Alice, a grandeza de Gertrudes na vida e na arte

Nicole Cordery em Alice – Retrato da Mulher que cozinha ao Fundo. Foto: Divulgação

A narrativa dominante insiste em traçar assimetrias micropolíticas de parceiros íntimos, principalmente quando trata de duplas, casais homoafetivos. As lésbicas Gertrude Stein (1874-1946) e Alice B. Toklas (1877-1967) são tratadas nesse grande painel triturador como protagonista e coadjuvante.

A casa na 27 Rue de Fleurus, de Stein / Toklas na efervescente Paris dos anos de 1920 e 1930 abrigava em reuniões e festas amigos como Ernest Hemingway, Guillaume Apollinaire, James Joyce, Pablo Picasso, Georges Braque, Henri Matisse, Jean Cocteau, Scott Fitzgerald, ainda jovens e desconhecidos, muitos outros artistas e críticos de arte, figuras que se tornariam a fina flor intelectual europeia do século 20.

Gertrudes escreveu em diversos gêneros literários – romances, contos, peças teatrais, novelas, conferências e ensaios, retratos, poemas, literatura infantil, histórias detetivescas e libretos de ópera. Entre eles The Making of Americans, a conferência Poesia e Gramática, o livro de contos Três Vidas, os dois infantis, The World is Round (O Mundo é Redondo) e To Do: a Book of Alphabets and Birthdays (Para Fazer: um Livro de Alfabetos e Aniversários).

Em A autobiografia de Alice B. Toklas, Stein traça uma engenhosa biografia de si mesma, em que a narradora do livro é Alice. Virou best-seller de lembranças daquela boemia parisiense e foi transformado no filme Meia-Noite em Paris, de Woody Allen.

Já Alice Toklas consta na história literária como a autora de apenas um livro de culinária, The Alice B. Toklas Cookbook.

Mas sua figura foi de máxima importância para a criação artística de sua parceira. Além de cozinhar, às vezes, nas badaladas reuniões, Toklas desempenhou o papel de primeira leitora, secretária, revisora, crítica, editora e organizadora da obra de Stein. Nos 20 anos após a morte da companheira, Alice cuidou da divulgação e preservação do trabalho de Gertrude.

O solo Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo narra a trajetória de Toklas e a relação das escritoras, enquanto compõe um panorama do século XX e da Segunda Guerra Mundial. Mas pelo olhar de Toklas. No espetáculo, Alice não é eclipsada por sua célebre amada.

Com atuação de Nicole Cordery, a peça tem direção de Malú Bazan e texto assinado por Marina Corazza.

A peça faz três apresentações no Teatro Décio de Almeida Prado nos dias 29, 30 e 31 de agosto. As apresentações fazem parte da programação do Mês da Visibilidade Lésbica, e contará com bate-papo após as sessões.

O monólogo aposta na fronteira entre a realidade e a ficção a partir de um embaralhamento entre as visões de Stein e Alice. Inspirado nos livros The Alice B. Toklias Cookbook e A Autobiografia de Alice B. Toklias, o monólogo traz uma dramaturgia fragmentada, assume diferentes tempos e espaços da vida das duas, através da narração de cartas, poesias e receitas culinárias de Alice.

Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo já cumpriu cinco temporadas em São Paulo, além de turnês por cidades da Argentina e de Portugal.

Malú, Nicole e Marina. Foto: Divulgação

SERVIÇO

Alice – Retrato de Mulher que Cozinha ao Fundo
Quando: 29, 30 e 31 de Agosto (quinta a sábado), 20h (quinta e sexta); 18h (sábado)
Onde: Teatro Décio de Almeida Prado – Rua Lopes Neto, 206 – Itaim Bibi, São Paulo (SP)
Ingresso: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia)
Duração: 60 minutos

Convidadas para bate-papos pós peça:

29/08
Convidada
Lauren Zeytounlian é antropóloga, marceneira e lésbica. Faz doutorado em Ciências Sociais, na área de Estudos de Gênero, na Unicamp. É membro do Numas – Núcleo de Estudos dos Marcadores Sociais da Diferença, na USP. Desde de 2015 é mediadora do Clube de Leitura Companhia das Letras/Penquin/Numas que se encontra mensalmente
na Livraria Martins Fontes Paulista. Possui muitos interesses de pesquisa, mas, no momento, sobretudo em textos de mulheres em primeira pessoa, escritas feministas, ativismo e trabalho sexual.

30/08
Convidada
Carla Miguelote
é Doutora em Literatura Comparada (UFF) e Professora Adjunta do Departamento de Letras da UNIRIO, com diversos trabalhos publicados em anais de congresso, além de ensaios e artigos em livros e revistas especializadas. É também poeta – autora do livro de poemas Conforme minha médica (Confraria do vento, 2016)
– e documentarista – diretora de quatro curtas feministas: Amiga oculta (2017), qual imagem (2018), como se não víssemos a um palmo do olho a pinça do escorpião (2019) e esguicho (2019).

Mediação
Marina Corazza
é atriz, dramaturga e educadora. Graduada em Artes Cênicas (ECA/USP) e mestranda no Programa de Mudança Social e Participação Política (EACH/USPLeste). Foi co-fundadora e atriz da Companhia Auto-Retrato (2001 a 2015). Em 2015 formou com os atores Lucas George e Diego Gonçalves o Coletivo Concreto com objetivo de investigar a relação entre cantos de tradição e a ação no trabalho do ator. Seus últimos trabalhos como dramaturga são: Alice, retrato de mulher que cozinha ao fundo, Aproximando-se de A Fera na Selva (indicada ao Prêmio APCA de dramaturgia e direção) e Fóssil.

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