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Palhaças cheias de graça

Divinas, na VI Mostra Capiba. Foto: Pollyanna Diniz

Estas palhaças nos ensinam muito com a leveza e a poesia despretensiosa. Elas seguem o mesmo caminho. Contam histórias. Trocam farpas. Consentem e negam – até um golinho de água. Muitas vezes pensam em desistir. Mas algo é maior; e Uruba (Fabiana Pirro), Bandeira (Odília Nunes) e Zanoia (Lívia Falcão) continuam a jornada juntas. Divinas é um espetáculo simples, singelo e delicioso.

A dramaturgia de Marcelo Pelizzoli, Samarone Lima e Silvia Góes é a ponta de um novelo de lã para o que se vê no palco com a Duas Companhias. São pequenas histórias de palhaças que não sabem para onde vão, mas seguem. Com humor e sensibilidade na medida, o texto é o suporte para que as atrizes se aproximem do público; já a quase inevitável conquista é resultado do trabalho de atrizes que amadureceram com a experiência, mas ao mesmo tempo esbanjam frescor.

Já tinha visto Divinas em pelo menos duas ocasiões: quando elas fizeram um ensaio aberto no Teatro Marco Camarotti e durante uma temporada no Teatro Barreto Júnior. E pude comprovar que o espetáculo só cresceu. Na apresentação na Mostra Capiba Fabiana Pirro estava impagável: Uruba tem um humor mais ácido, é lindamente egoísta e comilona. Lívia Falcão nos seduz com Zanoia, sua pedrinha mágica e a história da mulher touro. E como Odília Nunes é uma ótima aquisição para o grupo! A experiência de anos na arte da palhaçaria está no palco com Odília e seus estratagemas para conseguir o que quer.

Quando digo que o espetáculo é simples me refiro também a soluções cênicas que vão desde um lenço que simula uma fogueira. Tanto o cenário quanto o figurino e os adereços são assinados pelas próprias atrizes. A trilha sonora original é de Beto Lemos e Luca Teixeira está em cena com vários efeitos de percussão que complementam as histórias engraçadas e fantasiosas.

Logo quando a Duas Companhias começou o processo de montagem de Divinas, lembro que conversei com Lívia Falcão; Odília ainda não estava nem no elenco. A ideia inicial era tratar do feminino. E quem guiava esse caminho era o diretor Moncho Rodriguez, que mora em Portugal. Tempos depois, veio um projeto de formação de palhaças na Zona da Mata e o consequente encontro com Adelvane Neia, de Campinas, responsável pela preparação das palhaças-atrizes para este espetáculo.

O feminino continua em cena, claro. Mas a opção pela investigação dessa identidade dos clowns das atrizes se estabelece de forma determinante. Pode até nem ter sido o mais fácil. Pode ser que esse caminho tenha sido de muitas curvas. Mas o resultado é gratificante. O público sai do teatro feliz. Simples assim.

Zanoia (Lívia Falcão)

Uruba (Fabiana Pirro)

Bandeira (Odília Nunes)

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Leveza dá o tom de Divinas

Fabiana Pirro, Lívia Falcão e Odília Nunes em Divinas. Fotos: Ivana Moura

O texto é um pretexto, um fiozinho de dramaturgia tênue e frágil, para as três artistas desenvolverem seus talentos de comediantes. Ou melhor, da arte da palhaçaria. Divinas, espetáculo em cartaz no Teatro Barreto Júnior junta no mesmo palco a elegância de Fabiana Pirro, a ingenuidade de Odília Nunes e a experiência em arrancar risos de Lívia Falcão numa montagem graciosa e divertida.

O espetáculo mostra a trajetória de buscas. Das três contadoras de histórias que ao destrincharem um rosário de coisas preciosas (pequenas ações do cotidiano, um gesto, uma lembrança) também traçam uma metáfora com a Duas Companhias, que persegue e constrói sua própria linguagem dentro desse universo artístico da contemporaneidade.

A cultura popular dá o alicerce para essas conquistas. Foram quase dois anos de pesquisa. Além do ‘mergulho’ no universo do circo e dos palhaços, com a oficina de palhaças com a atriz Adelvane Neia.
As contadoras de histórias e palhaças Uruba (Fabiana Pirro), Zanoia (Lívia Falcão) e Bandeira (Odília Nunes) procuram um mundo melhor, buscam um utopia. Eles fazem parte do povo brasileiro, carente, com fome e com uma alegria de viver que desbanca qualquer tristeza. E instala-se o lirismo.

Montagem está na programação do Festival de Circo do Brasil

Uma malandragem aqui outra ali, por coisa pouca e até parece que o elo vai quebrar. Essas palhaças destacam o valor da amizade, o respeito pela memória. E com isso elas desenham uma geografia delicada para não esquecer dos sonhos.

Nesta temporada, a trupe conta com percussão ao vivo de Lucas Teixeira e trilha sonora de Beto Lemos. Os figurinos são simples e bonitos, os sapatos de Bandeira e Zanoia são de Jailson Marcos.

Odéilia é Bandeira, Fabiana é Uruba e Lívia é Zanoia

O palco do Barreto Júnior parece que ficou grande para ação da trupe, sem cenários. A pré-estreia no Teatro Marco Camarotti (Sesc de Santo Amaro) criava uma cumplicidade maior com plateia, pela proximidade. O espetáculo entrou na programação do Festival de Circo do Brasil. As últimas sessões gratuitas são hoje, às 20h, no Barreto Júnior; e quinta-feira, dia 20h, às 20h, na Praça do Arsenal da Marinha, no Recife Antigo.

Fabiana Pirro como a palhaça Uruba

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Espertezas de Arlequim

Arílson Lopes como Arlequim

Divertidíssima a primeira leitura dramática do projeto Que comédia!, promovida pela Duas Companhias, na noite desta segunda-feira, no Centro Cultural dos Correios, no bairro do Recife. A trupe quer explorar nesta temporada obras da Commedia Dell´Arte e o texto da noite foi Arlequim, servidor de dois patrões, do italiano Carlo Goldoni.

O pequeno auditório estava lotado para conferir o primeiro experimento dessa segunda edição do projeto, que começou ano passado com uma série de leituras do Teatro do Absurdo.

O autor de Arlequim, servidor de dois patrões, peça dividida em três atos, nasceu no vigor criativo do século XVIII, em Veneza, Itália, em 1707. É a partir desse lugar que ele vai falar.

Como se trata de uma leitura dramatizada, não tem cenário. O público tem que contribuir com sua imaginação. No pequeno tablado do espaço cultural, podemos projetar a casa do Pantaleão, o velho avarento.

Os jovens apaixonados preparam o noivado até que alguém bate à porta. Uma virada do clima de festa e celebração. Arlequim aparece com um estranho recado: o antigo noivo da moça, que todos acreditavam que estava morto, está de volta. A vida complicou.

Além das trapaças, artimanhas, espertezas, mentiras e paixões, Goldoni com seu Arlequim, utilizou a Commedia Dell’ Arte para criticar a sociedade italiana do seu tempo.

A Itália vivia comprimida pela guerra entre a Áustria e Espanha. Para respirar economicamente, ora recorria a um país ora a outro. O próprio dramaturgo foi convidado para organizar montagens teatrais tanto para espanhóis quanto para austríacos. Itália e Goldoni serviam a dois patrões para sobreviver. Essa crítica foi projetada na peça.

O saltitante Arlequim de Goldoni ganhou um chapéu de couro na leitura, com o talento de Arílson Lopes. Ele comanda essa exploração dos vícios e virtudes com sobressaltos e muita graça. Esse servo desajeitado cria as maiores confusões para ganhar uns trocados a mais. Fabiana Pirro apresenta Briguela e Tito França dá voz a um Criado.

Fabiana Pirro e Tito França

Claudio Ferrario e Odília Nunes

Jorge Clésio

Anderson Machado e Olga Ferrario

Livia Falcão usa sua criatividade na pele de uma criada astuta e charmosa, a Esmeraldina. Odília Nunes explora os cacoetes do Doutor Lombardi com sua retórica vazia. Olga Ferrario e Anderson Machado vivem os mal-entendidos do amor.

Claudio Ferrario explora um Pantaleão dos Bisonhos mais engraçado. Jorge Clésio nos lembra de todo seu talento (que estava totalmente a serviço do MinC) e nos diverte com Florindo Aretusi e Marina Duarte passeia como Beatriz Rasponi disfarçada de homem na maior parte do tempo.

Adelvane Neia dirigiu a leitura. Ela coordenou recentemente o projeto de formação de palhaças, com mulheres na Zona da Mata.

Tem mais uma sessão da leitura de Arlequim, servidor de dois patrões, hoje, às 20h, com entrada gratuita, no Centro Cultural Correios, no Recife Antigo.

Lívia Falcão e Arílson Lopes

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Ler comédia

A Duas Companhias, de Fabiana Pirro e Lívia Falcão, continua sua empreitada de leituras dramáticas no Centro Cultural Correios. Se ano passado o projeto era o Que absurdo! (com textos do Teatro do Absurdo), este ano virou Que comédia!, com textos da Commedia Dell´Arte.

A primeira leitura será do texto Arlequim, servidor de dois patrões, do italiano Carlo Goldoni. No elenco, Lívia Falcão, Fabiana Pirro, Arílson Lopes, Anderson Machado, Cláudio Ferrario, Jorge Clésio, Marina Duarte, Odília Nunes, Olga Ferrario e Tito França.

Lívia Falcão, da Duas Companhias, está no elenco da leitura. Foto: Daniela Nader

A direção ficou sob a responsabilidade de Adelvane Neia, que mora em Campinas, São Paulo, mas tem visitado o Recife há alguns meses, desde que participou de um projeto da Duas Companhias, de formação de palhaças, com mulheres na Zona da Mata. “É um texto clássico do Goldoni, com duelos, casamentos arranjados. É o mais conhecido, mas não tem sido tão montado”, explica Adelvane.

O projeto Que comédia! será realizado nesta segunda e terça-feira, às 20h, e segue até o mês de julho, com diferentes textos, elenco e direção a cada mês. A entrada é gratuita.

Que comédia!, leitura do texto Arlequim, servidor de dois patrões
Quando: nesta segunda (25) e terça-feira (26), às 20h
Onde: auditório do Centro Cultural Correios (Avenida Marquês de Olinda, 262, Bairro do Recife)
Quanto: Entrada gratuita
Informações: (81) 3224-5739 / 3424-1935

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