Arquivo mensais:junho 2013

Dança de vida e morte

Bailarino Tadashi Endo faz quatro apresentações na CAIXA Cultural a partir desta quarta-feira

Bailarino Tadashi Endo faz quatro apresentações na CAIXA Cultural a partir desta quarta-feira

O título do espetáculo apresenta uma suposta contradição para nós, ocidentais. Ikiru significa vida; réquiem é uma forma de homenagem aos mortos. Complementaridade talvez fosse a palavra mais correta.

Ikiru – Um réquiem para Pina Baush, é um espetáculo em que o bailarino Tadashi Endo exalta a brevidade da existência como também celebra seus mestres momrtos, com destaque para a coreógrafa Pina Baush, morta em 2009.

Tadashi Endo associa o Butoh-MA (estar entre) e a Dança Teatro. Ele foi aluno de Kazuo Ohno, criador do Butoh no Japão juntamente com Tatsumi Hijikata.

Espetáculo IKIRU presta homenagem à coreógrafa alemã Pina Bausch

Espetáculo IKIRU presta homenagem à coreógrafa alemã Pina Bausch

Serviço
IKIRU – Um Réquiem para Pina Bausch
Quando: de hoje a sábado, às 20h
Onde: Teatro da Caixa / Caixa Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505 – Bairro do Recife)
Quanto: R$ 20 e R$ ,10 (Meia). Lotação: 96 lugares.
Classificação indicativa: 14 anos
Informações: (81) 3425-1900

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Cia Teatro de Seraphim estreia As Confrarias

Antonio Cadengue assina direção de As confrarias. Fotos: Américo Nunes

Antonio Cadengue assina direção de As confrarias. Fotos: Américo Nunes

O decreto de Creonte era claro: dizia que o corpo de Polinice não deveria ser pranteado ou enterrado. Assim como Antígona não deixou o irmão insepulto, na tragédia grega escrita por Sófocles, no teatro moderno de Jorge Andrade (1922-1984), a personagem Marta também venceria qualquer obstáculo para conferir dignidade ao filho José, depois da morte. O drama dessa mãe é contado em As confrarias, texto que – apesar de escrito em 1969 – só estreia nacionalmente agora, em encenação pernambucana assinada por Antonio Cadengue. A montagem marca a retomada das atividades da Companhia Teatro de Seraphim, cuja última produção foi A filha do teatro, há seis anos. A peça entra em cartaz no dia 9 de junho, cumprindo temporada até o fim do mês, de quinta-feira a domingo (20h), no Teatro Barreto Júnior.

Em 1977, Jorge Andrade concedeu entrevista à Folha de S. Paulo em que sentenciou: “Não há censura que acabe com o homem brasileiro. Ninguém pode apagar a história. Uma hora ou outra ela vem à tona. A minha obrigação é escrever, registrando o homem no tempo e no espaço. Se a peça vai ser encenada agora, ou não, isso é outro problema. Um dia ela será”. A declaração evidenciava a noção do dramaturgo quanto à dificuldade de se montar As confrarias à época, oito anos depois de escrita.

Aquele era um tempo de censura ferrenha – o primeiro ano de vigor do Ato Institucional nº 5, no governo do general Costa e Silva. Talvez por isso aspectos práticos, como o número de personagens do enredo, não importaram ao autor: são 43, se considerarmos todas as indicações. O desafio de transpor ao palco uma dramaturgia com tantos personagens não assustou a Seraphim que, em 1995, empreendeu outra estreia nacional – Os Biombos, de Jean Genet – com mais de cem deles.

“Como não houve montagem, Andrade não teve chance de ouvir o texto, de revê-lo através do palco, como aconteceu com outras obras, principalmente com aquelas encenadas pelo Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), como Pedreira das almas, A escada, Os ossos do Barão e Vereda da salvação”, explica o diretor que, ao lado da atriz Lúcia Machado e de Igor de Almeida Silva, doutorando em Artes Cênicas, adaptaram a dramaturgia. Foram cerca de 15 versões testadas à exaustão durante os ensaios – 14 atores se revezam na interpretação dos personagens.

Peça de Jorge Andrade nunca havia sido montada

Peça de Jorge Andrade nunca havia sido montada

Jorge Andrade usa um pano de fundo histórico: ambienta a ação em Vila Rica, hoje Ouro Preto, à época da Inconfidência Mineira, no século 18. Marta carrega o corpo do filho, na difícil missão de enterrá-lo, já que não havia cemitérios públicos. Para ser sepultado, o morto deveria pertencer a uma confraria, só que o filho exercia uma profissão profana: ator de teatro. A mãe vai, então, percorre quatro confrarias: a Irmandade do Carmo (confraria dos brancos), a Irmandade do Rosário (dos negros puros), a Irmandade de São José (dos pardos, que aceita artistas, pintores, escultores, trabalhadores) e a Ordem Terceira das Mercês (mistura de negros, brancos e mulatos).

Essa jornada materna evidencia questões sociais, políticas e econômicas – a desigualdade social, os preconceitos, as injustiças. O autor vasculhou a história, mas para referir-se ao seu tempo, ao Regime Militar. Parece o mesmo intuito da montagem agora ao lançar discussões, por exemplo, sobre a intolerância.

Teatro Político – A peça utiliza ainda do recurso da metalinguagem e questiona as funções do ator e do dramaturgo, da arte e do teatro na contemporaneidade, principalmente no que diz respeito ao caráter de contestação que podem assumir. Ao rememorar o passado, Marta resgata a figura do filho representando, por exemplo, a tragédia Catão, de Almeida Garret, que tratava dos abusos de poder na Roma Antiga. “Tenho algumas mães na minha carreira, como a de Bodas de sangue, de Federico Garcia Lorca, mas faltava Marta. É muito forte perceber que ela praticamente leva o filho à morte, porque o incitou a lutar através dos personagens que ele fazia”, diz Lúcia Machado.

Desde 2007, a atriz estava longe dos palcos, exercendo funções relacionadas à gestão cultural, como a coordenação do Centro Apolo-Hermilo, ligado à Prefeitura do Recife. O elenco conta com mais duas mulheres: Nilza Lisboa, que faz a Marta jovem; e Brenda Lígia, interpretando Quitéria, amante de José. Completam o time de atores Rudimar Constâncio, Alexsandro Marcos, Gilson Paz, Ivo Barreto, Marinho Falcão, Mauro Monezi, Ricardo Angeiras, Taveira Júnior, Carlos Lira, Marcelino Dias e Roberto Brandão. Os três últimos estavam em Vestígios, montagem mais recente assinada por Cadengue. “As confrarias é uma peça em que a teatralidade está muito baseada na imagem, uma característica, aliás, dos trabalhos do diretor”, comenta o ator Rudimar Constâncio.

Na encenação, Cadengue explora o “estranhamento brechtiano” – elementos que tiram por alguns instantes o espectador da fábula e podem ser até bizarros. “Inicialmente, para resolver um problema da encenação, imaginei a figura de um anjo que vai aparecer em alguns momentos da peça. Como Jorge Andrade, gosto da metalinguagem e trago elementos intertextuais para a cena. Esse anjo tanto é uma homenagem a Nelson Rodrigues e ao seu Anjo negro quanto às referências interétnicas da obra do fotógrafo americano Robert Mapplethorpe e a própria Seraphim, cujo ícone é um anjo de fogo”, afirma. Outras influências para a cena também foram trazidas pelo diretor, como o filme Terra em transe, de Glauber Rocha.

Montagem marca a retomada da Cia Teatro de Seraphim

Montagem marca a retomada da Cia Teatro de Seraphim

A ficha técnica da produção, que conta com o apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), inclui a cenógrafa Doris Rollemberg, parceira da companhia desde Os biombos; figurinos, adereços e maquiagem de Aníbal Santiago e Manuel Carlos; luz de Luciana Raposo; e trilha sonora de Eli-Eri Moura. Para o diretor, ainda que tenha um traço trágico, a peça carrega em si o valor da esperança. Numa das falas, Marta diz que gosta de plantar. “É uma montagem que trata deste país. De como ele é complexo, difícil, mas como pode ser lido através da poesia, pela lente do teatro.”

* Esse texto foi originalmente publicado na edição de junho da Revista Continente

Serviço:
As confrarias
Quando: estreia neste domingo (9), somente para convidados
Temporada: de quinta a domingo (de 13 a 30 de junho), às 20h
Onde: Teatro Barreto Júnior (Rua Estudante Jeremias Bastos, s/n, Pina)
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada)

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Um encontro com Boal

Augusto Boal.

Augusto Boal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

” 

Teatro do Oprimido pode ser realizado em qualquer parte do planeta, visto que em toda parte há seres humanos e também há opressão

 

É um método de descoberta do desejo e de ensaio de realização deste desejo.

Ele surgiu em São Paulo, no início dos anos 1970. No princípio chamava-se Teatro Jornal.

Na Argentina tive uma experiência  com o Teatro Invisível, que é uma forma de utilizar o teatro dentro da realidade sem revelar que é teatro
A censura se dá de duas formas. Uma delas é a policial, usada no regime autoritário no Brasil.  A outra – tão ruim quanto – é aquela que se dá na forma da sedução.
Isso é o padrão de censura dominante no Brasil. É a coerção pelo poder econômico.
São as empresas que determinam o que pode ser feito e o artista não está livre para fazer suas experiências.
O que ocorre no Brasil é a privatização da cultura. O patrocinador vê a produção artística como parte de seu projeto de marketing.
Isso vai torna a arte asséptica. O que os patrocinadores geralmente querem é reproduzir um mundo velho, já conhecido e aprovado.
O pressuposto de que cultura tem de dar lucro é dos neoliberais.
A cultura tem que ser subsidiada.
O lucro da arte se dá de outro jeito. Enriquecendo a forma de pensar do espectador. É um lucro do crescimento humano, de um valor muito difícil de ser medido já que não se trata de uma mercadoria vulgar.
A arte faz o homem mais rico

 

Augusto Boal e o Teatro do Oprimido em Paris, 1975. Cedoc-Funarte

Augusto Boal e o Teatro do Oprimido em Paris, 1975. Foto: Cedoc-Funarte

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Augusto Boal era puro amor ao teatro. Um  mito. Uma bússula.  Um libertário que apostava  que essa arte aparentemente tão frágil poderia mudar o mundo, fazer a revolução.

Lembro do teatrólogo com um sorriso sempre aberto e entusiasmo pela vida que contagiava seu interlocutor. Ele veio ao Recife para um encontro e eu tive o prazer e a honra de passar algumas horas ao seu lado, ouvindo suas ideias. Sua sede por justiça. Sua fome de oportunidades para todos.

Boal faz falta.

A entrevista abaixo foi publicada em 20 de setembro de 2000, no Diario de Pernambuco.

 

Augusto Boal

Augusto Boal esteve no Recife em 2000, durante a Conferência Internacional Mudança de Cena II

O teatrólogo Augusto Boal foi tratado como sujeito de extrema periculosidade pelo regime militar. Foi preso, torturado e exilado em 1971. Nessa temporada forçada no exterior, criou técnicas de teatro. O Teatro do Oprimido foi lançado em 1974, traduzido para dezenas de idiomas e até hoje é uma publicação bem vendida. O livro reúne experiências do autor/diretor com o teatro invisível, quando o espectador participa do espetáculo e de técnicas para colocar no centro da cena quem está à margem. O seu método é praticado em mais de 70 países em todo mundo. Boal sempre lutou por um mundo mais justo para todos. Figura central do Teatro de Arena nos anos 1950 e 1960, em São Paulo, ele fez espetáculos como Arena conta Zumbi. O dramaturgo, que lançou recentemente sua autobiografia, Hamlet e o Filho do Padeiro, da editora Record, chega hoje ao Recife para participar da conferência internacional Mudança de Cena II.

ENTREVISTA // Augusto Boal

Como o senhor vê o atual momento do teatro brasileiro, dominado pelo besteirol e pelas constantes reclamações dos artistas e público de que o teatro brasileiro vai mal?

Augusto Boal – Vai de mal a pior. O teatro segue o País que vai de pior em pior, como dizia a canção do João do Vale. Hoje nós vivemos escravos em um País escravo. Não nos damos conta disso porque se trata de uma nova forma de escravidão, na qual os senhores são invisíveis – FMI, bolsa de NY, Hong-Kong, bancos internacionais. Onde estão? Não os vemos, mas somos escravos porque o que caracteriza a escravidão é a total ausência de livre arbítrio – nós não temos mais livre arbítrio, os brasileiros não podem decidir o que fazer com um salário mínimo de 151 reais, com o pagamento mensal de um bilhão e 500 milhões de dólares de juros e serviços da dívida externa. Sobram as migalhas. Dana-se a educação, a saúde, a cultura. Enquanto o Brasil não se libertar desse jugo odioso, o teatro irá sempre mal, de mal a pior… A privatização da cultura faz com que muitos artistas estejam deixando de ser donos de suas vozes para se transformarem em vozes dos seus donos. É triste.

Hoje, o senhor faria revisões à metodologia do Teatro do Oprimido?

Boal – Não são necessárias. O que é necessário á incluir novas técnicas que dêem conta de novos problemas. O método é o mesmo, mas nestes quase 30 anos tem sido constantemente enriquecido: teatro imagem, teatro fórum, teatro invisível, arco-íris do desejo, teatro legislativo. Nada disto é inútil, precisamos apenas saber em que momento usar uma técnica ou uma outra. T.O. não é moda nem modismo: é método mesmo, método de pensar, forma de inventar.

Como o senhor identifica os trânsitos possíveis entre a arte e a realidade brasileira?

Boal – A arte é uma representação do real, não é o real. Como tal, de algum ponto no mundo essa representação é feita – isso mostra que o artista está localizado em algum lugar e vê o mundo – por isso, toda arte é sempre política. Além do mais, ao contrário da pintura, por exemplo, que representa um instante do real, o teatro representa o movimento desse real. Maior ainda a nossa responsabilidade: O que mostrar? Para onde vai o mundo e para onde poderá ir?

“O teatro é uma forma de se entender a dor, dominá-la. Fazemos teatro para sermos maiores que a dor”. Este é um poético conceito do senhor sobre o fazer artístico e até das motivações da opção pela arte. Quando isso pode se materializar?

Boal – Qualquer ato artístico criador concretiza esse sonho. Ser artista é ser humano. Ser humano é ser capaz de transformar o mundo. É verdade que uma boa parte da humanidade está desumanizada, mas ainda existem muita gente que respira, vive, trabalha para que o mundo – principalmente o Brasil e outros países igualmente miseráveis no que se refere à sua população – se transforme!

O mundo de hoje está numa maré de despolitização. O individualismo é a principal tendência em todos os segmentos. Como é possível fazer conexões com as utopias de uma sociedade mais justa para todos diante da globalização, que continua impondo a exclusão?

Boal – Existem dois sonhos: O que substitui a realidade e o que é posto à nossa frente para que alcancemos a mudança. Nada se pode mudar se não for antes sonhado. Chame-se a isto utopia, pouco importa – é o sonho bom. O mau é quando vemos o povo olhando TV e vendo na tela a mesa farta enquanto que em sua casa nem sequer tem mesa, menos ainda comida; na tela, felicidade e piscinas de água quente; na casa do telespectador, nem água corrente nem felicidade.

Nas décadas de 1960 e 1970 a discussão das relações entre política e teatro animavam o fazer teatral no Brasil. Como este debate pode ser feito atualmente?

Boal – Através da ação. Fazendo Teatro do Oprimido, por exemplo.

As técnicas do Oprimido foram adotadas em várias cidades do mundo. A que o senhor atribui o sucesso internacional do seu método?

Boal – Ao fato de que é verdadeiramente um método democrático e não uma cartilha, não um catecismo. É socrático e sinceramente pergunta, interroga, quer saber e não ordena, não força ninguém a fazer o que talvez não possa. É criativo, é saudável, é terapêutico, é divertido. Como não fazer sucesso no mundo inteiro se assim é? Hoje, o T.O. se pratica em mais de 70 países do mundo.

O senhor tem uma agitada agenda internacional. O que o público de outros países questiona nas suas conferências?

Boal – Dialogamos. Os temas que os participantes em qualquer país sempre querem tratar são principalmente: a opressão da mulher, o racismo, e a falta de dinheiro, emprego, etc.

Como o senhor vê a política no Brasil nesse final de século?

Boal – Precisamos lutar por uma nova abolição. Basta de escravidão! Eu me sinto como Bolívar: sou (somos!!!) lavradores do mar – tudo o que fizemos ficou por fazer. O Brasil se libertou do colonialismo português e caiu sob o domínio feroz e humilhante da globalização atual.

Qual sua expectativa sobre o futuro? O senhor é otimista?

Boal – Acredito no trabalho, na luta, na criatividade, na solidariedade, no trabalho conjunto, acredito em tudo que é bom. Sou otimista sim, mas não sou bobo!

Qual o seu sentimento sobre a “globalização cultural”?

Boal – Querem nos transformar em robôs, em clones, em ovelhas Dolly, em números. Querem nos arrancar nosso nome. E eu quero que cada um de nós seja capaz de dizer “eu” para que possa logo depois dizer “nós”! Quero a unificação de todos os que lutam e os globalizantes querem a uniformização, isto é, a destruição da identidade!

 

Boal protagonizou debates contra a opressão

Boal protagonizou debates contra a opressão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Só depois de concluir o curso de química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1950 é que Boal foi atrás de sua formação teatral. Ele estudou teatro na Universidade de Columbia , em Nova Iorque, foi aluno de John Gassner e assistiu aulas do Actor’s Studio.

Após esse aprendizado tornou-se diretor e dramaturgo e depois teórico teatral.

No Teatro de Arena, Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e José Renato protagonizam uma revolução cênica a partir do pensamento. Boal dirigiu clássicos da dramaturgia mundial de Molière, Lope de Vega, Gogol, Maquiavel. Colocou em cena o homem comum, em montagens como Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes.

Na Argentina ele criou a estrutura teórica dos procedimentos do Teatro do Oprimido.

 

Ele retornou de vez ao Brasil em meados da década de 1980.

Montou:

O Corsário do Rei (1985), texto de sua autoria com música de Edu Lobo e letras de Chico Buarque;

Fedra (1986), de Racine, com Fernanda Montenegro no papel-título.

 

Em 2009, ano de sua morte, foi nomeado embaixador mundial do teatro pela UNESCO.

 

Espetáculos de Augusto Boal no Teatro de Arena

1956. Ratos e Homens. De John Steinbeck. Direção: Augusto Boal.
1957. Juno e o Pavão. De Sean O’Casey. Direção: Augusto Boal.
1957. Marido Magro, Mulher Chata. Texto e direção: Augusto Boal.
1958. A Mulher do Outro. De Sidney Howard. Direção: Augusto Boal.
1959. Chapetuba Futebol Clube. De Oduvaldo Vianna Filho. Direção: Augusto Boal.
1959. A Farsa da Esposa Perfeita. De Edy Lima. Direção: Augusto Boal.
1959. Gente como a Gente. De Roberto Freire. Direção: Augusto Boal.
1960. Revolução na América do Sul. De Augusto Boal. Direção: José Renato.
1960. Fogo Frio. De Benedito Ruy Barbosa. Direção: Augusto Boal.
1961. Pintado de Alegre. De Flavio Migliaccio. Direção: Augusto Boal.
1961. O Testamento do Cangaceiro. De Chico de Assis. Direção: Augusto Boal.
1962. A Mandrágora. De Maquiavel. Direção: Augusto Boal.
1963. O Melhor Juiz, o Rei. De Lope de Vega. Direção: Augusto Boal.
1963. O Noviço. De Martins Pena. Direção: Augusto Boal.
1964. Show Opinião. De Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Augusto Boal. Direção: Augusto Boal.
1964. Tartufo. De Molière. Direção: Augusto Boal.
1965. Arena Conta Zumbi. De Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri. Direção: Augusto Boal.
1965. Tempo de Guerra. De Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. Direção: Augusto Boal.
1966. O Inspetor Geral. De Nikolai Gogol. Direção: Augusto Boal.
1966. A Criação do Mundo Segundo Ary Toledo. De Augusto Boal e Guarnieri. Direção: Augusto Boal.
1967. Arena Conta Tiradentes. De Augusto Boal e Guarnieri. Direção: Augusto  Boal.
1967. O Círculo de Giz Caucasiano. De Brecht. Direção: Augusto Boal.
1967. La Moschetta. De Angelo Beolco. Direção: Augusto Boal.
1968. Mac Bird. De Bárbara Garson. Direção: Augusto Boal.
1968. Primeira Feira Paulista de Opinião. Vários autores. Direção: Augusto Boal.
1968. Sérgio Ricardo na Praça do Povo. Texto e direção: Augusto Boal.
1969. Chiclete e Banana. Texto e direção: Augusto Boal.
1969. O Comportamento Sexual Segundo Ary Toledo. Direção: Augusto Boal.
1970. Arena Conta Bolívar. Texto e direção: Augusto Boal.
1970. A Resistível Ascensão de Arturo Ui. De Brecht. Direção: Augusto Boal.
1970. Teatro Jornal Primeira Edição. Vários autores. Direção: Augusto Boal.

 

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Quando teatro era resistência

Paulo José. Foto: Pollyanna Diniz

Paulo José. Foto: Pollyanna Diniz

Foram duas horas de conversa. Não lembro exatamente qual era o teatro em Curitiba, mas ficava afastado do Centro. Fui ver Murro em ponta de faca e pedi uma entrevista. Gentil, ele disse que me atenderia na tarde do dia seguinte, antes da nova sessão do espetáculo.

Paulo José faz parte da história do teatro brasileiro – e, definitivamente, essa não é só uma frase de efeito. Ele, Augusto Boal, Vianinha, José Renato Pécora, Gianfrancesco Guarnieri. Um tempo em que o teatro era, muito mais do que hoje, atividade de resistência. O que o Arena, o Centro Popular de Cultura (CPC) queriam era, além de levar ao palco a realidade dos trabalhadores, da exploração, do capitalismo, discutir sobre os processos históricos que determinavam essa realidade, sem que isso significasse um teatro chato – muito pelo contrário.

Como Murro em ponta de faca, peça que tem direção de Paulo José, faz curta temporada no Centro Cultural da Caixa desta quarta-feira (6) até o próximo sábado, resolvi resgatar essa entrevista com o ator, diretor e dramaturgo, realizada em 2011, no Festival de Curitiba.

Entrevista // Paulo José

Qual a diferença de dirigir Murro em ponta de faca em 1978 e em 2011?
Esta versão agora nos dá a possibilidade de mergulhar no personagem. Naquele momento, tudo tinha acontecido. Era muito mais ebulição do que razão. Hoje a peça intriga, provoca, dá vontade de conhecer mais da época. É saber o princípio, a origem desse mal. Na época, o sucesso dela, o encontro dela com o público, era natural por causa das circunstâncias, da luta pela anistia, da campanha Tortura nunca mais. Não precisava nenhuma teatralidade especial. Poderia ser quase uma leitura. Agora é mais profundo, estamos menos presos à superfície, ao aparente. E são muitas as referências a coisas que aconteceram naquela época, que não necessariamente as pessoas sabem hoje. Há uma referência clara, por exemplo, ao chileno Víctor Jara (professor, diretor de teatro, poeta, cantor, compositor, músico e ativista), que teve as mãos cortadas. É cheio de referências também ao Marighella (Carlos). Apesar de que, no Brasil, a ditadura foi menos dura do que na Argentina e no Chile. Os militares aqui tinham origem de classe média, classe média baixa. Em muitas situações, eles se encontravam tendo que reprimir a própria família. Diferente do exército argentino, que tinham inimigos de raízes. Aqui, os militares se viam às voltas com parentes presos, tendo que resolver “pepinos” familiares.

É a segunda vez que Paulo José dirige texto de Boal

É a segunda vez que Paulo José dirige texto de Boal

Como você enfrentou a ditadura. Mesmo não tendo sido exilado, teve essa sensação aqui mesmo?
Claro! Eu era do Teatro de Arena. E a peça que estava em cartaz na época do golpe era O filho cão. Era do Guarineiri (Gianfrancesco) e eu dirigia e atuava. A polícia foi lá para fechar o teatro. Mas nós escapamos todos. Guarnieiri e o Juca de Oliveira foram para Bolívia. Augusto Boal foi para uma fazenda. Fiquei na casa de Cacilda Becker, que morava numa cobertura, esquina com a Avenida Paulista. Fiquei lá um mês. Depois de 15 dias na Bolívia, o Guarnieri e o Juca decidiram voltar. Disseram que preferiam morrer. Depois disso, o Boal foi preso, torturado. Éramos privados da liberdade de ir e vir, de todos os bens, de qualquer conforto que o dinheiro pudesse dar, dos teus discos, filmes, instrumentos musicais. Esse sentimento não tem idade. E hoje as pessoas, noutra situação, também são desprovidas de tudo. Mas naquela época, essas pessoas iam para a Sérvia, para a Croácia. Ficavam sem dinheiro, precisavam da família no Brasil. Mas mandar dinheiro também não era fácil. Então, às vezes, era fome, necessidade mesmo. Era uma indignação, uma vergonha, a gente ser tutelado por imbecis. Apresentar uma peça para a censura, para que eles dessem o parecer. Pessoas desqualificadas, ignorantes. Às vezes a gente colocava, por exemplo, um palavrão na peça, só para poder negociar. Porque eles iam implicar com aquilo e deixavam outras coisas passar. Os policiais entravam na tua casa. Os livros perigosos ficam no fundo falso do guarda-roupa. Lembro de perguntarem que eram Aristófanes.

O Boal chegou a ver a peça sendo encenada? Qual a importância dele para o nosso teatro?
O Boal escreveu no exílio. E quando voltou em 1983, acho (na realidade, 1986), a peça já tinha sido encenada. O Boal era devotado ao teatro. Enquanto nós éramos “adúlteros”, namorávamos o cinema, a tv, ele era fiel. Quem sustentou o Arena foi o Boal, por mais de dez anos. Nós íamos para o TBC, para o Oficina. Mas o Boal estava no Arena.

Falando nisso, atuar na televisão, cinema ou teatro é a mesma coisa?
São formas diferentes de trabalhar, mas não há dificuldade. Tenho preferência por cinema e teatro. A televisão é redundante, não é muito inovador. A comunicação é horizontal. Se todo mundo tem que entender, o foco é menor. No teatro, se uma pessoa entender, tudo bem. A programação da televisão também tende a ter um discurso homogêneo, desde a manhã ate a hora que acaba. E o meio se transforma na própria mensagem.

A música é importante? Neste trabalho, o senhor está “brincando” no teclado…
Sempre trabalho com música. Gosto muito, por exemplo, do trabalho do Galpão, porque é muito musical, porque todos tocam. Gosto muito do teclado, mas eu não toco mesmo, por causa do Parkinson. Até para escrever no computador é difícil. Quero digitar uma tecla e vou para outra.

Como foi a descoberta de que tinha a doença e lidar com isso?
Foi em 1992. Uma doença degenerativa, progressiva e irreversível. Foi o que me disse o médico. Ele estava lá, receitando o remédio e eu perguntei “por quanto tempo vou tomar?”. “Durante toda a vida”, ele me disse. E aí, olhando para ele, um homem quase careca, perdendo o cabelo, descobri que ele também tinha o Parkinson dele: o envelhecimento. Que é progressivo, irreversível, degenerativo. A diferença é que eu tinha a certeza que ia morrer e ele não. Como se fosse eterno. Você passa a ter limitações, mas você descobre outras coisas, a introspecção, a concentração. Passei a escrever bem. A minha acuidade musical aumentou. Os meus sentidos foram aguçados. Cada um tem o seu Parkinson. E eu tenho 74 anos, já estou fora da garantia. É só manutenção, não troca mais peça nenhuma.

Mas quais são os cuidados?
Remédios. E hoje faço aula de voz, ginástica, hidroginástica.

Você já fazia ginástica?
Não! Ginástica faz mal! (Risos) Queima! Nunca fiz. Fazia exercício, mas tinha que ser prático, com bola, ou andar a cavalo.

Tem medo da morte?
Não tenho medo. Mas você tem que se preparar bem. As pessoas morrem mal porque não se preparam. São surpreendidas. Estou procurando deixar um testemunho pessoal das coisas que fiz. Estou passando a limpos coisas que escrevi para publicar. Cadernos de direção, de cinema. Dei aula de cinema em Cuba, por exemplo. Na Globo, dei aula para diretores e atores.

Nas duas últimas peças em que você esteve envolvido, você trabalhou com as suas filhas (Um navio no espaço ou Ana Cristina César e Histórias de amor líquido). É diferente? E o seu trabalho de direção também tem sido diferente com o tempo?
Acho que não…Cada peça tem suas exigências, necessidades. Mas a diferença que é estou ficando calmo, sossegado, não fico sofrendo. Até porque percebi que é só uma peça de teatro, tem limites previamente estabelecidos. Então fico mais calmo, tranqüilo. O que me interessa no teatro são as relações humanas, é ajudar a desenvolver potencialidades nos outros. E as pessoas me ouvem, me respeitam. Então me aproveito disso. Eu “chupo” o sangue destes atores jovens, a energia deles para mim.

Vamos falar de televisão. Como é o próximo papel?
É nessa novela nova..Morde e assopra. Entro e fico até o fim da novela. Representa o amor na terceira idade. É o Plínio. Ele volta para a cidadezinha onde tinha deixado a namorada. Gosto de trabalhar como ator. Tenho contrato com a Globo desde 1969. Então tenho que fazer algo de vez em quando. Faço a novela..aí passo mais algum tempo fazendo teatro e cinema.

Falando em cinema…o que o senhor acha da produção pernambucana?
Ah…o Cláudio Assis, o Lírio Ferreira, já estão consagrados, sabem fazer. Cláudio Assis é um louco! Aspirinas e urubus é um filme muito bom. Tem baianos também muito bons no cinema. Meu próximo papel é no filme Palhaço, de Selton Mello, que deve ser lançado em maio. É um filme autoral, que o Selton escreveu, produziu. Temos uma safra muito boa.

E deixa eu perguntar…o que o senhor acha da ministra Ana de Hollanda?
A linhagem é boa…é filha de Sérgio Buarque, de uma família que tem respeito pela cultura. Mas está apenas começando…Mesmo o governo da Dilma ainda é muito cedo. Já percebemos que ela tem diferenças de Lula, mas ainda é cedo…

Uma pergunta clássica: algum papel que gostaria de fazer e ainda não teve oportunidade?
Tem personagens da literatura, personagens reais, que a gente gosta. Mas eu não estou sofrendo com isso. Tenho tanta coisa para fazer sempre!

E vai fazer teatro até quando?
Até morrer!

Não existe aposentadoria para o teatro?
Não existe! Até porque, no teatro, tem papel para todo mundo, independentemente da idade. Aos 90, ainda terão papeis que são ideais pra mim.

Montagem faz curta temporada no Recife

Montagem faz curta temporada no Recife

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Uma peça na contramão do esquecimento

Murro em ponta de faca. Foto: Pollyanna Diniz

Murro em ponta de faca. Foto: Pollyanna Diniz

O teatrólogo Augusto Boal escreveu Murro em ponta de faca em 1971, no exílio politico durante a ditadura militar. A peça é sobre um grupo de brasileiros que, como ele, foi expulso do país. Seu amigo Paulo José montou a peça em 1978, no Teatro de Arte Israelita Brasileira, o TAIB, em São Paulo. A encenação da companhia de Othon Bastos reunia no elenco Renato Borghi, Francisco Milani e Marta Overback. A direção musical era assinada por Chico Buarque e
os cenários e figurinos por Gianni Ratto.

Mais de três décadas depois, Paulo José volta dirigir a peça, dessa vez a convite de Nena Inoue, atriz e produtora curitibana do Espaço Cênico. A estreia aconteceu em 2011, no Festival de Curitiba, com elenco formado, além de Nena, pelos atores Abilio Ramos, Erica Migon, Gabriel Gorosito, Laura Haddad e Sidy Correa. Boal não assistiu a nenhuma das duas montagens. Na primeira, ele estava exilado; e morreu antes da estreia desta versão, em 2009.

Murro em Ponta de Faca chega ao Recife, nesta quarta-feira (05), às 20h, na Caixa Cultural no Recife Antigo, onde fica em cartaz até sábado.

O diretor transforma o isolamento de um exilado numa solidão existencial. “A condição do exilado é muito cruel. Ele não tem direito algum, ninguém quer saber, ele não tem moeda de troca, é um pedinte, um fedorento”, já disse Paulo José.

Três casais de classes sociais distintas dividem o mesmo espaço e compartilham dores e esperanças, que carregam em malas e caixas. Estão lá um casal de operários, outro de burgueses e o terceiro de intelectuais, de três gerações. No início elas estão no Chile, passam pela Argentina e terminam na França. Nessa trajetória, lembram que o terror esteve presente em outros países da América Latina.

Boal foi Indicado ao Prêmio Nobel da Paz, em 2008, e em março de 2009, foi nomeado pela UNESCO como Embaixador Mundial do Teatro.

Serviço:
Murro em Ponta de Faca
Quando: De quarta-feira (05) a sábado, às 20h
Onde: Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, 505 , Praça do Marco Zero, Recife Antigo) 

Quanto: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) 

Informações: (81) 3425 1900

Oficina de Iniciação Teatral: 08/6 (14h às 18h)
Aula de Iluminação – A Luz na Cena: 8/6 (15h às 19h)

Augusto Boal não chegou a ver a peça

Augusto Boal não chegou a ver a peça

Ficha técnica Murro em ponta de faca:

Texto: Augusto Boal
Direção: Paulo José
Elenco: Abilio Ramos, Erica Migon, Gabriel Gorosito, Laura Haddad, Nena Inoue, Sidy Correa.
Iluminação: Beto Bruel
Cenário: Ruy Almeida
Figurino: Rô Nascimento
Direção sonora: Daniel Belquer
Preparação vocal: Célio Rentroya e Babaya
Iluminador assistente: Danielle Regis
Assistente de figurino: Sabrina Magalhães
Ilustração original: Elifas Andreato
Designer Gráfico: Martin de castro
Fotografia: Roberto Reitenbach
Idealização e Diretora de Produção: Nena Inoue
Realização: Espaço Cênico

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