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Sobre os fantasmas do teatro e o estilo hippie chic

Os gigantes da montanha. Foto: Pollyanna Diniz

Os gigantes da montanha . Foto: Pollyanna Diniz


Yolandas no FIG. Arte: Bosco

Já fazia um bom tempo que o Galpão não vinha a Pernambuco. Não vimos por aqui, por exemplo, os trabalhos do grupo baseados em textos de Anton Tchékhov: Tio Vânia (aos que vierem depois de nós) e Eclipse, que estrearam em 2011 e são bem soturnos, contidos, pesados. Bem diferentes do espetáculo Os gigantes da montanha, apresentado no último sábado no Festival de Inverno de Garanhuns, na Praça do Mosteiro de São Bento. Não que o texto de Luigi Pirandello (1867-1936) seja solar, leve, muito pelo contrário, mas o diretor Gabriel Villela, que reencontrou o Galpão depois de ter assinado para a trupe Romeu e Julieta (1992) e A rua da amargura (1994), deu o seu tratamento à encenação. Desde a atuação até, claro, cenários e figurino. E já são 30 anos de Galpão – eles sabem fazer teatro de rua, levar a música ao palco, encantar e seduzir o público.

No espetáculo, uma trupe de atores decadentes chega a uma vila habitada por fantasmas. É uma montagem que questiona o tempo inteiro a noção de realidade e fantasia. O que realmente acontece? Aqueles atores da trupe estão mesmo vivos o tempo inteiro? O que é só imaginação? Há várias camadas sobrepostas dentro da encenação – realidade, sonho, ilusão, interpretação dentro da interpretação – quando eles começam a encenar A fábula do filho trocado dentro da peça. E há ainda o fato, sim, claro, de que é teatro. E o grupo faz questão de parar a montagem ao final do segundo ato para contar ao público que, quando morreu em 1936, Pirandello não tinha terminado Os gigantes da montanha. No leito de morte, ele teria contado ao filho Stefano como seria o final. Uma das cenas mais bonitas da montagem, aliás. Com uma solução super simples, forte e poética.

Cenários e figurinos são traços marcantes da montagem, com a “grife” incontestável de Gabriel Villela. Os figurinos foram idealizados por Villela, Schicó do Mamulengo e José Rosa e a cenografia, por Villela, Helvécio Izabel e Amanda Gomes. É uma mistura de estilos folk-boho-hippie chic-étnico levada ao palco. Visualmente é incrível, executado de forma impecável, mas é, de verdade, uma “grife” Gabriel Villela: então lembra Sua Incelença, Ricardo III, do Clowns de Shakespeare, Hécuba, com Walderez de Barros, Macbeth, com Marcello Antony, só para citar algumas montagens que passaram pelo Recife há não muito tempo.

Espetáculo deve vir ao Recife

Espetáculo deve vir ao Recife

O cenário é dividido em planos e funciona extremamente bem na intenção de contrapor os núcleos: são muitas vezes os fantasmas versus os atores da trupe, por exemplo, os atores dispostos como coro. E a própria citação ao teatro, com uma cortina que abre e fecha, trazendo novas cenas.

Outro destaque da encenação é, sem dúvida, a musicalidade. Os atores tocam e cantam em cena, com um detalhe que faz toda a diferença: optaram majoritariamente por músicas italianas. A direção e preparação musical, os arranjos e a composição são assinados por Ernani Maletta, parceiro antigo do grupo. Numa matéria do portal Uai, a repórter cita algumas das músicas da encenação: La arrabiatta, de Nino Rota; Il mondo, de Jimmy Fontana; Jesus bambino, de Lucio Dalla; Ciao amore ciao, de Luigi Tenco; Io che amo solo te, de Sergio Endrigo; Bella ciao e Nana, nana tidoletto, canções populares da resistência italiana; La golondrina, de Narciso Serradell Sevilla; Les pêcheurs de perles, de Georges Bizet.

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Todo o primor – visual e musical – é coroado por atuações competentes. Inês Peixoto está muito bem como a Condessa Ilse: a loucura, o medo, a obstinação. São atuações expandidas, gestos largos e a construção de muitas imagens. O texto do espetáculo, com várias cenas paralelas à história principal, permite a participação efetiva de vários atores. A cena do suicídio, por exemplo, com o ator Júlio Maciel, encanta o público. Teuda Baura, como a Sonâmbula, merecia um papel maior, sempre tão bom é vê-la em cena.

Em Os gigantes da montanha, o Galpão está falando do que mais sabe: teatro. É, inclusive, um espetáculo bastante crítico e irônico, com relação ao exercício teatral e à cultura do país em muitos momentos. Como uma citação a um teatro sempre fechado, servindo somente aos ratos, ou à burocracia dos projetos, captações, prestações de conta e contrapartidas sociais. É uma peça que nos faz lembrar dos nossos próprios fantasmas, da ilusão, do sonho, da arte. Precisamos mesmo dos artistas para dar coerência – não só aos sonhos – mas principalmente à realidade.

Boa notícia! – Para quem perdeu a montagem em Garanhuns, há a promessa de que o espetáculo participe do Festival Recife do Teatro Nacional. Leda Alves, secretária de Cultura do Recife, estava na plateia e teria feito a promessa a um dos atores do grupo. Espero que seja cumprida! E que o grupo possa, quem sabe, vir com repertório.

Confira uma entrevista com a atriz Inês Peixoto ao final do espetáculo:

Ficha Técnica

ELENCO:
Antonio Edson – Cromo
Arildo de Barros – Conde
Beto Franco – Duccio Doccia / Anjo 101
Eduardo Moreira – Cotrone
Inês Peixoto – Condessa Ilse
Júlio Maciel – Spizzi / Soldado
Luiz Rocha (ator convidado) – Quaquèo
Lydia Del Picchia – Mara-Mara
Paulo André – Batalha
Regina Souza (atriz convidada) – Diamante / Madalena
Simone Ordones – A Sgriccia
Teuda Bara – Sonâmbula

Confira um trechinho do espetáculo: o elenco interpretando Il Mondo, de Jimmy Fontana. Lindo momento!

EQUIPE DE CRIAÇÃO:

Direção: Gabriel Villela
Texto: Luigi Pirandello
Tradução: Beti Rabetti
Dramaturgia: Eduardo Moreira e Gabriel Villela
Assistência de direção: Ivan Andrade e Marcelo Cordeiro
Assistência e Planejamento de ensaios: Lydia Del Picchia
Antropologia da Voz, direção e análise do texto: Francesca Della Monica
Direção e preparação musical e arranjos e composição: Ernani Maletta
Preparação vocal e texto: Babaya
Iluminação: Chico Pelúcio e Wladimir Medeiros
Figurino: Gabriel Villela, Shicó do Mamulengo e José Rosa
Coordenação Artística do Ateliê Arte e Magia: José Rosa
Cenografia: Gabriel Villela, Helvécio Izabel e Amanda Gomes
Assistência de Cenário: Amanda Gomes
Pintura do cenário: Daniel Ducato e Shicó do Mamulengo
Adereços: Shicó do Mamulengo
Bordados: Giovanna Vilela
Costureiras: Taires Scatolin e Idaléia Dias
Luthier: Carlos Del Picchia
Fotos: Guto Muniz
Registro e cobertura audiovisual: Alicate
Design sonoro: Vinícius Alves
Programação Visual: Dib Carneiro Neto, Jussara Guedes, Suely Andreazzi
Tratamento de Imagens do Programa: Alexandre Godinho e Maurício Braga
Logo do espetáculo: Carlinhos Müller
Direção de Produção: Gilma Oliveira

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José Barbosa no programa Encontro

José Barbosa interpreta Jesus Cristo há dois anos na Paixão de Nova Jerusalém. Foto: Fábio Jordão/divulgação

José Barbosa interpreta Jesus Cristo há dois anos na Paixão de Nova Jerusalém. Foto: Fábio Jordão/divulgação

Depois da atriz e bailarina Luciana Lyra ter ido ao programa de Fátima Bernardes para falar sobre dança, coco e Nordeste, agora é a vez do ator José Barbosa. O intérprete de Jesus Cristo na Paixão de Nova Jerusalém participa de um especial sobre a Jornada Mundial da Juventude. Detalhe: o programa é ao vivo! José Barbosa deve falar sobre espiritualidade, sobre a experiência de interpretar Cristo, claro, e sobre o reconhecimento do público. O programa será nesta quinta-feira (25), às 10h.

Para quem não viu a participação de Luciana Lyra (lembrando que este ano ela fez Maria em Nova Jerusalém), vale dar uma olhadinha nos vídeos do programa.

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Atriz e Condessa

Yolandas no FIG. Arte: Bosco

No último sábado, o Grupo Galpão apresentou o espetáculo Os gigantes da montanha, na Praça do Mosteiro de São Bento, no Festival de Inverno de Garanhuns. Foi uma noite linda. Logo no início da peça, parecia que ia cair um dilúvio. Mas foi uma garoa fininha só para coroar a primeira cena; e aí, logo que o público aplaudiu ao final, a chuva tomou lugar!

Então fomos ao camarim do grupo e gravamos uma entrevista – bem caseira, hein?! – com a atriz Inês Peixoto, que interpreta a Condessa Ilse. Ela fala sobre a direção de Gabriel Villela, as dificuldades em fazer a peça e a sua personagem.

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Por Elise bate docemente e encanta Garanhuns

Primeiro espetáculo do grupo Espanca! Fotos: Ivana Moura

Primeiro espetáculo do grupo Espanca! Fotos: Ivana Moura

Yolandas no FIG. Arte: Bosco

Por Elise, do Grupo Espanca!, de Belo Horizonte, provocou um susto, uma alegria, no Festival de Teatro de Curitiba de 2005. Apresentado no Fringe, a mostra paralela da programação, a montagem foi a grande revelação daquele ano. Ainda em 2005, a encenação participou da programação do Festival Recife do Teatro Nacional.

Mais amadurecido e com substituições no elenco, o espetáculo Por Elise foi exibido no 23º Festival de Inverno de Garanhuns, com o Teatro Luiz Souto Dourado lotado.

A montagem ganhou experiência, mas não perdeu o frescor. As imagens poéticas surgem de situações cotidianas prosaicas. Com sua estrutura extremamente fragmentada, a partir do texto de Grace Passô, Por Elise prossegue a nos intrigar, entre cachorro que aposta que os humanos têm sentimentos e abacates que podem atingir qualquer passante. E que insiste em lembrar que viver é arriscar-se e os envolvimentos são inevitáveis.

Cachorro lembra que humanos têm sentimentos

Cachorro lembra que humanos têm sentimentos

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Abaixo dois textos sobre o espetáculo, escritos em 2005 e publicados originalmente no Diario de Pernambuco

Edição de Segunda-Feira, 28 de Março de 2005

Fringe oxigena Festival de Curitiba

Mostra paralela continua com a função de revelar os talentos
Ivana Moura

Participar da mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, o Fringe, é uma aventura. O prêmio para quem consegue ultrapassar as barreiras pode ser o reconhecimento, digamos nacional. Em meio a 187 espetáculos, alguns se destacam pela qualidade. Desta vez, o grupo Espanca!, de Belo Horizonte, conseguiu emocionar plateias e crítica com uma história delicada, tocante e simples. Por Elise, com texto e direção de Grace Passô, vai desfiando e entrecruzado os conflitos e anseios de cinco personagens. A diretora é a contadora de história, uma negra de olhos grandes e muito carisma, que plantou um pé de abacates no quintal e vive sob ameaça de que um desses frutos caia na cabeça. Ela lembra ao espectador que “é preciso ter cuidado com o que se planta”. Do humor inicial, o tom vai ganhando verticalidade, nos pequenos dramas das personagens. Uma moça está triste, pois terá que sacrificar seu cachorro que está doente. Ela se apaixona pelo lixeiro, que chega à vizinhança à procura do pai, que um dia saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. O homem, que tem por função levar o cão, sonha com o Japão.

As histórias das dores repentinas que invadem o cotidiano daqueles vizinhos emocionam. As personagens se encontram, mas não se salvam. A vida tem que seguir seu rumo, nem sempre com sonhos realizados. O percurso de cada um deixa marcas profundas. Como na cena em que o domador/caçador de cachorros participa de uma dança de sedução com o cão que sabe que vai morrer.

Personagens correm atrás de sonhos

Personagens correm atrás de sonhos

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Edição de Segunda-Feira, 21 de Novembro de 2005

Espetáculo mineiro explora fragilidade humana

FESTIVAL – Na montagem Por Elise, companhia Espanca! ensina a transpor muros da relação com o mundo para sobreviver

Ivana Moura
Da equipe do DIARIO

Uma cena nonsense e um recado existencial. Uma mulher com medo que abacates caiam sobre sua cabeça e o aviso imediato “Cuidado com o que você planta”, num misto de advertência e constatação que pode ser entendido como “cuidado com os desejos, porque eles podem vingar”. O espetáculo Por Elise, da companhia mineira Espanca! – cartaz de sábado e domingo da 8ª versão do Festival Recife do Teatro Nacional-, traz esse misto de ingenuidade e profundidade no seu discurso. O palco nu dialoga com os lugares (tanto objetivos quanto subjetivos) que temos possibilidade de ocupar na vida contemporânea. No diário virtual da montagem, o grupo cita Tarkovski: “O teatro joga com os possíveis deslocamentos das posições dos desejos”, atestando que a beleza delicada da encenação é resultado de uma trabalho árduo de equipe.

Construída com delicadeza e pitadas generosas de humor, a montagem, com texto e direção de Grace Passô submete os nossos individualismos cotidianos, quando cruza a vida de várias pessoas, vizinho e prestadores de serviço, de uma cidade de médio porte, a uma necessidade de relacionamento, de amizades, de sentimentos. Na economia de recursos cênicos, de aparatos visuais ou tecnológicos, Por Elise investe na palavra poética para dizer muitas coisas ao público.

A dona-de-casa que plantou os abacates conhece os dramas dos outros vizinhos da rua, marcados pela solidão, pela perda, pelo abandono e pela esperança. Ela é a contadora de histórias baixinha e de olhos grandes, interpretada pela própria Grace. A moça de vermelho (Samira Ávila) está triste e desorientada, porque seu cão está condenado e, em breve, chegará o rapaz da carrocinha para sacrificar o animal. Ela é pura emoção, cuja síntese é mimetizada pelo ato de cair. A garota se apaixona pelo lixeiro (Gustavo Bonés), que está à procura do pai, que saiu de casa para comprar cigarros e nunca mais voltou. Os dois correm pelo palco, encontram-se, perdem-se, deixam frases soltas pelo meio do caminho.

O funcionário (Paulo Azevedo) que chega para sacrificar o cão da moça desorientada é um inadequado para a profissão. Ele sonha deixar aquela vida e ir para o Japão. É um personagem difícil, contraditório (e por isso mesmo, cheio de humanidade), defendido com muita elegância pelo ator, que equilibra seu porte com o medo e a insociabilidade do tal funcionário. A figura do cão é interpretada por Marcelo Castro, que aos poucos vai conquistando a plateia com sua composição poética e contagiante, ao fugir de uma possível caricatura dos que preferem o caminho fácil quando fazem papel de animal.

Por Elise é uma fábula de efeito moral, numa narrativa elipsada, marcada por vazios, saltos e silêncios profundos. O título da peça remete à peça de Beethoven, Pour Elise, que em algumas cidades é utilizada em anúncio de caminhão de gás. Por Elise foi eleito informalmente por críticos, jornalistas e público como um dos melhores espetáculos do Fringe (programação paralela do Festival de Teatro de Curitiba) deste ano, em meio a mais de 150 montagens.

“Cuidado com o que toca; com a capacidade que gente tem de se envolver com as coisas”, adverte a verborrágica dona-de-casa da peça, incentivando a plateia a se arriscar nos envolvimentos, mesmo que isso gere “uma pancada doce”, aquela dor repentina, mas que faz com que cada um acredite que vale a pena transpor os muros para o encontro, a conversa de amigos, que no fundo é sempre muito bom.

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Grace Passô no papel da dona de casa de Por Elise

Grace Passô no papel da dona de casa de Por Elise

Confira entrevista com Grace Passô, concedida após a apresentação do espetáculo Por Elise, no Teatro Luiz Souto Dourado, de Garanhuns, durante o 23º Festival de Inverno. Ela fala sobre o Grupo Espanca!, o seu amadurecimento profissional e os novos projetos, agora que deixou o grupo (mas continua envolvida com as montagens do repertório).

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O menino da gaiola estreia neste sábado

O menino da gaiola, texto de Cleyton Cabral e direção de Samuel Santos. Foto: Ângulo cinematografia

O menino da gaiola estreia neste sábado. Foto: Ângulo cinematografia

O espetáculo O menino da gaiola, texto do ator, publicitário e dramaturgo Cleyton Cabral, estreia neste sábado, com a assinatura do diretor Samuel Santos. É uma dramaturgia que trata de temas difíceis, como o abuso sexual. No elenco, Evilásio de Andrade como o protagonista; Auricéia Fraga, Márcio Fecher, Eduardo Japiassu e Ana Souza.

Conversamos como Samuel, que esteve à frente de produções como A terra dos meninos pelados, O amor do galo pela galinha d’água, Historinhas de dentro e O circo Rataplan, sobre a peça e o seu trabalho como diretor.

Entrevista // Samuel Santos

O que você destacaria na encenação?
O texto é de uma essencialidade e coragem fundamentais para a abordagem desse quadro atual e urgente que é o universo para crianças. O menino da gaiola aqui em Pernambuco é um precursor de uma dramaturgia voltada para as questões sociais da infância, sem esconder a realidade, nem tratar essa realidade como uma fantasia paradisíaca. Vemos no sonho do protagonista – Vito – uma dimensão utópica própria do universo infantil: o de voar e ir para lugares imaginários. Só que Vito não viaja por terras distantes do faz-de-conta ou paraísos perfeitos, com animais falantes, heróis com capa e espadas. Ele faz uma viagem por dentro da realidade. Ou seja, ele sonha, mas o seu sonho o leva a passear pela realidade. Diferente do que estamos acostumados a ver, a ler a criança sonhando com castelos, príncipes e afins. Há uma inversão de paradigmas. Vito quer libertar, fazer voar os sonhos presos e oprimidos de cada um que ele encontra na sua jornada. Tudo isso de forma lúdica e poética. E, claro, destaco toda a equipe que está se doando para colocar essa montagem na cena pernambucana. Os atores entregues à proposta, as músicas compostas especialmente pela cantora Isaar, o desenho de luz criado pelo O Poste Soluções Luminosas, figurinos, cenários e produção da jovem produtora Clarisse Fraga, que inicia sua primeira produção apostando nesse espetáculo infantil nada tradicional.

A atriz Auriceia Fraga é o destaque no elenco

A atriz Auriceia Fraga é o destaque no elenco

Como o texto é levado à cena?
No texto, os personagens estão à margem da sociedade, como um mendigo que teve o rosto queimado e uma menina de sete anos que é assediada pelo padrasto. Unir esses temas delicados e melindrosos, colocando o texto numa determinada perspectiva como o autor propõe e determinar os laços que se interligam: as personagens, os cenários, os climas, as cores, os objetos e todos os elementos que o compõem, leva a encenação a buscar um conceito que não prendesse e nem tão pouco deixasse os elementos em fragmentada desordem. A escolha recorre sobre: voo/liberdade. Sobre o onírico o lúdico. Cada elemento visualizado e sonorizado na encenação terá um despojamento cênico peculiar ao conceito. Ou seja, os elementos serão soltos na sua execução e na sua transição de cena. Redes, gaiolas, sofá, tecidos, adereços entrarão e sairão de cena de forma lépida. Os cenários não serão fixos, eles vão entrando conforme o tempo, espaço e a geografia da cena. Antes de qualquer forma concretizada nos elementos cênicos da peça o conceito está implícito, ele vem a partir do interno dos atores. A encenação não optou em suavizar os temas propostos, há uma seriedade e serenidade na proposta, porém essa seriedade é envolta em muita poesia e dentro do jogo lúdico, pois nossa intenção primordial não era fazer do espetáculo um programa de auditório ou “Tatibitati”.

Qual a marca do seu trabalho como diretor e, especificamente, neste espetáculo?
O ator e a poesia. O ator no sentido de nunca esquecê-lo e a poesia por entender que ela é essencial ao teatro. Num dos ensaios de O menino da gaiola, um dos meus atores disse que eu era muito exigente. Mas ele disse sem nem travo ou ranço de que estava sendo oprimido, pois a minha exigência, meu rigor era sem o grito, sem a violência. Era estar atento ao ator em cada detalhe: emoção, gesto e voz, no seu comportamento na cena. E no Menino acredito que o público verá essa minha marca. Meu olhar é de atenção, preocupação com a linguagem tanto para crianças como para adultos. Meu olhar é de insatisfação, esmero, inquietude, reflexão. Meu olhar para essa montagem está mais maduro, ao mesmo tempo infante, pois o que tento reproduzir no teatro não é o olhar do adulto Samuel Santos, mas do Samuca, a criança Samuca, que tenta fazer do teatro uma forma de aventurar-se e refletir.

O menino da gaiola
Quando: sábados e domingos, às 16h, até 4 de agosto
Onde: Teatro Apolo (Rua do Apolo, 121, Bairro do Recife)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)
Informações: (81) 3355-3320 / 3321
Indicação: 7 anos

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