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Sábado à noite tem teatro

Em nome do jogo. Foto: Guga Melgar/Divulgação

Em nome do jogo. Foto: Guga Melgar/Divulgação

O texto original da peça Em nome do jogo, intitulado Sleuth, foi escrito em 1970 pelo inglês Anthony Shaffer. Além de várias montagens no teatro, ganhou duas versões cinematográficas: em 1972, com Laurence Olivier e Michael Caine; e em 2007, com Michael Caine e dessa vez Jude Law. O texto e os filmes foram bastante premiados – a lista inclui o prêmio Tony de melhor peça.

É um texto inteligente, de suspenses e reviravoltas. E aqui ainda ganhou as pitadas de humor nas tiradas sobre casamento, relacionamento e o quanto uma mulher pode ser cara para um homem. Nem precisava tanto para que a plateia do Teatro da UFPE desse risada no sábado à noite – logo no início do espetáculo, nos primeiros movimentos do ator Marcos Caruso (sim, o que fez Leleco em Avenida Brasil), alguém na primeira fila já se descontrolava com uma gargalhada aparentemente sem causa.

Marcos Caruso é Andrew Wyke, escritor de romances policiais que convida o amante da sua esposa para uma conversa. É um ator talentoso; domina o texto, as nuances dele e as mudanças que elas provocam no personagem; e até a risada que deixa Andrew com jeito de idiota e que a determinado momento nos causa irritação, serve ao propósito de mostrar o quanto aquele personagem é desequilibrado, embora extremamente calculista.

Erom Cordeiro é o amante Milo Tindolini; e também cumpre bem o seu papel. Os dois têm uma troca interessante em cena, sem desníveis na atuação. E tudo é muito bem marcado e amarrado, com soluções cênicas interessantes, a maioria delas ligadas ao cenário. A direção é de Gustavo Paso, com codireção de Fernando Philbert; e o cenário – bonito, com escadas, espelhos, trabalhando reflexos, luz e sombra, também tem assinatura de Paso e ainda de Ana Paula Cardoso e Carla Berri.

Só que tudo isso serve ao propósito de entreter. Nada contra. Deveria mesmo ir além? É como um desses filmes que ocupam o nosso tempo por duas horas – e no caso da peça a primeira hora é bem mais interessante do que a segunda; mas depois que acabam tudo está do mesmo jeito. Não fica uma reflexão, um sentimento, um lampejo de vida ou de morte, que fosse. Mas é competente no que se pretende – entreter. E que mal há, não é mesmo? Que falta farão essas duas horas na sua existência? Algo tem que ficar além do: “E aí, gostou da peça? Vamos jantar onde?”.

Educação, dinheiro, descaso – É triste ver a situação em que se encontra o Teatro da UFPE. Ontem a peça estava prestes a começar – já passava um bom tempo das 21h; e as pessoas entravam no teatro com lanche, salgadinho, refrigerante, água. Tudo que teoricamente é proibido dentro do teatro. Ou será que deixou de ser? Também não havia ninguém do staff do teatro para fazer esse controle.

Mas esse não é o único problema. O carpete está completamente pintado por marcas de chiclete; o ar condicionado não funciona – a gente passa a noite se abanando e dá graças a Deus quando a peça acaba e recebe uma brisa no foyer; há fiação exposta logo atrás da porta de vidro – é só olhar para o alto. E não estamos nem falando das condições técnicas para receber uma montagem.

Ouvi que o aluguel por noite do Teatro da UFPE não custa menos de R$ 6 mil. É uma pergunta tão óbvia, né? Mas tem que ser feita, paciência: onde está sendo investido esse dinheiro? Porque no teatro, visivelmente, é que não é.

Para completar o capítulo ‘sábado à noite no teatro’, lá pelas tantas, no meio do espetáculo, uma luz se acende. Um espectador mais atento nota que, no Teatro da UFPE, nas laterais, há pelo menos duas salas com janelões de vidro. A luz acesa da sala obviamente interfere na cena e na plateia. E a luz permaneceu ligada até que alguém fosse lá e avisasse o que não deveria precisar: ‘está atrapalhando’. Ainda assim, a porta da sala foi aberta e fechada várias vezes depois disso, com a luz do corredor alcançando a plateia. Será que não tinha outra sala naquele teatro enorme para fazer a apuração da noite?

Por outro lado, um problema recorrente desta vez não aconteceu: nenhum celular atrapalhou a cena (milagre!) e câmeras fotográficas também não foram utilizadas. Ainda há de existir uma luz no fim do túnel.

Em nome do jogo
Quando: hoje, às 19h
Onde: Teatro da UFPE
Quanto: R$ 50 e R$ 25 (meia-entrada)
Informações: (81) 3207-5757

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