Festa para Gonzaga, festa no teatro

Gonzagão – A lenda foi ovacionado no Santa Isabel. Fotos: Ivana Moura e Pollyanna Diniz

Quando soube que o 15º Festival do Teatro Nacional iria abrir com mais uma homenagem a Luiz Gonzaga pensei: Mais uma. A curadoria apostou no fluxo, nada contra a maré. Centenário, musical, Luiz Gonzaga, a primeira participação de João Falcão num festival que já existe há tanto tempo. Depois fiquei assuntando. O festival resolveu abrir com uma atração que contagiasse o público. E os coordenadores pegaram a maré e surfaram bem.

João Falcão sabe juntar como poucos um punhado de clichês que ele transforma numa cena deslumbrante. Sua linguagem é direta e poética. Umas perguntas bestas e respostas tolas com ele funcionam super bem. Isso não é defeito. É estilo. Tem isso na peça A máquina, A dona da história, nas peças lá atrás que ele fez com seu grupo recifense, como Pequenino grão de areia e Muito pelo contrário.

Dramaturgia evita conflitos

Na peça Gonzagão – A lenda o dramaturgo e encenador juntou um bando de ator bom, que canta, dança, interpreta, tem sinergia. E que confiam tanto um no outro que isso possibilita que eles se joguem no espetáculo sem medo. E isso é mais uma marca de Falcão. Além do elenco talentoso, cheio de energia, com corpo e voz disciplinados para a empreitada, com domínio cênico, o encenador contou com músicos danado de bons.

É certo que nessa dramaturgia João Falcão evita os conflitos. Como por exemplo na relação de Gonzagão e Gonzaguinha. Ele tem um olhar mais generoso e acho que prefere contar e cantar a alegria, a esperança, a possibilidade de mostrar que todos tem uma estrela. As peças do diretor que assisti sempre me deram esse conforto, creio que resultado de sua visão positiva da vida.

Além de uma trupe que incendeia o palco, de uma dramaturgia que agrada ao grande público, das músicas bem tocadas e cantadas, de atores cativantes, de um figurino que vem da tradição mas que puxa para o romantismo, de cenário, adereços, e luz que criam um clima para alimentar a alegria.

As pessoas ao meu lado, do outro lado, atrás, nas frisas e camarotes aplaudiram em cena aberta a cada música cantada, tocada, desafiada. (Eu só gosto de aplaudir ao final, é meu jeito). Exagero ou não isso deve ter sido muito bom para o elenco e para o diretor pernambucano que no final estava bem emocionado. Ser acarinhado assim em sua terra. Isso não tem preço (E isso é um clichê!!! Mas tá valendo).

Na saída do teatro, outra fila já estava formada para a segunda sessão. Dos que já tinham visto, muita gente comemorando. Poucos, muito poucos, enciumados, invejosos, torcendo contra. Acontece nos melhores lugares. Deve ter gente que não gostou. Normal. Gonzagão – A lenda é um espetáculo para divertir e toca mais quem gosta das músicas de Luiz Gonzaga e menos das de Madonna. Ou quem uma memória afetiva dessas músicas. Eu gostei muito. ACho que cumpriu a função de abrir um festival que quer agradar o Recife num final de gestão.

Foram duas sessões lotadas. Grupo voltou ontem mesmo para o Rio, onde seguem em temporada

Postado com as tags: , , , , , , ,

8 pensou em “Festa para Gonzaga, festa no teatro

  1. Leidson Ferraz

    Que os invejosos corroam com sua própria amargura! Eu amei! Adoro musicais e acho que esta foi a abertura mais festiva de todas as quinze edições! Parabéns a todos e, especialmente, a João Falcão. Eu adoraria atuar/cantar neste elenco. OBS: Vi a peça duas vezes, no Rio e aqui. Saí feliz do teatro, mais uma vez. E que as Yolandas possam escrever sobre TODOS os espetáculos. Evoé!

    Responder
  2. Jaqueline Andrade

    Como pernambucana apaixonada por minha terra e por Gonzagão, que me lembra o cheiro de bolo vindo da cozinha da casa onde cresci e que hoje me faz derreter em lágrimas ao menor aperto de saudade da minha infância, dos meus pais e avós, de tanta gente, posso garantir que esse musical de João Falcão mexeu mais comigo do que eu imaginava. Fui tomada por uma nostalgia gostosa que me possuiu com aquele cenário com a alegria, cores e sons do Nordeste, com as músicas do velho Lula que me remetem à memória mais afetiva, com as performances apaixonadas dos atores… Para mim, que não sou especialista em teatro, a peça tinha um ritmo tão frenético que parecia mais um especial de Natal com cheiro do Nordeste produzido para TV, parecia mais um filme produzido para o cinema com a agilidade de diálogos e mudanças de cenários sem espaços em branco. O público até conseguiu se segurar e cantar baixinho as músicas de Gonzagão em respeito aos atores. Nunca vi o Santa Isabel tão alegre. Parecia que iria explodir de tanta felicidade. Aplaudi muito, muito. Não esperei o final. Valeu todo o meu arrepio e choro. Fico torcendo para que o musical retorne ao Recife para eu levar minha mãe, minhas filhas, pessoas que eu amo e que precisam ver esse espetáculo que nos faz sentir orgulho de ser daqui, da Terra de Gonzaga, nosso Rei mais legítimo.

    Responder
  3. Paula de Renor

    Acordei feliz e me senti assim o dia todo. Foi isso que o espetáculo passou prá mim. Que delícia, que competência e trabalho dos atores e de João! Parabéns ao Festival. Um tiro certeiro!
    Ivana, concordo com vc desta vez! KKKKK!!!!

    Responder
  4. Pollyanna Diniz

    Quantos comentários! Que ótimo! 🙂 Leidson Ferraz, vamos fazer o máximo! Deolinda, marcaremos a nossa caipirinha sim! A gente se encontra no teatro! Jaqueline, o que João Falcão nos disse é que pensa em trazer a peça para fazer uma temporada aqui no Recife. Mas não há nenhuma previsão; nada certo até agora! Paula, adoramos as discordâncias! Rodrigo, curto Madonna e amo Luiz Gonzaga! 🙂

    Responder
  5. Ana Paula Sá

    Acho massa que Jaqueline Andrade, que não é “especialista em teatro” (veja lá) perceba o ritmo frenético da tv; que Ivana pontue – embora não deixe claro se a satisfazem ou não – algumas estratégias sabiamente manipuladas por João Falcão – os “punhados de clichês”, as “perguntas bestas e respostas tolas”, e uma “dramaturgia que agrada ao grande público”. Realmente ele sabe manipular, como poucos, cada aspecto da cena, mas a dramaturgia não me ganhou. Fico com uma sensação de que ele pega carona na força do outro (Gonzaga), e que essa força, bem explorada como está lá (sim, os atores, os músicos, a luz são fantásticos), faz o espetáculo arrebatador. Mas não vejo a criatividade do João enquanto construtor de um enredo, embora tecnicamente a encenação seja perfeita.

    Responder
  6. Zeca

    APAIXONANTE. parabéns ao elenco que simplesmente “brinca” de atuar ( no bom sentido da palavra ), todos sem exceção atuam de forma fantástica. Faço questão de estar novamente na platéia para aplaudi-los de PÉ !!!

    Responder

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *