Arte ambiciosa de Glauber Rocha

Junior Aguiar e Márcio Fecher em H(Eu)Stória - O Tempo Em Transe

Junior Aguiar e Márcio Fecher em H(Eu)Stória – O Tempo Em Transe

O espetáculo h(EU)stória – o tempo em transe emana de um movimento de intimidade – as cartas entre Glauber Rocha e o intelectual pernambucano Jomard Muniz de Britto – para traçar um perfil do cineasta projetado no mapa do Brasil (e do mundo) de um determinado período. Com atuações dos atores Júnior Aguiar e Márcio Fecher, a encenação investiga as feridas e decepções do mentor do Cinema Novo. A peça não dá conta de todas as complexidades dessa figura patrulhada tanto pela direita como pela esquerda brasileira. A visão apocalíptica de mundo fez Glauber se consumir em seu próprio fogo, como constatou o poeta Ferreira Gullar.

A montagem, do Coletivo Grão Comum em conjunto com a produtora Gota Serena, é a primeira parte da Trilogia Vermelha. As outras duas encenações celebram Paulo Freire (Pa(Ideia) – Pedagogia Da Libertação) e Dom Helder Camara (com estreia prevista para 2018). h(EU)stória – o tempo em transe tem sessão nesta sexta-feira (21) na sede do coletivo O Poste, na Boa Vista. Amanhã, sábado (22), será exibido Pa(Ideia) – Pedagogia Da Libertação.

No fundo a peça fala do Brasil e tem muito a dizer sobre os dias atuais

No fundo a peça fala do Brasil e tem muito a dizer sobre os dias atuais

Os atores recebem o público oferecendo o tchai (bebida indiana) na entrada do local da apresentação. Os incensos e o altar-oferenda salientam o tom apocalíptico e profético do protagonista. Os dois começam a peça vestidos de branco e fazem as oferendas no altar dos santos protetores para contar o percurso revolucionário do menino nascido em 14 de março de 1939, às 3:40, em Vitória da Conquista. E que morreu em 22 de agosto de 1981.

Sabemos que a cabeça de Glauber fervilhava de ideias e seu cinema foi nutrido por discursos políticos incendiários, que suas ações desafiaram o poder estabelecido no Brasil. O artista criticou, em algum momento da vida, tanto a direita quanto a esquerda. Seu pensamento e suas ações eram complexas.

O espetáculo faz opções. E não expõe todas as facetas de Glauber. Algum elogio feito aos militares na época da ditadura não são citados na peça. Creio que mais do que não revelar as incoerências desse que é considerado o gênio do cinema brasileiro, a intenção me parece de amplificar a fragilidade humana em sua intimidade, seus conflitos internos e suas dores de se sentir incompreendido e mal interpretado.

A peça expora os arroubos de Glauber, como por exemplo os insultos proferidos durante o Festival de Veneza contra o o francês Louis Malle, para quem perdeu com A Idade da Terra o Leão de Ouro. Mas a montagem não se preocupa em reproduzir as várias versões da verdade ou do fato jornalístico, com seus “inúmeros” lados. É Glauber e suas motivações, ferido e com a carne exposta que vemos.

A dupla materializa as angústias e desejos do cineasta baiano num espetáculo-manifesto, com alta dose de emoção. Prolixo, até barroco, às vezes exagerado, é uma encenação de uma potência singular para pensar o Brasil de ontem e de hoje.

Ficha Técnica

h(EU)stória – o tempo em transe

Atores: Júnior Aguiar e Márcio Fecher
Pesquisa, Roteiro, Encenação e Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Geraldo Maia
Audiovisual: Gê Carvalho Galego e Márcio  Fecher
Operação de áudio e luz: Felipe Hellslaught
Identidade Visual do cartaz: Arthur Canavarro
Terapeuta Corporal: Mônica Maria
Maquiadora: Luanna Barbosa
Vídeo: Ricardo Maciel
Fotografias: Arthur Canavarro, Filipe Mendes (Bugiu), Igor Souto e Moacir Lago
Idealização e produção geral: Coletivo Grão Comum e Gota Serena
Parceiros e Colaboradores: Daniel Barros, Asaías Lira (Zaza), Ingrid Farias, Quiercles Santana, Samarah Mayra, Marisa Santanafessa, Soraya Silva, Rebeka Barros, Espaço Cênicas, Centro Apolo-Hermilo, Teatro Arraial Ariano Suassuna.

pa(IDEIA) – pedagogia da libertação

Atores: Daniel Barros e Júnior Aguiar
Pesquisa, Roteiro, Encenação e Iluminação: Júnior Aguiar
Música Original: Juliano Muta, Leonardo Vila Nova e Tiago West. Com participações de Glauco César II, Aline Borba, Otiba, Geraldo Maia, Paulo Marcondes, Rodrigo Samico, Publius, Hugo Linnis e Amarelo.
Operação de áudio e luz: Roger Bravo
Identidade Visual do cartaz: Arthur Canavarro
Terapeuta Corporal: Mônica Maria
Maquiadora: Luanna Barbosa
Vídeo: Ricardo Maciel
Teaser: Nilton Cavalcanti
Fotografias: Rogério Alves, Amanda Pietra e Diego di Niglio
Idealização e Produção Geral: Coletivo Grão Comum e Gota Serena
Parceiros e Colaboradores: Márcio Fecher (Gota Serena), Asaías Lira (Zaza), Ingrid Farias, Alexandra Jarocki, Amanda Cristal, Isabelle Santos, Daniel Fialho, Charles Firmino, Jeferson Silva, Quiercles Santana, Rafael Amâncio, Espaço Cênicas, Centro Apolo-Hermilo, Teatro Arraial Ariano Suassuna, Galeria MauMau – Sala Monstro.

Serviço:

H(EU)STÓRIA – O TEMPO EM TRANSE
Quando: 21 de abril (sexta), às 20h
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 9 8484-8421

PA(IDEIA) – PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO
Quando: 22 de abril (sábado), às 20h
Onde: Espaço O Poste (Rua da Aurora, 529, Boa Vista)
Quanto: R$ 30 e R$ 15 (meia)
Informações: (81) 9 8484-8421

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