Os horrores da opressão

Stella Maris Saldanha e Germano Haiut. Foto: Renato Filho

Stella Maris Saldanha e Germano Haiut na peça O Delator. Foto: Renato Filho

Ei-los: os Senhores Professores estão
aprendendo a marchar. O nazistinha
puxa-lhes as orelhas e lhes ensina a
posição de sentido. Cada aluno um
espião. Não precisam saber nada
do mundo ou do universo. Mas é interessante
informar: o que, de quem e
quando. Aí vêm as criancinhas. Elas
buscam o carrasco e o trazem para
casa. Delatam o próprio pai, chamam-no
de traidor. E ficam olhando, quando levam
o velho de mãos e pés algemados.
(Bertolt Brecht)

Os delatores estão à espreita nas ruas e até dentro das casas. Não dá para confiar em ninguém. Esse clima domina Terror e Miséria do Terceiro Reich, do alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que traça um panorama da vida na Alemanha nazista. O texto foi escrito entre 1935 e 1938, a partir de informações que o dramaturgo recebia daqueles tempos sombrios, pois Brecht vivia à época na Dinamarca.

Composta de vinte e quatro cenas que expõem a rotina de soldados, juízes, professores em que as questões do totalitarismo e das liberdades individuais são salientadas. O pesquisador Martin Esslin diz que são esquetes “… escritas num estilo bem pouco brechtiano, de convenção naturalista”

A montagem de José Francisco Filho focaliza principalmente o episódio 10, O Espião na tradução de Gilda Osvaldo Cruz. “Mudamos de Espião para Delator. Foi um consenso. A palavra delator torna mais atemporal a montagem”, conta o diretor, que completou recentemente 50 anos de teatro.

O espetáculo marca a volta aos palcos do ator Germano Haiut (da peça Galileu e do filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger), depois de 30 anos. Judeu, Germano carrega na memória afetiva o horror do Holocausto, que atingiu sua família. Ele divide o palco com Stella Maris Saldanha, que já encenou outro Brecht, Os Fuzis da Senhora Carrar.

Na cena, um casal discute sobre política na presença do filho. O marido critica o regime. O menino desaparece e os pais temem que o garoto possa ter saído denunciá-los.

O clima vai ficando mais tenso. Os direitos usurpados pelo regime não democrático atingem as pessoas na liberdade de pensamento e expressão. A peça provoca a sensação de que o povo é condenado sem justiça. “Não precisa muito esforço para trazer o texto para nossa realidade”, resume José Francisco Filho.

FICHA TÉCNICA

Duração: 50 min.
Classificação etária: a partir dos 16 anos
Texto: Bertolt Brecht
Encenação, adaptação e produção executiva: José Francisco Filho
Assistente de direção e sonoplastia: Ricardo Vendramine
Iluminação: Eron Villar
Direção de arte: Eduardo Ferreira
Elenco: Germano Haiut e Stella Maris Saldanha

SERVIÇO
O Delator – Terror e Miséria no Terceiro Reich
Quando: sábados e domingos de janeiro, às 18h
Onde: Teatro Arraial (Rua da Aurora, 457, Boa Vista)
Classificação: 16 anos

Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: 3184-3057

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