O menino da gaiola estreia neste sábado

O menino da gaiola, texto de Cleyton Cabral e direção de Samuel Santos. Foto: Ângulo cinematografia

O menino da gaiola estreia neste sábado. Foto: Ângulo cinematografia

O espetáculo O menino da gaiola, texto do ator, publicitário e dramaturgo Cleyton Cabral, estreia neste sábado, com a assinatura do diretor Samuel Santos. É uma dramaturgia que trata de temas difíceis, como o abuso sexual. No elenco, Evilásio de Andrade como o protagonista; Auricéia Fraga, Márcio Fecher, Eduardo Japiassu e Ana Souza.

Conversamos como Samuel, que esteve à frente de produções como A terra dos meninos pelados, O amor do galo pela galinha d’água, Historinhas de dentro e O circo Rataplan, sobre a peça e o seu trabalho como diretor.

Entrevista // Samuel Santos

O que você destacaria na encenação?
O texto é de uma essencialidade e coragem fundamentais para a abordagem desse quadro atual e urgente que é o universo para crianças. O menino da gaiola aqui em Pernambuco é um precursor de uma dramaturgia voltada para as questões sociais da infância, sem esconder a realidade, nem tratar essa realidade como uma fantasia paradisíaca. Vemos no sonho do protagonista – Vito – uma dimensão utópica própria do universo infantil: o de voar e ir para lugares imaginários. Só que Vito não viaja por terras distantes do faz-de-conta ou paraísos perfeitos, com animais falantes, heróis com capa e espadas. Ele faz uma viagem por dentro da realidade. Ou seja, ele sonha, mas o seu sonho o leva a passear pela realidade. Diferente do que estamos acostumados a ver, a ler a criança sonhando com castelos, príncipes e afins. Há uma inversão de paradigmas. Vito quer libertar, fazer voar os sonhos presos e oprimidos de cada um que ele encontra na sua jornada. Tudo isso de forma lúdica e poética. E, claro, destaco toda a equipe que está se doando para colocar essa montagem na cena pernambucana. Os atores entregues à proposta, as músicas compostas especialmente pela cantora Isaar, o desenho de luz criado pelo O Poste Soluções Luminosas, figurinos, cenários e produção da jovem produtora Clarisse Fraga, que inicia sua primeira produção apostando nesse espetáculo infantil nada tradicional.

A atriz Auriceia Fraga é o destaque no elenco

A atriz Auriceia Fraga é o destaque no elenco

Como o texto é levado à cena?
No texto, os personagens estão à margem da sociedade, como um mendigo que teve o rosto queimado e uma menina de sete anos que é assediada pelo padrasto. Unir esses temas delicados e melindrosos, colocando o texto numa determinada perspectiva como o autor propõe e determinar os laços que se interligam: as personagens, os cenários, os climas, as cores, os objetos e todos os elementos que o compõem, leva a encenação a buscar um conceito que não prendesse e nem tão pouco deixasse os elementos em fragmentada desordem. A escolha recorre sobre: voo/liberdade. Sobre o onírico o lúdico. Cada elemento visualizado e sonorizado na encenação terá um despojamento cênico peculiar ao conceito. Ou seja, os elementos serão soltos na sua execução e na sua transição de cena. Redes, gaiolas, sofá, tecidos, adereços entrarão e sairão de cena de forma lépida. Os cenários não serão fixos, eles vão entrando conforme o tempo, espaço e a geografia da cena. Antes de qualquer forma concretizada nos elementos cênicos da peça o conceito está implícito, ele vem a partir do interno dos atores. A encenação não optou em suavizar os temas propostos, há uma seriedade e serenidade na proposta, porém essa seriedade é envolta em muita poesia e dentro do jogo lúdico, pois nossa intenção primordial não era fazer do espetáculo um programa de auditório ou “Tatibitati”.

Qual a marca do seu trabalho como diretor e, especificamente, neste espetáculo?
O ator e a poesia. O ator no sentido de nunca esquecê-lo e a poesia por entender que ela é essencial ao teatro. Num dos ensaios de O menino da gaiola, um dos meus atores disse que eu era muito exigente. Mas ele disse sem nem travo ou ranço de que estava sendo oprimido, pois a minha exigência, meu rigor era sem o grito, sem a violência. Era estar atento ao ator em cada detalhe: emoção, gesto e voz, no seu comportamento na cena. E no Menino acredito que o público verá essa minha marca. Meu olhar é de atenção, preocupação com a linguagem tanto para crianças como para adultos. Meu olhar é de insatisfação, esmero, inquietude, reflexão. Meu olhar para essa montagem está mais maduro, ao mesmo tempo infante, pois o que tento reproduzir no teatro não é o olhar do adulto Samuel Santos, mas do Samuca, a criança Samuca, que tenta fazer do teatro uma forma de aventurar-se e refletir.

O menino da gaiola
Quando: sábados e domingos, às 16h, até 4 de agosto
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3320 / 3321
Indicação: 7 anos

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