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Grandezas negativas da política

Tablado de Arruar traça trajetória do PT para expor barbárie na política. Foto:

Tablado de Arruar traça trajetória de partido de esquerda para expor barbárie na política. Foto: Cacá Bernardes 

Qual o preço ético para se chegar ao poder? O que está em jogo? E que tipos de mudanças um partido político de esquerda precisa fazer para atingir esses objetivos? A montagem do grupo Tablado de Arruar, de São Paulo, trata desse percurso, da realidade política e da crise vivenciada pelo PT nos últimos anos. A Trilogia Abnegação está dividida nas peças Abnegação I, que trata sobre poder e política no Brasil de forma mais difusa. Abnegação II é sobre os trâmites da política e o PT a partir do caso da morte do Celso Daniel. Em Abnegação III são expostos fragmentos, narrativas entrecruzadas, trechos de histórias e personagens envolvidos com a política. E o que sobrou depois das fissuras.

A Trilogia Abnegação focaliza o declínio dos setores progressistas da sociedade e o avançar da direita, no Brasil e no mundo.  Há discursos cínicos de várias figuras da malha social e não só   políticos, truculência nas ações e um clima de insegurança na vida real. Isso fricciona com os assuntos das peças, que traçam suspeição de pactos, traições e suspeitas de crimes.

Apesentada de hoje a quarta-feira, dentro da programação do Trema! Festival de Teatro.  As peças tratam de política e políticos brasileiros (e seus pares de outras profissões), alguns que já foram militantes comprometidos com a utopia de justiça para o coletivo.

Vivemos em tempos de muitas guerras. De nervos, de narrativas. Confrontos físicos nos espaços públicos e uma defesa de interesses privados como sendo público. A realidade é um caleidoscópio em que cada vertente tenta impor sua versão, apagar imprecisões , convencer com o interpretações esdrúxulas das leis ou pela constante repetição de algumas notas pela mídia, que aceitou esse papelão.

O dramaturgo Alexandre Dal Farra e o grupo Tablado de Arruar eletrizam temas polêmicos. Em Mateus, 10, de 2012, eles se lançaram nas questões da fé e sua relação com a sociedade. Abnegação leva à cena as contradições do circuito de poder nos bastidores da política.

Com texto de Dal Farra, que divide a direção com Clayton Mariano, a Abnegação I aborda as relações de poder. Mas não se sabe exatamente sobre o que eles falam, mas dá uma sensação que é em relação à política brasileira.

A encenação minimalista joga a carga no trabalho dos atores para criar de uma atmosfera abarrotada de armadilhas, intrigas e infidelidades. No fim de uma festa, numa reunião madrugada a dentro, cinco personagens ligadas à estrutura de poder debatem sobre o o que deverá ser feito, pois um ocorrência do passado veio à tona. E as decisões podem ter consequências trágicas. Regados a muita bebida, as discussões são permeadas por danças ao som de hits sertanejos e brigas, até a decisão final.

SERVIÇO

Abnegação I
8 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho
Abnegação II – o começo do fim
9 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho
Abnegação 3 – restos
9 de maio, 20h – Teatro Hermilo Borba Filho

Ficha técnica:
Texto: Alexandre Dal Farra
Direção: Clayton Mariano e Alexandre Dal Farra
Com: Alexandra Tavares, André Capuano, Carlos Morelli, Vinícius Meloni e Vitor Vieira.
Direção de arte: Eduardo Climachauska
Assistente de direção: Ligia Oliveira
Preparação corporal: Lu Favoreto
Provocadora: Cibele Forjaz
Figurino: Melina Schleder
Trilha sonora: Alexandre Dal Farra
Iluminação: Francisco Turbiani
Assistente de iluminação: Marcela Katzin
Direção de produção: Carla Estefan
Assistente de produção: Ariane Cuminale
Assessoria de imprensa: Arteplural Comunicação. Fernanda Teixeira e Adriana Balsanelli
Foto divulgação: Cacá Bernardes
Desenho gráfico: Vitor Vieira

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Macbeth em essência

<i>Macbeth</i>. Fotos: Pollyanna Diniz

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O general Macbeth volta vitorioso de uma guerra. Em recompensa é condecorado pelo rei Duncan, da Escócia. As bruxas fazem vaticínios a respeito do futuro de Macbeth e anunciam que ele será rei. Banquo, outro general do exército do rei Duncan, recebe a notícia de que não será rei, mas pai de uma poderosa dinastia. Macbeth fica insuflado pelas profecias das bruxas e a ideia do assassinato lhe perturba o espírito; e, instigado pela mulher, a pérfida Lady Macbeth, mata o rei e assume o trono. Depois tece uma fileira de crimes. A trama revela o lado mais perverso do homem. O enredo é conhecido e cada encenador o conduz da sua forma.

Macbeth é considerada a peça mais soturna de William Shakespeare (1564-1616). A tragédia deve ter sido escrita entre 1603 e 1607, com a primeira encenação em 1611. Nessa época, as mulheres não atuavam no teatro. Gabriel Villela, diretor da montagem apresentada neste fim de semana no Teatro de Santa Isabel, optou por um elenco somente de homens, como ocorria nas encenações shakespearianas. Dessa forma, o casal Macbeth é interpretado por Marcello Antony e Claudio Fontana, que dividem a cena com Helio Cicero, Marco Antônio Pâmio, Carlos Morelli, José Rosa, Marco Furlan e Rogerio Brito. Os intérpretes são maduros e o elenco é harmonioso.

A encenação de Gabriel Villela é compacta. O diretor cria um narrador (Carlos Morelli), inexistente no Macbeth original. A montagem valoriza a narrativa e o narrador convoca o espectador a imaginar. O narrador traz um livro na mão, e é como se a encenação saísse das páginas daquele livro. A tradução do inglês de Marcos Daud opta pela prosa direta e isso facilita uma narrativa límpida.

O espetáculo tem uma teatralidade bem demarcada. Villela reduziu as situações dramáticas. A movimentação coreográfica dos atores cria uma beleza e traça desenhos no palco e de postura. O corpo e os gestos são contidos. A utilização de recursos do teatro Nô japonês permite que algumas ações sejam apenas sugeridas. O sangue vertido aparece na forma de fiapos de lã vermelha. O diretor nesta montagem prioriza o texto e a poética de Shakespeare. As bases centradas na voz dos atores e nas palavras do bardo inglês.

Para regular a voz, o encenador contou em sua equipe com a italiana Francesca Della Monica, que desenhou a concepção de voz do espetáculo. Ela desenvolveu uma prática que denomina de antropologia da voz e que articula a espacialização da voz e de abertura da textura vocal para o campo dos mitos. A ideia é que a plateia desenhe as imagens enquanto ouve os atores. Mas tem muito mais gente nos bastidores para garantir a clareza desse belo espetáculo. Babaya é responsável pela direção de texto. A musicalidade da cena ficou a cargo de Ernani Maletta. Gabriel Villela contou com três assistentes de direção, César Augusto, Ivan Andrade e Rodrigo Audi.

Marcello Antony dá o texto sem nenhum coloquialismo. Da sua boca saem palavras graves e fortes e sua postura apresenta a deterioração do espírito do seu personagem. Claudio Fontana interpreta Lady Macbeth com brilhantismo. Ele evita a caricatura e o falsete. E o resultado é impressionante. Fontana se apropria da imagem de uma gueixa. O ator expressa feminilidade deslizando pelo palco. Ele usa uma máscara branca de gueixa e uma túnica negra esvoaçante. Marco Antônio Pâmio está forte na pele de Banquo. Rogerio Brito, Marco Furlan e José Rosa fazem as três bruxas e arrancam humor e ironia de várias situações.

O figurino tem muito de Gabriel Villela e ele assina o figurino em parceria com Shicó do Mamulengo, que também esteve com o diretor na montagem Sua Incelença, Ricardo III. A indumentária de guerra (coletes, armaduras e escudos) foi confeccionada a partir de 30 malas antigas de couro e papelão.

Pilares compostos a partir de teares mineiros sobrepostos formam uma grande torre. O cenário é de Marcio Vinicius. As cadeiras que ocupam o centro do palco em algumas cenas são de um cinema desativado de Carmo do Rio Claro, cidade natal do diretor. A iluminação é de Wagner Freire e a direção de movimento de Ricardo Rizzo.

Foram três apresentações de Macbeth no Recife, no Teatro de Santa Isabel, com casa lotada. Um ótimo Gabriel Villela. E como já disse Shakespeare: “A vida não passa de uma história cheia de som e fúria, contada por um louco e significando nada”.

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O preço do poder

Cláudio Fontana e Marcello Anthony em cena de <i>Macbeth</i>

Macbeth assassina o rei para tomar o poder. Em outras proporções esse tipo de coisa continua ocorrendo nos dias de hoje. Na montagem de Gabriel Villela, Lady Macbeth é defendida pelo ator Cláudio Fontana, que foi buscar na imagem da gueixa o porte e o movimento para deslizar em cena. Sua personagem é ao mesmo tempo leve, delicada, mas maldosa, com uma energia negativa poderosa.

Como ocorria na época do autor (teatro elisabetano), o elenco de Macbeth é formado apenas atores homens. Marcello Antony faz o papel de Macbeth, um herói que transforma-se em vilão. Após salvar a Escócia e chegar mais perto do poder e do trono, Macbeth interfere na ordem natural dos acontecimentos e assassina o rei escocês para tomar a coroa, persuadido por sua ambiciosa e cruel esposa Lady Macbeth. Como se outro crime pudesse limpar a mancha pelo assassinato cometido, inicia uma sequência de crimes.

A tragédia Macbeth fica em cartaz de hoje a domingo, às 20h, no Teatro de Santa Isabel.

O mineiro Gabriel Villela já encenou outros Shakespeare: Romeu e Julieta, com o grupo Galpão e Sua Incelença, Ricardo III, Com Clowns de Shakespeare. Além da tradição do teatro elisabetano, Gabriel Villela trabalha com a presença de um narrador, defendido por Carlos Morelli. O diretor fez cortes e adaptou o texto de 20 personagens para uma realidade de oito atores em cena. Os atores dobram os papéis. A tradução do texto é de Marcos Daud.

No roteiro, a única música é da ópera Dido e Eneas, cantada pela italiana Francesca Della Monica, responsável também pela preparação vocal dos atores e que apresentou técnicas de antropologia vocal, uma novidade no teatro brasileiro.

Macbeth
Quando: Sexta-feira (16) a domingo, às 20h Hoje (16) e sábado(17), às 21h; e domingo (18), às 20h
Onde: Teatro de Santa Isabel
Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (plateia e frisas) – R$ 80 e 40 (camarotes e torrinha)

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