrínseca. E que no espetáculo transborda em meio a tantos signos.

A montagem de Ossos é patrocinada pelo prêmio Myriam Muniz da FUNARTE – Ministério da Cultura – Governo Federal.

André Brasileiro (C) faz o papel do dramaturgo Heleno Gusmão. Foto: Divulgação

André Brasileiro (C) faz o papel do dramaturgo Heleno de Gusmão. Foto: Divulgação

 

Ficha Técnica
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Ryan Leivas (Ator stand in) e Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Operação de Som: Sávio Uchôa
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

SERVIÇO

OSSOS, de Marcelino Freire, pelo Coletivo Angu de Teatro
Quando: Temporada de De 19/08 a 25/09; Sextas e sábados, às 20h, Domingos, às 19h30
Onde: Teatro Barreto Júnior
Ingressos: R$30,00 inteira / R$15,00 meia-entrada
Classificação indicativa: 16 anos

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Despedida do espetáculo Ossos

Marcondes Lima e André Brasileiro na montagem Ossos. Foto: Ivana Moura

Marcondes Lima e André Brasileiro na montagem Ossos. Foto: Ivana Moura

Últimas sessões do espetáculo Ossos, do Coletivo Angu de Teatro. Hoje às 18h e 21h e amanhã (domingo), às 19h. A peça tem texto de Marcelino Freire e direção de Marcondes Lima, que também está no elenco. Ainda estão no palco os atores André Brasileiro, Arilson Lopes, Ivo Barreto, Daniel Barros e Roberio Lucado. A trilha sonora original é do talentoso Juliano Holanda.

A montagem eletriza os nervos em algumas questões, como o abandono amoroso que pode atingir qualquer um; a vida de zumbi depois do cadafalso afetivo; o envolvimento carnal com o comércio de sexo, o destino inexorável e o orgulho besta de alguns, que terminam em ossos e pó sem escapatória. As vaidades expostas em lente de aumento soam ridículas, mas profundamente humanas. Todos estão mortos, aponta um urubu para a plateia.

A encenação percorre a trilha do dramaturgo Heleno de Gusmão, que saiu de Sertânia rumo ao Recife, onde começou a fazer teatro e se mudou para São Paulo nas pisadas do namorado e na busca de êxito. A montagem de Marcondes Lima trabalha com o texto já fragmentado de Marcelino Freire. As cenas tecem um ziguezague da trajetória desse artista desiludido com a vida e o sucesso.

ossos. Coro de urubus. Foto Ivana Moura

Coro de urubus. Foto Ivana Moura

O amor fede e não tem bons sentimentos grita o coro de urubus no bailado insano e às vezes desconjuntado, exercendo a função de lembrar que essas existências tão orgulhosas de si mesmas valem muito pouco. Alimento deles. A morte está sempre à espreita.

Um homossexual de meia idade é o protagonista dessa peça triste com rasgos de irônicas gargalhadas. O intelectual nordestino que venceu na cidade grande, mas que busca nos becos sujos e nos garotos de programa a razão para continuar vivo.

Ossos disseca os traumas do desejo. Uma libido que foge ao controle do letrado. Muitas histórias parecidas nesse sentido. De muitos outros intelectuais.

A cena planejada pelo iluminador Jathyles Miranda é escura. São recônditos psíquicos, becos da paixão que não aceitam a plena luz. Os holofotes jogados do palco para a plateia é um traço propositalmente incômodo. Os sujeitos da peça se movimentam em suas ilusões de grandeza desfocados. Ambientes distorcidos vão se transformando em sala de ensaio, casa de Estrela, carro funerário, quarto, ruelas.

Ouvi gente reclamar da mimetização do coito dos dois amantes no palco. Algumas cenas exercem marco político. Além de muito interessante, traça um posicionamento. Numa época em que os direitos das chamadas minorias correm riscos, em que a intolerância recrudesce, a cena é defesa do gozo para todos, do jeito que se queira.

O espetáculo esbanja testosterona. Nos corpos dos personagens michês principalmente. E celebra o teatro poeticamente, mas lembrando que é duro chegar ao tutano.

ossos. Daniel Barros e Robério Lucado interpretam garotos de programa. Foto: Ivana Moura

Daniel Barros e Robério Lucado interpretam garotos de programa. Foto: Ivana Moura

SERVIÇO
Ossos, do Coletivo Angu de Teatro
Quando: Sextas, às 20h, sábados, às 18h e às 21h e aos domingos, às 19h
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Informações: 3355-3321

FICHA TÉCNICA
Texto: Marcelino Freire
Direção: Marcondes Lima
Direção de arte, cenários e figurinos: Marcondes Lima
Assistência de direção: Ceronha Pontes
Elenco: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima, Robério Lucado
Trilha sonora original – composição, arranjos e produção: Juliano Holanda
Criação de plano de luz: Jathyles Miranda
Preparação corporal: Arilson Lopes
Preparação de elenco: Ceronha Pontes, Arilson Lopes
Coreografia: Lilli Rocha e Paulo Henrique Ferreira
Coordenação de produção: Tadeu Gondim
Produção executiva: André Brasileiro, Fausto Paiva, Arquimedes Amaro, Gheuza Sena e Nínive Caldas
Designer gráfico: Dani Borel
Fotos divulgação: Joanna Sultanum
Visagismo: Jades Sales
Assessoria de imprensa: Rabixco Assessoria
Técnico de som Muzak – André Oliveira
Confecção de figurinos: Maria Lima
Confecção de cenário e elementos de cena: Flávio Santos, Jorge Batista de Oliveira.
Operador de som e luz: Fausto Paiva / Tadeu Gondim
Camareira: Irani Galdino

 

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